Lentes Escuras por EriOli
CapÃtulo 6
Capítulo 6
A
ssim que chegou a delegacia naquela manhã, Danilo esperou por Sylvia durante meia hora, era estranho porque havia marcado com ele e ela nunca se atrasava. Tentou ligar, mas suas chamadas caiam direto na caixa postal. Já estava pensando que finalmente a “senhorita certinha” poderia ter perdido a hora, afinal passavam por dias tensos e cansativos e ela mais ainda. Estava prestes a completar a criptografia do nano chip, então resolveu voltar ao trabalho, mas antes que pudesse chegar até sua mesa, seu celular tocou.
— Fala pirralha!
— Idiota! Sou apenas um ano mais nova que você! — rebateu Cléo imediatamente — Agora cala a boca e me escuta, já tenho o resultado da análise sanguínea, vem e me encontra no laboratório antes que todos cheguem, não vai acreditar no que eu descobri.
— Ok, já chego aí!
Em poucos minutos Danilo se encontrava com Cléo e sentia como se estivesse fazendo coisas erradas demais. Cumprimentou sua colega, que pediu pra que ele sentasse e logo em seguida colocara vários papeis em cima da mesa a sua frente.
— Puta merd*! É sério isso?!É realmente o que eu tô entendendo? — Dissera ele, espantado com os resultados. — Mas eu achei que isso só existisse em séries de espionagem! Me explica direito.
— Pois é, saca só, achei uma boa quantidade de propranolol, no sangue dela, a princípio não dei muita atenção, já que ele é um fármaco anti-hipertensivo bem comum, mas aí tive um daqueles estalos. Sei que o hacker aqui é você, mas eu sou um gênio!
— Tão modesta também! — disse revirando os olhos.
— Admita, apenas admita, mas esse não é o foco. Como eu dizia, eu sou um gênio e invadi os arquivos médicos da PF, referentes à nossa suspeita, pois precisava confirmar se havia algum histórico de hipertensão e, pah, não havia! Logo... cara isso é demais!
— Foco Cléo, foco!
— Tá, tá, já sei! O fato é que o propranolol também é um bloqueador-beta adrenérgico, o que significa que ele, na quantidade certa é claro, pode bloquear a produção de noradrenalina.
— Em Português Cléo, por favor!
— Você consegue ser tão idiota às vezes, que acho que nem faz esforço! — respondeu com ironia. — Presta atenção, a noradrenalina é um químico produzido pelo nosso cérebro e, que segundo alguns estudos científicos, está ligado as nossas memórias, então, a resposta é sim, teoricamente é possível apagar a memória de uma pessoa. Eu já li alguns estudos sobre o assunto, mas nunca vi nada concreto. Contudo, a verdade é que com uma combinação correta de drogas e exercícios de memória, é cientificamente possível “deletar” e até implantar memórias falsas, utilizando o que os cientistas chamam de “reconsolidação”.
— UAU!
— Pois é, Dan. Meu palpite? É que tentaram fazer o mesmo com nossa suspeita, no entanto, deve ter havido algum erro de cálculo e acabou que conseguiram apagar 24 horas de memórias, mas não conseguiram fazê-la acreditar que cometeu um crime, por isso a fuga. Talvez nosso verdadeiro assassino contasse com o desespero dela, pensando que com isso ela se entregaria, o que não aconteceu.
— Você tem uma imaginação realmente fértil!
Ele debochou.
— Tão babaca, que nem sei por que ainda te dou ouvidos. Eu não estou viajando, é totalmente empirista o que estou falando, quer apostar como estou certa? Se eu estiver errada, pago duas rodadas de cerveja pra equipe toda quando essa investigação terminar!
Danilo encarou o olhar de desafio que Cléo lhe lançara e após ponderar, resolveu aceitar, apertando a mão que ela lhe estendia.
— Mas se eu vencer — ela continuou sem soltar a mão dele e sorriu estreitando os olhos maquiavelicamente — além de VOCÊ pagar as cervejas, você vai ter que cantar a música “Perigosa”, das Frenéticas, no karaokê do bar!
— Ah, qual é, tá de sacanagem, Cléo!
— É pegar ou largar! Vai arregar?!
Perguntou levantando uma das sobrancelhas em desafio, o que mexeu exatamente como o que ela queria, o brio de masculinidade de Danilo. Que aceitou sem hesitar. “Homens! Todos iguais!”, pensou ela sorrindo internamente. Danilo ainda quisera dissuadir Cléo a respeito dos termos da aposta, mas suas alegações foram interrompidas pela entrada de Julia.
— Até que enfim encontrei vocês! Alguém sabe da Sylvia?
— Não, por quê? Já tentei o celular várias vezes e nada.
Respondera Danilo, voltando a ficar preocupado com sua parceira.
— Porque eu descobri algo realmente importante, e ela precisa saber, temos que acha-la.
— Bom, então somos duas! — dissera Cléo.
— Mas conta logo o que descobriu. — Pediu Danilo.
— Vocês não vão acreditar a quem pertence a tal empresa de engenharia!
— Quanto suspense, desembucha de uma vez — Cléo insistiu.
— Ninguém mais, ninguém menos que... Guillermo Gonzalez!
— Quem é esse cara, afinal? — perguntou Danilo e Julia revirou os olhos.
— Pera, O Guillermo Gonzalez? Aquele magnata? — perguntara Cléo.
— Exatamente, o magnata da silvicultura na Guiana Francesa! Viu?! Alguém aqui assiste os noticiários — respondeu Julia olhando feio para Danilo antes de completar. — E que, recentemente, foi acusado de usar seus negócios como fachada para esconder o tráfico de drogas.
— Então a questão é: com que propósito ele abriu uma empresa de engenharia no Brasil, morando na Guiana Francesa, e não tendo nada a ver com o tipo de negócio dele? E o que exatamente tudo isso tem a ver com nosso homicídio? — Danilo novamente se pronunciou.
— Parece que é uma parceria recente, vi no noticiário sobre a visita dele, e o acordo de incentivo à silvicultura, fechado com o governo local. Parece que o cara está pretendendo expandir seus negócios — sugeriu Cléo.
— Sim, e de acordo com os documentos apresentados, ele abriu a empresa para que ele mesmo construísse um heliporto, e que em tese funcionará como uma empresa de taxi aéreo e turismo, ou seja, mais um acordo de incentivo. E o mais interessante o cara investiu — fez aspas para as palavras incentivo e investiu — uma nota preta. E claro o prefeito não perdeu tempo em aceitar — Julia completou, Cléo e Danilo concordaram.
— Certo, temos que achar a Sylvia.
Dissera Danilo já puxando o celular do bolso. Fez várias ligações, e nada, ela não estava nem no celular, nem no residencial. O celular sequer chamava, apontava apenas falta de cobertura.
— Tá legal, agora estou realmente preocupado. A Sylvia não sumiria assim.
Olhava para suas colegas com o rosto franzido, bem no momento em que outras pessoas entravam no laboratório, a fim de iniciarem o expediente.
— Ui, que caras são essas? Parecem até aqueles cãezinhos que perderam o dono! Que foi? A Agente Alencar não deixou a ração de vocês hoje? — debochava uma das peritas de outra equipe. — Deve ser porque ela esteve muito ocupada ontem à noite.
Cléo lutou contra a vontade de revirar os olhos e dar uma resposta bem desaforada, afinal o que importava era obter a informação que seguramente aquela odiosa mulher parecia ter a respeito de Sylvia. Então fez o melhor que pode e lançou um sorriso forçado antes de perguntar.
— Você esteve com ela à noite?
— Não exatamente, mas vi quando ela saiu em uma camioneta preta, a noitada deve ter sido boa, pra mamãe pata não ter madrugado junto com os patinhos aqui presentes.
Sorriu com deboche antes de se afastar.
— Eu juro que quebro esse nariz de plástico da próxima vez que me encontrar com essa entojada.
Julia falou exasperada.
— Esquece essa daí, vamos focar no que é importante, onde a Sylvia se met*u e que história é essa!
Falou Danilo já se levantando.
— Tem razão, Dan — fez uma pausa. — Bom, vamos verificar os vídeos de segurança de ontem e ver se conseguimos descobrir com quem ela saiu daqui.
Sugeriu Cléo e os dois concordaram já se dirigindo para sala de controle central.
— Esperem! — Julia parou subitamente e os dois olharam-na sem nada entender. — Não sabemos em que circunstâncias a Sylvia saiu daqui ontem, então não acho nada seguro que a galerinha dos controles assistam o vídeo, que tal os senhores gênios aí, acessarem as câmeras longe daquela sala?
— Tens toda razão, Ju, vamos pra minha cabine!
Danilo convidou-as. Não levou mais que cinco minutos para acessarem as gravações.
— Só eu acho que isso é o tipo de coisa que só se vê em filme?
— É... minha cara Julia, essa Helena sabe fazer uma entrada dramática, agora como vamos descobrir pra onde elas foram?
Danilo perguntava no exato momento em que a notificação de criptografia finalizada subia em sua tela.
— O que é isso? — perguntou Cléo.
— É sigiloso.
Danilo tentou.
— E você é o Mickey e eu sou o pateta!
Cléo rebateu.
— Tá, tá, é um nano chip que encontramos naquele cartão platinado, a Sylvia pediu que eu fizesse a criptografia e agora finalmente concluí. E já que estamos aqui vamos logo ver do que se trata. — dissera ele já abrindo os arquivos. — Só o que sabíamos era de que se tratava de códigos de localização e... essas informações pertenciam a PF. E foi por esse troço que essa tal Helena atirou no peito da Syl.
Falara ele sem parar de apertar teclas e, pra variar falara além da conta, para perplexidade das duas ao seu lado.
— Como assim, atirou no peito da Sylvia?! — Cléo exclamou.
— Quando foi isso?! — foi a vez de Julia.
— Droga! Falei demais.
— Como sempre não é? Mas agora desembucha!
Ordenou Cléo, como de costume pela intimidade que tinham desde que eram crianças. Danilo relatara todos os acontecimentos e as informações que possuía, omitindo apenas o envolvimento amoroso que Sylvia e Helena tiveram no passado.
— Bem, agora que já sabem de tudo que tal alguma ideia de como encontrar a Syl? Tô realmente preocupado.
Dissera ele sem conseguir relaxar a tensão que já tomava conta de si, sabia que o sumiço de Sylvia era um mau sinal.
— Chega pra lá, — falou Cléo tomando o lugar de Danilo em frente ao computador — vamos segui-las.
Dissera ela simplesmente e recebendo dois olhares descrentes quanto a sua última colocação.
— Um salve para as antenas das operadoras de telefonia móvel, por favor — Cléo continuou com um sorrisinho de quem se acha o máximo — agora vamos traçar nossa rota.
— Beleza gatas, ajustem os coletes, vamos botar pra quebrar! — dissera ele fazendo as duas caírem na gargalhada. — Qual é, não estraguem a minha fala, eu sempre quis dizer isso e não é todo dia que temos alguma ação em Frontière, esse fim de mundo, última cidade antes da fronteira com a Guiana Francesa.
— Você só não é mais idiota por falta de espaço! Agora vamos logo — rebatera Cléo e Julia continuou a rir.
A suposição de Cléo era acertada e os três conseguiram traçar um percurso, a certa altura pararam no acostamento em uma parte da BR sem sinal de vida por quilômetros, apenas mato por todos os lados.
— Bom, o sinal morreu aqui, agora vamos pensar — dissera Danilo com testa enrugada virando-se para suas colegas.
— Vamos seguir mais adiante, quem sabe não encontramos alguma pista, uma fazenda, sei lá. Apenas mais uns dois quilômetros que seja.
— Ok, a Julia tá certa é a nossa melhor opção mesmo.
Não precisaram mais que alguns metros e avistaram uma estradinha de terra, perdida em meio a vegetação, se estivessem mais rápidos nem teriam percebido. Olharam-se e num entendimento mutuo, assentiram o caminho a seguir. Cléo guiou a viatura por mais ou menos uns dez quilômetros de pura poeira até enxergarem uma pequena casa de alvenaria, Cléo acelerou e tão logo parara os três desceram rapidamente. Dividiram-se sem perder tempo.
— Eu vou pelos fundos — Julia anunciou e Danilo assentiu.
— Ok, vai à frente que te dou cobertura — Cléo dissera já esgueirando-se para a lateral da porta sem maçaneta e tentou empurrá-la, mas estava trancada, sinalizou enquanto Danilo preparou-se para chuta-la.
A ação fora rápida, após o estrondo das portas os três invadiram a modesta casa empunhando suas armas, olharam em todos os lugares e nada das duas. Tudo o que acharam foi a camiseta da Policia Civil jogada no chão do quarto, o que só confirmava que Sylvia estivera ali, no entanto eles haviam chegado tarde demais.
— Droga, droga, droga — praguejava Danilo batendo a porta com toda a força.
— Calma, cara, nós vamos acha-la — Cléo tentou acalmá-lo.
— Não dá pra ficar calmo, eu vi aquela maluca atirando na Sylvia sem pestanejar, ela tá correndo perigo, essa Helena é imprevisível, não fazemos ideia do que ela pode querer da Sylvia se ela já tem o nano chip, será que ela pretende vender as informações para o tal Guillermo? São informações privilegiadas, a localização de cada radar ao longo de toda a fronteira pode mudar a guerra a favor do tráfico de drogas, seria uma porteira escancarada.
— Eu sei, mas precisamos nos concentrar agora, vamos sair daqui e colocar a cidade de Frontière de cabeça para baixo se for preciso. Cléo dissera com convicção e os dois assentiram. Já estavam na BR novamente, quando receberam um chamado.
— A Sylvia o quê?! OK! — Exclamara Danilo ao celular. — Estamos a caminho, manda todo mundo pra lá. Quem?! Ah, sim se ele não atrapalhar, deixem que ele vá também, saco! — desligou. — Merd*, merd*, merd* — Toca pro porto, Cléo... e pisa!
Fim do capítulo
Antes tarde do quê nunca, já dizia um grande ditado (hahaha). Quero pedir desculpas pela demora, mas imprevistos acontecem. Mas como tudo que é bom dura pouco, estou aqui para terminar essa história, e agadecer a espera!
Bjs, curtam, comentem, ignorem, enfim, fiquem a vontade! kkkkk
Há braços
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Rosangela451
Em: 29/12/2018
Antes tarde do que nunca .....
Capítulo agitado ....
Vou correr para o próximo.
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