Meninas, no início do capítulo, fiz um pequeno resumo para refrescar a memória de vocês em alguns detalhes. Espero que dê certo!
Capítulo 33
PARA REFRESCAR A MEMÓRIA:
- Bia finalmente tem coragem para contar à Adele que tem sido assediada por Edson. Adele por sua vez, não recebe a notícia muito bem e num primeiro momento fica extremamente chateada com a namorada por achar que ela não confiou o suficiente nela para contar algo tão grave, e depois, sente-se culpada por não ter conseguido protege-la. A inglesa consegue convencer a outra vítima, Cléo, a prestar queixa, e juntas, Ana Beatriz e Cléo acusam formalmente o editor chefe por assédio sexual.
- Edson fica furioso ao saber da denúncia e tenta tirar satisfações com Ana Beatriz, arrastando-a para sua sala contra sua vontade. Ele ameaça e tenta convencê-la a retirar a queixa. O que ele não espera era que ao tentar agredir a garota, Adele surgiria como um raio, socando o seu rosto antes que ele voltasse a encostar em Bia. A fúria de Edson aumenta ainda mais quando sua entrada na revista é proibida, e ele jura fazer com que as duas se arrependam pelo que fizeram a ele.
- Em uma conversa nada convencional com Sherlock, Bia declara seu amor pela amada, e fala de seus sonhos sem saber que a amada ouvia cada palavra. A inglesa também se declara, e convida a namorada a morar com ela e nunca mais ficar longe. Assim, as duas dão mais um passo na relação: morar juntas definitivamente.
- As duas se aventuram ao cumprir itens de uma lista de desejos e fetiches sexuais dentro do banheiro da boate em que estavam para comemorar o aniversário de Nívea, namorada de Cléo, fazendo o pequeno espaço incendiar. Ao saírem da boate, se deparam com uma declarada ameaça que elas suspeitam que seja de Edson.
**********
INÍCIO DO CAPÍTULO 33
Segunda feira! Após uma semana em casa, curtindo minha namorada e uma rotina tranquila, era hora de voltar ao trabalho. Acordei antes do alarme do celular e fui para o banho, quando sai ele já tocava, despertando Adele que resmungava baixinho antes de alcançar o aparelho.
Vesti uma calça jeans e um sutiã, em seguida sai para a cozinha a fim de preparar o nosso café da manhã, deixando a loira no banho. Tomei um susto ao dar de cara com Tony preparando panquecas com a destreza impecável de um chefe de cozinha. Sim, mais um dos Evans que tinha extrema habilidade na cozinha, portanto, a exceção era apenas Adele mesmo. Sorri ao me dar conta disso.
Não sei que horas Antony havia chegado e entrado, quando fomos nos deitar, estávamos apenas nós duas em casa. Porém, como demos uma cópia de chave para ele, isso dava a liberdade para que ele entrasse, e sendo assim, não podíamos nos incomodar com a presença surpresa dele.
Antes que meu cunhado me visse parada atrás dele, vestida apenas com um sutiã, fui até o quarto e vesti uma camisa que encontrei sobre recamier ao pé da cama. Era da Adele, e como tudo o que ela usava, estava com o seu cheiro impregnado ali, exalando aquela fragrância gostosa que só ela tinha.
Girei o corpo para deixar o quarto e acabei batendo o dedinho no pé da cama. Não consegui evitar o palavrão que saiu ferozmente. Sentei na cama e agarrei o meu pé, sentindo as lágrimas teimosas queimarem os meus olhos.
-- Amor? O que foi?
Adele surgiu envolvida em seu roupão preto, agachando imediatamente diante de mim, pousando suas mãos sobre os meus joelhos. Olhei para ela com os olhos lacrimejantes e ela pareceu ficar ainda mais preocupada.
-- O que foi que aconteceu aqui? – era Antony que adentrava o quarto afoito, munido de uma espátula e uma frigideira nas mãos.
Olhei para ele com a mesma cara de choro e ele se aproximou da cama onde eu estava sentada.
-- Bia? O que foi? – Adele tornou a perguntar.
Encarei o meu pé e ele tinha uma mancha avermelhada. O lugar onde bati latej*v* e doía bastante. Todo mundo sabe o quanto dói o danado do dedo mindinho, e ele parece simplesmente adorar os cantinhos dos móveis.
A cara de choro que eu fazia era inevitável, não era nem a intenção, mas eu não era uma pessoa muito resistente a dor, eu, não costumava me orgulhar nem um pouquinho disso, pelo contrário. Chorar ao me machucar, era algo quase que incontrolável. Eu era mesmo uma molenga!
Apontei para os dois pares de olhos preocupados a minha frente o meu próprio pé e os dois se entreolharam para em seguida caírem na gargalhada. Era apenas isso que faltava para que eu finalmente deixasse as lágrimas que queimavam meus olhos caírem. E eles, gargalharam ainda mais gostoso. Ok, eu estava parecendo uma criança, uma criança mimada por sinal, mas eu não sabia ser diferente.
-- E eu achando que alguém tinha invadido o quarto de vocês. – disse Antony tentando se recuperar do pequeno ataque de risos.
-- Você bateu o pé amor?
Eu fiz biquinho e assenti, novamente apontando o mindinho avermelhado.
-- Me deixa ver?
Com carinho ela ergueu a minha perna e colocou o meu pé sobre o seu colo, inspecionando atentamente. Ela pediu ao irmão uma caixinha que guardávamos no guarda roupas, onde continham curativos, pomadas e afins. Tony foi até lá e voltou mordiscando os lábios, provavelmente tentando conter mais um ataque de risos.
-- Não ria de mim. – disse manhosa.
-- Desculpe. É que você ficou muito engraçada fazendo esse bico. Sua cara de choro é impagável.
Mirei o cara alto parado diante de mim sentindo vontade de chorar de novo. Às vezes eu odiava ser tão sensível assim. Senti um beijinho de Adele em meu pé e voltei a minha atenção para ela.
-- Pronto amor! Machucou um pouquinho aqui, - apontou o cantinho da minha unha – mas já cuidei disso.
-- Obrigada! – murmurei.
Os azuis brilhantes ficaram repletos de carinho, era tão nítido! Dava pra ver claramente todo o qualquer sentimento dentro deles. Eu sabia quando era carinho, amor, paixão, saudade, e até mesmo irritação – sim, às vezes eu tinha a proeza de tirar a inglesa do sério, não me julguem.
Minha namorada levantou e sentou ao meu lado, puxando-me pelo ombro para encostar-me ao corpo dela. Me aninhei para receber melhor o calor que emanava dela e aquilo funcionou com uma droga pra mim, um calmante natural e bastante eficaz. Parecia que nos braços dela tudo ao meu redor, todo o resto tornava-se realmente pequeno e insignificante.
Abracei-a pela cintura e cheirei o seu pescoço, o cheiro do sabonete que ela usava estava ali. Senti os pelinhos de meu corpo arrepiar quando imaginei coisas indecentes com a minha namorada.
-- Vou terminar o café da manhã, espero vocês na cozinha.
-- Te encontramos em alguns minutinhos.
Tony deixou o quarto e nós ficamos ali, abraçadas e em silêncio. Ela fazia carinho nas minhas costas e eu aproveitava para cheirar e dar beijinhos por toda a extensão do pescoço alvo.
-- Você me acha uma boba, não acha?
-- Por que eu acharia isso?
-- Você sabe amor! Às vezes eu odeio ser tão fraca.
-- Ser sensível não faz de você uma fraca, você é apenas uma princesinha, doce, delicada e linda.
-- Eu chorei feito criança, na frente de vocês. O Tony deve estar rindo e muito da minha cara. Vou me tornar a piada nos próximos anos durantes os jantares de natal em família.
-- Tony esquece rápido das coisas amor, não se preocupe. Além disso, acho que o susto que ele tomou, foi maior do que qualquer coisa.
-- Desculpe pelo susto.
-- Tudo bem princesa. – deu um beijinho em minha têmpora – Vou terminar de tomar banho, ta? Estou cheia de sabonete espalhado pelo corpo. – sorriu.
-- Se isso não fosse nos atrasar eu me ofereceria para terminar esse banho com você.
-- Não seria uma má idéia, porém, eu tenho que chegar cedo ao escritório, e estou sem carro. Além disso, tenho que passar em um lugar antes.
-- Reunião?
-- Quase isso.
-- Você chega cedo a casa?
-- Ainda não sei. Mas farei o possível para almoçarmos juntas e para voltar para casa cedo.
-- Tá bom.
Adele me deu mais um beijinho e caminhou até um cantinho ao lado do guarda roupas onde jazia um par de sandálias minhas. Ela trouxe até mim e novamente se ajoelhou, calçando o par de sandálias delicadamente. Deus! Obrigada por me dar de presente essa mulher!
Quando retornei à cozinha, uma mesa imensa e bem sortida estava disposta. Ok, meu cunhado se garantia e eu ainda não sei como Adele pode não ter habilidade como essa, sendo que conviveu por algum tempo apenas com os dois.
Sentei á mesa, de frente para Tony e começamos a nos servir. Meu cunhado perceptivelmente ainda comprimia os lábios tentando segurar uma risada. É, eu sou mesmo a rainha do mico, do King Kong.
Ouvi a voz da inglesa se aproximando pelo corredor, ela falava com alguém, e falava em inglês, de forma rápida, fazendo com que eu quase não conseguisse acompanhar o diálogo, e entender. O tom que ela usava não era o tom suave e habitual com o qual eu estava acostumada. Parecia irritada, nervosa. Só ao adentrar a cozinha foi que ela falou em português, mas apenas para se despedir, e em seguida guardou o celular dentro do bolso da calça social que ela usava.
-- Algum problema? – perguntei assim que ela sentou ao meu lado.
-- Não. – disse desviando os olhos de dos meus.
-- Tem certeza? – insisti.
-- Uhum. – disse levando a boca uma torrada com geleia.
Tomamos café em meio a uma conversa animada. O episódio que acabara de acontecer ainda foi assunto, me deixando novamente constrangida, mas, acabei rindo das caras e bocas que Tony fazia ao imitar o meu ‘bico’.
Estranhei quando minha namorada anunciou que meu cunhado me deixaria no trabalho, porque ela precisava passar em um lugar que ficava no caminho oposto, e não daria tempo de me deixar na revista antes. Adele parecia bem estranha quando se despediu de mim com um selinho e cumprimentou o irmão com um aceno de mão. Não comentei e nem perguntei nada apesar da falta de explicações.
Antony foi o caminho inteiro tentando puxar assunto, mas a minha cabeça não parava de pensar na minha inglesa. Além de vê-la sair daquela forma de casa, eu não conseguia esquecer o que aconteceu com o carro, a ameaça e a possibilidade de Edson estar disposto a fazer mal a ela. Era tenso imaginar que podia ter alguém te vigiando, te seguindo e disposto a fazer sei lá o quê contra você.
Despedi-me de meu cunhado com um beijo no rosto e entrei no prédio da revista sentindo uma enorme vontade de não estar ali. Não sei como me encarariam depois do que aconteceu, e não sei o que eu ouviria, mas sei que estaria de cabeça erguida, consciente de que eu não fiz absolutamente nada de errado. E de qualquer forma, eu não devia explicações ou justificativas da minha vida para ninguém.
Quando cheguei à redação estava tudo muito quieto, todos sentados, calados e compenetrados na tela de seus respectivos computadores. Júnior olhou em minha direção enquanto eu me aproximava, e levantou para me abraçar quando cheguei à minha mesa. O abraço apertado e demorado me fez suspirar e ao mesmo tempo sentir meu coração sendo preenchido pelo carinho e cuidado que ele tinha para comigo.
-- Como você está? – ele perguntou baixinho.
-- Estou bem. Adele tem cuidado de mim. Ela está do meu lado o tempo inteiro.
Ele sorriu de lado.
-- Eu já admirava a Adele, mas depois do soco que ela deu no idiota do Edson, eu venero! Sua mulher é demais menina. Com uma mulher dessa eu até fico meio dividido sabe? Será que eu mudo de time de novo?
-- Cara de pau! – dei um tapinha em seu ombro – Tire os olhos que aquela mulher é minha. Continue no seu time que você ganha muito mais.
-- Estou brincando, o meu negócio é bofe mesmo. Mas digo a verdade quando digo que a gringa é demais.
-- Ela é sim. – falei enquanto me lembrava dela – Como estão as coisas por aqui?
-- Meio tensas. Tá todo mundo meio calado, meio estranho sabe?
-- Reparei que estava tudo quieto demais mesmo.
-- O Jack veio aqui conversar com a gente, falou do afastamento do Edson e salientou que ele estava proibido de entrar no prédio. Disse também que por enquanto a vaga dele – disse apontando para a sala do editor chefe – estava ociosa, que deveríamos nos reportar momentaneamente ao Gregório até que encontrassem alguém para o cargo, em definitivo.
-- Será que isso vai prejudicar o andamento das coisas?
-- Creio que não. Greg também é um cara competente, e logo vão encontrar alguém para assumir essa vaga.
-- Tomara. Agora vamos trabalhar, tenho que colocar tudo em dia e compensar o tempo que fiquei fora.
-- Não se preocupe, alguém andou revisando os textos que estavam sob a sua responsabilidade, e deram uma adiantada. – disse dando uma piscadinha.
-- Obrigada. – disse sorrindo com sinceridade.
A manhã transcorreu tranquilamente. A redação continuou naquela mais perfeita paz, com um silêncio absoluto. Ninguém me olhou torto ou dirigiu a palavra a minha pessoa. Pelo menos só falavam comigo algo que tivesse alguma relação com o trabalho. Por algum motivo parece-me que as pessoas evitavam ou tinham receio de tocar no assunto. Não sei ao certo, mas, de qualquer forma, internamente eu agradecia por isso.
Por algumas vezes durante aquela manhã eu peguei o celular e o desbloqueei ansiando encontrar uma mensagem de minha namorada, porém, não havia nada, nem um emoji sequer. Cheguei a ligar para o seu celular, e este tocou até cair na caixa postal, durante as duas vezes que ousei ligar. “Talvez ela ainda esteja em reunião” – foi o que tentei me convencer.
A hora do almoço chegou e nem sinal de Adele. Liguei mais uma vez para o seu celular, e o resultado foi o mesmo. Incomodada com o incomum ‘desaparecimento’ dela, acabei ligando de forma impulsiva para o seu escritório. Carol me informou que Adele havia desmarcado todos os compromissos e reuniões do dia. Cocei a cabeça confusa com aquilo, afinal, ela havia saído de casa dizendo que teria um compromisso e depois iria para o escritório.
-- Estou indo almoçar. Vai almoçar com a Adele? – Júnior perguntou ao meu lado enquanto guardava sua carteira no bolso da calça.
-- Ainda não sei, estou tentando falar com ela, mas não consigo. Espera só um pouquinho. – disse e tentei ligar para o celular da minha namorada mais uma vez, e sem sucesso.
-- Nada?
-- Não. – disse frustrada.
-- Então a senhorita me dá a honra da sua presença? – perguntou estendendo a mão em minha direção.
-- Bobo! Quem vê até pensa que é hétero.
Ele deu aquela pequena gargalhada afetada e estragou a imagem de homem hétero que tinha acabado de montar. Mandei uma mensagem para Adele e sai com o Júnior. No caminho ainda tive a ideia de chamar Cléo – que também tinha retornado ao trabalho hoje, mas ela disse que estava meio enrolada e que não teria como sair. Fiquei com a missão de trazer almoço pra ela, para que assim ela não tivesse que sair.
Não fomos muito longe, escolhemos a cantina italiana do outro lado da praça mesmo. Enquanto caminhávamos eu tinha a estranha sensação de estar sendo seguida, mas olhava em volta e não via nada ou ninguém suspeito.
Durante a nossa refeição, conversamos sobre várias coisas, no entanto, sempre acabávamos falando sobre relacionamentos. Júnior me contou que estava ficando com um cara da revista mesmo, mas não me contou o nome dele. Não me deu uma mísera pista. Agora eu estava num pé e outro com a minha curiosidade. Meu amigo também era curioso, e resolveu sanar a sua curiosidade me perguntando como Adele era na cama. Posso com isso? Fiquei envergonhada e me neguei a responder aquela pergunta. Cheguei a ouvir “Aposto que é um furação!”.
Compramos o almoço de Cléo e voltamos para a revista. Mais uma vez tive aquela sensação estranha, mas com medo de Júnior me achar uma doida com mania de perseguição, evitei dividir isso com ele.
Na parte da tarde, uma grande movimentação chamou a atenção de toda a redação. Vimos Jack acompanhado de mais três homens, todos vestidos de terno e gravata e com um semblante sério congelado no rosto. Transitaram por todas as ilhas sem dizer uma única palavra conosco, mantinham um diálogo apenas entre eles.
Júnior disse que reconhecia um deles como um dos sócios da My Sprinter. Passado aquele alvoroço, todos voltaram aos seus afazeres. Assustei-me quando o telefone da minha mesa tocou, olhei para o aparelho sem saber o que fazer, afinal, desde que entrei ali, aquela era a primeira vez que ele tocava.
-- My Sprinter! Beatriz, boa tarde! – atendi.
-- Oi querida, é o Jack!
-- Ah. Oi. Tudo bem?
-- Tudo ótimo. Estou precisando da sua presença aqui na sala de reuniões da diretoria. Você pode comparecer?
-- Ah! Cl...claro. Estou indo.
Levantei da minha cadeira sentindo minhas pernas tremerem que nem vara verde. A única vez que eu estive no andar da diretoria foi no dia em que passei pela entrevista com o Jack, mas dessa vez, eu sentia um nervoso ainda maior. Não esperava de maneira nenhuma que me chamassem na sala de reuniões. Sem falar que isso acontecendo justo agora, depois do ocorrido com Edson, me deixava ainda mais aflita.
Me aproximei da secretaria segurando firme a minha pequena agenda e a minha caneta. A mulher de sorriso incrivelmente fácil me levou até a grande porta da sala de reuniões e após uma batida entrou, e depois me deu passagem.
Eu apertava tanto a minha agenda e a caneta, que se fossem algo frágil, já teriam se partido em pequenos pedaços em minha mão. Quando entrei na sala, sentia-me sufocada apesar do lugar ser amplo.
-- Boa tarde. – desejei a todos mesmo sentindo que minha voz não sairia em um tom natural.
-- Boa tarde. – eles responderam.
Fiz uma busca rápido por Jack. Dentro daquela sala, ele era o meu único alicerce, o único com o qual eu me sentiria menos tensa e mais a vontade. Ele estava de pé, do outro lado da sala, mais exatamente na cabeceira da enorme mesa de 14 lugares.
Meu sogro estava com as mãos dentro do bolso de sua calça social azul marinho, e me encarava com um semblante tranquilo, não correspondendo nem um pouco ao modo como eu me encontrava. Meu coração batia no peito feito louco.
Jack me deu uma piscadinha discreta e se aproximou vagarosamente de mim.
-- Sente-se aqui querida. – ele disse puxando uma cadeira pra mim.
-- Com licença.
Sentei e olhei rapidamente para o homem que estava sentado diante de mim. Era o mesmo que esteve hoje mais cedo na redação. Passei a vista rapidamente por toda a mesa, tentando reconhecer os outros sete homens que estavam sentados ali. Tirando o cara de mais cedo, eu só conhecia o Gregório que estava sentado do meu lado direito.
-- Por enquanto eu preciso que você preste atenção no que for falado durante a reunião. Anote o que achar necessário, pergunte se achar que tem necessidade e fale se achar oportuno. Fique à vontade, está bem? Depois eu lhe explico. – Jack disse em meu ouvido, ao se curvar ao meu lado.
Assenti ainda sentindo o nervosismo crescer em mim de forma descontrolada. Empertiguei-me na cadeira, abri a minha agenda e desconectei a minha mente de qualquer outra coisa que estava do lado de fora daquela porta. Não sei bem o que era, mas se Jack me pediu, eu faria, e faria sem questionar.
-- Podemos começar a reunião? – um cara gordinho, de bochechas coradas e cabelos grisalhos perguntou.
Uma apresentação de slides foi exposta à nossa frente. Números e gráficos eram exibidos e explicados por um magricela que tinha os óculos maiores que seu rosto. Em um dado momento falaram sobre o número de vendas do mês passado, e pelo que pude perceber nos rostos de cada um ali, não fora um número exatamente satisfatório.
-- Precisamos nos reunir com todas as outras equipes e encontrar uma solução, não podemos deixar as vendas caírem desse jeito. Esse número precisa mudar este mês.
-- O que acha que podemos fazer Ana Beatriz? – Jack lançou a pergunta e me encarou.
Olhei para aquele homem sentindo minha face arder. Sentia que me coração sairia quicando em cima daquela mesa a qualquer instante. Minhas mãos soavam em demasia. Todos me encaravam, esperavam uma resposta ou qualquer outra reação por parte de mim, e eu, só queria que o chão abrisse debaixo dos meus pés e me engolisse.
Não acredito que Jack fez isso comigo! Olhei para os números expostos ainda na apresentação a nossa frente, olhei para as anotações que fiz e encarei Jack que novamente deu uma piscadinha, como se estivesse me incentivando.
-- Bom, - comecei sentindo minha boca seca – não acho que o número de vendas tenha caído devido ao fato da qualidade de nosso periódico ao qualquer motivo parecido, mas sim devido a tecnologia e a internet.
-- O que quer dizer com isso? – o homem ao lado de Gregório perguntou.
-- Nossa revista ainda continua sendo a revista de esporte mais lida em nosso país, então a qualidade do que sai em nossas edições é inquestionável. Por outro lado, a internet e tudo o que vem com ela está crescendo cada vez mais, está ganhando proporções gigantescas, e infelizmente, nós ainda não caminhamos nessa direção.
-- Prossiga. – Jack mais uma vez.
-- Eu dei uma olhada em nosso site e acho que precisamos de algumas mudanças. A começar pelo layout, precisamos de algo mais moderno, que chame atenção de todos os nossos tipos de público. Podemos investir no periódico online para assinantes, mas também criar algo gratuito. Estive pensando também em criamos uma página voltada para o público feminino, afinal, mulheres também amam esportes. E podemos nos aproximar ainda mais de nossos leitores se conseguíssemos movimentar ainda mais as nossas redes sociais com alguma tendência, alguma pequena matéria ou com alguma curiosidade do mundo dos esportes.
Terminei de falar e depois me dei conta do quanto eu falei. Todos me ouviram em silêncio, e mesmo depois que eu me calei eles se mantiveram assim, mudos, olhando um para o outro. Jack sorria a balançava a cabeça discretamente em sinal positivo.
-- Anotaram tudo isso? – ele perguntou.
Houve uma pequena discussão diante do que eu falei. Fizeram-me mais algumas perguntas e pediram minha opinião em mais alguns detalhes. Ao final, fizeram mais algumas considerações e finalizaram a reunião.
-- Você foi ótima querida. – Jack disse depois que todos deixaram a sala – Eu sabia que você seria a melhor aposta, sabia que você tem um potencial enorme escondido aí.
-- Eu ainda não entendi o que aconteceu.
-- Você é a minha indicação para assumir o lugar do Edson. E nem pense em argumentar nada, você é perfeita para o cargo, é visionária e astuta. Perfeita! – disse animado.
Eu fiquei de boca aberta encarando aquele homem que sorria pra mim. O sorriso era tão parecido com o de Adele! Fiquei sem palavras e sem ação.
-- Como assim, eu sou sua indicação?
-- O corpo de sócios pediu para que eu indicasse uma pessoa de confiança para o cargo de editor chefe da revista, e eu não precisei pensar para saber que nome eu indicaria. Hoje foi uma espécie de teste, e você os deixou bem empolgados.
-- Nossa! Eu...eu não sei nem como agradecer.
-- Não precisa agradecer, apensa mostre a eles todo o seu potencial, mostre do que você é capaz Ana Beatriz. Deixe aqueles bobões de queixo caído ao verem que uma mulher é sim capaz de desempenhar papel igual, ou até melhor do que eles.
-- Ainda estou sem palavras. – eu disse debilmente.
Meu sogro me abraçou carinhosamente e beijou o topo de minha cabeça. Quando se separou de mim, olhou no fundo de meus olhos e sorriu de maneira gentil, enfeitando o seu rosto bonito.
-- Eu confio em você. – disse apenas.
**********
Adele: Meu amor desculpa pela falta de atenção hoje, tive um dia não muito bom. Sei que estou em falta com você, mas prometo lhe compensar. Te busco na faculdade. Beijos princesa. Amo você!
Eu olhei para aquela mensagem e senti como se estivesse tendo um Deja Vú. Aquela mensagem me fez lembrar algo que aconteceu em um momento não tão longe. Inevitavelmente lembrei-me de Daniele, lembrei-me de quando ela passou a me evitar e sempre tinha como desculpa a falta de tempo, dizendo logo em seguida que me compensaria pela sua falta.
Li mais uma vez aquela mensagem e cheguei à conclusão de que definitivamente aquela segunda feira estava bem estranha. Nada parecia no seu lugar, até o professor que normalmente era ranzinza a nunca perdia a oportunidade de mostrar que sabia mais do que todos os alunos estava estranhamente paciente e gentil, tão gentil que liberou toda a turma meia hora mais cedo.
Sentei em um dos bancos que ficavam na área arborizada próximo das cantinas e enquanto eu comia o meu saboroso pão de queijo, puxei a minha agenda e passei a anotar algumas ideias que foram surgindo de forma aleatória em minha cabeça acerca da reunião de mais cedo. A minha mente às vezes trabalhava de uma forma que eu não conseguia simplesmente deligar.
Fiquei entretida naquilo que eu fazia, tanto que não percebi o tempo passar. Quando olhei o relógio em meu pulso faltavam menos de dez minutos para começar a última aula do dia. Guardei minhas coisas dentro da bolsa e me levantei. Nesse instante ouvi algo se mover na árvore logo atrás de mim. Olhei rapidamente para trás e não havia nada ali.
Caminhei de volta para o meu bloco sentindo de novo aquela sensação de que havia alguém me observando, alguém me seguindo. Será que Edson teria coragem de me seguir aqui na faculdade?
Passei o resto da aula pensando em Edson, pensando em todas as ameaças que aquele nojento havia feito. Lembrei-me do carro de Adele e senti um calafrio percorrer o meu corpo, começando na base de minha coluna e morrendo em minha nuca. Não consegui prestar atenção em mais nada e passei a checar disfarçadamente o meu celular em busca de notícias de minha namorada.
Quando aquela aula finalmente terminou eu corri pelas escadas até chegar ao local onde Adele normalmente me esperava. Senti meu coração inflar e um alívio poderoso me acometer quando a enxerguei encostada em um carro preto. O short jeans, a blusa dos Beatles, o sorriso, os braços cruzados diante do tórax...aquela mulher exalava charme. Adorava quando a via de forma simples e despojada assim.
-- Oi minha princesa. – ela disse me recebendo em seus braços.
-- Oi amor. Senti a sua falta hoje.
-- Eu também. Senti muito a sua falta. Me desculpe por hoje.
-- Tudo bem. Mas vai ter que me recompensar.
-- Com todo prazer. Quer jantar?
-- Quero! Podemos ir naquele chinês?
-- Claro! – disse abrindo a porta do carro pra mim – Faremos tudo o que você quiser, e do jeito que você quiser.
-- É? Tudo?
-- Tudo!
Ah! Se ela soubesse o que a minha mente maquinou ao a ouvir dizer isso. Se ela soubesse o quanto o meu corpo ascendeu rapidamente ao imaginar loucuras com ela.
-- De quem é esse carro?
-- O seguro me disponibilizou ele, pelo período em que meu carro estiver na autorizada. E pelo que eu entendi, vai demorar um pouquinho. Mas esse aqui também é bom, gostei dele. – disse enquanto dirigia.
-- É espaçoso, não é? – falei inspecionando o espaço.
-- Uhum. E esse banco ai detrás reclina totalmente.
Senti uma leve pressão em meu ventre ao imaginar novamente o que eu poderia fazer com aquela mulher maravilhosa. Olhei para o lado, encarando aquela loira e imaginei loucuras, sentindo meu sex* molhar.
-- Amor? – chamei-a.
-- Oi princesa.
-- Podemos deixar o chinês para outro dia?
-- Podemos. Quer comer outra coisa?
-- Uhum. – respondi mordendo os lábios – Para o carro aqui na frente. – disse apontando um lugar mais à frente.
-- Aqui? – perguntou reticente.
-- Sim.
A rua não era movimentada. Era uma rua residencial, e àquela hora, haviam poucas pessoas transitando. Estacionamos o carro atrás de um pequeno caminhão baú, e do outro lado da rua havia mais alguns carros.
Assim que ela desligou o carro, eu soltei o meu cinto de segurança e prendi o meu cabelo em um coque frouxo. Tirei o cinto de segurança dela que ainda me olhava sem entender o que eu fazia, e sentei em seu colo. Seus lábios desenharam um sorriso malicioso.
-- Tenho mais um item da minha lista a cumprir: sex* no carro. – eu dizia enquanto desabotoava lentamente a blusa social que eu usava – E este é o lugar perfeito.
-- É?
-- Sim. E como você disse que faria tudo o que eu quisesse, e do modo que eu quisesse, eu pensei que seria também uma ótima oportunidade. – nesse momento eu abri o feixe frontal de meu sutiã, exibindo meus seios.
-- Concordo! – disse encarando meus peitos sem piscar.
Peguei as mãos de Adele e coloquei sobre os seios, cobrindo-os. Fechei os olhos ao sentir as mãos quentes em contato com a minha pele. Gemi quando ela prendeu os biquinhos de meus seios entre as pontas dos dedos e os apertou com firmeza.
A loira desceu passando a língua pela linha de meu queixo, beijando meu pescoço enquanto apertava meus seios. Arfei quando senti sua boca envolver meu seio direito, sugando com vontade. Segurei em seus cabelos e joguei a cabeça para trás. Meu corpo fervia. Um carro nunca esteve tão quente quanto agora.
Continua...
Fim do capítulo
Olá meus amores! Tudo bem com vocês?
Como foi a ceia de natal de vocês? Ah, FELIZ NATAL para todas! Não me matem por essa demora, tá? O negócio foi bem tenso pra mim, tenso pra caramba. Tive um pequeno bloqueio com essa estória, mas agora, já está tudo ok, e eu estou prontinha pra levar esse enredo até o final. Por outro lado, enquanto me mantive afastada, foi jogando outras ideias que eu tinha em um documento do word, então já tem bastente coisa legal. Daqui a pouquinho eu apresento pra vocês, mas antes, vamos até o fim de Blind, depois decidiremos JUNTAS qual das outras três estórias daremos início.
Meninas me perdoem de verdade pela demora, eu sei o quanto é chato esperar pela atualização de uma estória que a gente acompanha e gosta, mas eu não consegui fazer diferente. Espero que possam compreender a minha ausência, e me desculpem por isso. Tenho que dizer que senti muita falta de vocês, muita mesmo! Obrigada àquelas meninas que não desistiram de Blind, e obrigada também àquelas que leram até onde foi possível. Adoro vocês!
Beijo grande a cada uma, e até o próximo capítulo!
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