Capítulo 9
O sábado não tardou em chegar, mas não acordei por livre e espontânea vontade, e sim com batidas na porta do meu quarto, era minha mãe. Olhei no relógio que ficava na estante, ao lado da minha cama, e já passava das 11h00min da manhã.
--Conseguiu dormir muito bem, né Bárbara! Nunca te vi acordando tão tarde, nem mesmo nos finais de semana. -foi dizendo assim que autorizei a sua entrada.
--Mãe, você já vem com sermão logo quando eu acordo? -não estava a fim de discutir logo pela manhã.
--Quem disse que estou te dando sermão? Filha, para de me ver como se eu fosse sua maior inimiga. Sei que o tempo passou rápido e nunca fui uma boa mãe, mas vamos resgatar a nossa relação e nos entendermos.
--Desculpa, mas é que geralmente quando você e o papai me chamam pra conversar é sempre pra pegar no meu pé então já fico logo na defensiva. -falei pensando nas palavras da Lari dizendo que eu deveria dar uma nova oportunidade para minha mãe, quando a bomba sobre nossa relação estourasse precisaríamos de todo apoio possível.
--Eu não te culpo por isso, mas a cada dia te percebo mais distante de mim e quero mudar isso antes que seja tarde. Não vim aqui brigar contigo pela hora que você acordou, muito pelo contrário, só vim comentar o quanto gostei daquela sua amiguinha, a Larissa, desde que ela entrou na sua vida nunca mais te vi triste, você se tornou uma nova pessoa, mais solidária, até suas notas na faculdade melhoraram e você não repetiu novamente. -incrível que minha mãe parecia até mais feliz do que eu.
--Realmente... Tenho que admitir que a Lari está me fazendo um bem enorme. -tentei esconder o sorriso bobo, mas isso foi impossível.
--Nem precisa me dizer, o seu alto astral, seu entusiasmo é palpável quando fala dela. Queria agradecer pessoalmente a ela por estar te fazendo tão feliz. Podia convidá-la para um almoço, jantar... -só aí me dei conta do quanto eu estava me entregando, a qualquer momento minha mãe poderia sacar que ali havia muito mais do que amizade.
--A Lari é muito ocupada, mãe, ela trabalha e estuda, não sei quando vai ter tempo pra essas coisas, mas prometo que vou avisá-la, a amizade dela é muito importante pra mim. -respondi torcendo para que minha mãe não achasse que rolasse algo a mais entre nós, mas eu estava me contradizendo já que jurei que não iria mentir sobre nada.
--Bárbara, não insulte minha inteligência. Posso não ter sido uma excelente mãe nesses 22 anos, mas tenho inteligência o suficiente para saber que entre vocês duas rola um sentimento maior do que amizade. Se você não sente confiança suficiente para falar comigo sobre isso, eu respeito sua decisão, mas, por favor, não minta pra mim. -percebi um olhar chateado da minha mãe, então estava mais do que na hora de falar a verdade, mais cedo ou mais tarde ela saberia de tudo pelo Felipe, então preferia que descobrisse por mim.
--Acho melhor falar logo a verdade. Você está certa, mãe. A Larissa e eu não somos apenas amigas, nós estamos completamente apaixonadas. Desculpa se não comentei nada antes, mas tinha medo da sua reação e da reação do papai. Imaginei que quando vocês descobrissem, eu ia morar na rua e...
--Filha, já chega de falar besteira. -minha mãe colocou o dedo indicador nos meus lábios me calando. -Não sei qual será a reação do seu pai quando descobrir que você está apaixonada por uma garota, mas não sei de onde tirou que eu te expulsaria de casa, te deixando passar necessidades.
--Você e o papai foram criados em uma religião em que a homossexualidade é vista como pecado, e por vocês serem pastores jamais imaginei que seria capaz de ter uma reação tão compreensível e amistosa. -eu percebi que sempre esperava as piores coisas dos meus pais, mas minha mãe me mostrou o quanto estava enganada e que ali havia um coração mais preocupado com o meu bem estar do que com as aparências.
--Perante a sociedade, sou pastora, sou uma renomada médica neurologista, mas antes de tudo Deus me concebeu ser mãe e essa é a maior dádiva que existe. A sua felicidade sempre será a minha maior preocupação nesse mundo. Bárbara, quero que entenda que apesar das nossas diferenças e brigas, você é a pessoa que mais amo nesse mundo, sempre vou te defender e estar ao seu lado, se é a Larissa que te faz feliz, vocês têm todo meu apoio e ela já é bem vinda na nossa família.
Nesse momento não tive nem palavras para expressar o que estava sentindo, mas minha mãe me surpreendeu com tudo o que disse. A minha única reação foi me jogar nos seus braços e receber um abraço muito apertado e vários beijos enquanto eu soluçava de tanto chorar, e percebia que ela também chorava bastante. Por várias vezes chorei naquele quarto com angústia, tristeza, medo; mas dessa vez era justamente o contrário, meu choro era o significado de vários sentimentos positivos: liberdade, felicidade, rendição, amor, carinho.
Eu realmente não lembrava qual foi a última vez que senti todo esse amor da minha mãe, todos esses abraços e beijos, então estava completamente feliz. Depois de muito tempo e lágrimas jorradas, mamãe desfez aquele abraço.
--Bárbara, você não está com fome? -perguntou quando ouviu o ronco do meu estômago me entregando.
--Muita fome -respondi rindo, só então percebi que era quase 14:00 e precisava me arrumar para o encontro com o meu anjo. -Mãe, hoje a noite vou sair com a Lari, será que você pode me ajudar com uma roupa legal? Não sei o que vestir.
--Ajudo sim, mas antes vamos almoçar, já está muito tarde e isso pode te render uma gastrite.
Aquele sábado foi inesquecível. Meu pai estava viajando a trabalho, mas minha mãe resolveu liberar a cozinheira, e ela mesma foi para o fogão preparar um frango a parmegiana acompanhado de macarronada, batata frita e farofa. Isso para mim foi um feito inédito, jamais imaginei que minha mãe cozinhava tão bem, foi ainda melhor porque não precisamos almoçar aquelas comidas cheias de frescura.
--Nunca imaginei que você tinha tantos dotes culinários, mãe. -disse terminando de beber o suco de laranja.
--Ainda há coisas que você não sabe, mas com o passar do tempo e com nossos futuros programas de mãe e filha vamos descobrindo. Agora vamos escolher a sua roupa, não quero que se atrase para o encontro com a minha nora.
Depois disso subimos de mãos dadas rumo ao meu quarto para vermos qual seria a roupa mais apropriada para aquela ocasião. Depois de mais de duas horas revirando todas as roupas, escolhemos em comum acordo um sutiã de renda sem alça, um vestido branco acima dos joelhos sem alças também, segundo minha mãe, ele me deixava com um ar extremamente sexy e ao mesmo tempo angelical, por fim, optei por uma sandália de salto fino com lantejoulas da mesma cor do vestido. Minha mãe ainda foi a responsável por realizar o meu penteado, uma trança muito elegante e deixava minha nunca mais exposta; de quebra ainda ganhei uma maquiagem charmosa que realçava bastante o verde dos meus olhos.
--Como a minha criança cresceu. Você está maravilhosa, de parar o trânsito. -minha mãe disse me analisando da cabeça aos pés ao mesmo tempo em que eu também me olhava no espelho, gostei muito do que vi, queria que a Lari também gostasse.
--Você acha que a Larissa vai gostar do meu visual, mãe? -perguntei apreensiva.
--Na verdade ela vai é amar, isso sim filha. Você vai passar a noite fora? -nem eu mesma sabia resposta.
--Talvez mãe, mas não sei. -respondi pensativa.
--Fica com ela meu amor, aproveita a noite e o domingo. Depois me conta como foi. Vou torcer por você. -nessa hora ouvimos uma buzina, pela janela vi o carro do pai da Lari, ela havia acabado de chegar, meu coração acelerou com expectativa e medo dela não gostar do meu visual, parecia uma adolescente que ia dar seu primeiro beijo.
Estava já me despedindo da minha mãe quando ela teimou que ia me levar até o carro alegando que queria trocar uma palavrinha com a Larissa.
--Mãe, o que você quer falar com ela? Não podemos demorar muito. -estava era com medo da minha mãe me fazer passar vergonha na frente da Lari com um bando de recomendações.
--Calma que eu não vou demorar. Serei breve.
Quando o meu amor nos viu, rapidamente desceu do carro, percebi a surpresa no seu rosto, ela me olhava com um misto de amor, encanto e libido; estava feliz porque isso significava que ela gostou do que viu. A Lari também não ficava atrás, ela usava um short jeans curto, porém sem ser vulgar combinado com uma regata preta e uma sapatilha. Ela estava com aqueles cabelos pretos longos e maravilhosos soltos e uma maquiagem leve, mas que realçava aqueles lábios que sempre me deixavam com água na boca.
--A minha filha arrumou uma namorada linda -nisso concordei com a minha mãe. -Por favor, cuida bem da Bárbara, ela é o meu maior tesouro.
--Mãe.. -lhe encarei com vergonha.
--Sua mãe tá certa, princesa. Não se preocupe que vou cuidar dela com o maior amor e dedicação. -Lari disse me beijando afetuosamente no rosto, um gesto sem malicia, mas que me excitou.
--Muito obrigada por fazer minha criança tão feliz. Seja bem vinda à minha família.
--Ver esse sorriso da Barbie já é meu maior agradecimento. -meu anjo estendeu a mão para cumprimentar minha mãe, mas ela lhe puxou para um abraço. Notei que ela ficou envergonhada e a achei muito fofa.
Depois de escutarmos as recomendações da minha mãe, seguimos nosso trajeto rumo a um dos shoppings mais famosos do Rio de Janeiro.
--Se eu soubesse que você estaria tão linda, teria me vestido mais a altura. -comentou carinhosamente, mas sem desviar a atenção do trânsito.
--Amor, você tá divina. Eu amei esse short, te deixou com essas pernas a mostra. -falei começando a alisar as suas coxas e percebi seus pelinhos se eriçarem.
--Bárbara, não desvie minha atenção. -falou retirando minhas mãos das suas coxas.
--Não sei do que você tá falando. -me fiz de boba enquanto a Lari ria e estacionava o carro.
--Sabe sim, mocinha. Eu tô me aguentando pra não te beijar, borrar sua maquiagem, arrancar esse vestido e te sentir aqui mesmo, só que eu estou me controlando, mas você tá me tentando. -agora eram os meus pelinhos que estavam se eriçando enquanto a Lari dizia tudo isso sussurrando e cheirando meu pescoço.
--Isso é um golpe baixo, Lari.. -respondi baixinho sentindo uns beijos no meu pescoço.
--É só pra você ter uma amostra do que estar por vir. A noite está apenas começando, então vamos guardar o melhor pra mais tarde. -disse me dando uma piscadinha.
Passamos um tempo passeando pelo shopping, sempre de mãos dadas e carinhosas, era nítido que éramos um casal, percebemos vários olhares em nossa direção, despertamos admiração na maioria das pessoas, mas era óbvio que havia olhares masculinos libidinosos, com certeza imaginando ménage, como se fôssemos dois pedaços de carne pronto a satisfazê-los, algo que aprenderam erroneamente nos filmes pornôs lésbicos; havia também a censura no olhar dos idosos e de várias mulheres invejosas, mas uma dessas mulheres se destacava, o olhar que ela lançava para a Larissa era de cobiça, acho que se ela pudesse me mataria pra poder ocupar o meu lugar e estar ali de mãos dadas com o meu amor. Eu sabia que era de mim que a Lari gostava, por isso não deixei que esse fato me incomodasse, mas não percebi a minha morena feliz, ela estava irritada e apertava minhas mãos com mais força.
--Amor, o que tá acontecendo? Não tô gostando nada da sua cara. -perguntei enquanto nos dirigíamos para a praça de alimentação, lá estaria as pessoas que ela gostaria de me apresentar.
--Fala sério, Bárbara! Quando estávamos lá perto da Riachuelo, havia um homem te secando descaradamente, ele olhava muito pra sua bunda, mas você não falou nada. Será que estava gostando? -eu estava estopetada, não sabia nem quem era esse homem de quem ela falava.
--Não posso acreditar nisso. -larguei sua mão abruptamente. -Esse passeio era pra ser um passo adiante na nossa relação e você vai querer estraga-lo com esse seu ciúme desenfreado? Há pouco também tinha uma menina muito bonita te comendo com os olhos, mas não deixei isso estragar nossa saída. Se for pra ficarmos discutindo, agora mesmo volto pra casa.
--Sei que não vai adiantar te pedir desculpas, eu preciso ter mais autoconfiança e tentar ser menos ciumenta, mas só de imaginar você nos braços de outra pessoa...
--Lari, é você que escolhi pra ter na minha vida, então confie em mim. Não fica imaginando besteiras que vão apenas te deixar infeliz.
--Tá certo! Tem outra coisa que tá me incomodando.
--O que é? -perguntei respirando fundo, não queria perder a paciência.
--Naturalmente você já é mais alta do que eu, você está com saltos e eu de sapatilha, desse jeito tô parecendo uma anã ao seu lado. -disse mudando completamente de assunto e me arrancando risos.
--Amor, tamanho não significa nada, e você tá linda, desfaz esse bico e me dar um sorriso.
--O que eu ganho se fizer o que tá me pedindo?
--O que você quiser. -disse voltando a pegar na sua mão.
--Olha que mais tarde eu vou cobrar tudo. -disse me lançando um olhar safado.
Nessa hora já nos encontrávamos na praça de alimentação, quando de repente um casal começou a acenar para nós, e rapidamente a Lari me pegou pelo braço, praticamente me empurrando na direção deles, reparei que o homem era o mesmo que vi no prédio da Larissa. Será que isso era algo bom?
--Larissa, você demorou muito. Onde estava? -ele perguntou, me olhando dos pés a cabeça.
--Daniel, deixa a menina em paz. Vamos deixá-la apresentar essa loira linda. -recebi um sorriso amistoso da mulher negra e simpática que aparentava ter uns 40 anos.
--Fui buscar a Barbie na casa dela e passeamos um pouquinho pelo shopping, por isso perdi a hora. -Lari disse colocando a cabeça nos meus ombros.
--Então é você a famosa Bárbara de quem a Larissa tanto fala? - disse o homem que agora sabia que se chamava Daniel. -Pode sentar aqui. -no mesmo instante ele se tornou bastante simpático e me puxou uma cadeira.
--Meu nome é Bárbara, mas não sei se sou tão famosa assim. -respondi sem graça.
--Pai, por favor, não deixa a minha namorada sem graça. -aquele homem era o pai da Lari? Ele parecia novo demais pra isso.
--Namorada, Lari? -perguntei sem entender. Ela disse uma vez que isso ainda era um passo grande.
--Sim, se você aceitar é claro. Barbie, esse homem bonito e elegante que você até achou ser meu namorado é o meu pai e melhor amigo, e essa moça simpática é a Viviane, minha madrasta, mais conhecida como Vivi, uma segunda mãe pra mim. Pai e Vivi, essa é a Barbie, a garota que eu amo e que gostaria de apresentar a vocês.
--Bárbara, é um prazer conhecer a namorada da minha filha. Espero que faça a minha neném feliz e não a deixe sofrer se não você vai acertar as contas comigo. -claro que nunca faria a Lari sofrer.
--Não assusta a menina, Daniel. Bárbara, o meu marido tem esse jeito durão, mas é uma manteiga derretida. -Viviane disse rindo e me dando um abraço. -A Larissa nunca nos apresentou nenhuma namorada, você é a primeira que ela apresenta, então sem dúvidas é porque é muito importante na vida dela.
--Verdade, Lari? -perguntei intrigada dela não ter apresentado ninguém à família.
--Sim, você é a única pessoa que apresentei á eles. Esqueci de perguntar se você quer ser minha namorada. -falou timidamente.
--Claro que eu quero meu amor. -falei me lançando nos seus braços e enchendo-lhe de beijos.
Nesse clima leve, lanchamos amistosamente com o pai da Lari e a sua madrasta, eles puderam me conhecer melhor e eu pude ficar tranquila por saber que o homem que achava ser o namorado do meu anjo, na verdade era o seu pai, isso tirou um fardo dos meus ombros.
--Gente, sei que vocês gostaram da minha namorada, mas agora vou roubá-la de vocês. Tá quase na hora do nosso filme. Não se preocupem que não faltarão oportunidades para conhece-la ainda mais.
--Também queremos conhecer os seus pais, Bárbara. Não será nada mal se marcarmos um jantar com eles na nossa casa. -disse o pai da Lari.
--Os seus pais não são homofóbicos? Eles aceitam a relação de vocês? São gente boa? -foi a vez da Viviane perguntar.
--Por favor meus amores, já chega de perguntas. O filme vai começar e também não quero que deixem minha namorada com vergonha.
--Não se preocupa, amor, é natural que eles se preocupem. No que depender da minha mãe vocês podem marcar esse jantar quando quiserem, ela é não é homofóbica e inclusive sabe da minha relação com a Lari; só o meu pai é que ainda não sabe do nosso namoro, mas isso é questão de tempo. Em breve ele saberá.
--Gente, agora nós realmente temos que ir. Quero ficar a sós com a minha NAMORADA. -Lari frisou bem a última palavra.
--Boa diversão meninas e nada de aprontar. -Viviane disse nos piscando um olho enquanto nos afastávamos.
Fim do capítulo
Mais um capitulo, meninas. Espero que tenham gostado, o próximo capitulo será mais hot. Bom final de semana e até terça-feira.
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