Patrícia

“Tá...Ah, cada ficha foi uma gralha que colocou e a cor é vermelha ou azul. Lorenza ta vestindo vermelho e o Júnior.... Ah não, ah não meu! PUTA MERDA! PUTA MERDA! PUTA MERDA!”. Eu não queria acreditar no que eu estava vendo, mas quando Júnior entrou com duas mulheres e Lorenza ficou com quatro eu tive a certeza: Chá de Panela era o CACETE! O que eu estava vendo era uma ORGIA ao vivo e a cores.

 “PUTA MERDA! O que eu faço? Se eu saio vão me ver! Será que eu grito e falo: ‘gente to aqui!’? ”. Fechei os olhos e não olhei. Fiquei alguns minutos remoendo em pensamento. Só ouvindo os gritinhos histéricos sem entender o que falavam. “Não olha, Patrícia! Não olha! É a privacidade deles! Não olha! Você não tem nada a ver com isso!”. Olhei. As mulheres estavam em cima de Lorenza como formigas em cima de um doce delicioso e único. QUATRO!

Meu coração começou a bater descompassado, minha respiração estava difícil... A raiva e o ciúme misturados com um sentimento estranho tomavam conta de mim... “PUTA MERDA! QUE VAGABUNDA! SE ROÇANDO EM MIM E COMENDO A TORCIDA FEMININA DO CORINTHIAS! AH, VAI SE FUDER!”. Quer dizer já tá né...  

         Foquei minha câmera e, mesmo que o ângulo não fosse favorável, conseguia ver uma das mulheres, a ruiva, sentada rebol*ndo no rosto da Lorenza, outra estava encaixada no meio das suas pernas, sex* com sex*... “Puta merd*! Como faz?”, parecia estar gostoso pelo jeito que a mulher se remexia. Eu nunca assisti a um pornô lésbico verdadeiro, se isso existe de verdade. Maurício me fazia assistir a vídeos de pornô e, quando existia sex* entre duas mulheres e um homem, parecia tão falso. Elas gritavam como se não houvesse amanhã num gozo interminável. O cara pegava a piroca santa e tacava na menina que gritava em prazer chamando o coitado do nosso senhor para presenciar o fato. Mais fake impossível. Maurício não entendia o porque eu não me excitava com aquilo, mas não tinha como.

Voltei a atenção para a cena que se desenrolava a minha frente e vi que a terceira gralha cavalgava no abdome da veterinária. “Ué... não to entendendo... ahhhhh dedos! Puta merd*! Lorenza Bombril 1001 utilidades! Se ela tá pensando em relar um desses dedos em mim, tá bem enganada...”. 

A quarta também era uma ruiva muito bonita, estava deitada ao lado se masturbando vendo as outras. Confesso que aquilo me excitou um pouco. Na realidade, me excitou mais do que aquelas três atacando a Lorenza. Parecia mais uma atração de circo do que sex*. Desliguei a câmera e deitei nos meus braços. “Você realmente acha que ela vai deixar de ficar com qualquer uma daquelas mulheres maravilhosas para ficar com você, Patrícia? Se liga, mulher! Para de ser ridícula! Ela só quer tirar onda com a sua cara!”. A raiva e o ciúme aumentavam a cada pensamento. Eu sentia nojo de mim mesma por ter deixado Lorenza me tocar, mas ao mesmo tempo a lembrança do seu toque ainda me excitava. “Patrícia, você precisa se internar. Tá mais louca que de costume. Maurício tinha razão!”.

         Lembrei de quando quis fazer uma surpresa para o Maurício e comprei uma cinta-liga vermelha. Era nosso aniversário de casamento. Ele chegou em casa atrasado, cagou para janta que eu preparei com capricho, não se lembrou da data e ainda disse quando eu me despi: “Amor, tira isso! Que coisa horrível! Parece uma daquelas putas decadentes da zona!”.

         Quando volto a olhar para o outro lado da margem, com tristeza e lágrimas nos olhos, vejo que as três mulheres vão entrando na casa. Lorenza fala algo para a ruivinha que ficou e que sorri animada. A mesma corre saltitando para a casa como uma gazela enlouquecida. Enquanto isso a veterinária levanta nua e se espreguiça. “Linda! Linda! Linda!” Novamente sinto meu coração bater descompassado. Mesmo morrendo de ciúme, raiva e me sentindo traída, mesmo não tendo a menor razão para isso, eu não pude deixar de admirá-la.  Não resisto e tiro várias fotos dela assim... Nua ao ar livre. Consigo ver bem a sua tatuagem que toma lateral esquerda do se abdômen e costelas, um lobo estilizado com olhar penetrante.

         A mulher volta com Júnior nu e com um objeto que eu não consigo ver o que é. A minha curiosidade fez com que eu desse um zoom e tentasse ver como era o órgão genital do amigo da Lorenza. “Olha só! Bem maior do que do Maurício! E não é torto!”. Quando eu olho novamente para a loira ela está vestida com uma cintaralho. Sim! Tem um p*nis. E esse sim era bemmm maior do que o do Maurício! “PUTA MERDA! Aquilo lá não vai caber não!”.

         Lorenza começou a beijar a mulher e Júnior as olhava apenas se acariciando. Mesmo de longe eu via a loira passar as mãos por todo o corpo da ruiva que arranhava suas costas com gana. Lorenza inicia um oral na mulher que começa a gem*r e a gritar seu nome, e que mesmo de longe, eu conseguia escutar perfeitamente. Já estava enjoada com a cena de tanto ciúme que eu sentia.

A gazela ruiva fica de quatro e Lorenza a penetra lentamente com aquele p*nis de silicone. Inicialmente com um cuidado... Um cuidado... Parecia até... Carinho... Coisa que eu nunca vi antes. Claro que a minha experiência é pouca. Lembrei-me de Maurício que me invadia de qualquer jeito, estando ou não lubrificada. A veterinária fazia carinhos nas costas da mulher até que ela se acostumasse, eu acho que era isso... Pelo menos... O que não demorou nada porque logo ela gritou: “PORRA, LORENZA, ME COME COM FORÇA!”.

Lorenza iniciou movimentos fortes de vai e vem, minha imaginação me pregou uma peça e eu me imaginei no lugar daquela ruiva sendo fodida com carinho e força. “Isso é possível?”. Eu fechei os olhos e quase senti o cheiro da loira, suas mãos me tocando... Olho novamente e vejo a mulher cavalgando Lorenza e agora Junior se preparando para penetra-la por trás. Levantei de um salto quando ouvi a mulher gritar de dor e prazer. Aquilo já era muito para mim... “Paty, toda mulher faz, para de frescura. Se sangrou é que você não soube fazer direito. Até porque, o que você sabe fazer direito, né, Patrícia?”. “Se você parar de se mexer sangra menos! Que merd*!”.

Tremendo como vara verde corro até o quadriciclo e me seguro no veículo. Acabo vomitando tudo o que comi no café da manhã. Encosto a cabeça no metal frio para tentar aliviar o mal-estar e me lavo um pouco com a água da garrafinha que eu havia levado.

 Quando me sinto um pouco melhor, coloco as coisas dentro da bolsa, nem visto a calça nem nada... Quero apenas sumir dali... Tento ligar o veículo e nada... Giro a chave mais uma vez e nada... Uma, duas, três, quatro... “PUTA MERDA, Paty, você é a pessoa mais azarada do mundo!”. Me agarrei no banco e comecei a chorar baixinho... Por tudo o que eu vi... Por perder qualquer pingo de esperança de que realmente aquela mulher maravilhosa quisesse algo comigo “Patrícia, quem em sã consciência olharia para você? Melhor agradecer aos céus que um rapaz como o Maurício demonstrou interesse! Para de frescura e vai com ele na festa!” ouço a voz da mamãe na minha cabeça e choro.... Chorei por incontáveis minutos, tantos que perdi a noção do tempo.

— Não precisava ter ficado aqui espionando. Podia muito bem ter ido participar – Ouço a voz da Lorenza e não me viro porque sei que ela iria ver que estava chorando. A raiva, o ciúme e o nojo voltaram à tona com força total.

— Como você consegue ser desagradável o tempo todo, Lorenza? Você se acha demais, não? – Falei séria ainda de costas para ela.

— Não sou eu que digo, são elas... – Até podia imaginar o sorrisinho malicioso que ela estaria dando. “Puta merd*, que ódio!”

— Não leve muito em consideração o que elas falam. Deu pra perceber a falta de QI delas de longe – Falei e ela me abraçou pela cintura. Fiz uma careta, mas, mesmo não querendo, mesmo minha cabeça gritando para que NÃO, meu corpo dizia SIM. E eu me arrepiei sentindo seu corpo molhado na minha pele quente. Lorenza veio nadando, com certeza me viu fugindo.

— Me solta! Você está me molhando toda... – Falei brava ainda sem me virar.

— Ai, que delícia... Seu cheiro me deixa louca... – Seu hálito está na minha nuca.

— Vira essa boca com bafo de perereca para lá!!!

— Perereca, Paty? – Ela gargalhou e me virou estancando preocupada quando vê meu estado. — Paty, o que houve? Você se machucou? Alguma coisa aconteceu? – Ela começa a olhar todo meu corpo, preocupada. Olhando em volta, vê o vômito ao lado do veículo.

— Foi nada... – Eu estava morrendo de vergonha e raiva. Raiva pelo meu corpo me trair e responder ao seu toque. Vergonha por ela presenciar um estado tão frágil em que eu me encontro e ver meu corpo vestido apenas com um biquíni. Pego a bolsa e coloco na minha frente tentando me cobrir.

— Patrícia, você tá chorando... O que houve? – Ela pergunta aflita.

— Essa merd* não quer ligar! – Aponto o quadriciclo.

— Só isso? – Confirmo com a cabeça sabendo que não conseguiria enganá-la. Ela não se dá por vencida, levantando meu queixo fazendo olha-la nos olhos.

— Eu passei mal também. Não gosto de me sentir doente. – Falei cabisbaixa.

— Oncinha, fica aqui que eu vou buscar a lindinha e te levo até a casa grande, ok? – Ela me dá um abraço e eu sinto vontade de chorar novamente por nada e por tudo. — Fica em cima do veículo porque pode ter cobra por aqui. Já volto.  “COBRA? COBRA? PUTA MERDA! COBRA?”.

         Coloquei minha roupa e fiquei grudada no quadriciclo como preguiça em graveto. Olhava para qualquer barulho que vinha do mato achando que apareceria uma anaconda gigantesca e me comeria inteira. Me lembrei do pequeno príncipe que desenhou um chapéu ou uma cobra que comeu um elefante, eu nunca lembro. Peguei o relógio na mochila e vi que era mais de meio dia. Nadir deve estar parindo um filho preocupada com meu sumiço e deve ter enviado Tonho me procurar em todos cantos da fazenda. Como era engraçada a vida. Em São Paulo se eu sumisse dois dias minha mãe nem perceberia. Depois de casada, se eu sumisse um dia ele veria só a noite. Aqui, nesse fim de mundo, as pessoas cuidam uma das outras com carinho e sem querer nada em troca.

         Ouvi um barulho e vi a caminhonete 4x4 de Lorenza. Ué. Mais já? Achei que ela levaria no mínimo mais uma hora para poder fazer a volta para poder atravessar o rio. Ela desceu e agora vestia jeans, camiseta, tênis e um boné virado para trás. Linda.

— Como você atravessou tão rápido? Eu levei 2 horas pra conseguir chegar até aqui.

— Uai, pela ponte ali em cima. Como você atravessou para a margem de cá?

— Eu fui descendo o rio até achar um lugar para atravessar. – Sorri sem graça e ela balançou a cabeça sorrindo também. “Patrícia você é lerda mesmo meu! Puta merd*, tinha uma ponte e não viu!”.

— Vem, oncinha. – Ela abriu a porta para que eu entrasse.

— Lorenza, mas tem cobra.

— Não tem...

— Você falou – Ela me olha nos olhos me pega no colo como se eu não pesasse nada. Me coloca no banco do carona da sua caminhonete. Vi que ela devia ter tomado banho e escovado os dentes porque cheirava a shampoo e menta. Ela colocou minhas coisas no banco traseiro.

— Depois eu peço para alguém buscar o quadriciclo. Até podia pedir para o Júnior me ajudar a colocar em cima da “lindinha”, mas ele tá ocupado.

— É, eu vi – Falei baixinho sentindo um ciúmes gigantesco tomar conta de mim. Tomei uma decisão. — Lorenza eu queria te fazer um pedido.

— Peça – Ela disse ligando o carro e partindo pelo meio do mato.

— Não me trata como qualquer uma, por favor – Eu a olhei séria. — Eu sai de um relacionamento muito difícil agora e tô muito machucada – Lorenza me olhou seria, analisando meu rosto. Segurou minha mão.

— Você não é qualquer uma Paty, nunca foi – Ela me respondeu no mesmo tom. Alternava olhando com evidente carinho para mim e com cuidado para a estrada inexistente.

— Eu também não quero que você me trate diferente. Quero a sua amizade. Pode ser? Combinado? – Perguntei.

Ela fica me olhando por alguns segundos, séria, até que quebra o silêncio.

— Aí, como você me pede isso??? Sendo que amizade era o que eu menos queria de você... – Ela sorri colocando uma das mãos no peito falando toda dramática. — Como você é malvada! – Acabei dando um tapa de leve na sua coxa e rimos as duas.

Dei uma risada alta, ao passamos pela pequena ponte de madeira a alguns metros do rancho. “Como sou lerda...olha a ponte, toda bonitinha! Vou voltar aqui pra fotografar! Que bonito!” 

         Ficamos em silêncio todo o caminho, mas não era um silêncio ruim, pesado... Era bom. Era tranquilo. Acabei dormindo e acordei com Lorenza me carregando novamente e eu... Lógico que fingi que ainda estava dormindo. Ouvi ela falar com Noca baixinho perguntando onde era o meu quarto. Ela resmunga por Alfredo tentar mordê-la ao entrar no meu quarto. Senti ela me colocar na cama. Retirar a minha roupa me deixando apenas de biquíni e me cobrir com a manta. Ouvi ela pedir para dona Nadir deixar pronta uma canja para quando eu acordasse. Senti o colchão ao meu lado afundar e lábios tocarem a minha testa. Prendi a respiração com medo de que qualquer coisa me denunciasse. Por fim, um leve carinho na minha cabeça. Ela se afasta e o vazio toma conta do meu peito. “Puta merd*, Patrícia. Você está fodida!”.

         Espero alguns minutos até ter certeza de que ela foi embora e vou tomar um longo banho. Desci para a cozinha em busca do que comer e dona Nadir me serviu canja de galinha. Alfredo estava no meu colo tremendo como se dissesse: “Onde você estava, mãe? Por que me abandonou a manhã inteira?”.

         Entro na rede social e vejo um pedido de amizade do Júnior. Aceitei e vejo várias fotos dele com Lorenza. Realmente a gente conseguia perceber como eles eram unidos, como se fossem irmãos mesmo. Vejo a última foto postada por ele, de hoje pela manhã, na chegada no Rancho do Riachão com as gralhas e a Lorenza. Fico olhando novamente para aquelas mulheres maravilhosas sem uma gordura localizada, sem uma celulite, sem uma estria... Deixo o prato intocado e me deito na rede da varanda do meu quarto para ver o tempo passar.

         Olho no celular e vejo uma mensagem deixada em outra rede social: “Você é tão burra que quer fugir e não desativa a geolocalização nas redes sociais. Tô indo te buscar. Não aceito um não. Só vou organizar umas coisas aqui e qualquer dia apareço por aí pra te buscar. Te amo, gordinha, MauMau.”

Fim do capítulo