Oi meus amores!
Eu ressurgi das cinzas e peço perdão pelo mega sumiço, mas saibam que eu vou sim finalizar essa história, estava travada criativamente, mas agora estou com mais tempo e pretendo trabalhar bastante no Flutua.
Ta aí mais um capítulo e espero que gostem.
Irei postar o próximo essa semana mesmo.
A música mencionada nesse capítulo é My Girl - Tiago Iorc
E no mais, boa leitura!
4. Stella
Stella
Era quase que uma sintonia perfeita, o vento gelado da noite pós chuva de verão, o balançar da rede na varanda e a vibração das cordas do meu velho Di Giorgio que tirava de mim todo o sentimentalismo que me tomava por completo. Por mais que a realidade puxasse meus pés para o chão.
I've got sunshine
On a cloudy day
When it's cold outside
I've got the month of may
Well, I guess you'll say
What can make me feel this way?
My girl
Talkin' 'bout my girl, my girl
O som de alguém se sentando na poltrona da varanda que ficava do meu lado interrompeu minha música pra lá de "melosa".
- Não fique aperreada com seu pai não viu? - Sorriu sem jeito. - Ele só tem medo que as pessoas possam te machucar. - Pousou a mão no meu braço me fazendo carinho. -
- Eu sei mãe. - Suspirei. - Na verdade, eu entendo a preocupação dele. -
- Nem todos os pais têm a mente limpa pra entender que seus filhos têm que ser felizes da forma que eles quiserem. - Sorriu. - Tem muita gente ignorante por aí minha filha. -
- Eu entendo, de verdade. - Olhei pro quintal desviando o olhar. - Porém eu já sou adulta e se quiser eu compro essa briga, que não tem nada a ver com o painho. - Engoli seco. -
- Você sabe que eu e ele gostamos dela visse? - Me encarou com ternura. - A gente que é do Axé sabe quando alguém tem energia boa. Ela não é igual à família. -
- Ainda bem que você sentiu o mesmo que eu. - Botei o violão no chão e me sentei na rede para olhar minha mãe de frente. - É esquisito, eu não sou médium igual você, mas... eu sinto como se os olhos dela pedissem socorro. - Respirei fundo relembrando de toda história que Mariana contou. - Eu quero poder ajudar ela, talvez falte alguém que lhe compreenda. -
Minha mãe se levantou e me deu um abraço tão caloroso que eu me senti uma criança de novo. Passou a mão nos meus cabelos, afastou-se de mim e me encarou com as mãos no meu rosto.
- Que pai Ogum abençoe sua batalha e que mãe Oxum abençoe o amor de vocês. - Me deu um beijo na testa. - Nós sempre vamos estar do seu lado visse?
- Mas e painho? Ele não parecia nada feliz. - Indaguei. -
- Deixe ele um pouco sozinho. Amanhã ele estará de cabeça fresca. - Sorriu. - E se ele se aperrear de novo, deixe comigo que eu me entendo com ele. - Deu mais um beijo na minha testa. - Vá dormir que já está tarde. -
- Já vou. Boa noite, mãe! - Ela já estava entrando em casa quando falei. - E... obrigada. - Disse com a voz embargada. -
No meu quarto, em minha cama o restante da noite foi movida por lembranças da discussão que tive com meu pai.
" - Você parece que não pensa Antônia!!! Olha com quem você foi se meter. - Falava enquanto andava de um lado para o outro. - Se aquele filho duma rapariga levantar a voz pra você eu não respondo por mim! -
- Pai calma, por favor, ele não sabe! Eu conheci a Mariana sem saber de quem ela era filha, e nem ela sabia de mim. Ninguém teve culpa nisso. - Disse segurando o choro. -
- Se eu por acaso passei naquele boteco e vi você e ela juntas, qualquer um pode passar lá e ver. E se fosse ele que tivesse visto? Você ta caçando sarna pra se coçar! - Respirou fundo esbaforido. - Você não pode continuar a ver ela. - Aquela frase cortou meu coração no meio. - Eu não tenho nada contra a menina, mas tenho contra aquele traste que quase me matou e ainda fingiu que não foi com ele. -
Aproximei-me dele, encarei-o olho no olho e com um fio de voz falei:
- Eu não tenho o menor medo dele, nem de você, nem de ninguém! - Me virei de costas e dei alguns passos, mas parei, virei-me de volta. - Nem Paulo Sérgio, nem você meu pai, vão me dizer com quem eu devo ou não me relacionar. - Me virei e saí encerrando a discussão. - "
Acabei cochilando, mas fui acordada pelo vento e respingos de chuva que estavam entrando no meu quarto. Me levantei da cama pra fechar a janela, quando eu olho pra fora, mais especificamente pra uma janela em uma certa casa azul vejo aquele olhar perdido e despretensioso. Observei-a em silêncio por um bom tempo, até ser surpreendida pelo toque do meu celular.
- Oi nega! Espero que você tenha um motivo muito bom pra estar me ligando a essa hora da noite.
- Nossa, uma amiga não pode nem ligar pra outra as 11 da noite mais. - Adriana falou do outro lado. -
- Desembucha visse, que eu sei que você não da ponto sem nó.
- Eu só te liguei pra te intimar a comparecer aqui na república amanhã à noite. É aniversário da Júlia.
- Olha, quem diria que você está se relacionando com uma capricorniana. - Demos risada -
- Pois é, o problema das capricornianas, é que elas beijam bem. - Deu um suspiro do outro lado da linha. - Toninha... se quiser pode levar sua crush, se ela não se incomodar de ficar em um apartamento cheio de gatas feministas como nós.
Conversamos por mais uns minutos, acabei de distraindo com as palhaçadas da minha melhor amiga, quando retomei meu olhar para a janela, Mariana não estava mais lá. Resolvi ligar no seu celular.
- Alô... Antônia? Aconteceu alguma coisa? - Respondeu desconfiada. -
- Sabia que mesmo na chuva a lua ta aparecendo? - Inventei uma desculpa esfarrapada - Vem ver!
Em questão de segundos ela apareceu de novo na janela.
- Eu não estou vendo lua nenhuma. - Respondeu emburrada. -
- Mas tem outra coisa que eu estou vendo, que é mais bonito até do que ela.
Ela sorriu e em seguida nossos olhos se encontraram apesar da forte chuva. Ela abaixou os olhos por um momento sem graça, pude ouvir o suspirar trêmulo pelo celular.
- Oi! - Disse em um tom sapeca. - Eu quero te fazer um convite, mas queria estar olhando pra você.
- Estamos agora... pode dizer. - Suspirou olhando em minha direção -
- Vamos em um aniversário comigo amanhã? - Falei ansiosa. -
- Como assim ir com você? Você vai me levar como sua... - Tentou pra achar um adjetivo pro nosso prematuro relacionamento. -
- É isso mesmo. Vai ser aniversário da namorada da Adriana, a Júlia. Vai ser na república delas. Nada de muito importante, mas queria que você fosse comigo... então, topa?
- Onde tenha bebida grátis e você eu estou dentro. - Gargalhamos. -
- Antes de desligar eu tenho uma última coisa pra contar...
- O quê é? - Perguntou curiosa. -
- Meus pais sabem da gente.
- OI? COMO ASSIM? - Respondeu incrédula. -
- Relaxa, ta tudo bem. Os bastidores desse drama eu te conto amanhã. Boa noite!
- Boa noite... aguardarei ansiosa. - Desligou. -
Trocamos olhares por mais um instante e fechei a janela com um aceno de mão. No dia seguinte acordei cedo, queria saber como meu pai estava em relação à nossa discussão da noite anterior.
Entrei na cozinha e o encontro preparando o café. Tinha o semblante sério, porém sem traços de raiva ou rancor.
- Bom dia, Painho! Tudo bem com o senhor? - Me sentei na mesa da cozinha.-
- Bom dia! Se não vai mudar de opinião eu tenho que melhorar... afinal, você continua sendo minha Toninha. - Disse enquanto coava o café. - Mas ainda acho que isso é uma loucura de adolescente.
- Me sinto melhor por você não estar com raiva de mim. - Suspirei aliviada. - Fica tranqüilo, com o tempo as coisas se ajeitam.
- Veremos! Que Deus te ouça! - Me entregou uma caneca com café. -
Meu pai era assim, receoso com mudanças em qualquer âmbito da vida. Eu o conhecia bem e sabia que com o tempo iria passar. Respirei aliviada, eu odiava ficar brigada com meus pais, sempre os considerei meus bens mais preciosos.
Chegando ao anoitecer, já me arrumava para o aniversário da Júlia e tinha tudo combinado com Mariana e o nosso ponto de encontro. Seria em uma rua a 3 quadras das nossas casas.
Dava os últimos retoques no meu cabelo enquanto me olhava no espelho. Usava uma camisa social preta com mangas arregaçadas até o cotovelo, calça jeans e um New Balance 600C marrom. Dei risada comigo mesma. Não conseguia fugir desse estilo, a cada dia que passava me desprendia mais da feminilidade e me sentia mais eu, mais Antônia.
Peguei a chaves do carro, me despedi dos meus pais e segui ao encontro da dona dos meus pensamentos. Cheguei um pouco atrasada, ela me viu e logo sorriu e foi entrando no carro e seu perfume maravilhoso invadiu todo o lugar. Fiquei por uns instantes observando-a, ela também não era o que algumas lésbicas chamariam de "Padrão". Ela tinha um estilo próprio, alternativo e simples, o que deixava me deixava mais atraída ainda. Cumprimentamos-nos com o beijo carinhoso, e já seguimos conversando.
- Agora você já pode me contar o que aconteceu ontem com seus pais. Você contou pra eles? - Mariana perguntou curiosa. -
- Não.
- Então o que aconteceu?
- Meu pai viu a gente no forró, só isso. - Me virei pra ver sua reação de espanto. -
- Ai meu Deus... e aí? O que eles disseram? Te mataram? - Perguntou perplexa. -
- Quase... mas eu enfrentei ele. No final deu tudo certo. Fica tranqüila. - Pousei minha mão sobre a dela enquanto dirigia. -
Chegando na república, Júlia nos recebeu com um largo e estonteante sorriso. Era apenas seis e meia da noite, mas o apartamento já estava cheio. Entrelacei a mão na mão de Mari, tomei um pouco de coragem e fui cumprimentar as pessoas. Grande maioria delas já conhecia Mariana, logo era ela quem estava me apresentando para as pessoas, pois minha timidez atacava em alguns momentos, tudo aquilo era novo, os olhares atentos em nossa direção, alguns de empolgação outros perplexos por finalmente aquela mulher desinibida amiga de todo mundo aparecer com alguém, mais perplexos ainda por ser uma pessoa "nova" no grupo. Afastei-me dela por um momento e fui conversar com a minha melhor amiga.
- Bixinha, deixa de ser travada desse jeito. Parece que tomou milk-shake de concreto de tão dura que você ta. - Me entregou uma long-neck de Stella Artois. - Toma, você vai precisar.
- Oxe, você me conhece, eu fico sem jeito no meio de muita gente que eu não conheço. - Dei de ombros. -
- Mariana te apresentou até pra samambaia chorona da casa. Não tem mais ninguém que você não conhece. - Deu um tapinha no meu ombro. -
- É... você tem razão.
- Toninha, eu tenho que te contar uma coisa, você promete que não vai me matar? - Perguntou Adriana. -
- Hey! Achei você. - Mariana interrompeu a conversa me abraçando pelas costas e me dando um beijo carinhoso no pescoço. -
- An... você por aqui. - Olhou pra Mariana. - Oi Mari, que surpresa te ver por aqui... pelo visto você já conheceu a Antônia. - Isadora disse irônica. -
- Eu disse que você ia precisar da cerveja miga. - Adriana sussurrou entre os dentes. -
- Oi Isa! - Mariana cumprimentou - Pois é menina, a gente se conheceu no encontro de sábado. - Falou inocentemente sem saber da tensão que estava no ar. -
- Hum, entendi. Então, vocês estão... juntas? - Alfinetou. -
Segurei firme na mão da minha garota, respirei fundo e disse esbaforida.
- É, ela é minha namorada! - Falei irracionalmente. -
Naquele momento senti que meu mundo girava em câmera lenta. Isadora, Adriana e Mariana subitamente olharam pra mim e naquele momento percebi que mais uma vez a pisciana fez merd*.
Fim do capítulo
E agora, quem poderá defender Antônia? hahahahahaha
Meus amores, obrigada pelos comentários e críticas construtivas, eu leio tudo com maior carinho e tento passar isso pra história.
Muito obrigada por tudo!
Até o próximo!
Comentar este capítulo:
Lilly31
Em: 31/12/2018
Muito boa tua história , como falei antes me chamou aatenção desde o início quando você falou de Caicó haha .
Resposta do autor:
Menina, eu estava procurando um estado e uma cidade que fugisse do convencional. Aí eu comecei a olhar as faculdades e campus de Medicina no RN, aí achei Caicó <3
Obrigada
Beijinhos de luz
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