Pessoal, o capitulo da semana é simples. Mais para darmos continuidade mesmo =)
Capítulo 40
Capitulo 40 - Carol
Quando finalmente a comida chegou, tanto eu e ela já estávamos bem altas pela cerveja e verdes de fome. O clima da refeição foi tão leve que me lembrou nossas noites em Maçores ou em Urros, só faltou o Pingo deitado no chão, pedindo comida.
- Carol, amanhã cedo vamos no hospital fazer uma tomografia, pra ver esse seu olho inchado e todos esses hematomas que você ficou.
- Para com isso Fer. Eu tomei umas porr*das só. Meu olho já está começando a abrir, os roxos estão ficando azul, mais uma a semana e já estarei igual a antes. Pensa bem, hoje cedo eu não conseguia nem levantar o braço, agora a noite consegui até fazer sex* com você. E pela sua reação, minha movimentação já está bem boa. - ela ficou vermelha.
- As vezes fico pensando, como podemos mudar tanto em tão pouco tempo.
- Em que sentido linda?
- Na cama por exemplo. Nunca fui daquelas pessoas que apenas são passivas ou ativas, eu sempre achei que tem que fazer o que gosta e está com vontade. Em geral eu sempre acabava sendo mais ativa, tomando a atitude. Mas desde que começamos a namorar, me senti tao bem em ser dominada por você, seguir suas regras.
- Estamos namorando então Fer?
- Não estamos?
- Não sei. Por mim não precisava ter um nome para o que estamos vivendo. Tá vendo, sobre isso que falou, as mudanças. Eu sempre fui tão quadrada, tão regrada. Ficar, pedir em namoro, pedir permissão para dormir na sua casa, na minha cabeça e na minha vida, sempre segui todas essas regras, mas com você foi tudo tão intenso e tão rápido, que morei na sua casa antes de te conhecer e te vi sem roupa antes mesmo de estar namorando com você.
- Então vem morar comigo em Urros. Vamos manter essa regra do bagunçado - um minuto de silêncio - Hahahaha pela sua expressão de pânico fui rápida demais. Tudo bem princesa, vamos com calma, entendi.
- Posso te pedir um favor?
- Claro gineco.
- Para de me chamar de princesa. Eu odeio isso. É chato.
- Claro que não. Vou te chamar de princesa sempre. Primeiro porque você não gosta, mas eu adoro sua cara de raiva. Dois, você é minha princesa Ardínia, daquela história que contei na encosta do Douro. Então tem significado te chamar de princesa, não é só birra. - quase que em automático eu mostrei minha língua pra ela, como se disse ok… Ok… Não gosto, mas entendo.
- Fer, falando em Douro, preciso te falar uma coisa séria. Sabe o colar que você me deu? Aquele com a pedra da encosta?
- Sei sim, foi difícil achar aquela pedra.
- Eu perdi no sequestro, devem ter pego. Lembro que depois do parto eu estava com ele, mas apanhei tanto depois que ou caiu ou alguém pegou. Desculpa. É uma coisa tao importante para nós e eu já perdi. Desculpa.
- Meu amor, está pedindo desculpas pelo que? Por ter sido sequestrada? Para com isso Carol. Quem tem que pedir desculpa é o imbecil que te sequestrou. Foi difícil de achar, mas eu dou um jeito de cavar o Douro, com as minhas mãos, até achar uma nova pedra pra você - esse final ela falou fazendo um drama, quase que uma apresentação teatral.
- Nem deu trabalho assim vai?!
- Não?! Sério, óbvio que não fui eu a garimpar o Douro, mas achar uma pedra vermelha, extraída do vale do Douro, de uma fonte confiável e em 3 dias, foi dificil sim. Mas meu amor, nada que não eu não faça de novo por você. - o sorriso dela foi convidativo para mais alguns beijinhos - Carol, não conversamos nada sobre o sequestro. Você quer falar alguma coisa? Quer conversar sobre isso?
- Fer, so quero esquecer tudo isso. Foi absurdo demais. Ser sequestrada para fazer parto?! É algo tao irreal, tao fantasioso. Ainda bem que quebraram o cativeiro antes de voces pagarem o resgate. Nunca me perdoaria por uma divida dessa.
- Ninguem tava pensando na divida amor. Todo mundo tava correndo contra o tempo pra conseguir o dinheiro. Se você visse o estado do Lucas e da Clara entenderia isso. O Lucas deve ter ficado 3 dias acordados. Aquele menino só comeu quando eu dei uma bronca nele e mandei ele sentar e comer. Ele desmaiou quabfi o sequestrador ligou, de tao perdido que ele estava. E a Clara?! Meu Deus, ela jura de pes juntos que é culpa dela, por ter se atrasado pra te pegar no aeroporto. Ela era um zumbi ambulante, com olheras, cara de choro. Ate o Bruno, que não entende nada, ficava perguntando de você “ cade a tia Caol”? Você não imagina como as pessoas te amam Caroline, pagariam qualquer valor pra ter você de volta meu amor. Eu principalmente, fiquei direto ligando para os bancos portugueses, pra liberar os 300.000 que pediram por você. Eu daria qualquer valor. Eu te amo Carol, pra ter você sa e salva dou qualquer coisa.
- Repete Fer!
- Repete o que Caroline? Não prestou atençao em nada que eu falei?
- Prestei atençao em tudo amor. Foi a primeira vez que me disse que me ama!
- Primeira vez? Que bobagem! Já falei isso mil vezes!
- Não pra mim Fernanda. Pra mim é a primeira vez!
- Jura mesmo?! Ah, não seja por isso, vem cá - ela me puxou para mais próximo e como uma criança cheia de energia a cada beijinho que me dava, falava eu te amo. Achei a coisa mais fofa e linda, a Fernanda, toda marruda, toda bruta, se deterrendo em palavras.
- Você encontrou o ursinho que eu deixei pra você?
- Claro que achei. Realmente é a cara do Pingo comilão. Acabei deixando ele la na base. Na correria de vir rápido pro Brasil não peguei nem roupa. A camisa que eu tava hoje, eu comprei em um aeroporto que o jato parou. Assim que cheguei no hotel mandei lavar minhas roupas, tava parecendo você, a esfarrapada da meia noite -ela falou isso olhando pra mim e rindo, claramente debochando da forma e roupa que eu cheguei depois do sequestro.
- Para de me zuar sua bobona. Eu tava com sangue, suor, urina, líquido aminiótico e mais mil nojeiras naquela roupa. Sem contar que eu tava vestindo uma camisa tao linda, azul, que ficou no cativeiro.
- Para com isso Caroline. Depois compro uma outra camisa pra voce.
- Me compra um vinho gostoso também.
- Vinho tem um monte na adega de Maçores, deixo você escolher o que quiser.
- Nossa, apesar a barriga estar cheia, comeria aqueles pastéis de nata da Dona Antônia, com um bom vinho gelado.
- Carol, quero voltar em um assunto que você está fugindo?
- Ai Fernanda, que disco riscado. Amanhã eu vou ir no advogado pedir o divórcio e vamos resolver isso logo. Chega disso.
- Adorei a notícia. Mas não é sobre isso. Quero mesmo ir no hospital com você amanhã. Precisa ver seu olho, você faz cirurgia, precisa da visão boa. E outra coisa, mais delicada. Amor, você ficou horas desacordada pelo que me falastes, precisa usar pilula do dia seguinte, fazer proteção contra DST. Você é ginecologista, sabes desse tema melhor que eu.
- Não entendi. Ou melhor, entendi. Não aconteceu nada. Meu corpo não está machucado, dolorido. Entende, la embaixo.
- Você ficou apagada por horas, pode não ter nem respondido, não ter tido reflexo. Por isso não se lembra nem está machucada. Acho que precisa pecares pelo excesso e fazer toda a proteção.
- Sabe, eu nem tinha pensado sobre isso. Fiquei no cativeiro com mais varios caras, tinha o chefe, o Grilo, que era o namorado da menina grávida, o Puca, o imbecil que fez faculdade comigo e um outro, o caroço, ele que me bateu algumas vezes. Eu fiquei tanto tempo desacordada, desmaiada que chegou um ponto que eu não sabia nem quem eu era.
- Eu vi o vídeo que mandaram pro Lucas. Não consegui ver inteiro, só um pedacinho. Não consegui acompanhar o quanto você estava machucada e chorando, não consegui ver você com uma arma na cabeça, uma faca no pescoço - a Fer começou a encher os olhos de lágrima e quando terminou de falar já estava de cabeça baixa, com elas caindo - Carol, eu fiquei com tanto medo de te perder. Tanto medo. E você nem é casada comigo, nem nada. Eu louca de medo de te perder e aquela outra sem se importar, sem esboçar uma reação. Eu te amo princesa, nem te conheço a tempo suficiente para te perder. Não pode isso. Por isso estou a te pedires que tome a medicação, que “vás” fazer a tomografia amanhã. Preciso de você bem, não só para gerenciar a maternidade, mas para me amar, para me proteger quando eu tenho pesadelo, para eu encheres a paciência.
Não respondi a Fernanda, não de um modo verbal, mas deitei na cama e abracei ela, fazendo a portuguesa se aninhar no meu corpo, onde ela recebeu cafuné e carinho
- Já passou tudo isso meu amor. Eu já estou aqui pra você implicar comigo. Já passou. - ela apenas fez que sim com a cabeça, e se manteve ali, deitada no meu peito, com a mão na minha barriga e fungando o nariz de choro, até pegar no sono. Fiquei um tempo ainda fazendo cafuné nela, depois peguei meu celular e disquei para a Clara. No terceiro toque ela atendeu.
- Quem é vivo sempre aparece. Como esta dra?
- Dra é a tua cara Clara. Já falei que sou doutora só no consultório. Como você esta criança?
- Se eu disser que estava com saudades de te chamar assim, só pra te ver brava, você acredita?
- Do jeito que você come palhacitos diariamente eu acredito. Clarinha, eu preciso de um tempo pra conversar com você. Quando você pode?
- Quanta formalidade Carol! Quando você quiser estou por aqui, só não pode ser no horario do consultorio, o dr Rodrigo não é tao bonzinho assim não.
- Hahahah imagino. Ele é um mala as vezes. Falando nele, amanha ele vai estar atendendo.
- Vai sim. De tarde.
- Consegue me encaixar na agenda dele? Como paciente.
- Acho que consigo, amanha vejo com ele e te falo. Mas desde quando você precisa marcar horario com ele?
- Ah, desde que eu dei todas as minhas pacientes para ele. O coitado deve estar com a agenda cheia e com pacientes até as cuecas. Mas precisava passar com ele, tipo amanha.
- Pode deixar, eu vejo pra você e te aviso. Aquele horario que você tinha me pedido para marcar com o advogado quer manter? Digo, por causa do sequestro e tudo mais.
- Sim sim, estou contando com isso. Preciso resolver essas coisas chatas logo e voltar para Portugal. O advogado vai só se assustar com a minha cara toda roxa e o olho inchado.
- Cara, como você está quanto a isso tudo? E nem me vem com o discurso do sou boa, sou forte, que eu sou sua amiga e comigo não cola isso!
- Hahahaha como você é mala. Ah, acho que a ficha ainda não caiu, ficar com a Fernanda está me ajudando a me distrair bem. Não quero pensar no que aconteceu, no risco que eu passei. Quero só esquecer. To toda quebrada, roxa do cabelo aos pés, meu olho nem abre direito. Precisei de ajuda para tomar banho de manha, agora já estou bem melhor com os mil analgesicos que a Fer me deu.
- Percebeu que na sua frase só tem Fer ou Fernanda? Eu conheci ela Carol. É um amor de pessoa, sem contar que me tratou muito bem. A Christiane ficou toda hora olhando eu conversando com ela.
- Sou uma pessoa ruim em ter desejado ver a cara da Chris nesse momento?
- Claro que não Carol. Vamos ser sinceras, quantas mil chances você já não deu para a Chris? Isso considerando que eu te conheço há uns 5 ou 6 anos. Chega, tá na hora de você ser feliz, ficar com alguem que te ama. Amiga, posso ser sincera com você?
- Obvio Clara, confio em você.
- A Christiane não soltou uma lagrima. Ela pode ter o jeito dela de lidar com o seu sequestro, até intendo. Mas eu, o Lucas e a Fernanda estavamos destruidos, acabados. A Chris parecia que estava lá acompanhando as coisas, só por obrigação, sem se preocupar com você. Não correu atras de nada. Ah, e ainda deu em cima daquela policial, que tava fazendo os tramites do resgate. Putz, qual o nome dela?
- Eu sei quem é. Eu fui na minha casa hoje…
- Ai cacete. Não era para você ter ficado descansando?!
-Não rolou, umas 3 ou 4 a tarde acordei, a Fer ainda estava dormindo. Deixei ela aqui no hotel e fui lá, fica a um quarteirão daqui quase. Eu já sabia que ela estava com alguem, mas não imaginava que a garota tava morando lá em casa. Você acredita nisso?
- Carol, não fica brava, eu e o Lucas sabiamos já. Por isso não queriamos que você fosse pra sua casa, iriamos contar em um momento melhor, você mais calma.
- Não iria fazer nada com elas, assim como não fiz. Acredito em voces, e sei que esconderam isso como um cuidado comigo.
- Você não fez nada? Juro que se fosse eu, eu chutava as duas pra fora de casa e ainda quebrava a Christiane em duas.
- Não Clara, isso não faz meu jeito. Sabe como eu sou uma pessoa tranquila. A Christiane estava dopada, dormindo. Nem se mexeu quando eu falei tentei acordar, a ooutra arota tava mais perdida que eu. Ela nem sabia que a Chris era casada. Acredita nisso? Quem coloca alguem em casa e nem conta o minimo? Não conta a verdade?
- Sua esposa.
- Ela não é minha esposa. Estamos em outra vida agora. Amanha vou entrar com os documentos pra acabar com isso de vez.
- Você conversou com a Chris?
- Não. Ela tava dopada. Nem sei se quero falar com ela. Minha vontade mesmo é só organizar os documentos e deixar um representante legal pra fazer essas coisas e sumir do Brasil. Clara, Portugal é um lugar tão lindo, tão em paz. Me apaixonei por la.
- Por Portugal ou pela portuguesa?
- ah, pelos dois ne?!
- Vai voltar mesmo pra lá?
- Sim. Sem chance de eu ficar no Brasil. Não tem nada que me prende aqui. Sem contar que lá tem a Fer, a maternidade que eu vou assumir, o centro de oncologia. Uma vida nova pra mim, um futuro novo.
- Vou sentir falta de você. Senti muita esse mês.
- Sentiu nada. Fala, sentiu falta das minhas ligações de madrugada pedindo documento cirúrgico?
- Ah, isso não. Sem chance.
- Clara, vamos fazer assim, amanhã dependendo das coisas, vamos a noite na cantina do Sr. Giovanni, ai você vai também. Se organiza para ir, se não formos amanhã, vamos no dia seguinte. Pode ser? Vê como estão seus horários e depois me conta ok?!
Me despedi da Clara. Conversar com ela foi uma coisa muito boa, me acalmou um pouco. Tentei delicadamente me desvencilhar do corpo da Fer, que estava enroscado ao meu. Quando levantei, abri o frigobar e peguei mais uma das cervejas que tinha lá e virei, mais uma vez quase que em um único gole. Minha ideia era usar o efeito da bebida para poder dormir, estou com o relógio cronológico uma loucura, sequestro, jet lag da viagem Portugal- Brasil, sem contar que dormi hoje durante o dia, mas não descansei nada. E espero que o álcool deixe meu sono calmo, sem pesadelos quanto ao sequestro e as lembranças horríveis daquele lugar. Sei que beber nunca pode ser uma válvula de escape, mas hoje vou me dar essa permissão.
Acordei desorientada depois de um sono agitado e cheio de flashes do sequestro. A todo o tempo eu lembrava das ameaças e deles me batendo. Foi horrível. Olhei no relógio, não se passavam nem das quatro da manhã. A Fer estava jogada na outra ponta da cama, com os braços espalhados, uma cena digna de risada. Levantei rapidamente, no máximo de silencio, coloquei uma bermuda e meu tênis. Deixei um recado pra ela ao lado da cama e desci para a recepção.
A equipe da noite não tinha me visto em nenhum momento, então se assustaram com o meu rosto ainda bem roxo e inchado. Perguntei se o hotel possui academia ou uma esteira, pelo nível econômico do hotel, deve ter até um SPA, tornando quase uma pergunta retórica. Fui informada que a academia ficava na cobertura, com uma vista para toda a cidade de São Paulo.
Assim que cheguei respirei aquele cheiro de emborrachado, misturado com o de um ambiente fechado, me senti em casa, por mais que seja estranho eu gostar desse cheiro. Sempre fui uma pessoa muito ativa, de malhar todos os dias, mas desde que fui pra Portugal não faço nem uma caminhada, com exceção daquele dia que resolvi correr na neve e desmaiei de hipotermia. Subi na esteira e comecei com uma velocidade mais estável e fui acelerando. Quando dei conta já estava correndo.
As emoções dos últimos dias pareciam estar a flor da minha pele, cada lembrança ruim desse período fazia com que eu quisesse acelerar mais, correr mais rápido, ir ao meu limite. Quando percebi lágrimas caiam dos meus olhos, acompanhada das de suor que pingava da pele. Continuei acelerando a esteira, forçando meu corpo, estimulando cada músculo já dolorido e machucado. Machucado por cada chute, soco e porr*da que recebi.
Sequestro? Que coisa surreal. Aumentando a velocidade. Algo que nunca imaginei, que nunca acreditei que viveria. E mais estúpido ainda é ser sequestrada pela sua expertise, por sua melhor habilidade, fui sequestrada para fazer parto, algo que faço todos os dias, algo que me define. Será que toda vez que eu fizer um parto vou lembrar do sequestro? Será que cada vez que eu sair de casa vou pensar no Caroço me arrastando? E a cada café no aeroporto pensar que fui dopada? Cacete, dopada por um colega, um conhecido de anos.
Sem pensar que voltei ao Brasil para me divorciar. Me separar. Separar do que? De um casamento já falido, de uma pessoa mentirosa que já colocou outra na minha casa, na minha cama. Mais um aumento na velocidade. Me separar de alguém que eu dei a segunda chance e continuou me traindo. Alguém que eu amei loucamente, esquecendo e apagando cada erro, cada mancada. Acelero mais um nível. E ela bebeu meu vinho todo, sim, cada gota de cada vinho que eu me matei pra conseguir, que eu rodei São Paulo para comprar. Cada vinho que eu guardei para beber com ela. Aiiiiiiiii!
Cacete! Que dor! Cai da porr* da esteira e rodei pelo espaço da academia. Acho que bati minha cabeça na queda. Devagar levantei do chão e fiquei sentada, com as costas apoiadas na parede. Chorando, chorando cada gota de dor e desespero desses últimos quatro dias, chorando pelo casamento que acabou, chorando por todos os sonhos que eu abandonei por ter amado uma pessoa horrivel e chorando por cada maldita gota de vinho que ela tomou. Caraca, o que mais dói nesse fim de casamento é o meu vinho, minha coleção de vinhos.
- Carol, Caroline. Acorda meu amor. - A Fernanda delicada, mas com uma voz de puta da vida, estava me chamando.
- Oi! Eu dormi aqui? Eu estava correndo um pouco, acho que cai.
- Acho que meteu a cabeça na parede, estás com sangue na mão. Deve ter cortado quando caiu e colocou a mão pra segurar. Deixa eu ver. - ela puxou de lado meu cabelo e olhou a cabeça, parecia antigamente, aquelas sessões de procurar piolho - Tem um corte aqui. Não precisa de ponto, mas precisa limpar pelo menos. Acho que não preciso te dizer que vamos mesmo no hospital fazer uma tomografia. - Eu apenas concordei com a cabeça, a fernanda que estava agachada na minha altura resolveu sentar no chão, segurou minhas mãos e olhou nos meus olhos - Porque veio pra cá? Fiquei assustada quando vi a cama vazia. Tá tudo bem? Você tá com carinha de choro.
- Eu não estava conseguindo dormir, a cada vez que eu fechava os olhos eu lembrava alguma coisa do sequestro, toda vez eu lembrava deles me batendo ou me ameaçando. Achei que se eu corresse um pouco ia me acalmar, mas no final acho que forcei a barra. A real é que acho que caiu a ficha de ter sido sequestrada, de tanta coisa ruim que me aconteceu recentemente, acabei tentando extravasar na esteira.
- A última vez que fez isso eu te achei na estrada, quase congelada. Carol, tudo isso é muito recente. O sequestro, o fim do seu casamento, você mudar de país. Tudo isso junto é uma bomba, para de se exigir tanto. Vem, vamos descer, tomar um banho, comer alguma coisa e ir no hospital.
- Tenho uma reunião com o advogado agora de manha.
- Tudo bem, vamos tomar um banho e comer. Depois vemos tudo isso. - Ela levantou primeiro e depois esticou as mãos para que eu levantasse também - Vem cá, me dá um abraço. Não sei mais acordar sem você ao meu lado, foi estranho.
- Que carencia toda dra. Não era você a rabugenta até um mês atrás? - em resposta ela me mostrou a língua e depois me deu um beijinho.
Eu fui direto pegar um água gelada, enquanto a Fer entrou para tomar um banho. Não entrei junto no box, minha cabeça realmente estava doendo da queda e do corte. Deitei um pouquinho para descansar e apaguei mais uma vez.
- Mas essa minha namorada é boa de cama mesmo! Levanta princesa, vai tomar um banho, o dia será bem longo hoje.
- Fer, você vai comigo no advogado?
- Não pretendo ficar aqui no hotel o dia todo.
- Isso não responde minha pergunta.
- Eu pretendo te acompanhar o dia todo, só não vou se você não quiser. E outra, vou com você para fazermos uma tomo. Sem chance de você ir sozinha.
- Tudo bem. Vou tomar um banho. Ai café, advogado, hospital, comprar uma roupa pra mim e pra você, que estamos sem. E se tudo der certo, pensei em ir no Gigio, comer hoje a noite. Eu, você, a Clarinha.
- Gigio?
- É uma cantina italiana que eu conheço, acho que você vai gostar.
- Uma boa massa e um bom vinho?
- Sim srta, com uma boa musica ao fundo. Topa?
- Claro que sim. Mesmo mesmo.
Fim do capítulo
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