Lorenza

No meio da madrugada, fui ao banheiro passar uma água no rosto e escovar os dentes. Não conseguia dormir, mesmo com todo conforto da poltrona da primeira classe.

Antes de entrar no reservado vi a comissária sexy sentada folheando uma revista. Dei um sorrisinho no mínimo indecente ao olhar para suas pernas. Gostosa! Assim que abri aporta para sair, a comissária me empurrou novamente para dentro daquele pequeno espaço.

         — Ousada...Gosto disso!!! – Eu disse já abraçando sua cintura.

— Me fode gostoso, vai... – Beijei seu pescoço levantando sua saia...

Depois que ela gozou, nos apresentamos. Ela me falou que minha companheira de poltrona era nada mais nada menos que a atriz e modelo internacional Luiza Nadge. Meu Deus, que mancada não a reconhecer!

— Por que você me chamou de chiliquenta? – Gelei ao ouvir aquilo.

— Não entendi a pergunta.

— Você disse enquanto me comia: Goz* pra mim, chiliquenta.

— Acho que você se enganou, eu te chamei de coração – Ajeitei os cabelos em frente ao espelho, encarei meus olhos sem acreditar que havia acontecido mais uma vez, pensar na Patrícia enquanto fodia uma mulher...

— No início, depois de chiliquenta... Mas isso não importa – Disse enlaçando meu pescoço me roubando mais um beijo antes de sairmos.

         Ao abrir a porta para sair. Topei de frente com Luiza que nos olhou sem esconder o riso. Voltei para minha poltrona com a minha melhor cara de paisagem.

— Mas você se recupera logo de um não, não é mesmo? – Ela brincou quando se sentou novamente ao meu lado.

— Sabe como é, um não aqui, um sim ali... E assim vamos vivendo... – Rimos juntas.

Parece que foi bom Luiza ter nos visto, pois se soltou e engatamos em uma conversa animada. Claro que me desculpei com ela por não ter a reconhecido. Contei a ela sobre o quanto a minha querida Bá era sua fã e que Júnior tinha uma penca de fotos peladas dela.

— Nus artísticos – Ela me corrigiu.

— Sim, peladas. Nus! Tua mulher, aquele chaveirinho loiro tirou. Meus pêsames – Fiquei realmente sem graça por ter tocado naquele assunto. Agora que liguei o nome a figura me lembrei que ela foi casada com uma fotógrafa americana estilo bofinho durante anos, e que, se bem me lembro do que Bá me contou, morreu devido a uma doença degenerativa. Eita diacho, que tristeza! Ficamos em silêncio por algum tempo até que ela o quebrou sendo extremamente simpática.

— Ele tem todo o ensaio?

— Tem várias fotos reproduzidas, pela casa toda! Ele é teu maior fã! Então pra ele eu queria uma selfie, com todo respeito, de você me dando um beijo no rosto.

— Ah, pode ser agora mesmo então. Fica parecendo uma pós foda!

— Júnior vai morrer de inveja! – Ela deu uma gargalhada fazendo com que os demais passageiros reclamassem pedindo silêncio.

Luiza era uma pessoa que realmente merece o sucesso que tem. Além de linda, era extremamente simples e simpática. Tomou meu celular de minhas mãos tirando ela mesma as fotos. Até uma deitada no meu peito com nos duas fazendo caretas.

Conversamos muito, eu sobre meu trabalho e a fazenda, ela sobre seus amores. Ela estava inegavelmente arriada os quatro pneus e estepe pela filha da sua melhor amiga.

E por um medo bobo estava ali, triste, afastada da garota. Me lembrei do que estava me acontecendo nos últimos dias e resolvi perguntar.

— Luiza, mas me conta aí, como é estar apaixonada? Como é esse trem aí que todo mundo fala?

— Você nunca se apaixonou?

— Olha, que eu saiba não – Ela me olhou com uma cara engraçada — E não estou zoando com você não, neste campo eu realmente não entendo nada.

— Lorenza, é mais do que sex*. Amar alguém, estar apaixonada, é mais do que Tzão. É querer cuidar da pessoa amada, realizar todos seus desejos, ser a razão dos seus sorrisos – A medida que ela foi falando me peguei lembrando da minha chiliquenta. Será? Mas por que ela?  — É querer proteger, não deixar que nada nem ninguém faça mal a quem se ama. É querer estar sempre ao lado dela. Só pra ficar fazendo nada. Sei lá – Acho que nunca tinha parado para prestar atenção em nada relacionado a sentimentos românticos. Sempre achei tudo meio bobo e meloso demais. Só que no momento em que Luiza começou a falar e me explicar eu comecei a entender aos poucos o que eu estava sentindo nos últimos dias. — E o sex* é diferente também. Não tem como explicar. É só sentindo. Só quando você sentir você vai saber.

Fiquei em silencio olhando para o nada, me lembrando do Tzão, do fogo... Só de me olhar, Patrícia me fazia sentir loucuras e isso porque a gente nem ficou... Imagina quando eu provar essa mulher!

— Se você ama tanto a menina, porque não assume? – perguntei realmente curiosa.

— É fácil falar, mas... Eu já não sei mais. O medo que eu tenho parece tão ridículo quando eu penso no quanto ela é maravilhosa.

— Bom, Luiza, eu posso não entender muito de paixão, de amor, mas tem uma coisa que eu entendo muito bem é de lutar pelo o que eu quero. Realmente como você disse é muito fácil falar, mas fugir é muito mais fácil! E me desculpe a sinceridade, morena, mas é isso que você está fazendo. Você está se boicotando por um medo infundado. Se essa Nanda é assim como tu diz, eu e ela temos algumas coisas em comum. E posso te dizer uma coisa, eu ia ficar orgulhosa pra porr* se eu soubesse que minha filha estava pegando um mulherão como você! Vai ser feliz mulher! Já diz o ditado: “Cavalo encilhado só passa uma vez. Se não montar, não passa outro e você acaba perdendo”.

— Tio Neco da venda?

— Aristóteles – Brinquei para suavizar o momento arrancando dela mais uma gargalhada. — A gente vai ser expulsa desse avião. – Disse rindo.

Ô viagem que foi gostosa! Nem vimos o tempo passar. Tão logo chegamos ao aeroporto o seu segurança se posicionou ao seu lado. Ele e era um gigante mal encarado.

— Esse daí iria fazer sucesso lá na fazenda! Ia derrubar os bois tudo no braço! – Apontei para o homenzarrão ao seu lado. Rimos.

— Lorenza, foi muito legal te conhecer! Você fez essa viagem mais leve! Me dá seu cartão para eu mandar a foto para a Bá!

— Adorei te conhecer também, Luiza. Aqui tem meus contatos. Só te dou duas opções do que fazer com ele: ou você pode me ligar para aplacar sua tristeza – Disse com um sorrisinho cafajeste e ela me deu um tapa no braço. — Ou você leva a sua alegria pra conhecer o MS. Vou adorar saber que você teve coragem de ser feliz!

         Despedimo-nos com a certeza de que uma boa amizade tinha nascido ali. Ela me ofereceu carona até o hotel, mas recusei mostrando a ela uma pessoa que segurava uma placa com meu nome.

Já no hotel, meu corpo cobrou o preço das mais de 30 horas acordada, foi só o tempo de ligar para Bá, tomar um banho e literalmente desmaiar. Dormi dez horas direto, acordei já no final da tarde, quase na hora do jantar. Respondi algumas mensagens e senti falta de não ter nem uma nova mensagem da Patrícia. Tinha uma mensagem de Luiza.

NÚMERO DESCONHECIDO

Oi, esse é o meu telefone. Agora você pode jogar na cara do seu melhor amigo que tem meu número privado, rsrs. Obrigada novamente pelas dicas e pelas gargalhadas! Com certeza visitarei seu MS! Beijo, Luiza.

                                                                                                                    14:35 PM

         Sorri ao me lembrar dela.

Eu

Oi, morena apaixonada.

Será um prazer imenso receber vocês lá na fazenda. E pode ter certeza que vou matar o Júnior de inveja a partir de agora! Posso postar uma selfie nossa nas minhas redes sociais?

Beijo grande!

18:02 PM

Estava jantando no quarto quando Luiza respondeu.  

Luiza 

Oi, Lô, claro que sim! Ficaram ótimas. Escolhe uma aí e me marca, já te add.  Tô no meio de uma sessão de fotos, depois nos falamos mais... bjs

                                                                                         19:45PM

Escolhi a foto e postei na rede social com a seguinte legenda:

“Ôôô... Vontade não faltou, morena, de te laçar e te levar na minha garupa pro meu MS!”

Não deu 5 minutos meu celular foi bombardeado de áudios do Júnior, eufórico querendo saber das novidades... Ficamos nisso por quase uma hora, aqui final de tarde, no Brasil alta madrugada. Entrei na minha conversa com a Chiliquenta, e reli sua última mensagem na qual ela me desejava uma boa viagem. 

Eu

Oi, Linda.

Já estou devidamente descansada na terra dos Hobbits... rsrs

Como você tá? Sdd...

                                                                          20:41 PM

— Saudade, Lorenza???? – Pensei sorrindo. Daqui a pouco vai ficar toda melosa com a Dona Oncinha. Coloquei o celular em cima do peito enquanto olhava a Sky Tower pela janela.

Resolvi sair para dar uma volta pela noite. Estava frio pelas ruas, me agasalhei toda, com direito a cachecol. Andei aleatoriamente conhecendo praças, cafés, lanchonetes, restaurantes... Amava andar pelos lugares por onde viajava, ver a cultura local. Achei um estúdio de tatuagem, gostei muito dos trabalhos do tatuador e já deixei combinado o desenho e as sessões sendo as primeiras para a manhã seguinte. Sempre quis fechar o braço direito com uma tattoo maori, e não tem opção melhor do que fazer isso na terra natal deste estilo de tatuagem, na Nova Zelândia.  Tirei umas fotos da Sky Tower e entrei em um bar em frente, The Fiddler Irish. Que lugar gostoso! Um verdadeiro pub irlandês.

Me sentei em uma das banquetas diante do balcão. Pedi ao barman uma dose de Jamerson pra me esquentar e um chopp Guinness para apreciar. E como eles aqui bebem... É uma cerveja atrás da outra, nisso eles parecem com o povo de São Gabriel, sorri me lembrando. Peguei o celular no bolso para enviar uma foto para Júnior, e vi que Patrícia tinha respondido. 

Chiliquenta

Oi, Lolo.

Que bom que chegou bem!

Aqui tá tudo tranquilo. Acabei de acordar, ainda estou deitada... Aqui são 7h e aí? Saudades de me pentelhar? Confesso que também já estou com saudades...

Sorri feito uma boba para o aparelho por saber que ela também estava com saudades minhas. Fiz uma cara engraçada e mandei uma selfie segurando a caneca de chopp.

Eu:

Aqui agora são 23h, estou com o fuso meio confuso ainda... rsrs  Que gostoso te imaginar aí deitada... ;) Tá vestindo o que? Pijama, baby-doll ou nuazinha?

Eu aposto um beijo que vc vai me dar um fora!

Minha mente viajou até ela... Minha garganta ficou seca só de imaginar Patrícia completamente nua na sua cama. Me senti desconfortável por estar ficando excitada apenas com mensagens. Nunca aconteceu isso comigo antes. Olhei em volta, o bar estava bem cheio para um dia de semana à noite. Na outra ponta do balcão tinha uma loirinha linda que conversava com um grupo de amigos. Ela correspondeu ao meu olhar. Sorriu mordendo os lábios e eu sorri de volta. Meu celular acusou uma nova mensagem.

Chiliquenta:

Você não tem jeito mesmo, Dra. Lorenza!

E você ganhou o beijo, pois já disse que quero ser só sua amiga...

Palhaça!

Ri sozinha ali sentada como uma boba, que sensação gostosa essa menina me causava. Fui responder e vi que a minha bateria havia acabado. Deixei o dinheiro no balcão e voltei correndo para o hotel que ficava bem próximo ao bar. Eu e a Paty ficamos por algumas horas trocando mensagens. Falando sobre nada e sobre tudo. Foi muito, muito gostoso. Algumas vezes eu falava safadezas e ela dava corda, mas quando eu pedia algo mais “quente” ela me cortava.

Já deitada na cama, quase dormindo, que eu me toquei do que eu havia feito, sai do bar sem olhar para trás, nem para aquela loira linda, tudo isso para poder continuar trocando mensagem com a chiliquenta.

“Lorenza você tá completamente lascada, mulher! Vamos mudar isso, ela não quer nada com você, criatura. Ela só tá brincando. Bora voltar ao normal?”.  E com esse pensamento, deixei o sono me levar para um sonho com uma certa morena baixinha chiliquenta que só ela. Ela me laçava como se eu fosse um cavalo desgarrado e me trazia pra junto dela.

Fim do capítulo