25/06/2018. Terça-Feira - 06:35 am

Merda! Merda!

Mil vezes Merda!

Estava muito atrasada.

Como eu tinha tomado banho na hora de deitar, abdiquei dele nesta manhã, o que era péssimo já que o banho de fato me acordava, mas acho que hoje acordei apenas no susto. Vesti a primeira coisa que apareceu no guarda-roupa e passei correndo por minha mãe na cozinha que me olhava com semblante sério. Filhos da… Podiam ter me chamado, meu pai aquele filho sem mãe nem se deu o trabalho de me esperar. Ódio.

07:08 am

Eu corria pelos corredores amarelos como se não houvesse amanhã, ele estava vazio e completamente deserto, já que a aula começava às 07 horas pontualmente. Parei na porta da sala respirando profundamente e entrando, a meta era passar de fininho, mas eu sabia que não teria como.

-- Está atrasada 23 minutos Srta. Luján. Eu não tenho o dom de ficar esperando ninguém. Ficará aqui depois do horário de aula e me encontrará na biblioteca, já pra sua mesa. - ela dizia de cabeça baixa com papéis na mão.

Filha da puta mal comida do caralh*.

-- Meninos devido ao meu bom humor essa manhã teremos um teste surpresa.

O quê? Quer me foder? Pelo menos use as mãos. Respirei fundo enquanto a sala reclamava em alto e bom som. O olhar da Sra. Portilla me atravessava por completo, poderia ser intimidante, mas tinha alguma coisa que eu não sabia decifrar.

-- Cara, você está tão fodida, que eu já nem quero mais estar no seu lugar - Erica dizia cochichando do meu lado. Eu não estava a fim de conversar hoje, apenas balancei a cabeça e devolvi o olhar para a megera.

-- Ontem eu pedi que estudassem os capítulos, não tenho culpa se não se preocupam em fazer o mínimo - Ela passava distribuindo as provas, o barulho de seus saltos ecoando em meu ouvido me incomodava. Pude sentir o cheiro dela quando se aproximou, se inclinou deixando a prova na nossa mesa e vi um deslumbre de renda preta de sua lingerie. Senti a boca seca e desviei o olhar, sentindo seu cheiro tão forte que me inebriou por completo.

Erica cochichava alguma coisa que eu simplesmente era incapaz de ouvir, mesmo estando em meu lado, minha boca estava seca, busquei a garrafinha de água tomando o máximo que podia antes de voltar a respirar, eu sabia que seu olhar estava em mim, já que minha pele queimava.

O teste não tinha sido difícil, eu não tinha lido os capítulos ontem mas já tinha visto documentários sobre o assunto a algum tempo atrás. Erica não dizia nada mas não tirava o olho do que eu escrevia, sabia que ela escreveria o mesmo com algumas palavras diferentes. Sempre fazíamos assim.

Eu estava um pouco avoada aquela manhã e curiosamente parecia que a Ice Eyes estava em todos os lugares daquele colégio, ou então pela primeira vez eu observava a rotina dela. As meninas e a Camila atribuíram minha pouca fala a ansiedade com a coisa de ser assistente, de fato não era uma grande mentira, Vivi e Erica faziam planos para o dia do meu aniversário e acabei concordando em ir comemorar a noite na Pub da cidade, seria na quinta, já que no fim de semana eu não estaria na cidade. Camila ainda não estava feliz com essa notícia, mas também não fazia comentários, eu apenas sabia pelo seu jeito de morder os lábios quando o assunto entrou em questão.

O turno das aulas tinham acabado e as meninas partiram pra casa. Eu a contragosto, bem... não tão contra assim, fui direto para a biblioteca. Estava curiosa. Deixei minha mochila no escaninho e passei por algumas pessoas, até ver as longas madeixas cor de mel presos em um rabo de cavalo alto, em passos cuidadosos me aproximei.

-- Oi - acho que era o melhor que poderia dizer, recebi um olhar penetrante mas que se suavizou imediatamente ao me ver.

-- Que bom que não se atrasou Srta., eu realmente odeio atrasos. - balancei a cabeça me sentando em seu lado, eu não sabia o que fazer, só queria sair dali - Você já foi assistente antes?

-- Não. Eu prefiro os serviços comunitários no Hospital. Como eu disse.

-- Pois não se prenda ao comodismo garota. - Semicerrei os olhos ao ouvir “garota”, esse gesto foi acompanhado por ela que sorriu. Uou, porr* que sorriso. Tossi debilmente olhando para os papéis.

-- Então, o que preciso fazer?

-- Essa semana tudo está mais tranquilo, porque a Emily já tinha deixado organizado. Você basicamente será minha secretária, preciso que me ajude a organizar a agenda, mesmo que inclua atividades fora da escola. Você não precisa me acompanhar nestas atividades, só se eu solicitar claro e você quiser. Jamais pediria pra fazer algo que não queira Srta. Luján - ela me olhou ao terminar essa frase e eu podia jurar que existia ali um duplo sentido muito grotesco - Eu queria que me encontrasse mais cedo para te passar esses cronogramas, preciso deles organizados  até sexta feira. Vamos começar de fato na próxima semana certo?

-- Ok, não me parece complicado.

-- E não é. Você não precisa ficar correndo atrás de mim ou ficar no colégio até mais tarde todos os dias, vamos nos encontrar sempre duas vezes por semana, terças e quintas, de resto podemos tratar por email. Vocês estão no fim do semestre e entendo suas limitações, mas eu quero o meu serviço bem feito.

-- Não pretendo desapontá-la Sra. Portillo. Eu já banquei a secretária do meu pai na férias, era bem tranquilo, acho que aqui não será diferente.

-- Ótimo, gosto da sua positividade, achei que seria mais… arredia - ela parecia buscar as palavras certas e eu ficava confusa. Arredia? Eu era o quê? Um animal? - Eu precisarei de algumas resenhas também, coisas simples e pesquisa de alguns documentários mais dinâmicos e vou confiar em você para tal - Apenas balancei a cabeça, eu confesso, não estava achando ruim e estava um pouco cativada por essa nova fase com ela, que jamais pensei ter.

-- Eu gosto de documentários, acho melhor que ler capítulos extensos e massantes.

-- Como os que pedi ontem? - ela perguntou divertida.

-- Exatamente. Por favor não se ofenda - disse rapidamente e ela riu baixo.

-- Relaxa, não vou sacrificá-la por falar o que pensa. E eu também não sou nenhum carrasco. Bom… eu sou. Mas apenas na sala de aula. Aqui não, se você vai me ajudar de agora pra frente, não há porquê aquele tratamento. Mas fica sendo nosso segredo, ok? - ela pousou sua mão macia sobre a minha e o contato fez o meu corpo se arrepiar.

Ela notou, claro que notou, eu era tão clarinha e meus pelos escuros arrepiados no braço não era algo imperceptível, mas curiosamente ela não tirou a mão. Ela continuou com sua mão sobre a minha e seus dedos se moveram em uma breve carícia, seu toque era macio e quente, meus olhos se encontraram contra o seu e percebi algo no olhar dela que me deixou inquieta: luxúria.

MAS QUE PORRA ESTAVA ACONTECENDO ALI?

Eu não fazia ideia mas a pontada em meu baixo ventre me fez perceber que gostei. Soltei a respiração e percebi levemente sua língua molhando os lábios de jeito sutil. Por uma fração de segundos desejei sentir o sabor daqueles lábios.

-- Posso confiar em você Laura?

-- O quê? - eu despertava do sonho. Tinha mesmo acontecido aquilo?

-- Você não vai contar sobre o que se passa aqui né? Entre nós?

-- Na… não. Claro que não - respirei fundo puxando a mão - Todos vão continuar achando que é uma bruxa malvada. - Droga, o que eu estava falando?

-- Ótimo! - ela se levantou pegando suas coisas - Te vejo amanhã então, a noite eu te encaminho um email. Bom dia Srta. Luján.

E se foi com um maldito rebol*do, meu olhar acompanhou cada movimento. Porr*, eu estava molhada?

Fim do capítulo