Capítulo 24- Ressaca
Raquel deu início a cirurgia que poderia trazer Carolina de volta ou poderia tirar sua vida por completo. Com toda a sua capacidade e competência a neurocirurgiã estava nervosa e apreensiva, naquela mesa de cirurgia estava sua melhor amiga. Não era uma paciente qualquer, era Carolina.
Todas as incisões foram feitas com o dobro do cuidado que ela teria com um paciente qualquer, e aquele cuidado era sempre muito extremo. Izabel acompanhava ao seu lado para dar-lhe segurança, mas também estava muito nervosa com o procedimento. Rezava para si enquanto via as mãos habilidosas da antiga residente trabalhando de forma perfeita.
Ângela que estava assistindo do balcão rezava sem parar, suas mãos suavam, e ela estava inquieta. A possibilidade de perder Carolina era aterrorizante e mais ainda foi se descobrir apaixonada pela sua mentora, principalmente naquelas condições. Não tinha garantias, mas só em ter Carolina novamente ao seu lado era mais que um sonho. Era o que ela precisava.
Carlos e Roberta estavam no hospital esperando ansiosos o término do procedimento, foram avisados que iria demorar. Roberta pegou a tarde de folga para ficar ao lado do ex-namorado, apoiando já que eles não tinham mais ninguém. Mas essa proximidade estava cada dia mais difícil de controlar, ela não queria magoar o atual namorado, mas ela sabia que seu amor por Carlos continuava o mesmo de anos atrás, rever o irmão de Carolina trouxe tudo à tona novamente.
Samantha ligou para o hospital e ficou sabendo da cirurgia de Carolina, ela se sentia muito culpada, mas não havia nada que ela poderia fazer, ficou em casa e pela primeira vez na vida ela se pôs a rezar pela vida da única mulher que ela realmente amou, de um jeito torto, desviado, tóxico, mas ainda amava.
As próximas horas seriam quase eternas, a espera era angustiante para todos que aguardavam a recuperação da médica.
Pelo balcão passavam vários médicos do hospital para saber se estava tudo correndo bem, alguns residentes de neurologia estavam observando Raquel trabalhar, os residentes de cardiologia passavam para saber sobre a chefe, enquanto Ângela não saiu de lá nenhum minuto.
As horas passavam lentas, uma, duas, três horas e tudo parecia não ter fim. Raquel não perdeu o foco em nenhum momento.
Na escuridão que se encontrava, Carolina tentava se situar, permanecia em silêncio tentando entender o que acontecia ao seu redor, ouvia vozes distorcidas, aquele bip cadenciado absurdamente irritante em sua cabeça, tentava descobrir em seus pensamentos porque estava ali tão perdida e pedia uma luz que lhe guiasse.
Enquanto isso novas memórias retornavam trazendo a vida de Carolina novamente.
Setembro de 2008
Carolina e Raquel tiraram três dias no hospital para participar de um congresso, as duas viajaram para Fortaleza e se hospedaram no mesmo hotel onde seria realizado o evento. Teriam dois dias de palestras e estudos e folgariam o terceiro antes de voltar para o Rio por insistência de Raquel que vivia dizendo que a amiga precisava se divertir mais.
Pegaram um quarto para dividir de frente para a praia, ao abrir as portas francesas quase podiam pisar na areia se não fosse um deque de madeira com alguns degraus que as separava da praia.
Durante o congresso Raquel conheceu um neurologista de São Paulo e todas as noites ela só aparecia no quarto que dividia com Carolina já de madrugada. A Cardiologista agora já formada, não sabia como a amiga conseguia ser tão desencanada com relacionamentos. Por algumas vezes ela também desejou ser assim, até tentou, mas não fazia parte de sua natureza.
No último dia, a maioria dos médicos que havia participado do congresso já tinha ido embora, inclusive o affair de Raquel.
As duas amigas aproveitavam a praia, estava um lindo dia de sol, ventava um pouco e elas ficaram apenas na areia conversando.
Raquel, agora neurologista, saiu pra buscar um coquetel, e trouxe outro para a amiga.
-- Aqui, eu trouxe pra você. – Entregou o copo –
-- Obrigada, é de que? Morango? – Tomou um gole no canudo –
-- Sim. – Bebeu do seu –
-- Raquel, isso aqui tem vodca! – fez uma careta –
-- Eu sei. É uma caipirosca!
-- Você sabe que eu não bebo nada alcóolico! – Estendeu o copo para a amiga –
-- Relaxa, Carol, um copinho desses não vai te fazer nenhum mal. Eu pedi pra colocar pouca vodca pra você. Prova o meu pra você sentir. – Estendeu o seu coquetel –
Carolina provou do canudo da amiga e constatou que o dela estava bem forte, realmente Raquel não tinha exagerado na sua bebida.
-- Bebe aí amiga, relaxa pelo menos uma vez na vida, vai. Curte a vibe. – Encostou na espreguiçadeira – Deixa de ser Caxias. – Riu --
Carolina resolveu seguir o conselho da amiga e relaxar pelo menos uma vez em sua vida, bebeu aquele coquetel e com os sentidos já alterados pela pouca vodca que ingeriu aceitou beber outro coquetel. Como nunca bebia, Carolina ficou logo alcoolizada, Raquel estava adorando aquela face desconhecida da amiga, mais extrovertida e solta do que o de costume. Carolina ria de tudo, já falava embolado e estava se divertindo como nunca.
-- Raquel, esse negócio que você me deu é uma delícia mesmo. – Ria – Você pega outro pra mim?
-- Não Carol, melhor você ficar nesses três, já está aí quase cantando babalu em grego. Imagina se eu te trago mais um. – Gargalhava –
-- Mas foi você que me disse pra relaxar, só estou seguindo suas recomendações doutora. – Levantou meio desequilibrada – Opa!
No seu desequilíbrio acabou caindo por cima de Raquel na espreguiçadeira, a neurologista a segurou e elas ficaram a centímetros da boca uma da outra. Raquel sentiu seu corpo arrepiar inteiro e Carolina que não estava pensando direito quase a beijou, mas acabou se afastando num último lampejo de lucidez.
-- Amiga, acho que eu estou meio bêbada. – Tentou levantar – Melhor eu ir pro quarto.
Raquel a ajudou e levantou também, catou as coisas das duas e foi com a amiga para o quarto.
Carolina não conseguia fazer um caminho reto na areia e acabava rindo da situação, Raquel que vinha atrás observava a amiga, pela primeira vez ela conseguiu ver Carolina sem aquelas nuvens negras que pairavam sobre seu semblante todos os dias. Parecia uma criança brincando na caixa de areia do parquinho e ela sorriu com esse pensamento.
Ao entrar no quarto, Carolina foi tirando a saída de praia que escondia seu corpo, e o biquíni também foi ficando pelo chão do quarto sem o pudor característico que Carolina carregava, enquanto Raquel admirava o corpo de sua amiga com o desejo de toma-lo para si. Pela primeira vez, Raquel se deu conta que uma mulher podia atraí-la tanto quanto um homem fazia.
Carolina tropeçou no tapete do banheiro e quase caiu, Raquel foi ajudar e correu para o banheiro, amparou a amiga e a levou para o chuveiro. Ainda de biquíni, abriu a água fria e deixou cair na cabeça de Carolina que estava cambaleando.
Carolina sentia tudo rodar, e se apoiou em Raquel, com as duas mãos no pescoço da amiga, seu corpo nu ia e voltava colando na pele quente da neurologista, Raquel já estava enlouquecida com aquele contato, sentia um enorme desejo de beijar Carolina. Tentava se segurar de qualquer forma até a cardiologista levantar o rosto e a fitar, contornou seus lábios com o olhar, aproximou sua boca da dela e a beijou.
Raquel retribuiu o beijo como se fosse o seu primeiro, meio sem saber o que fazer. Era realmente o seu primeiro em uma mulher, e não era qualquer mulher, era sua melhor amiga.
As mãos de Carolina começaram a explorar o corpo molhado da amiga, enquanto seus lábios famintos a devoravam em um beijo ardente que foi ficando cada vez mais intenso.
Raquel que já estava mais relaxada com aquele contato, abraçou a cintura de Carolina e a puxou para colar seus corpos e ouviu um gemido abafado entre os beijos da Cardiologista. Seu biquíni foi retirado lentamente, laço por laço até ser jogado no chão, assim como a calcinha.
As duas estavam nuas debaixo do chuveiro se beijando e se acariciando, Raquel imaginava que não passaria disso, ela estava curtindo o momento de intimidade com sua amiga, descobrindo novos mundos, novas possibilidades, tinha certeza que Carolina não lembraria desse episódio no dia seguinte.
De repente, Carolina em um rompante a empurrou para a parede e a fitou, com o olhar de desejo, pegando fogo, Raquel pôde ver quanto desejo havia no olhar daquela mulher à sua frente, era um lado que ela realmente não conhecia da pacata cardiologista, mas que estava adorando conhecer.
Carolina avançou em sua boca e suas mãos começaram uma exploração mais intensa, estimulando seus seios com a palma das mãos, e encaixando uma das coxas entre suas pernas apertando seu sex*. Raquel quase teve um orgasmo de tanto tesão que sentiu. Sentiu seu líquido escorrer quente pelas suas pernas molhando Carolina.
Carolina continuava sua exploração, beijava o pescoço da amante, descia pelos seios, ch*pando seus mamilos de maneira voraz. Raquel apenas gemia de prazer, um prazer nunca experimentado, nunca descoberto, uma das mãos desceu pelo corpo quente da neurologista e alcançou seu sex*, o que a fez gem*r mais alto. Em movimentos cadenciados, mas firmes, Carolina começou um balé pelo sex* da amiga, os dedos indo e vindo enlouquecendo Raquel, que gemia e se contorcia presa àquela parede fria, arqueava a cabeça para trás e Carolina beijava o seu pescoço, lambendo e sentindo seu gosto.
Quase goz*ndo Raquel implorou para ser possuída pela sua melhor amiga e agora sua melhor amante.
-- Ai Carol, eu quero te sentir dentro de mim. – Ahh. Me come gostoso!
Carolina atendeu o pedido da amiga e entrou dois dedos em seu sex*, fazendo Raquel enlouquecer de vez. O vai e vem cadenciado em um ritmo intenso levou Raquel ao orgasmo mais gostoso que já havia sentido em sua vida.
-- Ahhh Carol! – rebol*va – Vou goz*r... Ahhh
Raquel explodiu em um orgasmo cheio de surpresas, novos gostos, novas sensações, novas atitudes, foi uma imensa descoberta, tanto sobre ela como de sua amiga.
Carolina foi retirando seus dedos do sex* de Raquel lentamente e beijava a amiga, quando surpreendeu Raquel segurando sua mão e levando ao seu sex*, pedindo por prazer também, ao sentir a umidade quente entre as pernas da cardiologista, Raquel não deixou sua amiga sem seu prazer, inverteu as posições e repetiu o que havia recebido a poucos minutos, estimulava os seios fartos de Carolina e seu sex* com as mãos, a médica gemia baixinho e rebol*va na mão de sua amante.
Raquel a levou a um orgasmo longo e prazeroso, quase minando as poucas forças que lhe restaram depois da bebida.
As duas estavam abraçadas debaixo do chuveiro, recebendo aquele jato de água fria em seus corpos, como se fosse uma tentativa de apagar aquele fogo que ainda permanecia em ambas.
Carolina abraçou Raquel e deitou sua cabeça em seu peito e ficou assim por um tempo. Recebia o carinho da amiga em seus cabelos e depois a olhou nos olhos.
-- Acho que nós fizemos uma besteira não foi? – sorriu –
-- É a primeira vez que eu estou gostando de ter feito uma besteira. – Riu –
As duas acabaram rindo juntas, Raquel ajudou Carolina com o banho e a colocou na cama para dormir depois de a obrigar a beber bastante água para hidratar o organismo.
A neurologista se vestiu e sentou em uma cadeira no deque do quarto para observar o mar. Pegou uma cerveja no frigobar e degustava pensativa. Algumas vezes olhava para dentro do quarto e via Carolina deitada dormindo o sono dos justos.
Sabia que sua vida acabara de mudar naquele momento, foi a sensação mais intensa que já teve em todas as relações que já havia experimentado com seus namorados. Só tinha medo de mudar a amizade que Carolina tinha com ela, tinha medo de perder a amiga quando Carolina acordasse e se lembrasse do que acabara de acontecer entre as duas.
Mas estava feliz por ter conhecido a Carolina leve e sem o peso que ela carregava nas costas desde que sua mãe faleceu. A menina sofrera demais na vida e torcia para que ela conseguisse se libertar do passado. Só lhe restava esperar o despertar da cardiologista para conversarem.
Já era quase noite quando Carolina despertou, o quarto estava escuro, havia apenas a penumbra da lâmpada da varanda do quarto, a porta estava entreaberta, as cortinas balançavam lentamente com a brisa refrescante que entrava pelas portas francesas.
Tentou se situar, mas a cabeça deu um sinal de dor aguda, ela levou uma das mãos até as têmporas e as apertou. Manteve os olhos fechados por um tempo para se acostumar com a claridade. Voltou a abrir os olhos devagar, não lembrava direito o que havia acontecido, mas sabia que tinha bebido mais do que estava acostumada, alguns flashes vinham em sua memória, mas tudo muito confuso.
Tinha uma sensação estranha, sabia que algo aconteceu com Raquel, mas não conseguia se lembrar o que tinha feito. E isso a deixou irritada. Levantou da cama com dificuldade, a dor era latejante, fechou os olhos novamente. Se arrependeu de ter aceitado aquele drinque com vodca. Sua memória refrescou que não foi apenas um, mas dois, talvez três. Carolina balançou a cabeça em negação. Faltava um mês para o seu aniversário, mas ela já estava de parabéns! Aquela ressaca seria colossal!
Caminhou devagar até o banheiro e acendeu a luz, parecia que um picador de gelo acabava de fincar entre seus olhos, os fechou novamente enquanto se adaptava àquela sensação. Lavou o rosto e pegou um analgésico em seu nécessaire, foi até o frigobar e pegou água, bebeu como se fosse a última gota em um deserto, estava ressecada por dentro.
-- Meu Deus, que ressaca! – Segurou a cabeça – Parabéns Carolina! – Disse resignada --
Raquel percebeu a movimentação no quarto e chegou na porta da varanda, encostou e ficou olhando para a amiga com a cara amassada, acabou sorrindo. Carolina estava só de calcinha e camiseta, foi o máximo que conseguiu colocar na amiga quando ela estava quase dormindo depois do banho.
-- Você está bem? – Cruzou os braços –
Carolina abriu um dos olhos e avistou a amiga na porta e lembrou de ter agarrado a neurologista no banheiro. Ficou tensa com essa memória, não sabia ao certo se foi um sonho ou se realmente tinha feito sex* com sua melhor amiga.
-- Minha cabeça está explodindo. – Bebeu mais água – Isso que é uma ressaca?
-- Sim, isso que é uma ressaca. – Sorriu – Bem-vinda à vida Carol. – Abriu os braços --
-- Mas se pra viver precisa ter um picador de gelo enfiado na minha testa eu não quero mais não. – Terminou com a garrafa de água – Eu estou me sentindo no filme “Sexta-feira 13”.
Raquel riu da amiga. Entrou no quarto e sentou em sua cama. Não sabia se abordava aquele assunto que não saiu de sua cabeça enquanto estava sentada olhando a praia, mas sabia que isso não poderia passar despercebido.
-- Vai passar. Você está enjoada?
-- Um pouco, mas estou com o estômago vazio, preciso comer alguma coisa.
Jogou a garrafa no lixo e voltou para a cama, deitou novamente e voltou a fechar os olhos, tentava se acalmar para a dor de cabeça aliviar. Seu corpo parecia que não obedecia às suas ordens.
-- Eu posso pedir um lanche aqui no quarto pra gente, você prefere?
-- Não precisa, deixa só o analgésico fazer efeito e eu estarei nova em folha.
Raquel observava o corpo de Carolina sobre a cama, a calcinha pequena deixava a cardiologista absurdamente sexy, deitada de bruços abraçando o travesseiro enquanto esperava a dor de cabeça passar. Mas algo precisava ser dito, e Raquel não quis deixar para depois.
-- Carol, a gente precisa conversar.
Carolina sentiu um certo medo na frase da amiga e percebeu que sua memória não foi apenas um sonho e sentiu o corpo inteiro tremer. Não queria perder a amizade de Raquel, tinha medo de ter abalado a relação das duas, sentimento recíproco da neurologista.
-- O que houve? – Deitou de lado olhando para Raquel –
-- Eu não sei como começar. – Estava sem graça –
-- Do começo.
Raquel levantou e sentou do outro lado da cama de frente para Carolina.
-- Carol, você ficou bem bêbada, e eu tive que te trazer pro quarto. – Esfregava as mãos – Eu juro que não tinha segundas intenções, mas acabou acontecendo tão naturalmente. – Parou de falar –
Carolina ia relembrando algumas cenas daquela tarde no chuveiro, lembrou das sensações, do beijo em Raquel, do sex* quente e gostoso e se arrepiou inteira.
-- Eu te ataquei Raquel, não foi? – Riu da situação – Desculpa. Eu não sei o que me deu.
-- Não precisa se desculpar, você lembra de tudo?
-- Não, estou tendo pequenas memórias. O que me irrita profundamente. – Fez uma careta --
-- É assim mesmo. Então você não está chateada comigo?
-- Não, como poderia? Eu que te agarrei, eu achei que tinha sido um sonho, e fiquei com medo de ter feito algo com você que tivesse te chateado.
-- Não, na verdade não fiquei nem um pouco chateada. – Lembrou do orgasmo que teve e abriu um sorriso bem cafajeste –
-- O que aconteceu exatamente? – Perguntou encabulada – O que eu fiz? Eu não consigo lembrar.
-- Você quer mesmo saber?
-- Sim, nós trans*mos?
-- Sim, e vou confessar, eu não imaginava que debaixo dessa capa que você usa pra se esconder tinha uma mulher tão sexy e gostosa!
Carolina jogou um travesseiro na amiga. Raquel começou a rir.
-- Para com isso, eu hein! Eu gostosa e sexy? Você que bebeu demais.
-- Carol, honestamente, foi o melhor sex* que eu já tive na minha vida! – Abraçou o travesseiro –
-- Raquel, você já teve muitos caras, não pode estar falando sério.
-- Eu juro. Parecia que você já me conhecia, sabia exatamente onde tocar, como tocar, como me enlouquecer.
Carolina ficou ouvindo aquilo e não conseguia acreditar, apesar de ter feito o mesmo com Carina, ela pouco tinha experiencia com sex*, com Samantha foi sempre muito superficial, ela não confiava na ex-namorada, e agora sua melhor amiga estava elogiando sua performance na cama, era demais para uma única ressaca.
-- Raquel, eu não quero perder sua amizade, não quero que isso que aconteceu mude algo entre nós. – sentou na cama de frente para a neurologista –
Raquel colocou o travesseiro de lado e se aproximou da amiga, segurou suas mãos e a olhou nos olhos.
-- Carol, nada vai mudar entre nós. A não ser que agora eu posso querer te pegar dentro de alguma sala de suprimentos lá no hospital, aí vai ser foda. – Começou a rir – Literalmente!
Carolina a empurrou e riu também. Ficou aliviada com a reação de Raquel.
-- Isso não vai se repetir dona Raquel.
-- Ah, que pena! – Deitou na cama –
-- Vamos comer alguma coisa, eu estou morta de fome, preciso me recuperar para pegar o avião amanhã.
-- Sim senhora.
As duas amigas saíram para jantar, Carolina já se sentia melhor, e conversaram sobre tudo, aos poucos Raquel foi narrando a tarde de sex* delicioso que as duas tiveram e Carolina foi recordando aqueles momentos de puro prazer.
Em alguns momentos ela ficou envergonhada e aí que Raquel implicava com sua timidez.
Ao voltar de Fortaleza as duas estavam mudadas, Carolina aprendeu a se soltar mais, percebeu que a vida não precisa ser tão severa, ela podia tentar viver mais leve, e Raquel aprendeu um novo jeito de ter prazer, descobriu um mundo de possibilidades, além dos rapazes, agora ela também encontrava prazer em mulheres que passou a namorar e se divertir.
Dezembro de 2008
Carolina mantinha uma certa amizade com Samantha, não se encontravam muito por conta dos horários divergentes, mas conversavam ao telefone as vezes.
Uma crise mundial se instaurou em setembro com a explosão da bolha imobiliária americana, o maior banco americano na época pediu falência. Isso influenciou o mercado mundial e afetou a vida de milhares de americanos e milhares de investidores espalhados pelo mundo que tinham negócios nas terras do Tio Sam.
Samantha viu o império do seu pai ruir centavo por centavo nesse momento, ela não entendia o problema, mas a fortuna milionária da família Monte Alto já não existia mais.
Seu pai havia investido milhões em empresas que agora estavam falidas e agora comprometeram a empresa dele aqui no Brasil. Ela e sua mãe estavam furiosas cobrando respostas a Gustavo Monte Alto, mas ele não as tinha para oferecer. Além da crise financeira, agora a família inteira estava à beira de um colapso.
-- Como assim eu vou ter que sair do meu apartamento? – Samantha gritava no escritório da casa dos pais –
-- Eu não posso mais bancar esse luxo todo pra você Samantha! Eu estou falido! – caminhava pela sala – Você consegue entender isso? Falido!
-- Isso não pode estar acontecendo. – Colocou as mãos na cabeça – Mãe, faz alguma coisa!
-- O que eu posso fazer? Eu já cobrei seu pai, nós vamos ter que nos mudar da nossa casa também. – Estava sentada em um sofá – Ai que humilhação, sair dessa mansão para ir morar em um apartamento simples no subúrbio. – Começou a se abanar com um leque –
-- Vocês duas podem fazer o favor de parar de me alugar? Vocês também têm culpa. – Apontava o dedo para as duas mulheres – Vocês nunca tiveram o menor pudor em gastar fortunas à toa, se não esbanjassem tanto, hoje teríamos algumas economias.
-- Você sempre disse que nunca iríamos nos preocupar com dinheiro Gustavo! – Bradou Maria Clara –
-- Mas agora eu não tenho mais dinheiro, Maria Clara!
-- Como isso aconteceu pai?
-- Os investimentos que eu fiz nos Estados Unidos não deram em nada. O banco faliu e eu perdi tudo que investi. Agora só sobrou a dívida que eu adquiri comprando essas ações, não sobrou nada. – sentou na mesa do escritório –
-- Eu me recuso a sair do meu apartamento. – Cruzou os braços de pirraça –
Gustavo bateu forte na mesa e levantou apoiando-se sobre a mesma com as duas mãos e gritou irritado.
-- Então trate de arrumar um trabalho decente para se sustentar! Acabou o mole Samantha! – cortou o ar com uma das mãos – Agora se quiser ter carro, apartamento de luxo e vida mansa, ou você casa com um ricaço ou vai trabalhar e pague suas contas!
Samantha ficou chocada com aquela reação de seu pai, olhava para a mãe que parecia não acreditar naquela situação em que ela se encontrava.
-- As duas agora, se quiserem vida boa, trabalhem! Eu não tenho mais dinheiro para bancar duas vagabundas dentro de casa. Samantha é assim por sua culpa Maria Clara, ela é igualzinha a você. – Apontou para a mais velha –
-- Agora a culpa é minha que você é um incompetente e perdeu todo o nosso dinheiro? Samantha não é a questão aqui, o que está em jogo Gustavo, é o nosso casamento, é a nossa vida, estamos perdendo nossa casa, os carros, o que nossos amigos vão pensar de nós? – levantou – Vamos perder nosso status.
-- FODA-SE STATUS MARIA CLARA! – gritos mais altos –
-- Mais respeito comigo Gustavo! – caminhou até a mesa –
Samantha assistia aquela cena pedindo para ser um pesadelo, via sua vida de mordomias e facilidades escorrendo pelos seus dedos. Não acreditava que isso estava acontecendo. Sua família desmoronava na sua frente, e nenhum deles estava preocupado com isso, apenas com o dinheiro perdido.
Lembrou das palavras de Carolina em uma conversa anos atrás, que ela dizia que nada era eterno, o que ela faria se algum dia seu pai não pudesse mais bancar sua vida fácil, ela não acreditava que isso poderia acontecer, mas aconteceu. Carolina tinha razão mais uma vez, nada dura pra sempre.
Fevereiro de 2009
Samantha perdeu a cobertura, voltou a morar com os pais enquanto tentava conseguir dinheiro para comprar um apartamento mais simples, e essa convivência com sua mãe não estava sendo nada boa, a casa também estava sendo vendida e a qualquer momento os três teriam que dividir um pequeno apartamento simples em algum lugar da cidade longe da zona sul.
Sua mãe estava inconformada com a situação, mas não perdeu a pose, mesmo com todos os problemas financeiros do marido continuava frequentando o clube e as altas rodas como se nada tivesse acontecendo em sua casa, ao contrário, ficava cada vez mais afastada de toda aquela atmosfera.
Seu pai entrou em uma depressão profunda, abandonou o trabalho de vez, as empresas que ele possuía foram vendidas para quitar parte da dívida, a casa seria a próxima perda dolorosa para ele que sempre teve de tudo. Nunca soube o que era passar dificuldades, herdou uma fortuna de seu pai e se sentia um fracassado por não conseguir perpetuar aquele império que parecia nunca ter fim.
Na semana antes do carnaval, Maria Clara chegou em casa radiante, como se tivesse ganhado na loteria. O que espantou Samantha e seu pai.
-- O que aconteceu senhora Monte Alto? Viu um passarinho verde?
-- Não Samantha, eu vi um lindo par de olhos verdes, isso sim. – Colocou a bolsa sobre o sofá – Gustavo, eu quero o divórcio.
Samantha e seu pai olharam incrédulos para a matriarca da família, seus queixos caíram de espanto.
-- Maria Clara, o que você está dizendo? – Gustavo perguntou incrédulo –
-- Isso mesmo que você ouviu, eu quero o divórcio. – Pegou um copo e serviu a última dose de whisky que tinha na garrafa – Eu vou embora dessa casa e dessa ruína que você nos meteu. – Sorveu a dose de uma única vez—
-- Eu não estou acreditando nisso, você está me abandonando?
-- Sim. – disse friamente –
-- O que aconteceu? Você vai pra onde? – Samantha perguntou –
-- Eu conheci um médico lindo, olhos verdes e cabelo grisalho, ele é novo na cidade e está frequentando o clube, nos apaixonamos e ele me convidou para morar com ele. E eu vou.
-- Espera aí, você estava me traindo? – levantou-se –
-- Quando eu não te traí Gustavo? E não pense que eu não sei que você tinha uma amante em cada cidade que você ia trabalhar?
-- Vocês me dão nojo! – Samantha levantou assustada –
-- Olha quem fala! Você tem uma vida muito certinha né Samantha! Não seja hipócrita pois eu sei que você é uma vagabunda que pula de cama em cama quando te convém.
-- Chega! – Gustavo bateu no braço da poltrona – Chega! Eu não aguento mais vocês duas no meu ouvido! Você quer ir embora? Então vai, vai embora daqui, mas você não vai levar nada, tudo o que eu te comprei fica aqui, se quiser ir, vai com a roupa do corpo.
-- Você não pode fazer isso comigo Gustavo, eu não vou deixar os meus sapatos.
-- Seu novo cafetão compra novos para você. – disse entre os dentes –
Maria Clara estava furiosa, mas para não perder a oportunidade de deixar a falência e permanecer com o estilo de vida que possuía acabou aceitando no primeiro momento sair sem levar nada, mas tinha em mente voltar no dia seguinte com um advogado para reaver suas coisas.
-- Eu vou, mas eu volto!
-- E eu? – Samantha se revoltou –
-- O que tem você? – olhou com desdém –
-- Você não vai me levar? Eu não vou ficar aqui com ele sem dinheiro!
-- Você que se vire, saia e arrume a sua galinha dos ovos de ouro! – riu –
Maria Clara saiu da sala e deixou os dois atônitos com os últimos acontecimentos, o mundo de Samantha desabava debaixo de seus pés, se viu pobre e sem rumo, seu pai saiu da sala cabisbaixo e foi para o quarto. Ela pegou o celular e ligou para Estela, precisava de trabalho e acabou se jogando mais ainda nos trabalhos da agência.
Durante o carnaval, Samantha pegou um trabalho para viajar com um grupo de garotas para uma mansão em Angra dos Reis, onde ficaria a disposição de alguns empresários e políticos muito influentes de todo o país, isso lhe rendeu um bom valor em dinheiro, ela queria comprar um apartamento para sair da casa do pai o quanto antes, pois sabia que a qualquer momento a casa seria vendida.
Ficou uma semana fora e quando voltou para casa, encontrou seu pai morto no escritório, Gustavo não aguentou o peso dos acontecimentos e tirou a própria vida, Samantha o encontrou no chão do escritório com um tiro na cabeça.
Ali, ela sentiu a dor da perda de alguém próximo, por mais que até então, seu pai era apenas visto como seu financiador, naquele momento ela percebeu o quanto ela e sua mãe foram injustas com ele, o quanto ele sofreu com tudo o que estava acontecendo. E sua humanidade aflorou pela primeira vez em sua vida com o remorso que sentiu ao perceber que acabara de perder seu pai.
Mais uma vez, as palavras de Carolina ecoaram em sua cabeça, quando a moça disse que ele não iria viver para sempre, e que um dia tudo pode acabar de uma hora para a outra. Ali ela entendeu o sentido da vida, e que a morte é apenas uma questão de tempo para todos.
Durante o enterro de Gustavo, Samantha estava em choque, não sabia o que fazer, o que iria acontecer a partir daquele momento, se sentia perdida. Carolina trocou o plantão no hospital e foi até o cemitério confortar a amiga naquele momento tão triste, ela sabia como era perder alguém, sabia o quanto é doloroso.
Samantha estava sentada em um canto da capela, e quando viu Carolina chegando foi o primeiro sorriso sincero que abriu naquele dia. Levantou e foi até a ex-namorada para abraçá-la e ali ficou por um tempo, chorando baixinho, no único lugar em que ela se sentia segura.
-- Samantha, como você está? – fez um carinho em seus cabelos –
-- Eu nem sei Carol. – Limpava o rosto com um lenço – Eu juro que eu não sei.
Carolina a levou para um banco e sentaram lado a lado. Segurou suas mãos e a confortou.
-- Eu estou aqui por você, pra qualquer coisa que você precisar.
-- Obrigada, você é a única pessoa que eu posso confiar. – Lágrimas caíam sem parar –
-- Onde está sua mãe? – olhou em volta –
-- Ela não deve vir. – Riu debochado – Ela foi fazer o pé de meia dela.
-- Como assim?
-- Ela abandonou meu pai uma semana antes do carnaval, tratou de garantir as mordomias que ele não podia mais oferecer a ela.
-- Sério? – colocou uma das mãos na boca – Eu estou bege.
-- O pior é que eu quis fazer o mesmo, e querendo ou não eu fiz, viajei no carnaval e deixei ele sozinho o feriado inteiro. – Chorou copiosamente – Eu abandonei ele sozinho Carol.
-- Ei, calma. – Abraçou a amiga – Você não tinha como saber que isso iria acontecer.
-- Eu deveria saber. Só que egoísta como sempre fui não me importei. – Se afastou e olhou para a amiga – Eu só estava preocupada com o apartamento que eu perdi e o carro que não era mais o mesmo. Eu só vi dinheiro. E você me alertou uma vez, me disse que ele não iria viver pra sempre, só que eu não acreditei.
-- Eu não quis te magoar.
-- Você não magoou, eu fiz isso sozinha, com tanta gente. – Acariciou o rosto de Carolina – Com você e com ele. E eu perdi tudo.
-- Calma Samantha, as coisas vão se acalmar, o tempo ajuda, você vai ver.
-- Eu espero que sim Carol. Eu espero que sim.
Ali, naquele momento, Samantha aprendeu que estava valorizando as coisas erradas, e daquele jeito nunca seria mesmo feliz, afastando as pessoas que realmente amava, visando apenas dinheiro e ganância, não era o caminho. Mas como nada muda tão rápido, estar perdida foi apenas mais uma desculpa para se afundar mais ainda nas drogas e no alcoolismo.
Carolina tentava ajudar a amiga de todas as formas possíveis. Mas como sempre, estamos falando de Samantha Monte Alto.
Fim do capítulo
Olá meninas.
Então... Raquel virou a casaca?
Carol e Raquel se pegaram bonito! O que um porre não faz?
E Samantha, agora que perdeu tudo o que tinha, inclusive o pai, será que ela vai mudar?
Lancem os dados.
Obrigada pelo carinho, Lai, Mille e NovaAqui.
Linda quarta-feira!
Beijos
Cris Lane
Comentar este capítulo:
Mille
Em: 12/12/2018
Oi Cris
A família da Sam levou uma rasteira se ela soubesse utilizar o dinheiro ainda teria algum valor como poupança. Ah não é desejando mal mais bem que a mãe dela fosse enganada pelo nosso affair.
Acho que a Raquel terá sucesso talvez na próxima semana a Carol já esteja acordada.
Menina a Raquel embebedou a amiga e se deu bem provou da fruta e agora ataca para todos os lados.
Carlos e Roberta cada vez mais próximos logo restam o namoro.
Bjus e até o próximo capítulo
Resposta do autor:
Oi Mille
Realmente, a Sam levou um baque grande, mas será que foi suficiente para mudar o jeito dela? A mãe dela consegue ser muito pior que a Sam, ela teve com quem aprender.
Raquel descobriu um caminho novo e agora ninguém segura essa garota, rsrs, foi bom pra Carol, ela está se libertando dos fantasmas que a cercam.
Carlos e Roberta, isso foi uma aposta?
Obrigada pelo carinho.
Beijos
Cris Lane
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