Boa noite a todxs.
Queria começar destacando a importante revelação que tivemos no ultimo capítulo. Estou realmente surpresa que nenhuma de vocês cogitou tal possibilidade. Mas é exatamente isso mesmo! Nosso amorzinho é filha do Coiso! O que isso significa? Leiam e descobrirão!
E como podem ver no título, chegamos ao desfecho de toda a nossa saga. Assim como vocês, também estou experimentando várias emoções. Espero sinceramente que curtam e aproveitem ao máximo esse "restinho" de história.
Uma ótima semana e boa leitura.
Capítulo 80 O Fim (Parte 1)
Aquela informação caiu como uma verdadeira bomba sobre elas.
John Lamartine era o pai de Manu. Aquela impressionante criança carregava em suas veias o sangue do pior inimigo do Martelo e estava sendo criada bem no ceio da Ordem.
As senhoras do destino realmente sabem ser sátiras quando querem!
A mente de todas ali tentava mensurar os significados daquele fato, mas nenhuma delas conseguia se quer imaginar o que aquela informação representava para uma delas.
De repente, o estourar de uma peça de louça que ornava a mesa de Siobhan atraiu a atenção de todas. Seguida a ele outros itens mais frágeis que haviam ali tiveram o mesmo destino e logos os quadros que pendiam das paredes começaram a sacudir, levando a vários caírem ao chão.
- Delphine? – A voz receosa de Cosima fez com que as demais olhassem para a sua Mestra.
Ela continuava sentada, e estava de cabeça baixa, como se estivesse encarando algo muito interessante em seus pés. Porém, seus punhos estavam fechados e se contraindo cada vez mais forte. Logo seu copo inteiro começou a tremer no exato instante em que as janelas fizeram o mesmo.
- Delphine... Não... – Siobhan enrijeceu sua postura com os olhos arregalados e aflitos, buscando a ajuda silenciosa das demais. Trocou olhares desesperados com Stella, que apertou o braço de Helena, que estava ao seu lado.
- O que está acontecendo? – Cosima questionou quando percebeu o clima carregado que havia se formado ali dentro.
- O que ela tem? – Anika perguntou confusa.
- Por favor Delphine... Tente se controlar... – S levantou-se e deu dois passos em direção a ela, mas a resposta vem sob a forma de um som baixo e abafado. Ela havia dito algo que não foi compreendido a principio.
- Como assim se controlar? – Cosima olhava para S e para as demais tentando compreender o que estava se passando.
- ...Filha dele... – Ela repetiu e um estrondoso trovão estremeceu toda a estrutura da Fundação, fazendo com que todas estremecessem, tomadas pelo medo que era impossível de ser contido diante do que estava prestes a acontecer. – Dele! – Levantou lentamente a cabeça ainda de olhos fechados e quando os abriu, um frio cortante varreu aquela sala.
Cosima abriu a boca, mas não conseguiu dizer nada diante da angustia que provou quando foi atingida pela dureza daquele negro olhar. Era como se não existisse mais vida dentro dela, apenas um vazio aterrador.
- Del? – Tentou tocar-lhe o braço, mas foi como se um choque ferisse sua pele, levando-a a afastar a mão.
Ela estava num lugar inalcançável!
- A menina... – Voltou a falar com o maxilar quase travado. O armário onde S guardava suas armas começou a tremer. – É filha... DELE! – Esbravejou quando se pós de pé e todas sentiram o poder daquela energia que as empurrou para longe, inclusive Cosima.
Cega e tomada pelo ódio rancoroso que assombrava sua alma, Delphine caminhou em direção aquela pobre mulher que infelizmente estava prestes a pagar com a própria vida por algo que não possuía culpa alguma. Mas esse era o risco, o perigo com que todas na Ordem conviviam com Delphine. O seu lado mais sombrio era também o seu lado mais poderoso. O estado pleno de sua energia, de todo o legado que carregava e que lhe foi passado no momento de seu renascimento.
Porém... Ela não possuía a capacidade de controlar suas medidas, pois sua racionalidade serena ficava aprisionada em algum lugar de seu subconsciente e ninguém conseguia mensurar o que poderia acontecer com ela naquele estado. A ultima vez que isso ocorrera, todo um prédio veio a baixo e só não houve vitimas fatais graças a rapidez de reação de Stella.
Mas naquele momento elas estavam ali, muito próximas a Delphine e naquele prédio havia muitas outras pessoas que poderiam também ser atingidas pela raiva incontrolável justamente de quem deveria protegê-las. Aquela inacreditável verdade despertou o que havia de pior guardado em Delphine.
- Ela tem o sangue... DELE! – Todos os moveis foram jogados longe e as portas de vidro do armário de Siobhan estouraram lançando milhares de cacos de vidro que atingiram e cortaram Helena e Stella.
Caída no chão, Anika tentava se rastejar, fugir de Delphine que caminhava lentamente em direção a ela e por mais que as outras estivesses berrando com ela, tentando chamar a sua atenção, mas era tudo em vão. Ela não as ouvia.
Sob muito esforço, Helena postou-se ao lado dela e tentou lhe puxar o braço. Recebeu um olhar que não possuía emoção alguma. Porém, por uma fração de segundos pensou ter visto um lampejo de vida, como se sua amiga lhe pedisse socorro. Mas não durou... E num movimento brusco, Helena foi jogada para longe e os trovões fizeram com que o dia escurecesse e uma impiedosa tempestade caísse do lado de fora.
Mais dois passos vencidos e Anika foi erguida do chão como se fosse um farrapo, parando bem próxima a Delphine que a olhava atentamente, percorrendo os traços do rosto dela, como se estivesse buscando algo.
- Me diga... Tudo! – Anika sentiu seus membros serem esticados e uma dor descomunal latej*v* em sua cabeça. Era Delphine varrendo a mente dela, buscando mais informações sobre a menina. Só que isso estava literalmente matando aquela pobre mulher.
- Delphine! Não! – Algo chegou até seu ouvido e quando se virou foi segurada por Cosima que havia conseguido se erguer e correr até ela. Tomou o rosto dela entre as mãos e num esforço final encostou sua testa na dela.
Cosima abriu os olhos e não reconheceu onde estava. Na verdade não havia nada ao seu redor, apenas uma imensidão negra e uma desconcertante sensação de deja vú. Conhecia aquele assustador lugar. Já estivera nele antes e essa certeza se deu quando ao longe viu uma figura, suspensa no ar. Alguém que conhecia muito bem.
- Delphine! – Disse e de imediato partiu em sua direção, correndo e a cada passo suas pernas pareciam pesar mais e mais. Olhou para baixo e viu que aquela substância lamacenta já atingia a metade se suas canelas. Mas não se deu por vencida, pois sabia que precisava chegar até ela. Sentia o sofrimento da sua amada e precisava desesperadamente aliar aquela dor.
Com as forças renovadas, deu passos cada vez mais firmes e com a convicção de que nada a impediria, pareceu ganhar mais forças e suas pernas, que antes afundavam naquele lamaçal, agora parecia que pisavam numa firme superfície. Certa de seu objetivo, correu ainda mais rapidamente para alcança-la.
Parou diante dela e novamente a viu suspensa do chão, flutuando como se não pesasse nada. Tonou a chamar seu nome, mas ela parecia que estava desacordada, com os olhos fechados e a respiração lenta. Começou a ouvir vozes ao longe e quando se virou viu a cena de onde estavam a poucos instantes. A sala de Siobhan com os móveis bagunçados e em perfeito caos. Ela e Stella caídas no chão, lutando contra uma força invisível que parecia prendê-las ali e de pé estava Helena, berrando com Delphine que não a ouvia. E diante dela estava Anika. Com uma expressão de que experimentava uma terrível dor. Seu rosto contorcido e já manchado de sangue que escorria de seu nariz e ouvidos. Ela estava prestes a ser morta por Delphine que não encostava um dedo se quer nela.
Cosima soube que não poderia deixar aquilo acontecer, tanto pela vida daquela inocente mulher, quanto pela alma já castigada de Delphine que certamente sofreria imensamente se aquilo se concretizasse. Então esticou a mão e tocou nas pernas de Delphine que imediatamente abriu os olhos e eles não possuíam aquela sombra negra, apenas uma angustia doida que deu lugar a uma surpresa inesperada.
- Cosima? – Sussurrou seu nome como se ainda estive incrédula de vê-la ali.
- Sim meu amor sou eu.
- O que você está fazendo aqui? – E a medida que falava conscientemente ia descendo até que seus pés descalços tocassem o chão e ao contrário de Cosima que estava sobre uma superfície firme, Delphine começou a afundar.
- Não! Não soltarei sua mão! – Cosima disse firmemente e tomada por uma força que desconhecia, puxou Delphine para fora daquele rio de podridão. – Segure-se em mim! – E essa ultima frase ecoou por toda aquela imensidão vazia e finalmente Delphine firmou-se de pé.
- Que lugar é esse? – Mas antes que Cosima pudesse responder alguma coisa, a voz de Helena chegou aos seus ouvidos. Olhou para todos os lados a procurando.
- Ali... – Cosima indicou um ponto e a principio Delphine não viu nada, mas como se uma cortina de fumaça fosse sendo dissipada, viu aquela cena aterradora e só então percebeu o que estava acontecendo. Como se estivesse fora de seu corpo, percebeu que havia sucumbido aquela força brutal que que sempre lutava para conter dentro de si e estava em transe.
- Cosima... – Virou-se para ela tomada pela incredulidade e então abriu um tímido sorriso e esse logo se alargou quando sua amada anuiu serenamente com a cabeça e segurou sua mão com firmeza. Naquele exato instante, toda escuridão que as envolvia deu lugar uma claridade luminosa e então ambas se viram de volta aquela sala.
E pela primeira vez em toda a sua existência, Delphine se percebeu consciente em meio ao seu transe e quando se deu conta do que estava prestes a acontecer com Anika, partiu em direção a ela e abraçou enquanto permanecia segurando a mão de Cosima. Com aquele abraço, Delphine tomou para si toda a dor que estava causando a mulher e quando a soltou ela lhe olhou de forma tranquila e cambaleou para trás, procurando se recompor.
- Delphine? – A voz hesitante de Helena chegou até ela e quando se virou para encará-la, a sua Protetora surpreendeu-se ao ver que os negros olhos ainda estava presentes, mas algo estava diferente. Havia um brilho que jamais viu e o sorriso que recebeu de sua Mestra foi ainda mais surpreendente.
- Me desculpe minha amiga. – Delphine tocou levemente o rosto de Helena que ostentava pequenos cortes dos estilhaços de vidro que a atingiram. A morena, por sua vez sorriu de volta para ela e olhou para Cosima e depois para as mãos das suas entrelaçadas e se deu conta do que estava acontecendo.
Aquela poderosa mulher dirigiu-se até as outras duas e estendeu a mão primeiro para Siobhan e a puxou do chão, libertando-a da prisão que ela mesma havia aplicado a sua irmão. S a encarou estarrecida e assistiu ela fazer o mesmo com Stella.
- Peço perdão minhas irmãs... Desculpem se as machuquei. Essa jamais foi a minha intenção. – E lágrimas se formaram em seus olhos e quando despencaram deles, o negro se dissipou, dando lugar ao verde escuro natural.
- Delphine... Você esteve... – Siobhan, que de todas ali foi a que mais testemunhou aquele estado de transe de sua Mestra, estava estarrecida e completamente incrédula.
- Isso mesmo S... Eu estava consciente em meio ao meu transe. – Sorriu o seu sorriso mais lindo em meio as lágrimas que agora eram de alegria. Siobhan, Stella e Helena se entreolharam e focaram em Cosima.
- Mas isso nunca havia acontecido antes, não é mesmo? – S questionou.
- Nunca! Até hoje... – Olhou para sua mão e depois encarou sua amada. – Pela primeira vez eu não estive sozinha lá... Cosima estava lá comigo... Ou melhor, ela foi me buscar. – A morena baixou os olhos visivelmente encabulada por ser o centro das atenções ali.
- Vocês tem dimensão do que isso significa? – Stella se colocou e as demais anuíram positivamente com a cabeça, exceto Cosima.
- O que significa? – Ela parecia um pouco confusa.
- Criança... – S lhe tocou o ombro. – Existe um poder imensurável dentro dessa pessoa. – Tocou também o ombro de Delphine. – Mas ela nunca conseguiu explorar sua plenitude, pois nunca teve o controle deles.
- Até hoje... – Ela sussurrou se dando conta das implicações envolvidas.
- Ahh... Estou ansiosíssima para ver o que vocês duas poderão fazer com o Lamartine e os escrotos do Martelo. – Stella vibrou num entusiasmo desmedido.
- Emanulle sabia exatamente o que estava fazendo! – Siobhan disse com denotada admiração e aquilo capturou a atenção de Delphine que a encarrou com os olhos arregalados e a boca entreaberta. S tinha razão!
- Manu! – De súbito Delphine voltou-se para Anika que chegou a recuar com medo.
- Não se preocupe... Não a machucarei... Mais. – Torceu levemente a boca. – Você estava me mostrando mais sobre ela... – A mulher anuiu com a cabeça.
- Sim... A Ivete chegou até a Mansão poucas horas após dar a luz. Estava muito fraca, pois havia perdido muito sangue e mal teve forças para alimentar o bebê. – Anika continuou com seu relato. – Felizmente ou infelizmente... – Fez uma pequena pausa. – Havia duas outras mulheres que tiveram bebê a pouco tempo e uma delas amamentou a menina. E... – Anika olhou para todas aumentando a expectativa do que estava por contar. – Foi a primeira vez que a vimos abrir seus olhos... E não sei bem como explicar, mas foi como se ela conseguisse conquistar a todas nós com aqueles imensos e redondos olhos azuis.
- Aquela menina é mesmo irresistível. – Stella assumiu o que todas sentiam.
- Havia tanta vida neles... E era estranho, pois com o passar do tempo parecia que aquela menina possuía uma alma muito mais velha que o que uma criança deveria possuir. Tão inteligente e sagaz... – Delphine mordeu levemente os lábios e sentiu a pressão da mão de Cosima na sua e a de S em seu ombro. Olhou para ambas que lhe sorriram ternamente.
- Mas Anika... O que mais a Ivete contou sobre o pai da criança. – Siobhan retomou aquele crucial assunto.
- Como eu disse... Ela chegou muito franca e teve uma febre muito alta por causa de uma infecção severa que teve. Passou vários dias oscilando sua consciência e delirante falou coisas sobre rituais macabros... Profanações e sacrifícios. – Todas estremeceram com aquelas palavras. – Mas era tudo muito confuso, pois ela falava muito em seu idioma e nenhuma de nós compreendia. Mas quando ela finalmente recobrou a consciência foi que nos disse que a menina era filha do líder dos homens que nos mantinham presas ali e que ele não sossegaria enquanto não achasse a menina. – A expressão de Anika ficou ainda mais sombria e as demais temeram o que estava por vir.
- O que foi Anika? – A ansiedade de Cosima não suportava mais suspense.
- A Ivete dizia repetidas vezes que se ele pegasse a menina certamente a... Mataria. – Cosima quase gem*u diante da dor que sentiu com o aperto que Delphine deu nela. – Quando eu a questionei sobre as coisas que ela disse enquanto delirava ela sempre mudava de assunto.
- E... Como a Ivete morreu? – Delphine questionou.
- O pai da menina... Certamente ele a matou. – Disse com raiva e pesar na voz e novamente todas partilharam da raiva crescente.
- Então ele as achou? – Cosima insistiu.
- Sim! Poucas semanas depois da chegada delas.
- E como a Manu escapou? – Helena não mais se conteve.
- Aquele monstro não sossegaria enquanto não pegasse a menina... Então, novamente a tragédia foi nossa aliada. – Anika sorriu amargamente. – Uma outra mulher havia acabado de dar a luz... Mas o bebê nasceu morto. – Nova pausa e dessa vez lágrimas escorreram do rosto da mulher. – Ivete... Se sacrificou pela filha... Pegou o bebê sem vida e saiu... Fazendo questão de deixar um rastro para ser encontrada.
- Ela deixou a menina com vocês? – Cosima estava extremamente comovida pela narrativa. Anika anuiu positivamente com a cabeça.
- E ela me fez prometer que eu diria a menina que ela pertencia a Ordem do Labrys... Até então eu não fazia ideia do que era, até ser resgatada pela Sra. Sadler. – Olhou com gratidão para S. – E também disse que a menina era especial... Na hora eu achei que era só mais uma mãe idolatrando a filha. Mas eu estava enganada.
- O que você quer dizer com isso? – Helena a inqueriu.
- Essa menina... Ela faz coisas difíceis de explicar... Começou a falar cedo demais... Ela aprendeu a ler sem que ninguém a ensinasse e quando eu perguntei como ela fez aquilo e ela disse que viu as letras e como elas se juntavam para formar palavras dentro da minha cabeça e das outras mulheres. – Todas trocaram olhares cumplices. – E teve uma noite que ela acordou berrando dizendo que a Soraya iria morrer... Soraya era uma menina que sempre estava com ela, era bem mais velha e foi a Manu quem a ensinou a ler. Elas eram muito unidas. – Anika baixou a cabeça e deixou o pesar passar por sua face. – Então, quando a menina tinha uns doze anos, eles a levaram para cima... Para servir aos homens... Eles leiloaram a menina.
- Cretinos! – Stella explodiu, externando o sentimento de todas.
- Eram mesmo. E o primeiro homem dela... – Não precisou concluir sua fala, pois todas entenderam o que havia acontecido. – Por vezes parecia que a menina sentia quando as coisas iam acontecer. Inclusive quando ela sonhou que eu ia embora, mas me disse que eu não me preocupasse, pois iriamos nos encontrar novamente. Eu ri dela, e cometi esse uma única vez.
- É, ela não gosta que riam dela. – Siobhan reconheceu e sorriu, suavizando um pouco o clima.
- E tem mais... Eu nunca vi aquela menina adoecer... Nem sequer um resfriado. E olhe que eles mantinham aquelas meninas em condições terríveis. Várias sucumbiram a doenças e a fome, mas ela sempre resistia. Ela definitivamente não é uma menina comum. E tem o maior coração que já vi!
- Então o Lamartine pensa que a menina morreu? – Delphine se ateve aquele importante detalhe.
- Eu acredito que sim.
- E como você tem certeza que a Ivete morreu? – Cosima perguntou ainda temerosa.
- Foi a Manu que me disse. – A resposta assombrou a todas e Anika deu de ombros. – E depois, quando fui levada de lá para outra mansão, conheci uma mulher que me contou o que fizeram com a Ivete.
- Muito obrigada Anika... – S a tocou gentilmente no ombro. – Pode ir agora descansar um pouco. – Indicou percebendo a consternação de Delphine. A mulher saiu ainda um pouco cambaleante e sob os agradecimentos de Cosima.
- É impossível! – Delphine soltou o ar assim que a mulher saiu.
- O que? – Cosima questionou sem compreender.
- Imortais não podem gerar vida... – Delphine abriu os braços e caiu sentada em uma cadeira que sobreviveu a sua fúria.
- Como assim? – A morena insistiu.
- É isso que você ouviu. Faz parte dessa maldição terrível. Eu jamais pude engravidar nem ele poderia gerar vida. Está bem claro no livro.
- Então como você explica o fato da menina ser imortal? – S a confrontou.
- Eu não tenho a menor ideia.
- Mas isso também poderia explicar tanto poder que ela tem... E porque ela ficou afetada por ele naquela ocasião. – Helena se posicionou.
- Ela também possui uma conexão com ele. – Cosima suspirou estarrecida e recebeu um pesado olhar de lamento de Delphine.
- A mulher falou sobre rituais e profanações! – Stella interrompeu as inferências. – Seria possível haver algo assim? Algum feitiço ou rito que possibilitasse a criação de vida por um imortal? – Ela deu de ombros e Delphine se pôs de pé e saiu da sala sendo seguida pelas demais. Ela tinha um destino certo e todas presumiram qual era.
Passaram pelos corredores e desceram até o subterrâneo daquela secular construção. Delphine dava passos firmes e fez todo o trajeto até lá em silêncio, apenas ouvindo as teorias das demais que insistiam em pedir sua opinião, mas ela parecia as ignorar.
- Violet! – Ela chamou a sacerdotisa antes mesmo de entrar nos aposentos dela.
- Sim minha senhora? – A voz da mulher veio de algum lugar por trás das inúmeras estantes que havia ali.
- Chame as demais anciãs! – Delphine demandou e a mulher a encarou curiosa, mas sabia que a ultima coisa que deveria fazer seria desobedece-la e fez o que lhe foi solicitado. Alguns minutos depois as outras três mulheres se aproximaram e saldaram sua Mestra.
- Em que lhe podes ser uteis minha senhora? – Ou idosa de pele negra se adiantou.
- É possível um imortal gerar vida? – Ela foi direto ao ponto. As mulheres, que até então estavam prestando atenção por obrigação, arregalaram seus olhos e ficaram balbuciando sem verdadeira responder. – É possível ou não? – Delphine exasperou-se. Odiava estar no escuro em algum assunto e aquela era, sem dúvida, a notícia mais avassaladora com a qual já teve de lidar.
- Veja bem minha senhora... – Foi Violet que tomou a fala para sim. Enquanto sacerdotisa da Ordem, cabia a ela o domínio dos ritos que envolviam esse universo. – Até o que lhe ocorreu e ao Armand Verger, não haviam registro de nenhum outro imortal. Pelo menos não nenhum que houvesse sido bem sucedido nesse ritual.
- Sim, eu sei que outros tentaram antes e falharam... Mas da mesma forma que aquele cretino conseguiu conjurar o feitiço desconhecendo sua totalidade, ele poderia ter descoberto uma maneira de conseguir gerar vida? – Ela estava verdadeiramente impaciente. A sacerdotisa ficou pensativa por alguns instantes e então pareceu ter lembrado de algo, e girou no mesmo eixo indo em direção as estantes, mas parou antes de chegar nelas.
- A criança! – Delphine a encarou. – Ela é filha... Dele? – Foi Siobhan quem respondeu com um aceno de cabeça. Violet riu de canto de boca como se com aquela informação as coisas começassem a fazer sentido e sumiu em meio aos armários e estantes repletos de livros e registros.
Logo ela retornou com uma caixa de madeira escura, com alguns traços de musgo, indicando que ela não era mexia a muito tempo. Delphine franziu a testa e estranhou, pois não lembrava daquela caixa muito menos de seu conteúdo e aquilo a preocupou. Orgulhava-se de conhecer cada um daqueles escritos, e muitos dos quais ela mesma havia transcrito ou produzido em seus muitos anos de vida.
- Esse material chegou até nós há alguns anos. Foi achado em escavações arqueológicas em Éfeso. Descobriram tuneis que saiam do Templo de Ártemis e levavam até catacumbas secretas. – Ele informava enquanto abria a caixa com cuidado e via nas expressões de cada uma delas o total desconhecimento daquela informação. Exceto por Siobhan.
– Essa descoberta ainda não foi anunciada. – S tomou a palavra. – As escavações fazem parte do financiamento dado pela Fundação.
- Sim, eu sei. Temos várias equipes de Arqueologia espalhadas pelo mundo garimpando nossa história. – Delphine colocou as mãos na cintura. – Mas por que eu não fui informada disso? – Tocou a caixa com seu dedo indicador.
- Porque até então não havíamos encontrado nada significativo nesses textos. – S iniciou.
- Na verdade não conseguimos traduzi-lo a contento. – Violet confessou.
- Mas parece que afinal tem algo de importante neles então? – Stella usou de todo o seu tom de deboche, fazendo com que S e a Sacerdotisa trocassem olhares envergonhados.
- O que diz nele? – Delphine estava realmente sem paciência.
- Bom... – Violet terminou de abrir a caixa e retirou de um cilindro um grosso rolo de papiro. – Aqui tem algo mencionando o nascimento de um semideus, ou semideusa... O gênero é difícil de determinar no grego antigo.
- Mas Semideuses são um mito. Fazem parte da mitologia. – Cosima falou. – Não é?
- O que são os Mitos se não romantizações de lendas... Ou até mesmo de fatos reais, mas que de tão aterradores, foram assim contados? – Violet sorriu. – Mas ainda é muito confuso o texto. E... – Baixou os olhos. – Justamente por tratar de “mitos”, não demos a devida importância. – Delphine bufou e quase empurrou a Sacerdotisa para o lado afim de se posicionar de frente para o texto.
- Você consegue ler isso? – Cosima debruçou-se ao lado dela. Recebeu apenas uma olhada de canto de olho.
- Esse texto... É de mais uma menos uma geração após as fundadoras. – Ela revelou e todas arregalaram os olhos. – Ele fala da tentativa de... De... – Ela ergueu a cabeça e olhou para todas visivelmente consternada.
- Do que Delphine? – Cosima quase sacudiu seu braço.
- A Mestra que sucedeu Hipólita... Mirina... Tentou conceber uma criança sem a contribuição de um homem e para isso usou o sangue de sua companheira de Protetora.
- Duas mulheres gerando uma vida? Adorei! – Stella divertiu-se e recebeu um reprovador olhar de Delphine e uma cutucada de Helena.
- Mas isso não explicaria a imortalidade de Manu. – Cosima tentou seguir o raciocínio de Delphine.
- Sim... Não explica, mas ele poderia ter usado algo semelhante. Não seu sêmen... Mas seu sangue. – Violet concluiu.
- Elas conseguiram? – Cosima questionou apontando para o papiro.
- Aparentemente sim. O texto fala de uma criança sem pai. Uma menina. Tem mais? – Delphine questionou Violet.
- O que temos já é datado de outra época... – A sacerdotisa lamentou.
- Droga! – Delphine praguejou.
- Imaginem... Se a milênios atrás e com um conhecimento científico bem menor elas podem ter conseguido, imaginem o que Lamartine e o Martelo não podem fazer nos dias de hoje, com tanta tecnologia disponível para reprodução assistida? – Stella chamou atenção para a realidade.
- Pois é... Células tronco e coisas assim. – Helena emendou, mas Delphine pareceu ainda não se convencer.
Mas o fato era que eles haviam conseguido. De alguma maneira eles conseguiram que Lamartine tivesse uma filha. Mas agora o que estava martelando a mente de Delphine era o motivo disso. Para que ele desejaria uma descendência, uma vez que era imortal e nunca fora do seu feitio a preocupação com a paternidade.
Mas em meio a esse pensamento, algo mais lhe ocorreu e lhe causou certo divertimento acerca do quando o destino poderia ser sádico, pois lhe foi concedido, mais uma vez uma filha mulher. Ou seja o que mais ele desprezava. E certamente foi sabendo disso, que a Ivete quis afastar a menina dele.
- Que ironia não? – Violet disse quando elas já se preparavam para ir embora.
- O quê? – Helena questionou.
- Que a filha do nosso grande inimigo tenha sido encontrada exatamente por nossa Mestra. – Ela disse abraçada com a caixa.
- E que será adotada por ela... – Siobhan emendou. E logo uma ideia foi partilhada por todas.
Precisavam, a todo custo, manter Manu longe de Lamartine.
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- Não fique assim Manu. Você vai me visitar na California muito em breve. – Sally Niehaus falava do outro lado daquela chamada.
- Mas e o nosso passeio? – A voz da pequena estava embargada indicando toda a sua frustração.
- Lhe prometo que passaremos por todos os parques de São Francisco... Onde eu sempre levava a Cosima quando ela tinha a sua idade. – Sally reforçou a promessa, tentando consolar a menina. – O Parque Golden Gate não é bastante divertido, Cos?
- Bastante! Você vai adorar Manu.
- Me diz de novo por que não posso ir encontrar com a vovó Sally antes de ela ir para o aeroporto? – A menina voltou a insistir em toda a sua teimosia usual. E novamente lhe foi explicado que era uma questão de segurança. Que a vovó Sally e os demais amigos dela estavam retornando para suas casas até eu fosse novamente seguro para todo mundo se reencontrar.
- Mãe, me desculpe por tudo. – Cosima começou a se despedir com aquele pedido a sua mãe. – Sei que lhe devo muitas explicações e prometo que as terá assim que for possível.
- Cos, sim... Tem muita coisa que não compreendo dessa história toda, mas eu confio em você. Sei que não se envolverias em nada errado ou perigoso. – Sua filha sorriu timidamente e olhou de lado para Delphine que segurava Manu em seu colo. – E Delphine... – Direcionou seu foco para a mulher.
- Sim Sally?
- Não deixe que nada aconteça a minha menina ok? – Sally sorria, mas falava sério. – Aliás, às minhas meninas! – Olhou para Manu e piscou um dos olhos para ela e a garota sorriu imensamente, mal contendo sua felicidade.
- Lhe prometo isso Sally! – A loira falou com toda a sua seriedade. Era o mínimo que poderia prometer aquela mulher e ambas sabiam que certamente ela faria o possível e o impossível para proteger as duas pessoas que mais amava.
- Bom... Acho melhor terminar de organizar minhas coisas. – Iniciou a despedida. – Mas eu preciso mesmo ter pessoas atrás de mim? Essas seguranças? – Protestou.
- Mãe... Eu me sentirei mais tranquila sabendo que elas estão com você!
- Só por isso ok? – Sally fez a mesma careta de chateação que Cosima fazia.
- Promete que me liga assim que chegar? – E as despedidas continuaram chorosas como deveriam ser. E Manu saiu do colo de Delphine e sentou-se no chão, brincando com sua gatinha, contudo sua expressão indicava que algo a incomodava.
- Vai ficar tudo bem Manu. Não precisa ficar assim. – Cosima procurou consolá-la após fechar o seu notebook encerrando a ligação.
- Tem alguma coisa muito errada. – Ela disse evitando os olhares das duas.
- Como assim? – Cosima sentou-se ao lado dela.
- A Del não está bem... Nem você! – Deixou que Andromeda mordiscasse sua mão.
- Sim... Algumas coisas estão nos incomodando, mas estamos cuidando disso. – A morena tentou retirar uma mecha de cabelo que pendia no rosto da menina.
- Não é isso... É alguma coisa comigo. Eu sei que é. Vocês estão me olhando de um jeito... Esquisito! – Ela olhou para as duas e novamente havia lágrimas nos olhinhos dela. Era praticamente impossível manter algo escondido daquela formidável menina.
De fato, as duas evitaram ao máximo encontrarem com ela após a terrível descoberta de sua origem. Ambas, assim como as demais, estavam tentando digerir aquela notícia e mensurar as possíveis implicações envolvidas. Mas sabiam que tudo o que projetassem, seria ultrapassado.
Então, quando a reencontraram no final do dia, por mais que evitassem, era impossível não olhar para a menina sem enxergar quem estava por trás dela.
- Estamos tentando saber um pouco mais sobre a sua história. Apenas isso. – Cosima tentou desconversar um pouco.
- Então é por isso que a Del tá me olhando desse jeito? Toda desconfiada? – Apontou para a loira que estava sentada no sofá as observando.
- Manu... Veja só... – Ela levantou-se e juntou-se as duas no chão. – Descobrimos um pouco mais sobre... – Olhou para Cosima buscando a força necessária para o que precisava dizer a menina. – A sua mãe. – A menina arregalou os olhos.
- A minha mãe?
- Sim. – Foi Cosima quem respondeu.
- Descobrimos que ela fazia parte da Ordem...
- Tá vendo só! Eu disse que já nasci fazendo parte da Ordem do Labrys! – Ela quase gritou perdendo o folego.
- Sim meu amor... E soubemos também que ela... Salvou a sua vida.
- Eu sempre soube disso. – Ela baixou a cabeça.
- Sabe?
- De uma certa maneira sim. Eu meio que... Sentia isso. – Esfregou o peito. – E... Eu sei que ela morreu. Não precisam ficar escondendo isso de mim. – As suas se entreolharam mais uma surpresas em como alguém tão jovem poderia ser tão madura.
- Isso mesmo meu amor. E não pretendemos esconder isso de você. – Delphine prosseguiu.
- Mas tem algo mais... Vocês estão me escondendo alguma coisa. – Dessa vez a menina apontou para a própria cabeça, o que levou Delphine a olhar para Cosima de forma bastante sugestiva. Justificando o esforço da Mestra em bloquear as mentes das mulheres, para que a menina não penetrasse nelas e descobrisse sobre a outra metade da sua equação genética.
- Manu... Precisamos ter uma conversa bem séria! – Delphine a posicionou bem a sua frente. – Você não pode nem muito menos deve entrar na mente das pessoas sempre que você quiser. Isso não é nada legal.
- Mas é que...
- Mas o que? – Delphine ergueu uma das sobrancelhas a inquerindo.
- É tão fácil... Que as vezes faço sem querer... – Fugiu do olhar delas que se surpreenderam com a sinceridade contida nas palavras da menina, e ao mesmo tempo as deixou preocupadíssimas.
- Manu... Você é uma menina muito poderosa... E todo esse poder pode parecer muito legal e divertido... Mas você precisa saber que não podes ficar usando-os dessa maneira.
- Eu sei Cos... Mas você está errada. – As duas arregalaram os olhos.
- Não é nada divertido ver as coisas que eu vejo... Das pessoas que eu gosto se machucando... – A vozinha dela foi quase sumindo e com ela o constrangimento das duas aumentou inversamente proporcional.
- Nos desculpe... Você tem razão. – Reconheceram seu fora. – Mas já passa da hora da senhorita dormir, mas antes me prometa que não irá tentar ler a mente das pessoas sem que lhe seja pedido! – Delphine disse já de pé, segurando a mão dela.
- Tá certo... Eu prometo! – Ela beijou os dois dedinhos indicadores num gesto infantil de promessa.
- Muito bem. Vamos?
As três saíram da copa despedindo-se de outras mulheres que jantavam ali. Foram falando amenidades sobre o que a menina havia estudado naquele dia e quando já estavam no corredor que dava acesso aos quartos, a menina parou bruscamente de olhos arregalados e quando as duas olharam para trás buscando a pequena, ela possuía uma expressão que misturava raiva, medo e surpresa.
- O que foi Manu? – Cosima a chamou, mas a menina não respondeu, porém um estrondoso trovão que não condizia com o clima as alertou. A morena olhou para Delphine como se perguntasse silenciosamente se ela tinha alguma coisa a ver com aquilo, e um aceno negativo de cabeça foi sua resposta.
Não era ela a responsável pela mudança brusca no clima.
Era Manu.
Mas antes que elas pudessem intervir, a menina fez com que uma das portas abrisse bruscamente sem nem tocar nela revelando as ocupantes daquele quarto que pararam de súbito a discussão que estavam tendo. Helena, Stella que confrontavam Joana ficaram surpresas com a entrada da menina.
- Manu? O que você está fazendo aqui? – Helena a questionou e viu a entrada de Delphine e Cosima que vieram atrás da menina. Mas novamente a menina não respondeu, ignorando a mulher e passou por ela, caminhando em direção a Joana que não entendia o que estava acontecendo ali.
Antes que qualquer pessoa pudesse ter qualquer tipo de reação, a mulher negra levou ambas as mãos ao pescoço e começou a respirar com dificuldade. Uma força invisível comprimia sua garganta, sufocando-a.
- Manu! Pare com isso! – Delphine quase berrou, parando ao lado da menina.
- Ela... – Joana caiu de joelhos, ficando praticamente da mesma altura da menina. – Tentou... – Um filete de sangue começou a escorrer do nariz dela. – Matar... – Ela começou a virar os olhos. – A Delphine!
Numa fração de segundos, Delphine ergueu Manu do chão, enfiando a cabeça dela em seu peito. Isso se deu no exato instante antes que ela tirasse a vida de Joana que caiu no chão tossindo e respirando com dificuldade.
- Calma meu amor... Eu estou bem! Eu estou bem! – A abraçou com força e lutou com a mente dela para retirar o foco de Joana.
- Mas ela machucou você Del! – A menina olhou para ela em meio a um choro copioso.
- Ela tentou... Mas não conseguiu! – Cosima estava ajudando Joana a se levantar. – E você acabou de quebrar a sua promessa. – Delphine olhou para a menina que baixou os olhos envergonhada.
Helena e Joana se entreolharam apreensivas. Todas sabiam o que por muito pouco não aconteceu ali. A menina quase assassinou uma pessoa sem aparente esforço algum. Mas não tiveram tempo de processar aquela informação, pois um berro da criança assustou a todas.
- MANU!? - Delphine apavorou-se quando percebeu a turbulência que sacudiu o corpo da menina.
- Ele está aqui! – Foi tudo o que ela disse antes de cair na inconsciência, desmaiada.
Fim do capítulo
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LeticiaFed
Em: 13/01/2019
Puxa vida...meio tonta com tanto acontecimento rsrs Manu é mais uma poderosa pra acabar com o martelo, só que Lamarthine é o pai dela, situação meio complexa.
E estamos no fim...eu sei, uma hora ia chegar, mas quero e não querooo!
Diz que vai ter pelo menos umas cinco partes esse fim? Ou dez? ;)
Otima semana, beijo!
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