Capítulo 2 - Reencontro
Duas semanas se passaram desde que Fernanda desembarcou na Cidade do México. Estava enfrentando, como já era de se esperar, algumas dificuldades para se relacionar com outras pessoas. Fazia alguns dias que as aulas do MBA tinham iniciado e desde então Fernanda dividia seu tempo entre exercícios e as idas à Universidade.
Depois de duas semanas hospedada em uma pousada, já sentia a necessidade de estabelecer seu próprio espaço. Afinal, teria dois longos anos pela frente naquela cidade. A falta de espaço a incomodava, entretanto, as mordomias de ter um buffet de café toda manhã, quarto arrumado e roupa lavada eram coisas fáceis de acostumar e difíceis de querer largar.
Mas, como aquele bom e velho ditado diz “tudo que é bom dura pouco”, findada a semana de aulas, Fernanda passou o sábado a procura de um apartamento pequeno, com pelo menos dois quartos para que pudesse ter um escritório. O espaço também precisava ter uma sacada e ser relativamente próximo à Universidade para evitar problemas de mobilidade urbana.
No final do dia estava exausta e estressada. Após um dia intenso de visitação a vários espaços, percebeu que nenhum fazia jus as fotos encontradas nos anúncios. Enrolação e demora em resolver as coisas era algo que realmente a deixava muito irritada e esperava naquele mesmo dia resolver a situação da sua moradia e poder de fato se estabelecer na cidade. Contudo, só o conseguiu um mês depois.
Durante o tempo que transcorreu até que sua mudança realmente se concretizasse, Fernanda comprou móveis, utensílios de cozinha, quadros e pôsteres para decoração. Quando enfim se mudou, encheu a casa de prateleiras com livros, souvenir das viagens que havia feito quando ainda morava no Brasil e luminárias de diferentes modelos e temperaturas de cores. O ambiente com cores em tom pastel, neutro como ela, ficou moderno, mas ao mesmo tempo aconchegante. Realmente a cara de Fernanda.
Depois de quatro anos morando com outra pessoa, no caso sua ex-noiva, viu muito de sua personalidade e de seus gostos sendo postos de lado para agradar a outra. Afinal, todo e qualquer relacionamento existe equilíbrio e concessões. Todavia, aquela mudança e o simples fato de poder voltar a decorar um espaço totalmente a seu gosto e sua maneira, deixou-a extremamente animada, ainda que no fundo sentisse saudade da vida que tivera com a ex.
Sobre este assunto, Fernanda ainda não tinha expressado em palavras seus sentimentos. Antes de ir embora do Brasil conversou muito pouco sobre o assunto com sua família e amigos. Como toda sagitariana nata, tinha a tendência de esconder suas fragilidades e jamais se mostrar vulnerável. Isso só não funcionava com sua irmã e Gabriel, seu amigo de infância.
Em seu íntimo, Fernanda sentia saudades do que relacionamento que tinha. Apesar de saber que o mesmo estava fadado ao fracasso, insistiu no noivado por mais tempo do que deveria. Apesar das coisas não andarem bem há bastante tempo, o relacionamento só terminou quando, seguindo seus instintos mais primitivos, descontou sua frustração com o relacionamento em uma traição. Não suportou o sentimento que lhe corroeu depois disso e com a culpa que sentia acabou contando tudo para Melissa, sua ex. Ambas sabiam que aquilo poderia ocorrer. O relacionamento tinha se tornado monótono, brigavam demais, não se entendiam mais nem nos afazeres domésticos. Tudo era difícil, tudo era sofrido. Até mesmo o sex* já não acontecia mais com a mesma frequência. Melissa sabia que Fernanda sentia que não dava mais, mas também resolveu insistir, até que, depois que Fernanda lhe contou o que havia feito, deu um fim na relação.
Durante a organização das últimas coisas compradas para o seu apartamento, foi inevitável lembrar da relação que acabara. Sentia saudades, mesmo sabendo que tinha sido melhor cada uma seguir o seu caminho.
Sobre Valentina, não a viu mais. Mas recebeu em seu e-mail as fotos editadas alguns dias após o encontro no Museu. Uma delas até mesmo ganhou um quadro e virou decoração da sua sala nova. Tinha achado a companhia da mulher divertida, interessante naquele momento, mas nada além disso.
Valentina, entretanto, ficou intrigada com o encontro ocorrido e sem entender o porquê, sentiu decepção por não ter obtido notícias da brasileira após o envio das fotos. Foi novamente no Museu e em outros próximos, na expectativa de encontrar a estrangeira novamente simulando uma “coincidência”. Não queria enviar um e-mail para ela, pois não sabia nem o que escrever, tampouco sabia o que queria de Fernanda, mas ainda assim sentia vontade de revê-la.
A estudante de fotografia namorava um rapaz chamado Alfredo a alguns anos, mas já não sentia mais a mesma sintonia, vibração e paixão de antes. Na verdade, estava em um estado de inércia tão grande que até preguiça de pensar o que queria e o que ainda fazia com ele, ela tinha. Ao invés de ocupar seus pensamentos com isso, ia levando como dava, dividindo a maior parte do seu tempo entre a faculdade de fotografia e os ensaios fotográficos que eventualmente fazia para algumas grifes mexicanas.
Valentia era órfã, seus pais haviam falecido a algum tempo e vivia com os dois irmãos em uma mansão de arquitetura contemporânea, localizada numa das zonas mais caras da cidade. Sua família tinha muito dinheiro, mas ela não se importava. Enquanto os irmãos estudaram desde cedo para no futuro assumir os negócios da família, Valentina seguiu por um caminho completamente diferente. Apesar de ter a sua disposição uma grande quantia de dinheiro e todos os bens materiais que quisesse, isso não fazia a sua cabeça e vivia com o que julgava necessário, sem extravagâncias.
Jamais ela ou seus irmãos imaginaram que teriam que se envolver com os negócios da família tão cedo. Desde que os pais morreram em um acidente de carro, Valentina, por ser a mais nova e por ter sentido mais a morte dos pais foi poupada pelos irmãos. Pelo menos naquele momento ela não precisaria gerir a empresa ao lado deles. Entretanto, assim como eles, acabava tendo que participar de jantares de negócios e eventos promovidos pela empresa, sendo alvo de revistas, sobretudo por sua beleza e por ter alguns contratos como modelo de grifes conceituadas.
Em meio a toda essa atmosfera de pessoa pública e da alta sociedade, Valentina se sentia cansada e por vezes desejava não ter tanta atenção sobre si. Talvez por isso também Fernanda tenha lhe intrigado tanto. Não sabia quem ela era e, por isso, o breve contato com a brasileira foi genuíno e prazeroso. Se sentiu tratada de igual para igual, diferentemente do que muitas vezes ocorre com pessoas a sua volta que a tratavam com receio de serem inconvenientes ou pouco formais, principalmente as de classe social inferior à sua. Isso a incomodava muito e só se sentia realmente a vontade junto dos seus amigos. Porém, de mesma classe social, por vezes eram entojados e superficiais demais para o seu gosto.
Naquela tarde, Valentina saiu da aula do curso de fotografia e resolveu passear pelo campus da Universidade. A cidade universitária da UNAM era surpreendentemente grande e proporcionava a comunidade acadêmica uma infraestrutura multidisciplinar e diversas atividades extra- curriculares. Naquele dia, Valentina resolveu ir para a área esportiva do campus, onde estavam concentradas diversas quadras e campos para a prática dos mais variados esportes.
Estava distraída tirando algumas fotos dos jogos que estavam acontecendo quando vê uma silhueta já conhecida na pista de atletismo. Por um momento achou que estava vendo coisas. Qual seria a probabilidade de reencontrar a brasileira justamente na Universidade onde estudava? No dia em que se conheceram, conversaram sobre tudo, exceto de suas vidas particulares. Valentina não conseguiu descobrir se Fernanda estava apenas de passagem pelo país, mas ainda assim julgava ser o mais provável. Ao menos, até aquele momento.
Fim do capítulo
Olá meninas!
Neste capítulo poderão conhecer melhor quem são as personagens Fernanda e Valentina.
Espero que gostem e, por favor, deixem suas impressões!
Beijos!!!
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