24/06/2018. Segunda-Feira - 06:07 am

"TRIIIM… TRIIIM… TRIIIM...”

-- Mas que porr*. - desliguei o maldito despertador com certa violência, senti uma pontada de dor no corpo e sabia que não estava pronta para mais uma semana de aula. Odiava as segundas, assim como a semana inteira na realidade.

Levantei sem muita vontade deixando o edredom cair no chão, sem me preocupar em ir pegá-lo. Bocejando parei na frente do espelho observando meu corpo nu, como gostava de dormir, e sorri de lado vendo o destaque de roxo na costela e entre os seios, Camila tinha aquela carinha angelical mas era tão voraz que… ai. Só de lembrar sentia-me molhada e pronta para ser  amada.

Pelo menos existia um motivo bom pra sair de casa tão cedo e enfrentar o La Guapa, Camila estaria me esperando como todas as manhãs, sentada na mesa do grande gramado à frente do colégio, conversando com seus amigos e sendo alvo de olhares de cobiças. Eu gostava de saber que só eu podia pôr a mão e boca naquele corpo, era uma constatação deliciosa.

Tomei um banho rápido e me vesti tão rápido quanto, não estava com vontade de nada e já estava relativamente atrasada, apenas coloquei a touca cinza sobre os cabelos e busquei o cachecol na porta do quarto. Cheguei à cozinha e encontrei meu pai lendo o jornal, mamãe fazia panquecas e a Taylor estava entretida no celular, impecavelmente arrumada, Chris provavelmente dormindo. Que inveja.

-- Bom dia - me sentei roubando um dos morangos no prato da Taylor que não parecia ver nada além do seu celular.

-- Bom dia meu bem, está atrasada - O velho Mike, como gostava de o chamar, sempre chamando a atenção de um jeito carinhoso.

-- Perdi a hora - me limitei em dizer.

-- E quando não perde? - a voz veio de trás de mim, era minha mãe Clara, que depositava na minha frente panquecas quentinhas, com morangos e maple, como todas as manhãs.

Comi rapidamente para não perder a carona com meu pai, já que quando me atrasava sua consciência não doía de me deixar para trás. Fomos conversando amenidades, planos para o fim de semana, iríamos comemorar meu aniversário de 18 anos no chalé da ‘abuelita’ Angélica, seria uma pena se continuasse com o tempo assim, já que aproveitar o grande lago neste frio seria impossível.

O Colégio era perto. Na realidade tudo era perto, a cidade era pequena demais que fosse longe fazer qualquer coisa, por isso amava quando saíamos da cidade, mesmo que fosse para a região do chalés que era um lugar ermo.

Despedi do meu pai, Taylor desceu do carro e foi encontrar-se com suas amigas e eu, bem, eu fiz o mesmo. Fiz o mesmo trajeto atravessando o grande gramado de La Guapa, as mesmas pessoas, nos mesmo lugares, só mudavam as roupas, e no meio de tantas pessoas conhecidas lá estava ela, sabia que meus olhos podiam brilhar em vê-la, era incrível o poder que a morena tinha sobre mim, seus gestos animados demonstrava que provavelmente estava contando algo divertido do fim de semana, e realmente parecia já que Vivi e Erica riam escandalosamente.

-- Qual é a graça? - cheguei curiosa já trazendo Camila pra mim e lhe roubando um beijo cheio de saudade que sem que eu percebesse se prolongou  além do selinho. Ela estava sentada sobre a mesa então foi fácil deixá-la entre minhas pernas, seus braços me abraçaram a cintura.

-- Ah por favor, nos poupe - Erica dizia não rindo mais e nos empurrando levemente.

-- Erica, não fode - revirei os olhos.

-- Que rabugenta, credo minha filha. Então, deixa eu contar, souberam as novidades? - Olhamos pra Vivi, as três com curiosidade. Era incrível como ela sempre sabia de tudo e de todos, era a verdadeira rádio fofoca.

-- Você finalmente vai largar o babaca do seu namorado e se render aos meus encantos? - Erica dizia brincando com o lenço que Vivi trazia no pescoço. As duas sempre foram assim, mas no fundo eu realmente achava que Erica tinha de fato interesse na baixinha.

-- Erica cala a boquinha e deixa ela falar. Fiquei curiosa - Camila pronunciou pela primeira vez ainda agarrada a mim.

-- O Sr. Snape está de licença médica e quem vai assumir o seu lugar enquanto ele estiver afastado será a ice eyes.

-- Uuuuh, gostei - Erica dizia esfregando a mão uma na outra.

-- Ah, eu gosto da Sra. Portillo. E o Sr. Snape já está na hora de aposentar coitado. - Camila disse animada. 

Eu e as meninas costumávamos chamar a professora de História assim, já que ela tinha aqueles grandes olhos frios e azuis, ice eyes ou olhos gélidos, que nos analisava constantemente em todos os cantos. Algo que deixava a maldita como o alvo inalcançável de todos os alunos babões daquele lugar.

-- Ah tanto faz, foda vai ser ter aula com ela três vezes na semana. Ainda acho que ela vai matar um de nós um dia.

-- Você que é cismada com ela gatinha - Camila soltou.

-- Eu não. Ela que parece sádica e adora ver um sofrimento desnecessário.

-- Isso tudo ainda porque ela te pegou colando branquela? - Erica era de fato um pé no saco.

-- Parece que a Emily não é mais assistente dela, quem será que ela vai chamar? - demos de ombro para o que Vivi nos disse encerrando o assunto e nos direcionando para dentro do colégio já que o sinal acabara de tocar. Nossa primeira aula era de geografia e eu não estava pronta ainda para uma segunda-feira infernal.

Assistente era como chamávamos os alunos que faziam alguns favores aos professores, todos eles possuíam um ou uns, era uma forma que o colégio encontrou de nos “ensinar a ter senso de responsabilidades”, como dizia a diretora Perroni,  além de que, contava como hora complementar. Não existia critério específico para a escolha dos assistentes, precisávamos apenas estar no último ano da escola, o famoso terceirão. A escolha ia de professor para professor, eu não ligava muito, já que meu pai trabalhava no hospital da cidade e seria fácil conseguir minhas horas complementares lá, como fazia todo ano. Essas horas eram através de serviços comunitários voluntários, todo o ensino médio precisava fazer e entregar os formulários no fim do ano.

A aula do Sr. Mendes se arrastou lentamente, eu e Erica conversamos durante todo o período já que sentávamos em dupla, Camila e Vivi, sentavam em dupla também, porém mais afastadas, e de fato prestavam atenção naquela ladainha. Logo após a aula houve o intervalo que passou com 20 minutos, não dava para de fato fazer nada. Sempre saíamos da sala e ficávamos por ali jogadas no corredor jogando conversa fora.

Entramos na sala assim que soou o sinal indicando que acabara o intervalo, a sala estava uma verdadeira bagunça, e eu podia jurar que havia visto uma bolinha de papel voando por aí. De repente todos se calaram e podia se ouvir apenas aquele “TOC TOC” irritante de saltos, e só tinha uma professora que ia dar aula vestida como se fosse pra uma passarela, sempre com os saltos incrivelmente altos e bem… sexy.

Ana Portillo era professora de História, e segundo as fofocas, de Inglês temporariamente. Ela não parecia ter relações de amizade com os alunos como vários outros professores, muito menos com seus assistentes, já que os coitados estavam sempre correndo para lá e pra cá. Ela era o alvo desejoso de vários alunos, principalmente quando era vista com sua esposa, a Médica Veterinária da cidade, a Sra. Espinosa, ambas tinham por volta dos quarenta anos, não sabia ao certo, só tinha certeza que a idade delas não era juz ao que nossos olhos viam. Confesso que já imaginei demais aquelas unhas grandes e vermelhas sobre mim, era inevitável, mas era aquela coisa de aluno e professor sabe? Algo que de fato nunca iria acontecer.

-- Será que vai haver um dia que entrarei na sala e encontrarei alunos e não animais? - Ela bateu as mãos - Todos para seus lugares e rápido, já estamos atrasados o suficiente.

Revirei os olhos já que três minutos não era de fato um atraso.

-- Queria mostrar a ela o ‘animal’ - Erica dizia se sentando e vestindo sua postura “dada” à professora, será que ela achava que tinha alguma chance?

-- Cala a boca. Só nos seus mais pervertidos sonhos meu amor.

-- Oh desculpem-me meninas, acho que não fui clara o suficiente, se eu falo que é pra sentar no lugar eu quero dizer que não quero que vocês falem a não ser que eu solicite, será que não foi esclarecedor o suficiente Srta. Luján?

Gelei ao ouvir meu nome e as risadinhas baixas dos meninos. Abri a boca para responder e Erica me cutucou a costela dando um sorriso amarelo à professora. Como se ela se importasse com algo.

A aula foi rápida, sempre era. Ice Eyes era dinâmica dando aula e parecia que estava sempre pronta para matar um, todos a temiam mas o mais importante, a respeitavam, eu só não estava preparada para o que aconteceria a seguir.

-- Eu quero que vocês cheguem aqui afiados no capítulo sete e oito do livro de vocês na próxima aula, no caso amanhã - a reclamação foi geral - Calados ! Outra coisa, como vocês já sabem eu irei substituir o professor Snape até as férias chegarem, então será um prazer ficar mais tempo com vocês - ela deu um sorriso sádico com aqueles belos lábios vermelhos e seu olhar gélido por uma fração de segundo parou em mim -  Como ficarei mais tempo com esta turma já escolhi alguém para me ajudar daqui pra frente. Parabéns Srta. Laura Luján, será minha nova assistente.

Senti os olhares da turma inteira sobre mim. Eu não queria aquilo.

-- Desculpa Sra. Portillo mas eu já tenho minhas horas completas, não preciso…

-- Eu não perguntei se precisa. Esteja aqui amanhã 15 minutos antes da primeira aula. Isso é tudo. Bom dia diabinhos. - disse se virando e arrumando suas coisas enquanto os alunos saíam da sala.

-- Cara você está tão fodida - Erica dizia, mas podia sentir os ciúmes em seu olhar.

-- Era tudo o que eu não precisava agora - enfiei o livro dentro da mochila com raiva.

-- Amor, eu não sei nem o que dizer - A voz da Camila soou do meu lado compreensiva, ela sabia que eu preferiria a morte.

-- Ah, vai ser ótimo, queria eu ser a assistente dela - Vivi dizia animada.

-- Não consigo pensar em ótimo e assistente na mesma frase meninas. - disse emburrada - Vamos?

Saímos da sala e depois de uma conversa rápida fui com a Camila até a casa dela, a meta era estudar os capítulos que a professora pediu, mas estar trancada em um quarto com minha morena era perdição demais para que eu pudesse concentrar em qualquer coisa que não fosse seus longos cabelos caídos sobre seu decote saliente do baby doll. Acabamos fazendo amor ali mesmo no chão, sobre os livros e papéis espalhados no tapete felpudo.

Fim do capítulo