Capítulo 81 -- Estranha Sensação
A ILHA DO FALCÃO -- CAPÍTULO 81
Estranha Sensação
Natasha ergueu as sobrancelhas num misto de surpresa e contentamento.
-- Como assim? Quem te contou? Quem é o criminoso?
Talita deu uma risadinha nervosa e levantou as mãos para silenciar aquela enxurrada de perguntas.
-- Uma pergunta de cada vez, por favor.
-- Desculpa. Estou muito ansiosa -- ela fez uma pausa e se aproximou da médica -- Quem é o bandido covarde?
-- Ivo, meu ex marido.
Natasha estreitou os olhos e suas feições endureceram.
-- Que safado! -- dirigiu-se a Talita, que assentiu em resposta.
-- Apesar do Ivo ser um homem rude, machista e intolerante, nunca imaginei que ele fosse capaz de tal violência.
-- Passamos a conhecer melhor as pessoas quando elas tomam esse tipo de atitude. É surpreendente. É assustador -- Bruna comentou com um tom de desapontamento.
-- Você sabe aonde podemos encontrar o seu ex marido, doutora? -- perguntou Alexandra, deixando transparecer a ansiedade nos traços do belo rosto loiro.
-- Não posso dizer com toda certeza, mas é bem provável que ele esteja em Florianópolis. No seu escritório que fica em um prédio no centro da cidade.
-- Então é para lá que vamos! -- havia empolgação na voz de Alexandra -- Então, chamem o comandante. Desceremos de rapel do helicóptero bem em cima do prédio.
-- Qual o seu nível de maturidade, Girani? -- Victória fez um gesto de enfado, revirando os olhos.
-- Varia de acordo com o nível da minha ansiedade no momento -- Alexandra respondeu, empinando o nariz.
-- Nove anos -- comentou Bruna -- Onde já se viu. Tá pensando que é James Bond?
-- Esperem um instante -- disse Natasha, com seu sotaque estrangeiro -- Você tem certeza doutora, que foi ele? Não quero cometer nenhuma injustiça.
-- Sim. Se eu não tivesse certeza não estaria aqui -- confidenciou a médica em um tom que deixava subentendido que não estava brincando -- Foi ele mesmo quem me contou.
-- Já tenho um plano -- Natasha sentou no sofá e Andreia sentou ao lado dela.
-- E qual é o plano Nat?
-- Desceremos de rapel do helicóptero bem em cima do prédio. Capturamos o bandido e o entregamos ao delegado.
Por alguns segundos, o silêncio desceu sobre a sala.
-- Pera aí -- Alexandra ergueu a gola do camisete e ajeitou as mangas -- Esse plano é meu.
-- Seu plano estava incompleto. Eu peguei e dei uma bela melhorada -- Natasha deu uma palmadinha de leve no ombro de Alexandra -- Mas, não fique triste. Como prêmio pela participação, vou deixar você ser a primeira a descer pela corda.
-- Obrigada pela honra -- disse Alexandra, sem tentar esconder o seu sarcasmo.
-- Se você sobreviver a descida, a doutora Bruna será a segunda. Caso ocorra o pior, cancelamos a operação.
-- O que? -- Bruna deu um pulo do sofá -- Não vou, não vou, não vou. Jamais descerei por uma corda de um helicóptero. Vocês não percebem o perigo que corremos? Posso cair e me esborrachar. Decididamente, não vou!
-- Não me decepcione doutora mediúnica. Um dia, em uma de suas palestras você disse: "O que ama o seu irmão permanece na luz e nele não há ocasião de queda". O que aconteceu com sua fé? -- Alexandra meneou a cabeça de um lado para outro -- Que decepção!
Incrédula e perplexa, Bruna ficou olhando para ela.
-- Estou sem palavras.
Victória se levantou do sofá e caminhou desinteressada até a porta.
-- Não vou dizer mais nada. Cansei. Parece que fazem de sacanagem -- ela disse irritada -- Por que não deixam que a polícia faça o seu serviço?
Ninguém respondeu. Victória abriu a porta mais irritada ainda.
-- A partir desse momento vou apenas curtir a ilha. Vocês não me ouvem mesmo.
-- Que Deus te guarde -- disse Alexandra -- E esqueça onde.
Victória se virou para ela.
-- O que falou?
-- Não esquece de pegar um bronze.
-- Ah! Com certeza. Vou convidar a Isa para ir junto.
Nesse momento, Isabel apareceu na porta.
-- Me convidar para o que? -- perguntou sonolenta -- Bom dia -- saudou com a voz mole.
-- Para ir à praia. Vamos?
-- Não sei. Estou com tanto sono.
-- Credo. Você está inchada de tanto dormir.
-- Não sei o que está acontecendo comigo. Nunca senti tanto sono.
Alexandra foi até ela e a abraçou.
-- Deve ser a sua pressão que baixou, meu mel. Venha se sentar -- segurou a mão dela e levou-a até o sofá.
-- Minha pressão nunca foi baixa.
-- Você comeu muita alface.
-- Comi?
-- Hi, é grave. Esqueceu até o que comeu ontem. Por favor doutora Talita, examine a minha esposa.
Andreia se levantou impaciente.
-- Eu vou à praia com vocês.
-- Vocês vão sair nesse sol?! -- perguntou Carolina, preocupada.
-- Não, né Carolina? Elas vão esperar o próximo -- retrucou Alexandra -- Cada coisa que a gente tem que escutar.
-- Já vão começar? -- Natasha levantou-se bruscamente, pegando o celular, discou o número do comandante Erivaldo.
Alexandra olhou para Isabel com carinho.
-- Estamos saindo para a missão derradeira. Quando eu voltar, prometo curtir contigo todos os encantos da ilha.
Isabel olhou para ela e sorriu. Os olhos brilharam de alegria.
-- Uma segunda lua de mel?
-- Sim, meu amor -- Alexandra inclinou-se, aproximando-se ainda mais e a beijou na boca.
-- Vamos logo -- pediu Victória -- Temos que passar na suíte para colocar o biquíni -- ela deu um beijo rápido na boca de Bruna e saiu porta afora.
Andreia sorriu e beijou Natasha na boca por um longo tempo. Um beijo doce e macio.
-- Tome cuidado Nat. Esse Ivo é perigoso -- Com a ponta dos dedos, Andreia acariciou as faces de Natasha, fazendo-a prender a respiração -- Talvez a Vic esteja certa. Por que não deixa a polícia cuidar do caso?
-- Faço questão de pegar esse cara. Quero ver até onde vai a coragem dele.
-- Ivo só se acha machão com arma na mão -- comentou Talita.
-- De arma na mão qualquer bostinha vira machão, doutora.
-- É isso aí, Girani -- Natasha pegou a mão de Andreia e esfregou suavemente os dedos -- Quem vai ficar com o Marlon?
-- Vou leva-lo comigo. Leozinho se ofereceu para cuidar dele. Ficaremos na praia das palmeiras. Lá tem muita sombra.
-- Ótimo. E não esqueça o protetor -- Natasha olhou para Alexandra e Bruna -- Então vamos. O comandante já deve estar nos esperando.
-- Eu também vou -- disse Carolina, decidida -- Nem tente me impedir Nat.
Para surpresa da garota, Natasha aceitou sem argumentos e sem hesitação. Apenas balançou a cabeça, assentindo. Fez um gesto com a mão e se virou na direção da porta.
-- Esperem -- Talita abriu a bolsa e pegou o celular -- Tenho uma foto dele. Vou enviar por WhatsApp.
-- Deixe-me ver -- Alexandra olhou para a foto de Ivo -- Caramba! O cara é tão feio, que quando nasceu, a sua incubadora devia ser de vidro fumê.
-- Obrigada doutora -- disse Natasha com um sorriso leve -- Vamos logo.
Observando-as se afastarem em direção à porta, Andreia teve a estranha sensação de que algo muito ruim estava por acontecer.
-- Natasha! -- ela chamou -- Tome cuidado amor.
Momentos mais tarde.
-- Bom, o que acharam? -- Perguntou Andreia, quando chegaram à praia.
-- É a água mais azul que vi em toda a minha vida! Parece uma piscina! -- disse Isabel, encantada.
-- É a praia mais calma do sul do país. E é só nossa -- Andreia sorriu, estendendo a toalha sobre a areia -- É que as pessoas se levantam tarde. Os turistas vêm para a Ilha do Falcão para descansar e esquecer o stress.
Victória também estendeu a sua toalha e deitou de bruços.
-- Estaria bem mais tranquila se os meus filhos estivessem comigo.
-- Eu te entendo. Mãe é mãe -- Andreia tirou um tubo da bolsa -- O sol já está quente. Felizmente, trouxe creme protetor.
-- Você fez bem em trazer o rapaz para ficar com o Marlon na sombra das palmeiras. Quem é ele? -- perguntou Isabel, espalhando creme pelos braços.
-- Ah, aquele é o Leozinho. Braço direito da Natasha. Ele era o gerente do hotel. Agora é o responsável pelo parque temático que está sendo construído na Ilha.
-- Que legal! -- Victória levantou a cabeça para olhá-la -- Vou trazer os meus filhos para a inauguração.
-- Se tudo correr como programado, será no último dia do ano.
-- Fantástico. Vou conversar com a Bruna.
Andreia sentou sobre a toalha e olhou para onde estava Leozinho, ainda com a sensação esquisita de que algo estava por acontecer. Isso, porém, não fazia sentido, e outra vez ela achou que era tudo por causa da ausência de Natasha. Era até engraçado. Parecia que estava longe dela há dias, e não apenas há uma hora.
-- Você está preocupada com alguma coisa? -- perguntou Victória.
Dando-se conta de que divagava, Andreia voltou à realidade.
-- Não é nada -- Andreia riu de si mesma -- Besteira.
Leozinho pegou Marlon no colo e empurrou o carrinho para o lado.
-- Assim tá melhor, né -- ele desviou o olhar do bebê, para um belo rapaz que caminhava em sua direção. Achou estranho então, imediatamente apertou Marlon contra o corpo.
-- Bom dia -- ele disse sorrindo.
Leozinho desconfiado, não respondeu. Porém, o rapaz não desistiu.
-- Olá Marlon. Como vai meu garoto?
Surpreso, Leozinho olhou sério para ele.
-- Você conhece o bebê?
-- Desde o ventre da mãe -- ele disse sorrindo.
Leozinho ficou admirando a beleza do rapaz. Estudou com atenção as feições dele. Os cabelos lisos, com um corte moderno, combinavam com seu rosto de pele clarinha e aveludada como a pétala de uma rosa. Seus lábios rosados curvavam-se em um sorriso gracioso enquanto ele acariciava a cabecinha do bebê. O azul de seus olhos tinha uma tonalidade diferente de tudo o que havia visto até agora. Era quente e profundo.
-- Então me diga. Quem é você? Estou muito curioso.
-- Me chamo Leandro. Fiz o parto do garotão aí.
Os olhos do gerente brilharam.
-- Me chamo Leopoldo. Leozinho para os íntimos -- ele estendeu a mão para cumprimentá-lo -- Muito prazer.
-- O prazer é todo meu -- respondeu Leandro, dirigindo um sorriso especialmente simpático a Leozinho.
-- Quantos anos você tem, Carolina? -- perguntou Alexandra.
-- Olhando pra mim o que você acha?
-- Feia. Mas qual sua idade?
-- Não te interessa -- Carolina respondeu irritada.
Natasha parou diante da porta do prédio e se virou para o grupo.
-- É aqui. Avenidas Mauro Ramos, 521.
-- Me nego a entrar no prédio dessa forma -- Alexandra cruzou os braços sobre o peito.
-- Agora me diga para que entrar pendurada em uma corda, se podemos entrar tranquilamente pela porta?
-- Alexandra Girani não gosta de entradinhas sem graça. Minhas entradas são sempre apoteóticas e muito bem planejadas.
-- Pois eu prefiro entrar inteira -- retrucou Carolina.
-- Molenga.
-- Girani e Carolina. Por favor -- pediu Bruna -- O que faremos agora, Natasha?
-- O escritório dele fica no décimo andar. Vamos entrar tranquilamente...
Alexandra abriu a porta com violência e entrou atropelando todo mundo que estava em sua frente. Somente parou diante da porta do elevador.
Carolina foi a primeira a alcança-la.
-- Tá esperando o elevador?
-- Não, estou esperando o escritório vir me buscar -- Alexandra respondeu, sem paciência.
-- Sua grossa.
Natasha e Bruna chegaram no momento em que a porta do elevador se abriu.
-- Vamos!
Elas desceram no décimo andar e correram até a sala informada por Talita.
Uma mulher aflita as barrou do lado de fora.
-- Esperem um momento. Vocês não podem entrar no escritório do senhor Ivo dessa forma -- foi um aviso cheio de raiva.
-- Tente nos impedir -- Natasha deu de dedo nela.
-- É isso aí, Falcão. Tente nos impedir -- Alexandra pegou uma caneta e apontou para ela -- Vou furar seus olhos.
A mulher levantou os braços, num gesto de desespero.
-- O senhor Ivo não está no escritório -- ela avisou.
-- Não acredito -- Alexandra girava calmamente a caneta que segurava entre os dedos.
-- Então olhem. Podem olhar.
Natasha entrou e fez uma varredura pelo escritório. A secretária estava dizendo a verdade.
-- Para onde ele foi? Diga!
A mulher arregalou os olhos e olhou atentamente para Natasha.
-- Ele saiu de Florianópolis hoje por volta das seis horas da manhã. A essa hora já deve ter chegado a Ilha do Falcão.
-- Meu Deus! -- Natasha estava pálida e assustada -- O que esse louco pretende fazer dessa vez?
As amigas se entreolharam preocupadas.
Fim do capítulo
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NovaAqui
Em: 27/12/2018
Ih! Essa ida do Ivo para a Ilha não é para descansar com certeza
Leozinho e Leandro será legal
Agora é ficar de olho aberto em Ivo e nos outros loucos que já estão na Ilha
Boa virada de ano para você e sua família.
Feliz Ano Novo!
Abraços fraternos procês aí!
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