Capítulo 8
Sabia perfeitamente que o meu passado não era algo que eu me orgulhasse, mas quando me curei da gonorreia, tentei me tornar um ser humano melhor, e por fim, me comprometi a viver um relacionamento com a Larissa; não havia lógica eu levar uma vida dupla ou de mentiras, a verdade é que eu tentava fazer de tudo para demonstrar os meus sentimentos pela Larissa; mas parece que a insegurança e baixa autoestima dela não a deixavam perceber o quanto a amava, nas vezes em que saímos apesar da alegria que a morena me proporcionava, geralmente tinha algumas crises de ciúme discretamente que estava acostumada, mas nunca esperava que a Lari fosse capaz de terminar o que mal havíamos começado. Eu chorava no meu quarto pensando na imensa saudade que sentia dela, mas ao mesmo tempo tinha amor próprio para não procurá-la, se a Larissa não tinha confiança em mim o suficiente não tinha como nosso namoro dar certo.
Na sexta-feira de manhã, havia três dias que não tinha contato com a garota que eu amava depois dela ser burra o suficiente para achar que eu gostava do meu ex. Estava no meu quarto chorando e tentando estudar quando minha mãe interrompeu meu momento sublime.
--Filha, o que tá acontecendo com você? Até a terça-feira a minha filhinha era a pessoa mais feliz do mundo, agora só te vejo chorando pelos cantos.
--Não me leva a mal, mas simplesmente não quero tocar nesse assunto, isso me causa dor, e você não seria a melhor pessoa do mundo para eu falar sobre isso. -respondi sinceramente.
--Eu sei que nunca fui a melhor mãe do mundo, quero mudar isso, mas você também não deixa haver uma aproximação entre nós, então complica a situação. -minha mãe falou sentando na minha cama.
--Mãe, deixa de drama. Você nunca foi presente na minha vida, tanto você e o papai sempre se preocuparam mais com as aparências. Por favor, fala logo o que você quer e se retire. -falei perdendo a paciência, aliás voltei a dar patadas nas pessoas nesses últimos dias.
--Entendi o recado. Tem uma amiga que está na sala e quer falar muito com você.
--Deve ser a Carol. Manda ela entrar. -disse dando de ombros.
--Não é a Carol, sou eu. -O que essa garota queria? Roubar minha paz?
--Larissa, o que você faz aqui? Não temos nada para conversar.
--Acho que você deveria escutar o que a sua amiga tem pra dizer, não seja tão cabeça dura. -Engraçado... Minha mãe não sabia o que se passava na minha vida, mas ainda assim achava que tinha o direito de opinar. -Vou trabalhar e deixar vocês se resolverem. -disse saindo do meu quarto, fechando a porta.
--Barbie, eu sei que me comportei como uma idiota, fui muito imatura, mas nós precisamos conversar e nos resolver, estou com saudade... -a Larissa estava linda com uma calça jeans, tênis all star e uma blusa florida. Ela estava sem maquiagem, e isso a deixava mais perfeita; mas rapidamente afastei esses pensamentos de mim.
--Larissa, foi você que tomou a decisão de se afastar. Você sempre se preocupa apenas consigo mesma, fala da sua saudade, sua imaturidade, enfim, mas não para pra pensar em como me senti esse tempo todo.
--Eu sei, vou entender se você não me aceitar de volta, acontece que nunca me envolvi tão seriamente com alguém e não sei como lidar com isso tudo, é algo novo pra mim. -respondeu tentando se explicar.
--É algo novo pra mim também. A questão não é te aceitar ou não de volta, mas sim saber se você vai tentar agir diferente, e diante de uma briguinha, não vai agir como uma adolescente com crise de ciúmes ou querer terminar tudo sem nem tentar.
--Sim, eu pensei em toda a questão que você me falou sobre o seu ex namorado e disse que tinha motivos para não denunciá-lo, só que não quis compartilhar comigo que motivos seriam esses. Estamos nos conhecendo e queremos construir algo sólido para o nosso futuro, então se realmente quisermos ter um namoro, noivado e quem sabe até um casamento, precisamos ser parceiras, não apenas nos momentos bons e no sex*, mas também e principalmente quando as dificuldades baterem na nossa porta, sentar, conversar e pensar na melhor maneira de resolvermos os problemas juntas, como duas adultas. -fiquei estarrecida com as colocações da Larissa. Ela podia ter sido imatura, mas eu também agi dessa maneira quando não fui sincera sobre todo o problema que estava acontecendo.
--Fiquei pensando muito em você nesses dias, morrendo de saudade dos seus abraços, dos seus beijos, do seu perfume, de você por inteira e até das suas mãos bobas. -respondi com cara de tonta apaixonada.
--Também senti muitas saudades, principalmente desse sorriso que me cativa. Quero te fazer um convite: O que você acha de fazermos um piquenique? Eu trouxe algumas coisas na minha mochila que podem ser úteis.
--Acho uma excelente ideia, sou muito comilona. O que você trouxe para comermos? -perguntei ansiosa.
--Bom... Aqui tem sanduiche, refrigerante, pão de queijo, chocolate, rosquinhas... -dizia enquanto conferia os itens na mochila.
--Amor, não é por nada, mas desse jeito vamos engordar muito. Vamos agregar na nossa cesta algumas coisas mais saudáveis. -puxei a Lari pela mão e já na cozinha recolhemos uvas, bananas, tangerinas, ameixas, morangos, maçãs e peras.
O nosso piquenique que foi na praça, perto de casa, foi maravilhoso, nunca tinha feito isso antes na vida. Graças à companhia da Larissa e as suas piadas me sentia como uma criança feliz, comi bastante sem escutar meus pais apitarem no meu ouvido a comida que eu podia ou não comer.
--Depois de tudo isso acho que ganhei bem uns 5 kg. -respondi rindo.
--Você pode engordar até 50 kg que sempre vou ser apaixonada por você, gatinha. -respondeu me dando um selinho.
--Todos os dias agradeço a Deus por ter te enviado para a minha vida. -respondi deitando sobre a grama e apoiando minha cabeça no colo da Lari enquanto ela acariciava meus cabelos.
--Barbie, não quero quebrar nosso momento romântico e nem sei se é o momento apropriado pra tocar nesse assunto já que acabamos de fazer as pazes. -nessa hora ia me levantar do colo da Lari para me sentar, mas ela me puxou de volta. -Pode ficar deitadinha com a cabeça no meu colo, tô amando acariciar esses cabelos loiros.
--Você quer saber o porquê do Felipe ter ido me procurar e o que ele queria comigo, é isso? -perguntei relaxada continuando a sentir seus carinhos.
--Sim, e também quero saber porque você não quis denunciá-lo.
--Tá bom, amor. A partir de hoje não deve existir segredos entre nós.
--É isso mesmo. Agora me conta por favor o que tá acontecendo. -pediu com um olhar de súplica, minha vontade era de beijá-la, mas sabia que não era o momento propicio para isso.
--Lembra daquela vez que você foi lá onde estudo e acabamos nos beijando em frente a faculdade achando que não havia ninguém? -a Lari fez que sim com a cabeça, então prossegui. -O idiota do Felipe estava presente lá, tirou várias fotos nossas, então naquele dia ele veio me chantagear, propôs uma oferta descarada para não enviar as fotos para os meus pais.
--O que ele queria em troca? -Larissa indagou curiosa.
--Algo que me deu uma enorme sensação de nojo. Em troca do silêncio dele, ele queria voltar a trans*r comigo. -notei a ira no olhar da minha bebê. -Não parou por aí, ele também queria que você aceitasse ter relações sexuais com ele.
--Esse moleque é pior do que imaginei, é um verdadeiro abusado e pervertido. Tem umas coisas que está me rondando na cabeça, mas você não merece ouvir todos os palavrões que estou pensando. -A Lari era muito branquinha, então nesse instante pude perceber o seu rosto vermelho, ela estava com muita raiva.
--Agora você entende por que não quis denunciá-lo? Se ele fizer isso, toda minha família vai saber sobre a minha orientação sexual, será o fim. -respondi começando a chorar.
--Minha linda, vou te fazer uma pergunta, quero que seja sincera, prometo que não vou ficar chateada com a sua resposta. Posso perguntar?
--Claro, agora sou eu que estou curiosa. -respondi com um sorriso fraco.
--Você tem vergonha em se declarar lésbica diante da sociedade e tem medo da pobreza? -nessa hora sentei na grama, respirei fundo, peguei nas mãos da Larissa e respondi com toda convicção olhando-a bem no fundo daqueles olhos negros.
--Tenho orgulho da minha orientação sexual, meu orgulho é ainda maior porque tive uma sorte imensa em ter te encontrado para dividir comigo essa caminhada que chamamos de vida. -percebi os olhos da Lari marejarem, apertei ainda mais suas mãos e continuei. -O meu medo não é da pobreza, mas vejo que você já é independente, cursa uma Universidade Pública e com o dinheiro dos seus estágios é capaz de pagar suas contas. Eu nunca trabalhei, não sei nem cozinhar, se meus pais descobrirem a verdade, eu não sei nem onde vou morar, vou ficar sem estudar e sem trabalhar. Como vou me sustentar? -perguntei aflita.
--Minha Barbie linda, você pode vir morar comigo, no meu apartamento, não vai te faltar amor, carinho, moradia e nem comida. Com o passar do tempo te ajudo a achar algum emprego e você vai conseguir sim retomar os estudos com o dinheiro que conseguir do seu salário, não se preocupa com as contas, elas são por minha conta, não vai demorar muito para eu me formar e conseguir um emprego melhor.
--Não mesmo, Larissa. Você mesma disse que relacionamento é uma parceria, não quero que você me sustente, vou me sentir como um fardo e isso não é nada legal. -respondi querendo descartar essa hipótese.
--Sim, é uma parceria, isso inclui te ajudar nos momentos mais difíceis. -respondeu me dando um beijo carinhoso na bochecha e me abraçando.
--Não sei se isso seria uma boa ideia. -disse para mim mesma, mas ela ouviu.
--Apenas prometa que não deixará nem o Felipe e nem qualquer outra pessoa do mundo atrapalhar nosso relacionamento, prometa que não vai desistir de nós.
--Claro que eu prometo. Ninguém vai interferir nas nossas vidas. -respondi com toda convicção.
--Então estamos resolvidas, apenas vamos viver um dia de cada vez, e quando os problemas aparecerem vamos saber como solucioná-los. Tem mais uma coisa que percebi, acho que você pode ter uma surpresa com relação à sua mãe quando ela souber sobre a sua orientação sexual.
--Para mim não será surpresa ela surtando e me mandando desaparecer da vida dela e do seu pai. -respondi rindo.
--Não posso falar do seu pai, pois não tive a chance de conhece-lo, mas a sua mãe me pareceu uma pessoa maravilhosa e que te ama muito, acho que ela não seria capaz de te virar as costas justamente quando mais você precisa dela.
--Nunca fui próxima da minha mãe, então não sei se...
--Apenas escuta o que tenho pra te falar. Sua mãe pode não ter sido a melhor mãe do mundo, mas ela parece que está disposta a mudar, o orgulho não nos leva a lugar nenhum, então seja mais amistosa quando ela se aproximar.
--Está bem, prometo que vou tentar.
Naquela sexta-feira não fui para a aula e nem a Larissa foi trabalhar rs, mas foi por uma boa causa. Precisávamos daquele dia livre para nos curtir, depois do piquenique, passamos o dia todo passeando em vários lugares do Rio, e é claro batendo fotos de todos nossos momentos inesquecíveis. Passeamos por Botafogo, Leblon, Santa Teresa, Lapa, Ipanema, Corcovado e terminamos nossa maratona no Cristo Redentor. Com muita insistência da Lari deixei com que ela me levasse em casa.
--Muito obrigada pelo dia maravilhoso que você me proporcionou, meu anjo. -respondi abraçando a Lari na frente da minha casa.
--Não há de quê, princesa. Esse é o primeiro de muitos dias de felicidade que teremos pela frente.
--Preciso entrar, meus pais devem estar estranhando minha demora. -a verdade é que eu queria continuar ali com ela.
--Antes eu queria te dar um beijo, mas acho que não vai dar, tem muita gente nessa rua. -respondeu triste.
--A gente dá um jeito...
Entrei com a Lari em casa sem meus pais ou os empregados verem, é claro, a parte lateral da casa possuía várias árvores e isso impedia que fôssemos vistas ali. Não foi nem preciso pedir para a Larissa me beijar, rapidamente ela tratou de me puxar pela cintura e me beijar. Só que aos poucos as coisas foram esquentando, ela resolveu começar a beijar e ch*par meu pescoço, a sensação que tive foi a mesma quando a Leticia me tomou em seus braços, mas resolvi deixar isso pra lá e apenas curtir a sensação. Depois ela subiu e começou a mordicar a minha orelha, eu estava de saia com as pernas enroscadas em volta da coxa da Lari que estava com a calça jeans, era melhor pararmos, não queria que nossa primeira vez fosse de qualquer jeito.
--Princesa, vamos parar antes que eu não consiga me controlar. -a Lari teve esse bom senso primeiro do que eu.
--Nós vamos nos ver no final de semana? Não quero ficar com muitas saudades. -respondi fazendo um beicinho e ela me retribuiu com um selinho.
--Durante o dia vou precisar atender alguns pacientes e tenho uns trabalhos da faculdade pra terminar. -ia ficando triste quando ela continuou. -Mas amanhã a noite e no domingo estarei completamente livre pra você. Quero até te convidar para amanhã a noite ir ao shopping comigo, quero te apresentar algumas pessoas, e depois quero saber se você aceita pegar um cinema comigo. Seus pais vão deixar?
--Claro que vou amor. Não se preocupa que com os meus pais, eu me entendo.
--Ótimo. Amanhã as 19:30 estarei passando pra te apanhar em uma Hyllux, meu pai não vai se incomodar se eu pegar o carro dele emprestado.
Depois de mais uns beijinhos nos despedimos. Tomei um banho, mandei uma mensagem carinhosa de boa noite para a Lari e fui dormir, tendo os melhores sonhos possíveis.
Fim do capítulo
Ainda bem que essas duas tiveram bom senso de fazerem as pazes. Estão gostando? A opinião de vocês é sempre fundamental pra estória. Até sexta-feira, meninas.
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