Carlos havia desembarcado na noite que Carolina sofreu o acidente e teria trinta dias de folga, ele ficava trinta dias no mar e trinta em casa, resolveu ficar no Rio cuidando de Carolina, já passava de uma semana do acidente e a moça não acordava, Izabel e Ângela cuidavam dela incansavelmente, e Roberta aparecia para visitá-la quando podia. O quadro da médica parecia não ter mudado. Carolina se recuperava da cirurgia, mas não conseguia voltar do coma.

Samantha voltou ao hospital para visitar a ex-namorada, Ângela estava de plantão e viu a loira na UTI segurando a mão da médica, ficou parada no corredor olhando a cena, alheia ao movimento a sua volta. Não sabia explicar o que estava sentindo, era um misto de ciúmes e sentimentos confusos.

Izabel se aproximou, e viu a menina parada olhando para o quarto de Carolina. Já havia percebido os olhares da residente, sabia que a admiração de Ângela por Carolina havia mudado para algo mais intenso.

 

-- Ângela. Está fazendo o que aí?

 

A moça se assustou. – Oi?

 

-- O que houve? – aproximou-se –

 

-- Nada. Eu só estava aqui, esperando para – hesitou – monitorar a doutora Carolina. Estou esperando a visitante sair.

 

-- Quem está com ela? – Olhou e reconheceu Samantha – Essa aí de novo? – fez uma careta –

 

-- Quem é ela? – perguntou em um rompante – Desculpe. Só curiosidade.

 

-- Sei. – Izabel percebeu os ciúmes – É ex-namorada dela. – Cruzou os braços – Só a fez sofrer.

 

Ângela ficou com mais raiva ainda da loira que estava roubando o seu tempo com a sua mentora, os sentimentos da jovem residente começavam a ficar mais evidentes para ela, que tentava a todo custo negar para si mesma que estava apaixonada por Carolina.

 

-- Eu vou ver outros pacientes, depois eu volto.

 

Ângela saiu contrariada, tentando disfarçar seu incômodo. Izabel ficou ali parada olhando a residente se afastar, pensou que ela seria uma boa namorada para sua amiga. Mas para isso Carol precisava acordar daquele sono profundo em que se encontrava.

Alheia à movimentação nos corredores do hospital, Samantha conversava com Carolina, tentando trazer sua antiga paixão de volta.

 

-- Carol, eu sei que eu só fiz besteira na vida, fui egoísta, fui implicante, fui prepotente. – Lágrimas surgiram em seus olhos – Eu menti, eu te magoei. Eu fui tudo que uma pessoa boa não pode ser. Mas pelo menos uma coisa sempre foi verdade e ainda é: eu te amo, eu sempre te amei.

 

-- Eu tentei ser a mulher que você sempre quis, mas eu não consegui. Mas enquanto estivemos juntas, eu posso dizer que foram os dias mais felizes da minha vida.

 

Samantha segurou a mão de Carolina e lembrou-se do período em que namoravam, por um tempo, Samantha conseguiu se manter na linha, mas suas ambições e o desejo por adrenalina a levavam para lugares obscuros, o que afastou Carolina de sua vida.

Carolina sentiu aquela vibração com a presença de Samantha segurando sua mão, as lembranças que tinha da loira não eram agradáveis e descompassava o coração da médica, dentro daquela escuridão, ela queria fugir daquele toque, queria simplesmente ficar longe da ex-namorada.

 

 

Agosto de 2004

 

 

Depois de perder o irmão do meio e seu pai, Carolina se dedicava mais ainda a cuidar de sua mãe, que sofria todos os dias pela falta do filho, Carlos também se desdobrava em cuidados com a mãe e a irmã.

Carolina nunca mais encontrou com Samantha depois que terminaram, mas ainda assim não se envolvia com ninguém, apesar das tentativas frustradas de Raquel apresentar algumas mulheres a amiga, nada dava certo. Carolina só se dedicava realmente a estudar.

Carmem estava aposentada, deixou o trabalho na escola e agora passava os dias em casa, depois da morte de Caio, entrou em uma depressão que não terminava, e Carolina sempre ficava muito preocupada.

A estudante sugeriu que Carmem fizesse algo para ocupar o tempo, procurar uma atividade, um trabalho voluntário, ou que voltasse a trabalhar na escola que ela tanto amava. Mas Carmem sempre declinava das suas sugestões.

Um dia, uma vizinha estava conversando com a aposentada e a convidou para ir ao centro comunitário da comunidade em que elas moravam, teria um projeto com oficinas de artesanato para a terceira idade, e Carolina insistiu que Carmem fosse com a amiga.

Depois de relutar muito, a aposentada acabou aceitando e acompanhou a vizinha ao evento, lá chegando, encontrou muitas pessoas da vizinhança e acabou se interessando pela oficina de pintura a óleo, viu desenhos lindos e tinham algumas pessoas fazendo quadros com pincéis e tintas coloridas, ela achou que poderia fazer o mesmo.

O instrutor a convidou para tentar em uma tela e ela concordou, ao receber as primeiras instruções, foi como se a vida voltasse a se encher dentro de seu corpo vazio e sem ânimo.

Carolina continuava sua luta para terminar a faculdade e conseguir se formar, já estava quase na reta final, se não fossem as greves que enfrentou ao longo do período de faculdade teria se formado no final de 2003 em clínica geral, mas teve que estudar mais um ano ainda para se formar só no início de 2005, mas foi convidada por um professor para integrar um grupo de pesquisa que ele iria começar no Hospital Matriz, onde tinha uma equipe a qual ele fazia parte.

Nunca mais teve notícias de Samantha, a não ser quando via o rosto da ex-namorada em alguma campanha na televisão ou em algum outdoor.

Nessa pesquisa no Hospital conheceu Izabel, uma médica recém-formada que integrava a equipe do professor, Izabel se especializou em cirurgia geral e estava trabalhando no hospital desde que terminou sua residência.

As duas começaram uma amizade de imediato, se identificaram na maneira de pensar sobre a medicina e como trabalhavam, a médica ficou surpresa com a capacidade da estudante, Carolina era muito dedicada e inteligente, se mostrou muito eficiente nos trabalhos da pesquisa do professor. Izabel queria aquela futura médica trabalhando consigo naquele hospital.

Carolina agora, estava mais ocupada do que nunca, ia para o internato durante a manhã, saía correndo para o Hospital Matriz, passava a tarde inteira na pesquisa, e depois voltava para a faculdade para completar sua carga horária de aulas que ela teve que transferir para o turno da noite. Chegava em casa quase onze horas da noite todos os dias, e assim foi o seu último ano de faculdade.

Em um dia que estava no hospital universitário, fazendo seu internato, novamente viu Samantha dar entrada com overdose. Parecia um filme repetido. Ronaldo passando, chamando os internos, avisando sobre a chegada da ambulância, e ao ver a paciente Raquel a olhou novamente, parecia pensar o mesmo.

 

-- De novo? – Falou Raquel – Figurinha repetida.

 

-- Ela ainda vai se matar. – Balançou a cabeça –

 

Os médicos fizeram os procedimentos em Samantha, dessa vez ela estava acompanhada de Julia, a moça ficou esperando do lado de fora, enquanto Carolina cuidava da ex-namorada no pronto-socorro.

Depois de estabilizar a modelo, Carolina foi até a recepção para falar com a amiga de Samantha.

 

-- Oi Julia, tudo bem? – esticou a mão –

 

Julia a observou, Carolina estava toda de branco, com o jaleco sobre a roupa, um crachá do hospital, os cabelos presos em um coque, sem maquiagem, mas sua beleza chamava atenção naturalmente.

 

-- Oi, tudo bem, sim, como ela está?

 

-- Ela está estável, conseguimos reverter o quadro de overdose novamente, eu não sei quantas crises dessas ela vai conseguir vencer, ela precisa parar com isso, ou ela vai morrer.

 

-- Ela vai ficar bem, então?

 

-- Sim, você quer entrar?

 

-- Não, eu preciso ir embora, eu só vim porque Estela pediu, eu tive que ir buscar Samantha no meio da madrugada em uma festa, eu preciso dormir, eu tenho trabalho mais tarde.

 

Julia virou as costas sem se despedir e saiu pelo corredor, Carolina ficou abismada com a atitude da amiga de Samantha, o que a fez questionar que tipo de amizade seria esse. A estudante voltou para o hospital e foi verificar Samantha na observação, a loira estava dormindo, parecia mais velha desde que se viram a última vez.

Carolina não poderia ficar para acompanhar a ex-namorada acordar, dessa vez, Samantha acordaria sozinha no hospital. As cenas pareciam se repetir e o destino sempre trazia Samantha de volta pra Carolina, parecia que era sua missão salvar a modelo dela mesma.

Carolina deixou um bilhete ao lado da cama da modelo, pedindo que ela se cuidasse e foi para a pesquisa no hospital Matriz. Samantha ao acordar, leu o bilhete e sorriu, pois, viu que voltou a encontrar Carolina, mesmo sabendo que a estudante lhe daria um grande sermão.

Carolina voltou ao hospital no dia seguinte e encontrou a cama de Samantha vazia, mas a modelo a aguardava para ver a ex-namorada.

 

-- Oi, como você está?

 

-- Parece que um caminhão me atropelou. – Riu –

 

-- Samantha, você está tentando se matar? – Cruzou os braços – Porque se for isso, você está quase conseguindo.

 

-- Não, eu só passei dos limites noite passada. – Abaixou a cabeça –

 

-- Samantha, onde está seu pai e sua mãe? Eles nem sabem o que você apronta, não é?

 

-- Ah Carol, você sabe que eu não tenho nada dos meus pais que não seja dinheiro. Minha mãe só está preocupada com colunas sociais, e meu pai em manter a empresa. – Disse triste –

 

-- Alguém tem que colocar um pouco de juízo na sua cabeça, você não pode continuar assim.

 

-- Só você consegue fazer isso comigo, Carol, mais ninguém.

 

-- Não Samantha, não vamos voltar a esse assunto, eu não consigo nada com você, você mesmo estando comigo, mentiu, se drogou e me traiu. – Disse magoada –

 

-- Desculpa, eu ia te ligar pra conversar, mas eu não tive coragem. – Olhou para o chão –

 

-- Eu imaginei. Até porque não tinha muito o que dizer. – Deu de ombros --

 

-- E você, como está a faculdade? – Tentou mudar o assunto --

 

-- Eu me formo esse ano, as greves adiaram um ano a minha formatura. Mas eu estou bem, obrigada por perguntar.

 

-- Eu sinto sua falta. – Segurou a mão da estudante –

 

Carolina retirou delicadamente, não queria se expor no ambiente de trabalho.

 

-- Samantha, eu não consigo mais confiar em você. Eu preciso ir estudar, vai pra casa descansar, você está precisando. Se cuida.

 

-- Você também. – Disse decepcionada --

 

Carolina saiu e foi começar o estágio, Samantha ficou observando a estudante se afastar, linda como sempre, ela sentia saudades da ex-namorada, ainda era apaixonada por ela, mas sabia que nunca poderia ter Carolina para si. Foi pra casa pra tentar se recuperar e mais do que isso, tentar esquecer a estudante de medicina que sempre mexia com seus desejos mais íntimos.

Ela sabia que ainda iria cruzar com Carolina novamente, o destino sempre dava um jeito de juntar as duas mulheres.

 

Setembro de 2004

 

Carolina chagava em casa exausta, geralmente encontrava Carlos acordado a esperando, quando o rapaz não ia busca-la na faculdade para evitar andar sozinha a noite.

 

-- Oi irmão, tudo bem? – beijou o rapaz –

 

-- Sim, e você? Está com fome?

 

-- Eu estou, mas eu vou tomar banho primeiro, se eu comer agora eu vou dormir do jeito que eu estou. – Riu – Mamãe está dormindo?

 

-- Sim, ela pintou até umas dez horas e foi dormir.

 

-- Ai Carlos, que bom que ela encontrou essa oficina lá no centro comunitário, eu achei que nós perderíamos mamãe para a depressão.

 

-- Eu também pensei que ela ia acabar morrendo de desgosto. – Zapeava os canais da TV— Mas ainda bem que ela está se recuperando.

 

-- Sim, ela já passou por tanta coisa, ela merece ser feliz. – Soltava os cabelos do coque –

 

-- Vai tomar banho, tem comida no fogão.

 

-- Já estou indo, vai dormir irmão, amanhã você também acorda cedo.  – Beijou a cabeça dele --

 

-- Eu vou mesmo, estava só te esperando. – Desligou a TV – Boa noite gata!

 

-- Boa noite. – Recebeu um beijo do irmão --

 

A vida aos poucos estava se desenhando a uma normalidade para a família, dona Carmem se recuperando da depressão, Carolina quase formada na faculdade e Carlos finalmente parecia que estava em paz consigo mesmo, pelo menos aparentava isso. Carolina ainda falava com Roberta, mas a rotina pesada da estudante de medicina não permitia que as duas tivessem um contato mais frequente, mais presente.

No dia seguinte, Carolina seguia sua rotina de ir para o internato no hospital universitário de manhã, o grupo de pesquisas no Hospital Matriz a tarde e depois finalizar com as aulas na faculdade a noite.

Mas a rotina foi quebrada com a presença de Samantha no Hospital Matriz procurando por Carolina. A estudante foi avisada que uma pessoa queria falar com ela, e ao ouvir o nome que a recepção informou sentiu o corpo arrepiar, o que Samantha poderia querer?

 

Izabel já tinha uma certa intimidade com a estudante e percebeu a mudança do seu humor.

 

-- Carol, está tudo bem? – Segurou seu ombro –

 

-- Está sim, é só que minha ex-namorada está aqui me procurando, e eu não sei como ela me achou aqui.

 

-- A tal que te traiu?

 

Carolina havia contado sobre seu relacionamento para Izabel, as duas tinham muitas coisas em comum, inclusive o fato de Izabel também ter sido traída pelo noivo, que ela abandonou a um mês de se casarem, o rapaz a estava traindo com uma das amigas da médica, que inclusive seria uma das madrinhas do casamento.

 

-- Sim, Samantha. – Revirou os olhos --

 

-- Ela quer você de volta! Quem não iria querer? – Piscou –

 

-- Para de graça, eu não sou o último biscoito do pacote, ela pode ter quem quiser. – Deu de ombros –

 

-- Mas ela quer você, pode ter certeza, ela veio pra te reconquistar.

 

-- Mas eu não quero. – Cruzou os braços – Eu não confio nela.

 

-- Mas tá aí toda derretida porque ela veio até aqui. Dá pra ver só de você falar o nome dela. – Riu –

 

-- Deixa de besteira e vamos trabalhar. Depois eu resolvo isso.

 

Izabel saiu rindo com Carolina pelos corredores, a estudante achou que Samantha iria embora quando ela disse que não poderia descer naquele momento, mas ao sair do hospital no final do seu horário, avistou a modelo na porta vigiando a estudante para não perder sua saída. Rendida, Carolina foi ao encontro da ex-namorada.

 

-- Oi Samantha, o que você quer?

 

-- Oi Carol. Eu estou bem, obrigada por perguntar. – Disse contrariada –

 

-- Desculpe, você está bem?

 

-- Sim, e você?

 

-- Tudo bem. Como você me achou aqui? – Cruzou os braços --

 

-- Podemos conversar? – Não respondeu a pergunta de Carolina --

 

-- Nós não temos nada pra conversar, Samantha, nossa história acabou.

 

-- Eu não posso aceitar. Eu amo você.

 

-- Samantha, você não consegue ficar sóbria, você não consegue ficar longe da cama de outras pessoas, como você pode me amar?

 

-- Entra no carro, eu te levo pra casa. Vamos conversar. – Segurou a mão da estudante –

 

-- Eu não vou pra casa, estou voltando para a faculdade, eu preciso assistir aulas ainda. – Não recusou o contato –

 

-- Eu te levo pra faculdade então, vem comigo, por favor.

 

Carolina acabou cedendo, viu que Samantha tinha trocado de carro, agora estava com um sedan zero, que provavelmente seu pai havia lhe dado. Samantha parecia muito mais velha do que realmente era, as duas tinham quase a mesma idade, mas a vida desregrada da modelo estava acabando com sua saúde.

 

-- Estamos aqui, o que você quer de mim?

 

-- Eu quero você de volta.

 

-- Samantha, você não pode achar que vai entrar e sair da minha vida dessa maneira, eu não sou seu brinquedo, e se eu já estivesse com outra pessoa?

 

-- Mas eu sei que não está, você nasceu pra mim.

 

-- Sei, agora essa. – Balançou a cabeça – Você me traiu, mentiu pra mim, sumiu por dois anos e agora chega achando que tá tudo bem e eu vou voltar correndo pros seus braços?

 

-- Deveria ser assim, não?

 

-- Mas não é. E eu não vou voltar com você, eu te disse que aquela seria a última chance que eu ia te dar. E não vou voltar atrás.

 

-- Mas eu te amo tanto, eu não consigo sem você. – Colocou a mão na perna da estudante –

 

-- O que você acha que eu posso fazer? Você continua usando drogas, não é?

 

-- Sim. – disse envergonhada –

 

-- Bebendo sem limites e dormindo com qualquer um.

 

-- Isso não é verdade, eu não estou dormindo com ninguém no momento. – Mentia mais uma vez --

 

-- Sei, e Savana?

 

-- O que tem ela?

 

-- Ela ainda frequenta sua casa?

 

-- Sim, ela é minha amiga.

 

-- Tipo Lúcia foi, não é Samantha?

 

A modelo engoliu seco, Carolina estava muito magoada, ela sabia que não seria fácil, mas tinha que tentar.

 

-- Carol, eu faço o que você me disser, eu vou pra clínica de reabilitação, eu aceito fazer o tratamento que você me pedir, mas volta pra mim.

 

Estacionaram em frente à faculdade e Carolina ficou olhando para a modelo, sem acreditar no que estava ouvindo.

 

-- Você vai fazer um tratamento em uma clínica? Você está disposta a isso?

 

-- Sim, se for pra ter você de volta eu vou. E prometo que não vou mais te trair ou te decepcionar.

 

-- Samantha não prometa algo que você não pode cumprir. – Olhou pela janela – Se você realmente for para uma clínica e se livrar desse vício, eu te ajudo, mas não significa que eu vou voltar pra você.

 

-- Eu prometo.

 

A modelo sorria vitoriosa, sentiu uma ponta de esperança de reconquistar a estudante, Carolina não sabia porque se sentia tão presa a Samantha, porque sempre que a ex-namorada voltava ela cedia. Sua razão impedia que ela acreditasse em Samantha, mas ela sempre queria ver o melhor das pessoas e tinha esperanças que Samantha um dia pudesse mudar, seu coração não permitia que ela desistisse.

 

Novembro de 2004

 

Depois de dois meses em uma clínica, Samantha estava saindo para voltar pra casa, Carolina foi visita-la algumas vezes no fim de semana. E realmente acreditou que a modelo poderia vencer o vício.

Ao chegar em casa, Samantha encontrou Carolina esperando por ela, na tentativa de lhe encorajar e apoiar, para que Samantha se sentisse acolhida e amada, Carolina queria muito mesmo que a modelo conseguisse se livrar daquele vício, não fazia ideia dos outros vícios de Samantha, programas, mentiras, drogas, bebidas, não faltava mais nada, será? O coração da loira saltitou de alegria ao ver a estudante a aguardando, mais uma vez, ela tentava voltar para Carolina, era realmente um relacionamento unilateral, onde apenas uma pessoa conhecia todas as regras do jogo. O único problema, era que Samantha, não estava reabilitada, dentro da clínica ela conseguia drogas com a mesma facilidade que tinha quando estava fora, foi apenas uma fachada para que Carolina acreditasse em sua reabilitação.

Carolina acreditava que Samantha tentou mudar, mas perceberia novamente que a modelo não poderia lhe fazer feliz, era um ciclo vicioso, onde ninguém saia ganhando.

Carolina hesitou muito, mas com as inúmeras investidas de Samantha, que praticamente lhe bombardeou com ligações, mensagens, visitas ao hospital e à faculdade praticamente todos os dias, reatou o namoro com Samantha que continuava a ter os mesmos vícios nocivos a sua saúde e a sua vida. Mas a futura médica sentiu que já não nutria o mesmo sentimento avassalador de antes pela modelo. Sabia que era questão de tempo para aquele relacionamento terminar. Ela cedeu pela pressão, achando que ainda nutria alguma paixão pela modelo, mas ao longo dos meses, percebeu que já não era o que ela queria para sua vida. Estar com Samantha deixou de ser emocionante para ser decepcionante, ela não sentia mais o mesmo e não queria mais o mesmo que antes.

O relacionamento estava morno, depois que Carolina cedeu à vontade de Samantha, a modelo voltou ao seu comportamento anterior, mostrando que estar com Carolina mais parecia uma necessidade de provar algo para si mesma do que verdadeiramente amor, era como um troféu e Carolina já estava percebendo isso, já não sentia a mesma vontade de estar com a modelo. Durante a semana as duas não se viam, e nos finais de semana, as duas brigavam mais do que namoravam, cada dia que passava, Carolina se afastava mais de Samantha, era questão de tempo para essa relação terminar.

Samantha voltou a trabalhar com a agência de Estela, era outra coisa que a modelo não conseguia deixar para trás. As traições continuavam, apesar de amar Carolina, ou pensar que amava, Samantha não deixava a vida dupla, era da sua natureza viver os extremos, como se fosse sempre a última vez. Ela sentia a adrenalina correr em suas veias, todas as vezes que saía com algum homem ou mulher por dinheiro. Era escondido, era proibido e tudo que era proibido, pra ela era melhor.

E assim, as duas viviam dois relacionamentos em um, Carolina vivia o seu, e Samantha vivia o dela, no final, ninguém sabe quem saiu perdendo.

Fim do capítulo