Boa noite moças,
Essa semana a espera foi curtinha não é mesmo? Quem me dera poder postar mais de uma vez na semana. Mas agora que estamos no fim, a trama vai se desenrolando (ou não) rs...
Espero que gostem do capítulo, e gostaria, mais do que nunca, saber suas opiniões.
Xeros e ótima semana!
Capítulo 79 O Legado
“Imortal!” Aquela palavra ecoava na mente de Delphine muito mais até que os tiros ao longe do embate que acontecia em algum lugar ao redor da Fundação.
Já na segurança do interior do prédio principal, buscaram colocar Siobhan em um sofá próximo afim de estancarem o sangramento do único tiro que não atingiu Manu e sim o braço da mulher de raspão.
Os gritos e a turba da confusão pareciam sons distantes de um filme e pouco tinha importância para Delphine, pois ela não conseguia tirar os olhos da menina que era carregada por Cosima, que berrava com ela, tentando chamar sua atenção.
- Delphine? – A chamou mais uma vez de forma alarmante. Em seu colo a criança chorava copiosamente diante do ferimento de Siobhan e a forma como Delphine a olhava não estava ajudando.
- Eu... Eu... – Gaguejou, mas foi bruscamente interrompida por Helena.
- Localizamos dois atiradores... Mas certamente não estão sozinhos. – A Protetora desligou seu celular e voltou-se para o caos lá dentro.
- Calma! Não foi nada demais! – S protestava contra toda a atenção que estava sendo desprendida para ela.
- Não se mexa Siobhan! – Stella a ajudava a retirar a pesada jaqueta que ela usava para que pudessem ver melhor o ferimento.
- A Sra S está bem? – Manu perguntava repetidamente enervabdo a todas.
- Eu estou bem criança... Venha cá! – Gesticulou com a outra mão, chamando a pequena que, receosa, abandonou as pernas de Cosima e foi até ela.
- Tá doendo? – Perguntou com os olhos arregalados e avermelhados devido as lágrimas que não cessavam.
- Foi um arranhão de nada. Olha só! – Forçou e ergueu o braço machucado evitando demonstrar a imensa dor que sentiu com aquele movimento. Estava aflita com a preocupação da menina tanto quanto com o que acabara de acontecer.
Assistindo toda aquela cena, Delphine caminhava para trás, completamente atônita e sem reação alguma. Tudo aconteceu rápido demais e para além da audácia e do significado daquele ataque, a verdade sobre a menina que decidira adotar e criar a estava deixando completamente perdida. E sua mente girava alucinada tentando processar aquela descoberta.
- O que está acontecendo Del? – A menina a questionou e ela a olhou, mas sem verdadeiramente a enxergar naquele momento. Ela estava tentando olhar muito além e ao mesmo tempo para o passado.
- Delphine! A menina está falando com você! – Cosima a repreendeu e só então, após piscar várias vezes, ela pareceu retornar da “viagem” realizada por sua mente. Mas a sua reação chocou a todas. Quando a menina fez menção a lhe tocar a mão ela a retirou bruscamente.
O pavor e a confusão em que se encontrava a levou a agir defensivamente, porém aquele simples gesto representou um golpe extremamente doloroso na menina que desabou em lágrimas e correu de volta até Cosima que estava chocada com aquela reação da sua companheira.
- A Del está com raiva de mim Cos? O que foi que eu fiz? – Cosima lançou um olhar fuzilante para Delphine e voltou a experimentar a mágoa causada por ela. Detestou aquela sensação e chegou a odiá-la pela forma com reagiu.
- Não meu amor. Ela está só preocupada com o que está acontecendo. – Buscou o olhar das demais e Siobhan gesticulou com a cabeça. – Mas eu acho melhor irmos para o seu quarto trocar essa roupa suja. – Começou a puxar a menina pela mão.
- Del? Você vem com a gente? – A menina estendeu a mão para a loira que voltou a olhá-la com a mesma desconfiança de antes.
“O que porr* você está fazendo?” Cosima invadiu a mente dela sem cerimônia alguma. A loira a olhou com espanto e só então se deu conta da forma como estava agindo quando focou no rosto infantil que a fitava com o queixo tremendo.
- Não Manu... Agora eu não posso. – Respondeu a menina sem muita convicção. – Tenho que ver como a S vai ficar. Vá com a Cosima e eu irei já. – Sorriu forçadamente.
- Tá certo! – A menina fungou e limpou o nariz na manga de seu casaco azul favorito e que fora rasgado pelos tiros que deveriam ter estraçalhado seu pequeno corpo.
Todas ficaram em silêncio enquanto as duas sumiam escada acima. Assim que não eram mais vistas, elas se voltaram para Delphine como se buscassem algum tipo de explicação para o que acabaram de testemunhar. Mas Delphine demonstrava que estava tão perdida quanto elas e começou a zanzar pela sala mexendo em seu cabelo freneticamente, indicando que estava realmente preocupada.
- Desculpe Senhora! – A entrada brusca de uma das seguranças da Exercito de Ártemis, atraiu a atenção daquelas mulheres.
- Diga! – Delphine respondeu tentando retomar sua postura.
- Pegamos os atiradores e mais outros cinco homens que estavam em dois carros.
- Onde estão esses cretinos? – Stella adiantou-se.
- Na garagem. Mas aqui estão as armas que eles utilizaram. – Outra mulher aproximou-se e entregou dois rifles de longo alcance e de ultima geração. Stella segurou um deles com as mãos manchadas com o sangue de Siobhan.
- São fuzis russos... – Stella analisou a arma que segurava. – Delphine, colete nenhum do mundo segura os disparos disso aqui. – A Mestra da Ordem encarou sua irmã e estava implícito tudo o que ela queria dizer com aquilo. – A menina... Não era para ter sobrado nada dela! – Disse bem próxima ao ouvido da loira.
- Me leve até eles! – Delphine ordenou e o poder contido na voz dela causou pavor e todas ali.
- Delphine? – Siobhan a chamou, mas ela apenas a olhou com o canto dos olhos e saiu seguindo uma das mulheres. – Vá atrás dela! – Apertou o braço de Helena a olhando profundamente em seus olhos. De pronto foi atendida e a morena saiu em disparada atrás de sua mestra.
Helena a alcançou quando ela já estava acessando o prédio onde os veículos da Fundação ficavam.
- O que pretende fazer Delphine? – Tentou pará-la, mas pareceu não ser atendida.
Haviam seis homens ajoelhados e algemados, e um sétimo caído desacordado, mas ainda respirando. Todos eles não conseguiram esconder o medo que os assolou quando aquela mulher chegou com tudo naquele ambiente e um gemido baixo chegou a ser emitido por um deles. A fama dela a antecedia e não era muito positiva para os homens do Martelo. Todos tinham certeza que seu fim havia chegado e isso estava estampado em suas caras apavoradas.
Delphine caminhou com lentidão ao redor deles, os analisando. Um a um. Eles viravam a cabeça bruscamente buscando vê-la, mas ela não disse nada a princípio, apenas os circulava em silêncio e com uma calma torturante. Parou depositando as mãos nos bolsos de sua calça e ergueu a cabeça e pereceu estar captando algum cheiro ou odor.
- Medo! – Ela baixou o rosto com um sorriso gélido nos lábios e um brilho sombrio em seus olhos. – Eu respeito o seu medo. E vocês estão certos em tê-lo. Porém... – Voltou a erguer a cabeça e fechou brevemente os olhos para em seguida abri-los de repente e encará-los. – Temem a pessoa errada.
- Delphine... – Havia um tom de alerta na voz de Helena. Por mais que ela odiasse aqueles homens, e o que eles havia ido ali fazer, ela não era o tipo que aprovava violência gratuita e sabia que sua amiga estava no limiar da perda do controle sobre si e isso poderia ser perigoso não apenas para seus prisioneiros.
- Temem a ira daquele verme com o seu fracasso... Mas... – Retirou uma das mãos dos bolsos e encarou seus próprios dedos, sincronizado com esse movimento, um dos homens ficou de pé contra a própria vontade e olhava suplicante para seus companheiros. Caminhou debilmente até ela, parando a poucos centímetros. Ela analisou cada detalhe do rosto do homem loiro de pele rosada e barba por fazer. Deduziu que era um alemão e quando invadiu a mente dele, confirmou seu palpite.
Ela fez questão de deixar claro para ele o que estava fazendo, varrendo a mente dele atrás de algum motivo que pudesse poupar a sua vida. Poucos segundos depois um som oco de algo sendo quebrado gelou o sangue dos demais e aquele alemão caiu ao chão com o pescoço retorcido e os olhos esbugalhados.
- Quem será o próximo? – Ela esfregou uma mão na outra.
- O que você acha que está fazendo? – Helena colocou-se entre ela e os homens apavorados. – Os está julgando e condenando. Vamos entrega-los à justiça.
- Justiça você diz! Esse aqui! – Chutou o corpo do homem que morrera a poucos instantes. – Três condenações por estupro. Não passou um dia se quer na prisão! – Virou-se para os demais. Com as próprias mãos ergueu um homem de uns quarenta e poucos anos, calvo e de pele morena. – Pedófilo e abusador de meninos. – Jogou o homem ao chão! – Tráfico de mulheres e meninas. Drogas, prostituição... E nenhum deles respondeu a justiça e sabe por que minha amiga? – Delphine varria a mente de cada um deles encontrando o que de pior eles haviam feito e a repulsa que sentia deles só aumentava, deixando Helena sem mais argumento algum.
- São do Martelo. São “intocáveis.” – Helena arriou os ombros diante da dura realidade que enfrentavam. Lamartine possuía muitos homens poderosos em suas mãos e isso facilitava todos os seus esquemas ilícitos e normalmente seus homens saiam impunes dos mais variados e bárbaros crimes.
- O que? – Delphine paralisou e virou-se para um dos homens que estava mais quieto. Como se afasta-se folhas de seu caminho, ela gesticulou jogando os homens para os lados para que pudesse acessar aquele que atraiu toda a sua atenção. Ele não recuou nem demonstrava o mesmo medo dos demais e ela deduziu que ele era o líder daquela operação, mas não foi isso que a atraiu até ele e sim o que viu na perversa mente dele.
- O que foi Delphine? – Helena alarmou-se ainda mais ao perceber o início do furacão que se aproximava com a perda de controle de sua amiga.
- Manu! – Foi tudo o que ela disse com os olhos arregalados encarando o homem e que não compreendia a que ela se referia. – Ele... Bateu... – Todo o corpo de Delphine tremia e os punhos cerrados mostravam que ela lutava consigo para não explodir. – Nela! – Ele teve seu corpo erguido e lançado contra a lateral de um dos carros parados ali, estraçalhando os vidros e a coluna dele, que berrou de dor e caiu ao chão. Ela caminhou vigorosamente em direção a ele e o ergueu do chão como se fosse nada. Relutou, mas precisava saber mais e então extraiu tudo o que podia da mente dele a respeito da menina.
Estavam naquela mansão asquerosa, onde a menina foi encontrada. Havia uma mulher que tentava, inutilmente proteger as meninas contra as investidas de dois homens, ele era um deles. Mas eles batiam violentamente naquela pobre mulher e uma garotinha, que não devia ter mais do que quatro anos, interviu. Era Manu.
Toda aquele prédio estremeceu com a energia de ira liberada por Delphine quando ela viu que aquele homem chutou a menina no rosto. Lançando-a para longe, deixando-a caída no chão. Cada um dos quatro membros dele foram estraçalhados pela energia emanada por Delphine. Que ainda viu a mulher defendendo a menina, evitando que ela levanta-se. E então percebeu que aquela mulher sabia algo mais da menina. Mas logo a imagem se desfez como fumaça, pois o homem havia caído na inconsciência devido a extrema dor que sentiu.
- Procure se controlar Delphine! – Helena tentou mais uma vez e viu sua Mestra fechar os olhos com intensidade. Rogou as deusas que quando ela os abrisse eles não estivessem negros, e para o seu alívio e sorte dos homens que sobreviveram, ela não havia mergulhado em seu transe.
- Tirem esses homens daqui. – Ordenou enquanto esfregava sua própria testa. – Exceto esse aqui. – Helena a olhou receosa. – Preciso mandar um recadinho para o Lamartine! – A morena estremeceu com o que quer que fosse que estava passando na mente dela.
______
- Não existe registro algum na história da Ordem de uma criança imortal. – Violet, a sacerdotisa disse enquanto terminava o curativo no braço esquerdo de Siobhan. – Isso é impossível.
- Até onde sabemos, os únicos imortais foram você e o Lamartine. – S prosseguiu com aquele assunto. Elas, juntamente a Delphine, Helena e Stella, estavam reunidas nos aposentos da Sacerdotisa que havia disposto todos os livros que possuía acerca da história da Ordem para que buscassem alguma explicação para a imortalidade de Manu.
- E esse feitiço só existe no Nominis Umbra. – Stella opinou.
- Por isso ela não morreu naquela ocasião... Quando o Lamartine foi afetado e ela desmaiou. – Violet lembrou daquele evento peculiar. – O coraçãozinho dela chegou a parar. – Delphine arrepiou-se com aquela lembrança e voltou a se permitir preencher pelo amor que sentia por ela, e que ele estaria acima de qualquer outra coisa. – Mas temos de saber mais sobre ela.
- Agora temos um nome! – Delphine se pronunciou. – Anika! – Todas olharam para elas com indagações em suas faces.
- Um dos prisioneiros atuava na casa onde encontramos Manu. – Helena tratou de começar as explicações. – E... Delphine conseguiu arrancar esse nome dele. Talvez ela saiba algo mais das origens da menina.
- Anika... – Siobhan repetiu esse nome algumas vezes e estalou os dedos quando lembrou-se de onde o conhecia.
- O que foi S? – Stella a questionou.
- Ainda não tenho certeza, mas confirmo minhas desconfianças em breve e lhes aviso. – Levantou-se sob os protestos de Violet que insistia que a mulher repousasse.
- Seria ela a mãe da Manu? – Stella verbalizou o que todas pensarem e que assombrava Delphine desde que teve aquela visão na mente daquele homem desprezível.
- Não tenho certeza! – Delphine coçou a testa. – Mas certamente é alguém que conhece algo sobre a história da menina.
- A cada dia essa criança nos surpreende ainda mais. – Helena destacou. – É impossível prever do que ela é capaz.
- Fato. – Stella concordou. – Uma pitonisa imortal... Só isso já a torna a mais poderosa pessoa viva no mundo. Até mais poderosa que você Cormier. E estamos falando de uma menina de sete anos. – Recostou-se na parede e apoiou as mãos sobre a cabeça.
- Você sabe o que isso significa não? – Violet encarou Delphine que segurou o olhar por alguns instantes e concordou. – Ela vai precisar muito de você. – A loira baixou a cabeça. – E já está precisando nesse momento. – Delphine ergueu a cabeça a encarou, depois olhou para cada uma das demais e viu que todas estavam de acordo.
- É, eu sei!
______
- Por que a Del está com raiva de mim? – Manu insistia naquela pergunta que martelava em sua cabecinha. Cosima a olhou enquanto penteava o cabelo da menina após o banho que deu nela para tentar coloca-la para dormir.
- Ela não está com raiva de você meu amor. – Acariciou o rosto dela.
- Mas por que ela tá sentindo essa coisa ruim de mim? – Acariciou a própria barriga indicando que sentia alguma coisa.
- Eu não estou com raiva de você! – Delphine falou da porta do banheiro surpreendendo as duas. – Me desculpe se fiz você pensar assim. – Caminhou até elas e Cosima soube que deveria dar espaço para que as duas se acertassem. Delphine assumiu a tarefa de vestir o pijama de girafa favorito da menina enquanto conversava com ela.
- Mas você não quis pegar na minha mão. – Ela não ia esquecer aquilo mesmo. Delphine olhou para a mãozinha espalmada diante do seu rosto e entrelaçou seus dedos entre os dedinhos dela e virou para beijar a mão dela.
- Manu... Você não tem dimensão do quanto és uma menina especial e nós ainda estamos descobrindo coisas sobre você. – Não desejava magoar a menina, mas ao mesmo tempo não poderia fingir que nada daquilo aconteceu e que não existia uma gigantesca questão sobre ela. Quis ser sincera, mas de uma maneira que não a deixasse ainda mais triste. – E algumas vezes essas coisas são muito surpreendentes.
- É eu sei... Tipo, eu nunca me machuco. – Ela disse quando enfiou um dos braços na manga do casaco do pijama. Cosima ajoelhou-se ao lado de Delphine e interessou-se.
- Manu, você já ficou doente alguma vez? - A morena a questionou enquanto segurava a calça para ela enfiar as pernas. Manu bateu os dedos em seu queixo enquanto pensava e fez uma careta adorável e negou com a cabeça.
- Isso é ruim? – Ela as questionou após vê-las trocando olhares sérios.
- De jeito nenhum! – Delphine a ergueu do chão e colocou sobre o banquinho que ela usava para alcançar a pia e poder escovar os dentes. – Só lhe torna ainda mais especial. – Sorriu verdadeiramente para ela pelo espelho e gargalhou quando viu o largo sorriso repleto de espuma.
- Como está a Sra S? – Lembrou-se de súbito.
- Está bem. Foi só um machucado bobo. – Delphine a colocou no chão e as três voltaram juntas para a cama.
- Vocês duas podem dormir comigo hoje? – Ela suplicou enquanto recebia Andromeda em seu colo. Usou de todo o seu irresistível charme fofo para atingir seu objetivo. As duas mulheres trocaram olhares significativos e perceberam que a continuação da sua lua de mel teria de esperar ainda mais.
- Claro meu bem! Mas ambas precisamos tomar um banho também. – Cosima respondeu por ambas.
- Então venham logo! – E mais uma vez ela conseguiu o que queria.
______
A manhã estava ensolarada e a movimentação na Fundação parecia estar voltando ao normal, mesmo que do lado de fora, toda a segurança estivesse sido redobrada.
Stella e Helena trabalhavam incessantemente buscando todas as informações acerca dos próximos passos do Martelo e Siobhan estava enfurnada em seu escritório em ligações que pareciam não ter fim.
Enquanto isso, Manu tinha aulas de História com Delphine e Cosima, e discordava de quase todos os fatos que elas lhe contavam a cerca de como as mulheres não tiveram seu papel destacado nos livros.
- Isso é muito injusto. Você deveria estar aqui Del! – Apontava o livro que lia.
- Muitas deveriam estar nessas páginas, mas não foi assim. – Delphine lamentou.
- Mas estamos mudando isso. Estamos estudando e contando a nossa própria história e a Ordem é muito importante para isso.
- Sim! E no que depender de mim, todo o mundo... – Abriu os braços largamente. – Saberá quem foram essas grandes mulheres.
- Estamos criando um “monstro.” – Cosima cochichou para Delphine que só pode concordar com isso. Mas aquela postura na menina era mais do que bem-vinda, era necessária. Até porque era assumiria a liderança da Ordem em algum momento e o mundo que ela encontraria poderia ser bem melhor do que os séculos de silêncio e opressão que Delphine vivenciou.
Manu representava a esperança de um novo tempo. Embora que para isso houvesse uma imensa tempestade a ser enfrentada. E uma intensa movimentação do lado de fora indicava que ela chegara mais cedo do que o imaginado.
- O que está acontecendo Helena? – Delphine a interrompeu enquanto saia com Cosima que carregava Manu.
- Um carro estranho, pedindo autorização para entrar. – Ela lhe respondeu e dirigiram-se todas para a mesa de controle da segurança eletrônica da Fundação. – Mostre as câmeras! – Ordenou. Varias telas mostraram vários ângulos diferentes de um carro sedan preto com uma película bastante escura em todos os vidros.
- Esse carro aparece na lista da polícia de veículos roubados. – A agente que comandava as máquinas informou após o retorno da pesquisa que fez com o número da placa.
- Mande algumas agentes... E que elas tenham cobertura. – Delphine ordenou.
- Eu vou com elas. – Stella se ofereceu e Helena alarmou-se. - Não se preocupe! – Abriu o blazer que usava e deixou o decote de sua blusa revelar o colete que usava. – E temos dezenas de guardas por todos os lados. – Piscou um dos olhos para a morena e lhe acariciou o rosto. – Vamos. – Gesticulou para outras duas que saíram com armas em punho.
Stella apenas verificou se a sua pistola estava em sua cintura, e caminhou com sua altivez característica. Sabia muito bem que aquilo poderia ser uma armadilha, mas precisava saber do que se tratava e não poderia jamais arriscar a vida de Delphine ou mesmo a de Helena. Olhou para os lados enquanto caminhava pelo caminho de pedras que levava até o portão principal e verificou que todas as guardas estavam em suas posições.
De dentro da Fundação, as demais assistiam a tudo com extrema atenção e a tensão crescente era cada vez mais palpável no ar. Stella caminhou e parou a alguns bons metros de distância. Suficiente apenas para que pudesse ser ouvida.
- Identifique-se! – Falou com firmeza e num tom mais alto. Não obteve resposta imediata. – Vou repetir, identifique-se! – Quase berrou e após alguns segundos de silêncio, os faróis do carro piscaram três vezes seguidas. – O que? – Stella disse baixinho e em seguida arregalou os olhos, pois havia entendido o que era aquele contato. – O que você quer? – A resposta veio novamente com o piscar dos faróis numa sequência pensada.
- Código Morse! – Helena reconheceu aquele estilo de comunicação e o traduziu para as demais. – S – I – O – B... – Calou-se e depois repetiu de uma vez só. – Siobhan Sadler! – Disse para as demais e usou o comunicador para falar com Stella. – Oi... Você entendeu?
- Claro Katz. Seja lá quem for quer falar com a S. – Voltou-se para o carro. – O que você quer com ela? – Nova sequência de piscadas. – “Ela me chamou aqui!” – Stella olhou pelos ombros como se tenta-se estabelecer algum contato visual com as demais, mas era impossível. – Onde ela está?
- Já foram chama-la. Estava repousando. – Helena respondeu pelo comunicador.
- Baixe o vidro e identifique-se! – Exigiu mais uma vez e só agora sacou sua arma e a destravou. Mas não foi obedecida, e antes que repetisse a ordem, novas piscadas começaram.
- Disse que não é bem-vindo aqui! – Helena interpretou os códigos para Delphine que alarmou-se.
- O que está havendo aqui? – Siobhan chegou ainda trajando um roupão sobre sua roupa de dormir.
- Tem um carro lá fora. Alguém que diz que veio falar com você. E foi você quem chamou. – S, ainda tonta do sono pesado devido aos analgésicos tomados demorou alguns instantes para processar a informação. E antes de completar essa tarefa, Helena se manifestou.
- Mas que merd*!
- O que foi? – Cosima não conteve sua ansiedade.
- É sério isso? – A voz de Stella foi ouvida pelo comunicador.
- Abram os portões! – S ordenou atraindo a ira de Delphine.
- Você enlouqueceu Siobhan? – Delphine prostrou-se na frente dela.
- Confie em mim! – Pediu e desviou de sua Mestra que ficou boquiaberta diante daquela reação.
- O que foi Helena? – Exigiu uma explicação de sua Protetora.
- É a... Joana! – Olhou para Delphine compartilhando da incredulidade dela.
- Quem? – Cosima questionou aflita diante da reação de Helena e Delphine.
- Você enlouqueceu Siobhan? – Delphine a confrontou. – Trazê-la aqui, com a Cosima e tudo o mais?
- Por favor, Delphine, confie em mim. Todas nós devemos algo a essa mulher.
- Eu sei exatamente o que devo a ela. – Delphine revirou os olhos visivelmente consternada.
Pelas câmeras, viram o carro parando logo abaixo da escadaria principal e ser cercado por Stella e as demais seguranças que apontavam armas para as portas.
- Pode sair! – Stella ordenou e após alguns segundos de hesitação, a porta do motorista foi aberta e lentamente Joana saiu de lá com as mãos a mostra, mesmo que isso não tenha sido demandado, mas ela sabia exatamente onde estava pisando e que havia muita gente ali que certamente desejaria a sua morte. E a mulher que lhe apontava uma arma certamente era aquela que mais desejasse isso.
- Bom revê-la Gibson! – Ela sorriu e lentamente retirou seus óculos escuros.
- Me desculpe se não compartilho da mesma “emoção.” – Stella relaxou um pouco após uma das seguranças verificar que ela não possuía arma alguma. – Quem está com você? – Stella alarmou-se ao perceber um movimento no banco de trás do carro.
- Calma Stella! – Siobhan falou do topo da escada. – Pode deixa-las subir. – Stella afastou-se um pouco e assistiu Joana ir até a porta do carro e abri-la revelando que havia uma mulher lá que ela não conhecia. Essa também foi revistada e com um aceno de mão, S sinalizou que deveriam subir.
Stella mandou que as seguranças checassem todo o carro e depois retornassem as suas posições. Subindo logo atrás de Joana. Ao contrário de Siobhan, ela não confiava nem um pouco naquela mulher e não pretendia deixa-la sem estar sendo vigiada.
Assim que entraram foram recebidas por Siobhan que fez questão de cumprimentar Joana, para deixar claro que ela confiava na mulher a despeito da desconfiança de todas as demais. Era evidente o desconforto dela e a tensão assumiu proporções perigosas quando ela se aproximou de Helena, que estava bem a frente de Delphine, em uma evidente posição de proteção.
- Oi Helena! – A cumprimentou receosa. A morena a encarou com firmeza e fez questão de demonstrar toda a reprovação com a presença dela ali.
- Oi. – Foi a resposta seca que deu a ela. Como se aquela hostilidade não fosse o suficiente, Joana recebeu um olhar fuzilante que a fez estremecer visivelmente quando encarou Delphine. Essa, por sua vez estava com o braço protegendo Cosima e Manu que lutava em sair de trás das pernas dela para ver o que estava acontecendo.
- Delphine! – Disse baixinho e a olhou de baixo para cima. O mais ofensivo silêncio foi o que recebeu em resposta.
- Quem é essa mulher? – Helena foi quem indagou sobre a acompanhante de Joana. Uma mulher de cabelos curtos castanho claro estava acuada e de cabeça baixa.
- Anika? – Foi Manu quem a anunciou quem era aquela mulher. Delphine encarou a menina e voltou-se para a mulher. Ela estava diferente da visão que teve na mente do homem do Martelo que aprisionou e percebeu que ela certamente deve ter mudado sua aparência para se manter escondida. O coração da Mestra da Ordem recebeu uma pontada quando viu a menina se desvencilhar de Cosima e correr para o encontro daquela mulher que finalmente sorriu e abriu os braços para receber a menina.
- Kleine Manu! – As duas se abraçaram e a mulher ficou com os olhos marejados de lágrimas.
- Del! Quem é ela? – Havia muito receio na voz de Cosima que tocava o braço de sua companheira com a mão tremula. Delphine virou-se para ela e também havia receio no rosto dela.
- Ainda não tenho certeza meu amor. – Entortou um pouco a boca.
- Olá... Anika, não é mesmo? Sou Siobhan. – A ruiva se apresentou com gentileza em sua voz. A mulher arregalou os olhos e estendeu sua mão apertando a de S com bastante entusiasmo.
- Muito prazer Sra. Sadler. – Ela disse num carregado sotaque alemão. – É muito bom conhecer minha salvadora... E ainda mais reencontrar a minha pequena Manu.
"Minha!” Aquela referência fez com que Cosima e Delphine trocassem novo olhar aflito.
- Não precisa me agradecer... Na verdade, talvez possa fazê-lo nos dando algumas explicações de quem é essa menina. – S acariciou o topo da cabeça de Manu, mas teve seu braço apertado por Delphine que olhou sugestivamente para Joana. – Ah sim... Imagino que devam estar cansadas da viagem, por favor vou leva-las para suas acomodações e pedirei que preparem um café da manhã. Em seguida poderemos conversar. – Sorriu para a mulher e fez o mesmo para uma incrédula Delphine.
- Del, Cos... – Manu puxou Anika até a direção delas. – Essa é a Anika... Foi ela quem me criou! – A menina aliviou o peso dos corações das duas. Aquela não era a mãe dela. – Anika, essas serão as minhas mamães! – As apresentou com denotado orgulho.
- Muito prazer! – Estendeu a mão com um sorriso honesto nos lábios. – Muito obrigada por cuidarem dessa menina tão especial. – As duas se entreolharam e cumprimentaram-na.
- Nós que lhe agradecemos. – Cosima respondeu por ambas, mesmo olhando de forma desconfiada para Delphine que permanecia receosa.
- Pois bem... Vão e nos encontramos em duas horas. – Siobhan ordenou e todas foram se dispersando. Joana ainda segurou o olhar em Helena, mas sentiu o peso dos olhares reprovadores de Delphine e Stella, que propositalmente se prostraram ao lado dela.
- Del? O que está acontecendo aqui? – Cosima sussurrou perto dela.
- Vamos descobrir muito em breve.
______
Delphine e Cosima mal conseguiam conter a sua ansiedade enquanto esperavam o retorno de Anika. Elas estavam na sala da direção da Fundação, juntamente com Stella e Helena. Pouco depois Siobhan entrou, trazendo Anika ao seu lado.
- Sente-se querida! – Ela indicou uma poltrona a frente do sofá onde Delphine e Cosima estavam sentadas. – Muito bem, sei que devo algumas explicações a vocês. – S também se sentou próxima a elas. – A Anika é uma das mulheres que mantemos escondidas após serem resgatadas das mãos do Martelo. O caso daquelas que libertamos na casa onde encontramos a Manu.
- Mas a Anika não estava lá. Eu me lembraria. – Delphine interviu.
- Não... Nós a resgatamos de uma outra casa em Cracóvia. Alguns meses antes de irmos até a Turquia. – S explicou e continuou. – Ela foi resgatada quase sem vida por nossa equipe e por muito pouco não sobreviveu. – A mulher mostrou a cicatriz na testa e que faltavam dois dedos em sua mão direita. Delphine respirou pesadamente diante da imagem que teve do que aconteceu com a mulher, assim como as demais ficaram indignadas. – E quando você mencionou o nome dela... Eu me lembrei imediatamente.
- E o que a Joana tem a ver com isso? – Helena questionou secamente.
- Ela tem me ajudado a esconder essas mulheres, da mesma maneira que é ela que me passa as informações de onde elas são cativas. – S surpreendeu a todas com aquela informação. – Vocês não fazem ideia do quanto ela tem nos ajudado. – Stella e Helena se olharam e voltaram-se para Delphine que permanecia impassível em relação aquela que atentou contra a sua vida.
- Então você conhece a Manu a muito tempo? – Cosima atropelou a fala das demais, não contendo mais sua ansiedade. Anika olhou para S, como se pedisse permissão para falar algo. S sorriu e anuiu positivamente com a cabeça.
- Desde que ela nasceu! – Disse tranquilamente. Aquela revelação fez com que todas se entreolhassem tomadas pela expectativa. Finalmente saberiam mais sobre a origem daquela poderosa e misteriosa menina.
- Você conhece a... Mãe dela? – Cosima perguntou novamente tomada pelo receio de qual seria a resposta dela.
- Eu a conheci sim. Uma grande mulher... E foi ela quem me falou sobre a Ordem do Labrys. – Novo choque em todas. – Sim, eu sei quem vocês são!
- Conheceu? – Delphine atentou-se aquele detalhe.
- Sim... Ela morreu poucos dias depois que deu a luz a Manu. – Aquela informação aliviou os corações de Delphine e Cosima, mas ao mesmo tempo as comoveu.
- Que era ela? – Cosima questionou.
- Seu nome era Ivete... Nunca soube seu sobrenome. Apenas que era espanhola e pouco antes de morrer ela me contou sobre a Ordem e sobre o... Exercito de Ártemis... O qual ela disse que fazia parte. – Siobhan e Stella se olharam apreensivas.
- Então ela fazia parte da Ordem! – Helena afirmou.
- E me pediu que eu sempre dissesse a menina que ela fazia parte dessa Ordem também. – Delphine franziu a testa e remexeu-se em seu lugar.
- S... Será que ela está se referindo a Ivete Mendonça? – Stella alertou.
- Quem? – Delphine interessou-se.
- Uma das líderes do grupo de Madri. – S respondeu. – Mas achávamos que ela havia sido morta num confronto violento que tivemos por lá há... Uns oito anos? – Questionou Stella e essa confirmou. – Muitas irmãs foram mortas e algumas capturadas. Conseguimos libertar muitas... Achávamos que todas na verdade, mas parece que não.
- Mas isso não explica porque a Manu é... – Cosima pausou sua fala bruscamente quando recebeu uma repreensão de Delphine.
- Especial? Diferente? – Anika se colocou e continuou diante da surpresa delas. – Sim, eu sei que aquela menina não uma criança comum. E a forma como ela foi concebida e as coisas que a vi fazendo... Só me provaram isso. Mas não se preocupem, eu não falarei nada sobre ela, da mesma maneira que nunca o fiz enquanto ela esteve comigo. Foi uma promessa que fiz a Ivete. – Todas a olharam apreensivas.
- Por favor, Anika... Nos conte tudo o que sabe sobre essa menina. – Siobhan pediu e a mulher respirou fundo procurando encontrar as melhores palavras para o que precisaria dizer.
- Antes de tudo... Peço que tenham a mente aberta... – Pediu e as demais se olharam, pensando que aquele não era um problema ali. – Fazia pouco tempo que eu havia sido... Levada até aquela mansão em Istambul. Fui acolhida pelas mulheres de lá... Precisávamos nos manter unidas. Mas, uma noite qualquer, fomos acordadas com a chegada de uma nova garota. A principio achamos estranho eles terem trazido uma mulher que acabara de dar a luz. As roupas dela ainda estavam ensanguentadas... – A raiva misturada com compaixão pairou naquele ambiente. – Mas ela não foi “trazida” como as demais... Ela realmente foi até lá porque quis. Precisava esconder seu bebê e, segundo ela, aquele era o melhor lugar.
- Escondê-la de que? – Cosima alarmou-se. – Quem poderia estar atrás de um bebê inocente?
- O pai da criança. – Aquela informação lançou uma mensagem avassaladora para o coração de Delphine, que arriou a cabeça e engoliu em seco.
- Anika... – A mestra da Ordem começou a falar, ainda de cabeça baixa e com denotada dificuldade em falar, denunciando seu estado. – A Ivete disse o nome do... Pai do bebê? – Ela ergueu a cabeça com olhar desesperado e lançou aquela pergunta de forma pausada e aquele questionamento fez com que as demais compreendessem o aterrador caminho que a mente de Delphine estava construindo.
- Disse sim... Lamartine, John Lamartine.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]