CapÃtulo 18 - O preço das escolhas.
Carlos e Roberta estavam na sala de espera, conversavam sobre o passado, o presente e alguns planos para o futuro. Os dois já pareciam mais à vontade com a presença do outro, estavam mais soltos, mas ainda não haviam tocado na ferida que estava ainda aberta e sangrando, ninguém queria mexer naquela dor e viviam de forma automática.
-- Aquela amiga de vocês esteve aqui para ver Carol.
-- Que amiga? – achou estranho –
-- Samantha. – Revirou os olhos --
-- Ela veio aqui? – Jogou o cabelo para trás – Aquela mulher só aparece na vida de Carol para atrapalhar. Parece um encosto. – Começou a sacudir a perna –
-- Não fica nervosa.
-- Como você sabe que eu fico nervosa por causa dela? – Olhou para o rapaz –
-- Você sempre sacode a perna quando está chateada. – Apontou para a perna de Roberta–
A moça sorriu, sabia que era um traço de sua personalidade forte, e gostou de saber que Carlos ainda se lembrava de algo sobre ela.
-- Verdade. Faço sem nem perceber. – Sorria –
Os dois subiram para ver Carolina, a médica continuava com o mesmo semblante adormecido, Roberta chorou baixinho, e Carlos rezou, mais uma vez de tantas que ele já havia perdido as contas. Carolina continuava naquela escuridão, passeando pela sua vida, sem saber aonde iria chegar.
Depois de deixar o hospital, Carlos ofereceu uma carona para Roberta, a menina aceitou, pois já estava bem tarde. E os dois foram conversando no caminho.
-- Eu sinto falta da minha amiga. – Tinha o braço encostado na janela –
-- Eu imagino, vocês eram coladas feito unha e carne. – Riu –
-- Sim, mas depois daquele tempo que ficamos afastadas, voltamos mais grudadas ainda.
-- Eu sei. Eu me lembro daquela época, antes de eu ir embora daqui. Você a ajudou muito e eu te agradeço por isso.
-- Eu não fiz nada demais, Carlos. Sua irmã é minha melhor amiga, nunca mais vou abandoná-la.
-- Eu nunca agradeci pelo que você fez por ela quando aconteceu aquele problema com o pai dela, e com o Caio também.
-- Eu não fiz nada, só ajudei a evitar o pior. – Olhou para o rapaz – Se ele saísse, ele iria atrás dela.
-- Eu sei. Por isso eu te agradeço. – Segurou a mão da moça –
Roberta ficou desconcertada com aquele contato, não sabia como reagir, e puxou sua mão devagar, Carlos percebeu que a deixou constrangida e se desculpou.
-- Desculpe.
-- Tudo bem. Sinto muito pelo Caio.
-- Obrigado.
Continuaram o resto do caminho em silencio até o destino, os dois se despediram de longe e Carlos ficou assistindo Roberta entrar no prédio onde mora sozinha hoje, ficou imaginando como seria se tivessem ficado juntos como sempre sonhou.
-- Será que ainda há tempo? – Perguntou para si mesmo –
Julho de 2003
Carolina chegava em casa mais cedo, pois não teve aulas no período da tarde, já estava dividindo o seu tempo entre as aulas na faculdade e o internato no hospital universitário.
Entrou em casa e viu Carmem chorando com Carlos, não entendeu o que estava acontecendo, os dois deveriam estar trabalhando nesse horário.
-- Mãe. O que houve? – deixou a mochila em um sofá –
-- Carol. Caio foi preso. – Carlos anunciou –
Carmem não conseguia falar. Estava apenas chorando, olhou para a filha e Carolina entendeu que a mãe precisava do seu colo.
-- Mãe, vem cá. – Sentou-se ao lado da idosa –
Carmem deitou no colo da filha e continuava chorando, Carlos começou a explicar.
-- Alguém me ligou da prisão, disse que ele tinha sido preso em uma operação em uma favela lá no Rio. E que deu meu número como contato.
-- Você conseguiu falar com ele? – Fazia carinho nos cabelos da mãe –
-- Não, mas podemos ir visitá-lo. Eu vou lá amanhã. Vamos precisar de um defensor público, não sei como isso funciona.
-- Eu sei a quem recorrer. – Lembrou-se de Roberta –
-- Não temos dinheiro para pagar advogados. – Carmem levantou-se –
-- Não se preocupe mamãe, eu vou tentar conseguir uma indicação e uma orientação. – Beijou a cabeça da mãe e levantou-se –
Foi para o seu quarto e pegou o telefone, olhou aquele aparelho e respirou fundo, já estava mais que na hora de terminar aquela distância que Roberta havia imposto a ela, ela precisava da amiga, queria estar perto dela e resolveu usar essa desculpa para falar com a antiga amiga da escola, discou o número da casa de Roberta, e falou com Dona Abigail.
-- Alô.
-- Dona Abigail, é Carolina, tudo bem?
-- Oi minha filha. Que bom falar com você, você sumiu. Não vem mais aqui visitar essa velha que está caindo aos pedaços. – Riu –
-- Ah, nem inventa, que a senhora está muito bem. Eu vou passar aí para te ver, pode deixar. Dona Abigail, Roberta está em casa?
-- Não, ela está no escritório, ela está trabalhando com um advogado bonitão. – Riu novamente –
Carolina sempre se divertia com a avó de Roberta, dona Abigail sempre estava com o astral para cima.
-- A senhora tem o número para me passar?
-- Tenho sim, eu vou pegar.
Carolina anotou o número do trabalho de Roberta e se despediu de dona Abigail. Ligou para o número que anotou na palma da mão e esperou os toques ansiosa.
-- Escritório de Advocacia, Boa tarde!
-- Boa tarde, eu poderia falar com Roberta?
-- Quem gostaria?
-- Carolina Andrade.
-- Um momento.
Carolina ficou esperando a amiga, enquanto ouvia uma música da central de PABX.
-- Alô.
-- Oi Roberta. – disse sem graça –
-- Carol! Quanto tempo! Como você me achou aqui?
-- Eu liguei para sua casa, sua avó me deu o telefone.
-- Nossa, que bom falar com você. Mas aconteceu alguma coisa? Está tudo bem?
-- Beta, eu preciso da sua ajuda. Será que eu posso passar na sua casa mais tarde?
-- Claro, você sempre será bem-vinda, amiga. Eu chego por volta das sete da noite.
-- Eu te encontro depois disso.
-- Tudo bem, mas aconteceu alguma coisa? – ficou preocupada –
-- Eu te explico na sua casa. Beijo.
-- Tudo bem, beijo.
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Carolina chegou à casa de Roberta às oito da noite, tocou a campainha e sua amiga veio atender. Carolina se espantou ao ver a amiga muito mais obesa do que estava no colegial. Roberta estava irreconhecível.
-- Oi Carol, entra. – Abriu o portão –
-- Roberta, -- Estava sem palavras – tudo bem?
-- Eu sei, você deve estar se perguntando o que aconteceu comigo. – Disse desanimada – Eu também me pergunto isso às vezes.
Carolina dessa vez não se conteve e abraçou a amiga, que não conteve a emoção e chorou em seus braços. Foi um reencontro de parceria, de companheirismo e amizade. As duas estavam sentindo falta daquele abraço, e mais maduras, se permitiram perdoar os deslizes do passado e reinventar aquela velha amizade que se perdeu no tempo.
As duas se afastaram e se olharam, abriram um enorme sorriso, e seguiram para a varanda de mãos dadas. Roberta sentou em um sofá de vime, antigo, e Carol sentou no murinho que fazia a divisão da varanda e do quintal.
-- Roberta, o que aconteceu com você?
-- Eu entrei em depressão, por causa do que aconteceu, e só engordei, eu estou pesando cento e quarenta quilos, amiga, e não sei mais o que eu faço. – Balançou a cabeça negativamente –
-- Cento e quarenta quilos?
-- Sim, eu me formei e nem fui pra festa, só colei grau e pronto, passei pra OAB, e fui efetivada no escritório que eu trabalho, eu era estagiária. Mas eu nem vou às audiências, eu fico só no escritório redigindo as petições e os relatórios, fazendo apenas o trabalho burocrático, meu patrão já me chamou para conversar. – Uma lágrima escorreu – Disse que eu sou boa, e que eu tenho potencial, mas que com essa aparência, eu nunca vou conseguir ganhar um caso que seja só meu.
-- Isso é preconceito, sabia? Ele não pode falar isso só por causa do seu peso, ele não pode te excluir desse jeito. – disse indignada –
-- Carol, o mundo é assim, você não conhece? Lembra-se de Samantha? Era a mesma coisa. – Deu de ombros – Eu tenho dificuldades pra me locomover, o meu tamanho me dificulta muita coisa.
Carolina lembrou-se de Samantha, que as humilhava e sempre as excluía de tudo, se perguntou mentalmente como a ex-namorada estava, lembrou-se dos momentos em que conheceu o outro lado da menina mimada, do tempo em que ficaram juntas, queria contar para Roberta, mas estava apreensiva com sua reação.
-- Mas o que aconteceu? Você disse que precisa de ajuda.
-- Pois é, preciso de uma orientação.
-- O que houve? Eu fiquei preocupada, você me procurar assim, fiquei com medo de ter acontecido alguma coisa com sua mãe. – Limpou os olhos –
-- Caio está preso.
-- Caio? Mas o que ele arrumou dessa vez?
-- Ele se envolveu com o tráfico de drogas, nunca mais saiu. Foi preso em uma operação que fizeram em um morro do Rio, nem sei em qual. E está preso.
-- Amiga, sinto muito. – Afagou seu braço --
-- Eu queria uma orientação, nós não temos dinheiro para contratar um advogado, como eu faço para conseguir um defensor público?
-- Mas você não vai para a defensoria pública não, você tem advogado sim.
-- Não tenho Roberta, você bebeu?
-- Carol, você está doida que eu vou deixar você e sua mãe desamparadas, eu vou fazer a defesa do Caio.
-- Mas eu não tenho dinheiro, amiga.
-- Eu não quero dinheiro, não vou fazer pelo escritório, eu vou fazer como autônoma, e eu nunca vou cobrar nada de vocês.
-- Roberta, eu não vim aqui para pedir isso, eu só queria uma orientação. É o seu trabalho, e nem relógio trabalha de graça.
-- Você sempre tem uma frase de efeito né. – Riu –
-- Mania. – Riu também –
-- Eu faço questão, onde ele está?
-- Bangu.
-- Eu preciso do nome dele e do número dos documentos, você tem?
-- Minha mãe deve ter.
-- Manda amanhã, consegue me ligar no trabalho?
-- Sim. Eu te passo.
-- Eu vou procurar saber as acusações, e vou marcar uma visita para conversar com ele no presídio. Ai, nós veremos o que dá para fazer.
-- Obrigada Roberta. – Sorriu esperançosa –
As amigas ficaram conversando por horas, colocando o papo em dia. Carol contou a Roberta sobre Raquel, a amiga doida da faculdade, Roberta tomou coragem e perguntou sobre Carlos.
-- Carol, e o seu irmão? Como ele está?
-- Apaixonado por você ainda.
-- Não acredito. —Balançou a cabeça --
-- Por que? Você não sente o mesmo? – olhava para a amiga –
-- Não sei. – Abaixou a cabeça –
-- Sabe sim, ele nunca mais teve nenhuma namorada que durasse mais de três meses. E ainda balança quando eu falo o seu nome.
-- Eu me arrependo de tanta coisa. – Virou a cabeça --
-- Eu sei. Mas vai passar. Vocês ainda têm muita coisa pra viver.
-- E você? Continua com a ideia de não ter relacionamentos? – Voltou a encarar a amiga --
-- Por aí. – Riu –
-- Ninguém? – Brincava com uma almofada –
-- Ah, eu fiquei com algumas pessoas. —Uma pausa -- Só que tem uma coisa que eu preciso te contar.
-- O que é?
-- Durante todo esse tempo, eu só fiquei com meninas, eu sou lésbica.
-- Ah, era isso? – Disse sem espanto –
-- Não te incomoda?
-- Claro que não. Na verdade, eu sempre achei que você não gostava de meninos por causa disso. Depois você contou a história do seu pai, mesmo assim, eu sempre tive essa sensação.
-- E por que nunca me disse? – Jogou uma almofada na amiga –
-- Porque você tinha que descobrir isso sozinha. – Balançou os ombros --
-- Faz sentido. – Uma pausa– Eu preciso te contar outra coisa.
-- Pode dizer amiga.
-- Eu namorei Samantha.
-- O que? – Roberta se espantou – Como assim? Que Samantha? Aquela Samantha?
-- Calma Roberta. Uma pergunta de cada vez, apesar de que, todas as perguntas só têm uma resposta.
-- Puta que pariu Carolina! Eu não acredito nisso. – Colocou a mão na cabeça – Isso sim me assusta!
-- Poxa amiga, eu sei que parece improvável, mas aconteceu. – Deu de ombros –
-- Logo Samantha?
-- Sim. Eu me apaixonei, ela apareceu mudada, pelo menos no início foi bom, depois desandou tudo. – Bateu com as mãos na calça --
-- Como sempre, ela não serve para você amiga. – Segurou a mão de Carolina – Você merece uma pessoa boa, assim como você é.
-- O que eu posso fazer? Eu me apaixonei e quebrei a cara.
-- Eu quero saber tudo sobre esse namoro. Como eu não presenciei isso? Foi o acontecimento do século. – Gesticulou –
-- Depois eu te conto com calma.
As duas ficaram em silêncio. Carolina pensava em uma maneira de ajudar a amiga, existia uma cirurgia experimental, que estavam praticando no hospital universitário, que poderia ajudar Roberta com o problema do peso.
-- Amiga, eu posso te perguntar uma coisa? – olhou para Roberta—
-- Sim, você sempre pode falar o que quiser. – Encostou-se na poltrona – Depois de namorar Samantha, acho que nada mais me surpreende.
As duas acabaram rindo.
-- Beta, tem um procedimento em estudo lá no hospital que pode te ajudar, se você se interessar. – disse hesitante –
-- Que procedimento? – ficou interessada –
-- Uma cirurgia para redução do estômago.
Roberta ficou apreensiva com o fato de ser uma cirurgia, mas ao mesmo tempo pensava que não existia outra possibilidade para o problema dela. Já estava em um nível de obesidade mórbida, e os médicos que havia consultado já avisaram que só com ajuda ela conseguiria perder algum peso.
-- Já me falaram sobre isso. Mas soube que é arriscado.
-- Eu serei sincera, existe o risco, e o pós-operatório é bem complexo. Mas eu acredito pelo que eu tenho visto no hospital que para o seu caso, seria a única opção.
Roberta ficou olhando para Carolina, e pensando, não sabia mais o que fazer para perder peso, já havia tentado inúmeras dietas, nenhuma deu resultado.
-- Você acompanha esse processo no hospital?
-- Eu conheço o cirurgião que está fazendo essas cirurgias, ele é meu professor. Ele leva alguns estudantes para acompanhar o processo de preparação e pós-operatório. Eu tenho ido quando eu posso.
-- Eu tenho medo.
-- Eu sei, eu também tenho, mas eu já vi inúmeras pessoas entrarem com mais de cento e oitenta quilos e chegarem a oitenta em quatro meses.
-- Sério? – ficou assustada –
-- Sério, mas eu também vi, pessoas perderem muitos quilos e depois engordarem tudo de novo. Se não fizer o tratamento corretamente, não adianta correr o risco.
-- Mas como eu consigo uma consulta com esse médico? Ele deve ter uma fila de espera enorme.
-- Isso você pode deixar comigo. Você quer?
-- Não sei, eu tenho medo da cirurgia, mas eu vou pensar, tá bom? – Lágrimas surgiram –
-- Tudo bem. Você vai conseguir. – Segurou suas mãos – Eu vou te ajudar. – Sorriu –
Depois de tanto tempo afastadas, parecia que as duas nunca tinham se separado, a cumplicidade era a mesma, a amizade e parceria continuavam intactas. Mais maduras, mais experientes, tudo parecia se encaixar.
***************
Roberta foi com Carolina no presídio conversar com Caio no final de semana. Chegando lá, foram levadas a uma sala isolada para conversarem com o rapaz que foi trazido algemado, com uniforme presidiário, estava abatido, muito magro, com aparência de um homem muito mais velho do que realmente era.
-- Caio.
Carolina levantou-se da cadeira e correu para abraçar o irmão. Com dificuldades ele a envolveu com os braços e a beijou na testa. Carolina chorou e ele também. Era perceptível o sofrimento estampado em seu rosto.
-- Oi Carol. – Olhou para a irmã – Você está linda!
-- Obrigada. O que fizeram com você?
Os dois se soltaram sentaram à mesa. Ele não respondeu nada, apenas olhava para as duas mulheres em sua frente.
-- Lembra-se de Roberta? – Apontou para a miga –
-- Caramba. Eu não te reconheci, você está muito diferente!
-- Eu sei. – disse envergonhada – Mas vamos resolver sua situação, pois não temos muito tempo.
-- Sim, o que vai acontecer comigo?
-- Você será solto. – Estendeu um papel –
-- O que é isso? – pegou o papel para ler –
-- É um Habeas Corpus. Como você é réu primário, não foi pego com nenhuma arma de fogo, e não tem nenhum processo anterior contra você, eu consegui uma liminar para você aguardar o julgamento em casa.
-- Mas eu não posso ir pra casa, eu estou jurado lá no morro.
-- Mas você não poderá sair do Rio. Se você sair do Rio, vai virar fugitivo, e eu não poderei fazer nada. Você não pode ir para outro lugar? Casa de algum parente?
-- Não, isso não vai rolar. – Empurrou o papel de volta para Roberta –
-- Caio, nós vamos dar um jeito. – Carolina segurou a mão do irmão –
Caio estava contrariado, puxou suas mãos evitando o contato com a irmã, Carolina ficou sentida, sabia que a relação dos dois sempre passava por altos e baixos.
-- Olha, eu estou com o mandado aqui para te levar, você vem comigo, ou vai ficar aqui até resolverem marcar seu julgamento.
Caio pensou, olhou para a mesa, sabia que na prisão tinha um pouco de segurança, mas tinha que lidar com inúmeros tipos de perigo. Resolveu ficar em casa com a mãe, pelo menos poderia passar um tempo com a família.
-- Tudo bem. Eu vou com vocês.
As duas levaram Caio para casa, Carlos estava trabalhando, dona Carmem estava aflita, esperando seu menino voltar para casa. Quando Carolina chegou com Caio, ela chorou nos braços do filho. Segurou seu rosto entre as mãos, olhou para o rapaz, percebeu que ele estava preocupado, mas a saudade era tanta que ela só queria abraçá-lo.
-- Meu filho, por onde você andou? Por que não mandou nenhuma notícia?
-- Por que ninguém podia saber onde eu estava mãe. – Soltou-se da mãe –
-- Mas não precisava me dizer, só falar que estava vivo. – Chorava – Tem ideia de quantas noites eu não dormi, imaginando se você estava vivo, doente, se estava se alimentando?
Caio ouvia o sermão da mãe, sabia que estava errado, mas tinha feito uma escolha e tinha que assumir as consequências dela. Isso implicava muitas abstenções.
-- Mãe, não faz drama, você sabe que minha vida é complicada.
-- Mas não precisava ser assim, você escolheu esse caminho. Esqueceu que não é só a sua vida que seria afetada, mas da sua família inteira. – Sentou-se no sofá –
-- Mãe, se acalma, cuidado com a pressão. – Carolina tentou interferir –
-- Pega água pra ela Caio. – Roberta pediu –
O rapaz foi até a cozinha e trouxe um copo de água, entregou à sua mãe, e ela bebeu. Carmem tinha as mãos trêmulas, ainda chorava contidamente.
-- Caio, vai lá pro quarto, deixa mamãe descansar, depois conversamos mais.
O rapaz saiu contrariado, mas não respondeu Carolina, apenas foi para o seu antigo quarto.
-- Roberta, minha filha, você conseguiu trazer meu filho pra casa. – Estendeu a mão e segurou Roberta – Obrigada.
-- Não se preocupe dona Carmem. Ele não pode sair do Rio, ele precisa ficar no estado. Ele pode ser convocado a qualquer momento.
-- Ele não quer ficar aqui, disse que está com problemas aqui no morro. – Carolina completou –
-- Então ele vai pra onde? – Pôs uma das mãos na cabeça – Não tem pra onde mandar esse menino.
-- Vamos mantê-lo trancado em casa, prisão domiciliar. – Carolina levantou –
-- Mas se invadirem a casa?
-- Mãe, eu não acredito que façam nada nesse sentido.
-- Dona Carmem, eu conheço uma clínica de reabilitação que ele pode ficar internado, enquanto aguarda o julgamento.
-- Mas eu não tenho dinheiro pra isso, minha filha. – Chorava contidamente –
-- A clínica atende de graça, eu posso tentar uma vaga pro Caio.
-- Eu não sei se ele vai querer. – Disse Carol –
-- Talvez ele não tenha opção, lá ele ficaria seguro. E vocês podem ir visita-lo, não é uma prisão, é apenas para mantê-lo em segurança.
-- Eu vou conversar com ele, se eu conseguir convencê-lo eu te ligo.
-- Tudo bem, eu preciso ir, amiga, qualquer coisa me liga ou passa lá em casa.
-- Obrigada, amiga.
Roberta beijou dona Carmem e o rosto de Carolina, deixou a casa antes que Carlos voltasse da farmácia. Queria evitar aquele encontro.
Carlos chegou do trabalho e encontrou Caio em casa, abraçou o irmão e foi tomar banho. Carmem foi atrás do filho, e conversou com o mais velho, explicou a situação do rapaz e contou sobre a casa de recuperação. Carlos concordou em conversar com Caio. Depois que tomou banho, sentou na sala para jantar e chamou o irmão mais novo para uma conversa.
-- Caio, senta aqui. – Bateu com a mão no sofá –
-- O que foi? Vai me dar sermão também? – sentou emburrado –
-- Não, eu não vou te dar sermão. Mas eu vou te dar um papo reto.
-- É a mesma coisa. – Cruzou os braços –
-- Escuta, mamãe está muito preocupada com você, ela me disse que você não quer ficar aqui em casa por causa das suas dívidas no morro.
-- Isso. – Olhava desconfiado –
-- Nós não temos muita opção pra você mano. – Colocou o prato na mesa de centro – Eu acho que você poderia se internar em uma clínica de reabilitação que a Roberta indicou.
Caio levantou alterado. – O que? Você quer me internar? Eu não sou doido!
-- Caio, calma, eu não estou dizendo que você é doido. – Levantou-se também –
Carolina e Carmem vieram do quarto, assustadas com os gritos do rapaz.
-- O que houve? – Carmem perguntou –
-- Ele quer me internar. Eu não sou louco, mãe. –Apontava para Carlos –
-- Nós sabemos meu filho. Mas não é uma clínica para doenças mentais. É só pra você ficar longe daqui, seguro, até você poder voltar pra casa.
-- Mãe, você não entende, eu nunca mais posso voltar pra casa com tranquilidade.
-- Mas aqui é a sua casa Caio! – Gritou – Você tem que resolver sua vida e voltar pra casa!
-- Calma mãe. – Carolina tentou interferir –
-- Calma nada! Caio precisa se ajudar, senão nós não poderemos fazer nada. – Voltou a chorar –
-- Era melhor ter me deixado na cadeia.
Caio saiu da casa, feito um furacão, corria perigo se fosse visto pela comunidade em que moravam, estava com problemas com os traficantes do local, fugiu com o dinheiro do traficante e a namorada dele. Estava jurado de morte, e Carmem sabia que ele não podia andar por aí sozinho.
-- Caio volta aqui! – Gritava –
-- Caio. – Carlos foi atrás do irmão –
-- Me solta! – O rapaz reclamava –
-- Eu não vou deixar você sair. – Carlos o segurou pela camisa –
-- Você não tem escolha. – Tentava se soltar – Me larga!
Carlos o agarrou e tentava trazer o irmão para dentro de casa. Caio na tentativa de se soltar, acertou um soco no irmão mais velho, fazendo com que Carlos caísse no chão. Carolina veio correndo, abaixou-se ao lado do irmão mais velho e olhou para Caio. Carmem também estava na varanda assistindo a cena.
Carlos estava tonto, passou a mão na boca que sangrava. E Caio ficou sem ação ao perceber que havia machucado seu irmão.
-- Desculpa, eu não posso ficar aqui. Desculpa mãe.
Caio pulou o muro, deixando todos para trás. Carlos levantou cambaleando e caminhou até o portão, ainda conseguiu ver o rapaz correndo para fora da comunidade. Com certeza iria se esconder novamente.
-- Vem comigo, vamos colocar gelo nesse rosto. – Carolina chamou –
Carlos estava tão chateado, que recusou o cuidado da irmã caçula, com o braço afastou Carolina e entrou em casa. Carmem chorava. Carolina viu Carlos saindo com a chave da moto e não sabia o que fazer.
-- Carlos, onde você vai?
-- Por aí. – Ligou a moto –
-- Não, não saia de casa assim, você está muito nervoso. – Tentou pegar a chave da mão dele –
-- Carol, não enche o meu saco! – Empurrou a irmã –
Carolina se espantou com a agressividade que Carlos a tratou, ele sempre foi muito carinhoso, o rapaz acelerou a moto e saiu na mesma direção que Caio havia partido. Provavelmente queria pegar o rapaz.
Carolina entrou em casa com Carmem, a menina deu um calmante para a mãe que estava muito nervosa e a colocou para deitar, tentando evitar que sua pressão subisse e ela passasse mal. O calmante fez efeito e Carmem adormeceu em meio às lágrimas. Carolina ficou esperando que algum dos irmãos aparecesse. Acabou dormindo no sofá.
Já era de madrugada, quando Carlos chegou sozinho em casa. Olhou a irmã deitada toda encolhida no sofá apertado. E sentiu-se culpado por ter sido tão grosso com ela, que só queria ajudar.
Foi até a garota e a pegou no colo para levar para a cama, quando Carolina acordou em seus braços. Olhou o rosto do irmão, e fez um carinho. O abraçou no pescoço.
-- Desculpe. Eu fui um grosso.
-- Não se preocupe. Eu te amo assim mesmo. – Disse sonolenta –
-- Vamos pra cama. – Beijou sua testa –
Carlos colocou a irmã na cama e foi ver sua mãe, que dormia profundamente, com a ajuda do medicamento que Carolina lhe deu.
Foi para o quarto frustrado, pois procurou Caio por todos os lugares que ele costumava ficar e não o encontrou. Acabou adormecendo, vencido pelo cansaço. Desejando que o irmão estivesse bem.
*********
Caio ficou desaparecido por quase uma semana, sem dar notícias para a família, nem dizer o seu paradeiro. Carmem estava preocupada, depois de ter o filho dentro de casa novamente, o perdeu mais uma vez.
Carolina estava dando um plantão no hospital universitário, quando recebeu três pessoas feridas em um tiroteio em um dos morros do Rio. Todos que entravam nessas condições ela corria para ver se não era o seu irmão.
Em sua maioria das vezes, ela ficava aliviada. nunca teve esse desgosto de atender o próprio irmão baleado. Mas o susto era sempre grande. Nesse dia, ela reconheceu um dos rapazes que ficava com Caio na boca de fumo.
-- Dudu, você estava com Caio? – perguntou assustada –
O rapaz estava baleado no peito, tinha dificuldades de respirar. Olhava para Carolina e não conseguia dizer nada.
-- Dudu, você estava com Caio? Só diz sim ou não. – Ela estava desesperada –
Com muita dificuldade, o rapaz conseguiu balançar a cabeça positivamente, sim, ele estava com Caio. Carolina sentiu o gosto de sangue na boca.
-- Onde ele está? – Acompanhava a maca até o centro cirúrgico –-
-- Carolina ele não está em condições. – Um médico a repreendeu –
-- Ele estava com o meu irmão! – Retrucou – Eu preciso saber o que houve. – Olhou para o rapaz baleado – Onde ele está?
-- Eles pegaram Caio. – Disse com dificuldade –
-- Quem? – Carolina já estava apavorada –
Perdendo muito sangue, o rapaz baleado entrou em uma parada cardíaca, os médicos mandaram que Carolina se afastasse, e entraram na sala para a cirurgia. Carolina começou a chorar, pois sabia que Caio estava em perigo, correu para o banheiro para tentar se acalmar. Lavou o rosto, não sabia o que fazer, se procurava a polícia, se ia para casa, se ligava para Roberta. Raquel não estava no mesmo grupo que o dela naquele dia, estava perdida.
Quando conseguiu se acalmar, saiu do banheiro e caminhou até um orelhão que havia no pátio do hospital, ligou para Roberta no trabalho, e explicou a situação, Roberta a aconselhou a esperar, ela iria entrar em contato com a polícia e passar a informação que Carol tinha recebido do traficante no hospital.
Depois dessa notícia, Carlos ficou tentando achar o irmão, fazendo contato com alguns conhecidos que eram envolvidos com o tráfico do local. Descobriu que Caio estava com o chefe do morro, e provavelmente já estava morto.
Tentou falar com o homem que dominava o lugar, mas não conseguiu acesso, Carmem pediu pra que o filho desistisse, pois não suportaria perder mais um filho de forma trágica. Ela apenas queria saber o que aconteceu com Caio.
Depois de muita insistência de Carlos, ele conseguiu falar com o traficante que dominava o lugar. E teve uma surpresa ao descobrir que o homem era um velho conhecido seu.
-- Chefe, aquele cara que eu te falei veio falar com você.
Um garoto com uma pistola em punho, anunciou a aparição de Carlos.
-- Eu falei que não vou falar com ninguém. – Reclamou com o comparsa –
-- Ele disse que precisa falar com você, é caso de vida ou morte.
-- porr*! Esses babacas da comunidade ficam arrumando problema por aí e acha que eu tenho que resolver tudo. – Apagou o cigarro em um cinzeiro velho – Manda esse merd* entrar. – Fez sinal com a mão.
Quando Carlos entrou na casa velha, cheia de mofo, viu vários papelotes de drogas sobre uma mesa, tinham várias armas ao lado do homem, que estava sentado em um sofá velho. Para sua surpresa, o homem mais temido do morro, era um amigo de infância que haviam perdido o contato depois que a família do garoto se mudou para uma outra área da cidade.
-- Serginho? – Constatou espantado – É você?
-- Carlinho? O que você está fazendo aqui? – Reconheceu o velho amigo --
-- Eu que pergunto. O que aconteceu com você? Você que é o Beira Rio?
-- Pois é irmão. A vida me trouxe até aqui. Esse é o meu apelido. – Gesticulou orgulhoso --
Carlos não poderia acreditar, os dois brincavam juntos no quintal de casa. Carmem preparava lanches para os dois, Caio era pequenino, não queria crer que seu irmão foi morto pelo seu próprio amigo.
-- O que aconteceu com você? Nós brincávamos juntos. Sua família saiu daqui para te dar um futuro melhor. Por que você voltou?
-- Que futuro? Eu não gostava de escola, nunca tive muita inteligência pra essas coisas, Carlinho, você sabe disso. Eu conheci um cara lá perto de onde eu estava morando e ele me ensinou a atirar, me levou para conhecer a vida dos traficantes de lá. E eu vi que era o que eu queria. Saí de casa e cresci na rua, me virei sozinho. Tem um tempo que eu matei o chefe daqui e assumi o posto dele.
-- Como eu nunca soube que era você?
-- Ninguém sabe que eu voltei, irmão. – Olhou para o rapaz – O que você quer aqui? Você não é usuário, não compra drogas que eu sei. O que você quer com o chefe do morro? – Se espalhou no sofá –
-- Acho que você está com meu irmão.
-- Seu irmão? – Olhou desconfiado – Quem é o seu irmão?
-- Caio.
Sergio olhou para ele com raiva, e ao mesmo tempo com um certo pesar, deixou transparecer que algo ruim havia acontecido com o traidor que roubou o dinheiro dele e fugiu com sua namorada.
-- Aquele traidor! – Bateu com a mão no braço do sofá – Ele era seu irmão?
Quando ele disse o verbo no passado Carlos teve certeza que Caio estava morto.
-- Era? – perguntou para confirmar sua suspeita –
-- Ele me roubou, e fugiu com minha mulher. – levantou – Ele era um dos homens de confiança que eu tinha. E me traiu duas vezes. – Andava pela sala –
-- Eu só quero saber o que houve com ele, minha mãe está desesperada.
Sergio lembrou-se de dona Carmem, sempre tão carinhosa com eles, preparava lanches, e sucos para os meninos brincarem. Ficou com pena da mulher que havia perdido o filho.
-- É tarde demais. Traidores pagam com a vida. – Virou de costas –
-- Ele está morto?
-- Está.
-- Onde ele está?
-- Você não vai encontrar. – Balançou a cabeça – Ele teve o que mereceu.
-- Eu quero enterrar o meu irmão. Pelo menos para minha mãe se despedir do filho dela.
-- Não posso fazer nada. – Olhou de volta pro rapaz – Você não vai chegar lá.
-- Onde?
-- No matadouro.
-- O que você fez com ele? – Carlos estava com raiva – Você não o reconheceu? Você brincava com ele.
-- Ele era muito pequeno, eu não lembrava dele, e mesmo assim, nesse mundo, Carlinho, não tem espaço para amizade. A lei é uma só, e traição se paga com sangue.
Carlos sentiu nojo e raiva do homem frio que seu amigo se tornou e partiu para cima de Sergio, acertou um soco no traficante que revidou, e os dois caíram no chão em uma briga feroz. Carlos não estava preocupado se estaria com problemas depois disso, só queria vingar a morte do irmão.
Ouvindo a confusão, um dos capangas entrou com duas armas nas mãos, e tentava mirar em Carlos, mas não conseguia. Sergio segurou Carlos e o derrubou no chão, imobilizou seu pescoço e viu o capanga se aproximar para atirar no antigo amigo.
-- Não. – Estava ofegante – Não atira.
-- Por que chefe? Esse almofadinha tá achando que vai vir aqui em cima e tirar onda com “nós”? Vai morrer. – Apontou a arma de novo –
-- Eu disse que não! – Gritou – Sai daqui.
O homem recolheu a arma e saiu contrariado, olhando para Carlos que estava imobilizado debaixo de Sergio, quase sufocando.
Ele saiu de cima de Carlos que ficou tentando se recuperar, respirando com dificuldades. Sergio estendeu a mão, mas Carlos não aceitou. Levantou cambaleando e caminhou até a porta. Olhou de volta para o velho amigo e em silêncio saiu segurando o pescoço, com algumas escoriações.
Sergio ficou com remorso por causa de dona Carmem, e em um ato impensado para um traficante, resolveu dar à família o direito de enterrar seu filho.
De madrugada o corpo de Caio apareceu na frente da casa de Carlos. Alguém chamou o nome do rapaz, e saiu queimando os pneus do carro. Quando Carlos saiu para ver o que estava acontecendo, viu algo na calçada.
Abriu o portão e encontrou o corpo desfigurado de Caio, torturado, mutilado e com vários tiros.
Carolina também saiu, acordou ao ouvir o barulho, e viu Carlos ajoelhado na calçada, imaginou o pior. Caminhou lentamente em direção da rua e viu o rosto de Caio sem vida. O cheiro forte indicava que ele já estava morto há algum tempo. Ficou tão nervosa com a cena, que correu para trás do muro e vomitou.
Carlos chorava muito, estava transtornado. Não sabia como agir. Carolina também estava nervosa. Carmem dormia pesado por conta dos calmantes que passou a tomar. Carolina agradeceu esse fato.
Depois de tentar se recompor, Carolina chamou Carlos para resolver o que iriam fazer.
-- Carlos, precisamos fazer alguma coisa.
-- O que? Chamar a polícia?
-- Temos que fazer alguma coisa. – Apontou para o corpo no chão – Não podemos deixar ele aí.
Carlos parou, pensou, limpou o rosto com as mãos. E decidiu pegar a moto.
-- Eu vou na funerária onde o Hugo trabalha. Vou ver se consigo que eles recolham o corpo dele.
-- Eu fico aqui.
-- Você entra. – Apontou para a casa –
-- Eu não vou deixá-lo aqui sozinho. – Encarava o irmão –
Carlos sabia que Carolina podia ser muito teimosa quando queria. E não adiantava discutir. Decidiu sair logo para evitar que sua mãe visse a cena.
-- Tudo bem, mas fica dentro do portão.
Carlos saiu com pressa, Carolina ficou sentada na varanda olhando para o céu, estava nublado, não tinham estrelas nem lua para iluminar a noite. Tudo parecia sombrio. Tudo parecia não estar no lugar.
Chorava baixinho, sozinha, sua dor. Rezou pela alma do irmão, rezou para Deus confortar sua mãe e seu irmão mais velho.
Sentia-se sozinha, não tinha ninguém para conversar, não tinha ninguém para ligar, pensou em Roberta, mas não iria acordar sua amiga no meio da noite. Estava percebendo que a ideia de viver só pelo resto da vida começava a desmoronar.
Carlos voltou com o carro da funerária, já chegaram com um caixão, recolheram o corpo de Caio, e colocaram dentro do carro. Carlos ajeitou com o seu amigo uma forma de fazer o pagamento pelo funeral, e o atestado de óbito.
Ao amanhecer, dona Carmem acordou com a triste notícia que o filho foi encontrado e estava morto. A senhora apesar de já esperar por uma notícia desse tipo, não conteve sua dor, e precisou ser amparada pelos filhos e algumas vizinhas que apareceram para dar apoio.
Carolina ligou para Roberta e a menina apareceu em sua casa, reencontrando Carlos que ficou desconcertado com a aparência da ex-namorada. Carolina tinha contado para ele, o que acontecera, mas ele não tinha ideia real de como Roberta estava. O reencontro foi marcado pela dor, ver Roberta daquele jeito machucou o rapaz, ele ainda a amava, ele ainda a queria, mas ela o evitou todo o tempo em que esteve próxima a ele, para ela ainda era muito latente toda a dor que ela sentiu quando perdeu parte de si naquele hospital e decidiu tirar o namorado de sua vida, ela também o amava, mas ainda não estava preparada para voltar a conviver com ele.
Carlos conseguiu que o funeral fosse o mais rápido possível, para evitar maiores sofrimentos. Já estava muito difícil encarar aquela realidade. Todos esperavam que finalmente, Caio descansasse em paz.
Dezembro de 2003
Carolina terminava o semestre, estava estudando para as provas finais, faltavam duas provas para terminar o ano e ter suas merecidas férias.
Carolina marcou de encontrar com Roberta em um shopping para conversarem, a garota estava com um mau pressentimento e pediu para Roberta investigar sobre o processo do seu pai.
-- Oi amiga, está me esperando a muito tempo? – Beijou o rosto da estudante –
-- Não, cheguei há dez minutos. Saí depois do horário.
-- Eu peguei um engarrafamento horroroso. – Sentou-se de frente para a amiga –
-- Então, Beta, o que você conseguiu? – estalou os dedos das mãos –
-- Carol, eu não tenho boas notícias, seu pai está tentando um indulto de Natal, você acredita?
-- Como assim? – não entendeu –
-- Ele está alegando bom comportamento para sair da cadeia nesse Natal e visitar a família. – Disse com sarcasmo – Sei o tipo de visita que ele quer fazer.
-- Meu Deus, ele não pode sair, se ele sair da cadeia ele vai vir atrás de mim.
-- Eu não vou permitir. Já entrei com um pedido de anulação desse indulto para que ele não consiga deixar a prisão.
-- Mas como dão um pedido desse pra um estuprador? – Colocou as mãos na cabeça – Isso é muito errado, essas leis brasileiras são ridículas, parece que só favorecem os bandidos.
-- Calma, Carol, você está se apavorando, ele não vai sair. Eu fiz a alegação com a gravidade dos crimes dele, ele tem mais de cem anos de cadeia pra cumprir, nenhum juiz deixará isso acontecer. – Segurou a mão da amiga sobre a mesa –
-- Mas se houver algum mais maluco do que ele? E se algum juiz der achando que ele mudou?
-- Não vai, não é assim, todos os fatos são analisados. Os crimes do seu pai hoje em dia são considerados hediondos, foi aprovada uma lei que eleva a gravidade de estupro e pedofilia como crimes gravíssimos. Eu aleguei que ele não tem família, ele nunca recebeu nenhuma visita de vocês, portanto ele não pode estar pleiteando uma visita a família, eu redigi uma boa petição.
-- Tomara que eles aceitem, ele não pode sair da cadeia. Eu não vou sossegar enquanto existir essa possibilidade. – Balançou a cabeça –
-- Amiga, eu vou monitorar isso pra você, e se houver qualquer possibilidade de ele sair de lá, nós daremos um jeito de você não ficar sozinha. – Segurou sua mão sobre a mesa –
Carolina estava apreensiva, não conseguia pensar em outra coisa, a possibilidade de o pai estar livre lhe dava arrepios, ela sabia que correria perigo se ele ficasse fora da prisão.
Para o seu alívio, a petição de Roberta foi aceita e o indulto de Nelson foi negado. Quando soube que não sairia da cadeia, o homem ficou furioso, ele estava pensando em ir atrás da filha e da mulher que o colocaram na cadeia. Perdeu a oportunidade que estava esperando. Mas ele não iria desistir.
Carolina ficou mais feliz ao saber que a solicitação de Roberta foi aceita, mas sabia que teria outras tentativas vindas de Nelson para sair da prisão e ela não estava segura.
*****************
Março 2004
Carolina já estava na reta final da faculdade de medicina, prestes para ir para a residência, fazia o estágio obrigatório no hospital universitário, e um dia que estava de plantão, o hospital recebeu uma comunicação que receberia alguns presos que estavam machucados por conta de uma tentativa de fuga sem sucesso.
Quando as ambulâncias chegaram com os detentos escoltados por policiais, todos os internos foram chamados para ajudar na emergência, ao chegar no ambulatório cheio de detentos algemados às camas ela avistou um que chamou sua atenção, Carolina paralisou, seu pai estava entre os presos feridos, desde o julgamento que ela não o via, Nelson estava muito mais velho, cabelos brancos, maltratado pelo cárcere, magro, tinha aparência de doente, estava com uma bermuda jeans e uma blusa branca da carceragem, igual aos outros presos. Ele parecia inconsciente, tinha muito sangue em seu corpo, Carolina não sabia o que acontecera com ele.
Os colegas ao verem a reação de Carolina, ficaram preocupados, a moça estava sempre à frente de todos quando se tratava de ajudar no pronto socorro, mas naquele momento ela parecia alheia ao alvoroço que estava o lugar.
-- Carol! – Raquel segurou seu braço – O que houve? Você está branca que nem um papel. – colocou a mão em sua testa – Você está passando mal?
-- Oi? – olhou a amiga – O que?
-- Carol, o que você tem? – Eduardo também chegou perto – O que ela tem?
-- Eu não sei. Ela não fala nada.
-- Pessoal, não é para ficar de papo, precisamos de ajuda aqui. – Um tutor gritou –
-- Carol, se você não estiver bem, sobe, nós resolvemos aqui. – Raquel insistiu –
-- Não, eu estou bem, eu só preciso... – Ficou tonta –
Carolina ficou nervosa, estava sentindo o coração bater em sua boca, não sabia o que era, se era pânico, pavor ou o impacto de rever seu pai naquelas condições. Sua cabeça rodou, ela se apoiou na parede e fechou os olhos.
-- O que está acontecendo aqui? – Ronaldo apareceu –
-- Carol não está bem. – Raquel explicou –
-- Então deixem ela aqui e vão trabalhar. – Apontou o salão – Carolina.
A moça se espantou com o grito do mentor, Ronaldo era o chefe de cirurgia do hospital universitário, conhecido por ser durão com seus internos, ele não aceitava falhas, não gostava de corpo mole, um dos melhores cirurgiões do estado, Carolina o admirava, se espelhava nele. Ele também adorava a menina, Carol conquistou seu espaço no hospital por ser estudiosa, dedicada ao que fazia, e sempre alegre e otimista, fez muitas amizades e conquistou o respeito de todos os professores.
Ronaldo sabia que Carolina sempre era a primeira a se apresentar e trabalhava com muita presteza e dedicação, percebeu que algo estava muito errado.
-- O que houve Carolina? – Segurou seu braço e a tirou do salão –
Saindo do campo de visão da cama onde seu pai estava, foi como se a médica saísse de um transe. Seus sentidos voltaram e ela conseguiu focar no professor.
-- Oi. – Olhou para o professor –
-- O que houve? Você está passando mal?
-- Não, eu só tive um susto, tem um conhecido meu ali. – Suava –
-- Você está branca. Vai tomar uma água, se acha que não consegue fazer isso, suba e não vá para o salão, mas não vai desmaiar na frente de todo mundo.
-- Sim, senhor.
Ronaldo deixou a garota e voltou para os atendimentos. Carolina ficou no corredor, foi até a sala de médicos e bebeu água, sentou-se em um sofá que eles usavam para descansar e sentiu seu corpo tremer por inteiro.
Deixou a cabeça cair no encosto do sofá e fechou os olhos, tentava se acalmar, pensava que ele estava ali sob custódia e não poderia fazer-lhe nenhum mal. Ele parecia muito machucado, e estava inconsciente. Sabia que precisava colocar um ponto final naquilo e resolveu voltar para o ambulatório.
Chegando no pronto socorro, percebeu que algumas macas já haviam saído dali, e a de seu pai era uma delas, foi o seu segundo susto. Foi até Raquel.
-- Raquel. – Segurou seu ombro –
-- Carol, você melhorou?
-- Sim, onde está o detento que estava ali? – Apontou para um dos leitos –
-- Poxa Carol, alguns subiram para fazer exames, outros já estavam mortos, eu não sei pra onde esse cara foi não. Ou foi fazer exame ou foi pro necrotério.
Carolina saiu em disparada, foi direto ao necrotério, algo lhe dizia que Nelson estava morto. Chegando no subsolo do hospital, Carolina entrou no necrotério com calma e viu alguns corpos aguardando o legista para iniciarem as autópsias, e começou a destapar os corpos até encontrar o de Nelson.
Ela paralisou mais uma vez, apesar de saber que ele estava morto, ela ainda petrificava de medo, se fosse criança poderia ser capaz de fazer xixi nas calças. Ficou ali parada olhando para o rosto pálido daquele homem velho, que um dia lhe decepcionou como nunca ninguém conseguiria fazer igual.
Ele era a figura que ela admirava, onde ela se protegia quando sentia medo, e de repente ele tirou sua inocência, sua dignidade, seu respeito próprio, sua confiança, mas não conseguiu tirar o seu caráter e sua força de renascer das cinzas.
Lágrimas insistentes escorriam em seu rosto, em seu pensamento palavras de protesto se elaboravam para dizer àquele homem deitado naquela maca de ferro gelado assim como ele era.
-- Você! – a voz embargou – Você foi parte dos meus pesadelos por noites e noites. Mesmo depois de preso, você ainda me perseguia nos meus sonhos, nas minhas noites de sono mal dormido, em que eu ficava esperando a porta do quarto abrir, com medo, desejando que você não passasse no meu quarto.
Não havia resposta, o lugar estava vazio, Carolina estava frente a frente com seu agressor, e colocava para fora tudo o que havia lhe perturbado ao longo de tantos anos.
-- Você que me usou e me humilhou dentro da minha própria casa, dentro do lugar que era sagrado pra mim. – Começou a se exaltar – Você que tirou o que eu tinha de mais precioso, a minha confiança, a minha inocência! – Bateu com as mãos na mesa de ferro --
Afastou-se da mesa e começou a rodear o corpo sem vida do seu pai. Descarregava toda raiva que estava guardada por anos.
-- Você me privou de viver com um pai, que escolheu o caminho do mal e corrompeu meus irmãos, e desviou o caminho de Caio, mesmo que não seja totalmente sua culpa, passou a ser sua culpa, eu perdi o meu irmão, perdi o meu pai, e minha mãe perdeu o brilho nos olhos, a alegria de viver. E agora você morreu. – Riu de nervoso -- E eu não pude te falar o quanto você foi desumano e egoísta. Eu não pude te falar como tudo o que você fez me afetou e mudou a minha vida. – Chorava – Seu canalha!
Pelo que Carolina pôde perceber Nelson tinha um buraco de bala em seu peito, deduziu que ele tentara fugir e que com certeza foi alvejado.
-- Você queria fugir pra vir atrás de mim, não foi? Eu tenho certeza que não esqueceu que estava preso por minha causa, e agora você acabou morrendo. – Olhava para o pai com desprezo – Você não é meu pai, nunca foi e nunca será. Eu não tenho pai. Eu nunca vou te perdoar.
Caminhou para trás e encostou-se em uma parede, chorava copiosamente e acabou escorregando e se encolhendo no canto da parede como no dia em que todos descobriram seu maior segredo, lembrava-se da vergonha que sentiu de seus irmãos e de sua mãe. O medo de Nelson machucar Carlos, os sentimentos eram confusos. Estava aliviada por ver o pai morto, e esse sentimento era contraditório com os ensinamentos que recebera no colégio de freiras que estudou.
Ouviu barulho nos corredores, com certeza o legista estava voltando para iniciar o trabalho de autópsia, e ela se levantou e saiu da sala sem ser vista, com gosto amargo na boca, o gosto da decepção.
Voltou para a sala dos médicos e deitou no sofá, sua cabeça estava pesada. Fechou os olhos e ficou tentando escutar o silencio. Não sabia o que fazer, se falava com sua mãe, ou com alguém no hospital. Preferiu não comentar com ninguém. Ficou deitada ali tentando dissipar os pensamentos do passado que insistiam em voltar.
Ronaldo entrou na sala e viu Carolina deitada no escuro. Foi até ela e sentou-se ao seu lado.
-- Carolina.
A menina assustada deu um pulo do sofá, e sentou-se, olhou para o mentor e se recompôs.
-- Ronaldo, -- limpou o rosto com as mãos – Desculpe, eu não estou me sentindo bem. Vim para cá para não atrapalhar.
-- Carol, vá para casa. eu nunca vi você assim, sei que está com algum problema sério. Vai descansar.
-- Eu vou. Obrigada Ronaldo.
-- Cuide-se. – Saiu da sala –
Carolina assentiu com a cabeça, levantou e trocou de roupas, chegou à rua e não sabia o que fazer, parecia que um peso tinha saído de suas costas. Raquel correu e alcançou a amiga no pátio do hospital para perguntar se ela estava melhor.
-- Carol!
Carolina olhou para a amiga e esperou que ela a alcançasse, viu Raquel se aproximar preocupada e sem esperar que a amiga dissesse nada a abraçou, Raquel não esperava aquilo, mas confortou Carolina até que ela conseguisse falar.
-- Raquel, aquele cara era o meu pai. – Disse ainda abraçada a amiga –
Raquel sentiu o corpo retesar e entendeu toda a confusão no olhar da amiga, a abraçou mais forte ainda e tentou passar conforto e segurança para ela.
-- Ele morreu. Ele está morto. Ele não vai mais te machucar.
Raquel a afastou e olhou para Carolina que deixava lágrimas caírem de seus olhos, a dor estava ali mais latente do que nunca esteve, sentiu pena da amiga e queria ajuda-la de alguma forma, mas sabia que nada podia fazer, só estar ali por ela.
-- Eu sinto muito amiga. Eu posso fazer alguma coisa pra te ajudar?
-- Não, ninguém pode fazer nada. O mal está feito e agora só me resta enterrar tudo isso junto com ele. Não se preocupe, vai passar.
Carolina abraçou Raquel e a deixou para cumprir o restante do plantão, só queria ir pra casa e dormir até cansar.
Pela primeira vez na vida ela saiu do hospital, passou em um bar e pediu uma dose de conhaque, igual ao que Raquel costumava beber quando saíam juntas. O homem desconhecido colocou a bebida no copo e entregou a Carolina que bebeu todo o conteúdo do copo de uma única vez.
A garota fez uma careta quando o líquido marrom desceu arranhando sua garganta e quase se engasgou. Ficou vermelha e o dono do bar percebeu que ela não era de beber essas coisas. Pediu outra e foi atendida com certo receio. Carolina pagou a bebida e saiu do bar ainda desnorteada.
Como não está acostumada a beber o conhaque fez efeito rápido, Carolina ficou tonta e enjoada, a viagem de ônibus pareceu mais longa do que o normal. A cabeça estava rodando, os olhos pesados, o estomago enjoado, parecia que estava morrendo.
Chegou em casa e assim que entrou, foi correndo para o banheiro, vomitou o que não tinha no estômago. Não sabia se era o nervoso ou o conhaque que bebeu. Sentou-se ao lado do sanitário e fechou os olhos, estava suando. Não tinha ninguém em casa ainda.
Tomou um banho e deitou em sua cama, acabou adormecendo com o peso dos acontecimentos do dia.
Acordou com sua mãe lhe chamando, não sabia quantas horas havia dormido, estava com uma forte dor de cabeça.
-- Carol! Minha filha.
Carolina abriu os olhos, sua cabeça latej*v*. Ela reconheceu Carmem pela voz.
-- Oi mãe. – Ficou com os olhos fechados—
-- O que houve que você está em casa tão cedo? – sentou na cama da filha –
-- Eu passei mal. – Virou de barriga pra cima –
-- O que está sentindo?
-- A cabeça doer e meu estômago enjoado.
-- Vou fazer uma canja.
-- Mãe. – Segurou seu braço – Eu preciso te contar uma coisa.
Carmem olhou para a filha pela penumbra do quarto escuro, a única luz vinha do corredor pela porta entreaberta.
-- O que houve?
-- Nelson deu entrada lá no hospital hoje. – Sentou-se na cama –
Carmem ficou branca, sentiu o chão engolir seus pés. Ficou olhando para Carolina, e entendeu o mal-estar da filha.
-- O que ele foi fazer lá?
-- Ele está morto, mãe.
Carmem não sabia se sentia alívio ou pesar. Mas conseguiu respirar aliviada depois que Carolina contou que ele estava morto.
-- Eu estava de plantão com Ronaldo na cirurgia, quando mandaram um aviso da penitenciaria que mandariam alguns presos que estavam feridos por conta de uma tentativa de fuga malsucedida.
Carmem escutava com atenção.
-- Chamaram todos os internos e residentes para ajudar, e quando eu cheguei ao pronto socorro, eu o vi deitado em uma maca. Ele estava machucado, muito magro, e tinha muito sangue no peito.
Carmem segurou as mãos da filha para lhe encorajar a falar. Carolina narrou os momentos que passou ao ver o homem que lhe atormentou por tantos anos em sua frente novamente, mesmo morto, ele despertava o pior dos sentimentos em Carolina.
Carmem a observava, estava nervosa, apreensiva, ficou triste por Carolina ter que passar por isso sozinha, encontrar o pai sem esperar no local de trabalho.
-- Eu não sei se eu estou certa ou errada, mãe, mas eu fiquei aliviada por ele estar morto. – Começou a chorar novamente – Ele era o meu pai, mas eu odiava aquele homem.
Carmem a abraçou e a puxou para seu colo, acariciava seus cabelos e a apertava forte. Queria que Carolina soubesse que não estava sozinha.
-- Minha filha, não há nada de errado nisso, ele te fez mal, ele não foi um bom pai pra você, é normal se sentir assim, não se culpe, ele era doente, e não você.
-- Foi muito difícil olhar para ele depois de tanto tempo. Eu estava com medo dele sair da prisão e vir atrás de nós. Eu tenho certeza que ele pensava em nos matar.
-- Mas graças a Deus isso não aconteceu, então deixa isso passar, acabou, tudo aquilo acabou, está no nosso passado. Não fique pensando muito nisso. Agora eu entendo porque você chegou cedo. – Beijou a cabeça da filha – Vem comer alguma coisa, eu vou fazer um lanche pra você.
Carolina levantou com certa dificuldade, e sentou-se na cozinha com sua mãe, ela preparou um sanduiche de queijo branco e fez um suco para a filha, as duas conversavam sobre o que aconteceu e Carlos chegou em casa da farmácia.
-- Mãe!
-- Na cozinha!
O rapaz entrou no cômodo e viu a irmã sentada, olhou o relógio e se espantou ao perceber que era muito cedo para encontrá-la.
-- Chegou mais cedo hoje? – beijou sua testa –
-- Sim, eu passei mal.
-- O que você tem? – Beijou a mãe – Sua benção mãe.
-- Deus te abençoe meu filho.
-- Senta aí, que precisamos conversar. – Carolina olhou apreensiva para o irmão --
Carlos olhou para as duas, o tom de voz de Carolina não estava amigável, sabia que algo errado estava acontecendo.
Carolina explicou o que aconteceu com Nelson, a experiência ruim que teve à tarde no hospital. Carlos ficou abismado com os acontecimentos, mas ao mesmo tempo aliviado com a morte do padrasto.
-- Deus que me perdoe, mas eu dou Graças a Ele que esse homem saiu definitivamente das nossas vidas.
-- Não devemos desejar o mal a ninguém meu filho. – Carmem repreendeu –
-- Não desejei, mas não vou mentir que fiquei aliviado.
-- Eu também fiquei. – Carol respondeu –
-- Mas que azar hein, irmã, justo no seu plantão!
-- Irmão, se bater na madeira afasta o azar, depois dessa eu vou precisar desmatar a Amazônia na base da porr*da. – Riu cansada –
Carlos acabou rindo da irmã, que apesar de tantas dificuldades ainda conseguia encontrar um pouco de bom humor dentro de si. Carolina realmente era uma pessoa iluminada.
-- O que vamos fazer? Ele tem que ser enterrado. – Carolina estava preocupada –
-- Eu sei. – Carlos estava pensativo –
-- Eles devem ligar pra irmã dele? – Carmem terminava de fazer a janta –
-- Eu só não queria voltar ao hospital sabendo que ele ainda está lá. – Apoiou a cabeça em uma das mãos –
-- Você não precisa se preocupar, ele não vai mais fazer nada com você. – Carlos a abraçou –
-- Eu sei, mas ele ainda me dá arrepios.
O telefone da casa tocou e todos se olharam, sabiam que poderia ser sobre Nelson. Carlos que já estava de pé atendeu. E não teve dúvidas, era da penitenciaria informando formalmente que Nelson havia falecido em uma tentativa de fuga naquela manhã, era apenas uma formalidade da justiça.
A irmã de Nelson ligou logo em seguida para dar a mesma notícia, imaginando que a família ainda não soubesse, e informou o lugar e o horário do enterro, Carmem agradeceu, mas não quis ir, Carolina e Carlos também se recusaram, eles queriam apenas enterrar junto com aquele homem todo o medo e toda a dor que ele havia causado naquela família.
Carolina viu a pior fase da sua vida ser finalmente deixada para trás, mais uma etapa difícil que ela estava passando, em menos de um ano, perdeu o irmão e o homem que lhe deu a vida, mas que nunca foi realmente seu pai.
Carolina nunca se permitiu fraquejar, se mostrava forte para não piorar o sofrimento de sua mãe, ela e Carlos faziam de tudo para cuidar dela e um do outro, os três se amavam e esse amor a fazia levantar todos os dias para seguir em frente e perseguir seu sonho. Não era fácil, mas ela não iria desistir.
Fim do capítulo
Oi meninas
Capítulo novo, chegou mais cedo, mas no dia certinho.
A vida cobrou o preço das excolhas de Caio e Nelson, e a vida deve seguir o fluxo. Carolina deve se mostrar forte para ajudar a mâe a superar a perda do filho do meio, mas quem cuida dela?
Espero que gostem.
Obrigada pelo carinho , Lis , Mille e NovaAqui.
Beijos
Cris Lane
Ps.: Amor, minha Lu, eu amo você!
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Zaha
Em: 29/11/2018
Olha eu de novo, amiga?!!!
Mais acontecimentos do passado de Carol!
Finalmente soubemos notícias de Caio, parecia que ia se safar, mas o menino decidiu n aceitar a ajuda, n podemos ajudar quem n quer e deu no que deu, o caminho que era esperado, mas sempre temos esperanfas, n?!
Ao menos, nessa bagunça toda, temos Nelson que faleceu, n devemos desejar o mal, mas foi um alívio pra Carol, ninguém merece viver com medo. Agora ele não pode mais fazer mal, apesar que só Carol pode soltar a dor, o sofrimento psicológico que ainda lhe causa, só o fato de falar sobre o assunto. Acho que faz parte TB do pq n saiu do cama ainda. Tantas dores pra soltar..
Roberta a chatilda apareceu, menos chata, ainda bem! Bem, que bom que aconteceu isso do Caio, assim elas voltaram a se falar e as duas se ajudaram mutuamente. Roberta vai poder melhorar sua saúde. Um absurdo esse preconceito, cada coisa temos q escutar ou ler..nem parece q tamos quase em 2020..
Será q esqueci algo?rs.
Só sei q cada vez q leio um cap novo só vem tragédia kkk. Na próxima Vc vai ter q compensar MT, amiga!! Pode dar uma de lei de ação e reação, de carrasco, de Cruela...vai, aproveita essa vida!!!
Beijão
Resposta do autor:
Oi Lai.
Sim, no caso de Caio, foi uma consequência do caminho que ele escolheu, é um caminho sem volta para muitos, infelizmente.
Assim como também foi o caso do Nelson, realmente não é o caso de desejar mal, mas sim de desejar paz, e nesse caso a morte dele trouxe paz para Carol.
Carol está meio que exorcisando seus fantasmas nessa viagem ao seu interior, no final ela deve pesar se vale a pena voltar ou se vai se entregar, vamos ver o que acontece.
Você não gosta mesmo da Roberta, né, rsrsrs. Ela voltou sim, mais maduras, elas estão conseguindo deixar as mágoas para trás e reatar a amizade, e sobre o preconceito, ele é mais atual do que podemos imaginar.
Não é questão de ser tragédia, são as lutas da vida, e a ideia é mostrar que mesmo com tantos percalços, somos fortes e temos condições de lutar e vencer, essa é a mensagem.
E não sou Cruela, rs.
Beijo
Cris
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Sem cadastro
Em: 29/11/2018
Olha eu de novo, amiga?!!!
Mais acontecimentos do passado de Carol!
Finalmente soubemos notícias de Caio, parecia que ia se safar, mas o menino decidiu n aceitar a ajuda, n podemos ajudar quem n quer e deu no que deu, o caminho que era esperado, mas sempre temos esperanfas, n?!
Ao menos, nessa bagunça toda, temos Nelson que faleceu, n devemos desejar o mal, mas foi um alívio pra Carol, ninguém merece viver com medo. Agora ele não pode mais fazer mal, apesar que só Carol pode soltar a dor, o sofrimento psicológico que ainda lhe causa, só o fato de falar sobre o assunto. Acho que faz parte TB do pq n saiu do cama ainda. Tantas dores pra soltar..
Roberta a chatilda apareceu, menos chata, ainda bem! Bem, que bom que aconteceu isso do Caio, assim elas voltaram a se falar e as duas se ajudaram mutuamente. Roberta vai poder melhorar sua saúde. Um absurdo esse preconceito, cada coisa temos q escutar ou ler..nem parece q tamos quase em 2020..
Será q esqueci algo?rs.
Só sei q cada vez q leio um cap novo só vem tragédia kkk. Na próxima Vc vai ter q compensar MT, amiga!! Pode dar uma de lei de ação e reação, de carrasco, de Cruela...vai, aproveita essa vida!!!
Beijão
Resposta do autor:
Oi Lai.
Sim, no caso de Caio, foi uma consequência do caminho que ele escolheu, é um caminho sem volta para muitos, infelizmente.
Assim como também foi o caso do Nelson, realmente não é o caso de desejar mal, mas sim de desejar paz, e nesse caso a morte dele trouxe paz para Carol.
Carol está meio que exorcisando seus fantasmas nessa viagem ao seu interior, no final ela deve pesar se vale a pena voltar ou se vai se entregar, vamos ver o que acontece.
Você não gosta mesmo da Roberta, né, rsrsrs. Ela voltou sim, mais maduras, elas estão conseguindo deixar as mágoas para trás e reatar a amizade, e sobre o preconceito, ele é mais atual do que podemos imaginar.
Não é questão de ser tragédia, são as lutas da vida, e a ideia é mostrar que mesmo com tantos percalços, somos fortes e temos condições de lutar e vencer, essa é a mensagem.
E não sou Cruela, rs.
Beijo
Cris
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lis
Em: 28/11/2018
Boa noite Cris, tudo bem? Desculpe não comentar antes, mas como disse a vc final de faculdade ta osso viu, poxa fico triste pelo Caio mas como diz o capitulo ele pagou o preço de suas escolhas, como a Roberta e o pai da Carol tb, infelizmente isso acontece muito aqui no Brasil a pessoa faz o que ele fez e ainda consegue indunto para sair da prisão, aidna bem que no caso dele a Roberta conseguiu reverter, ele teve o que mereceu por agir como fez com sua familia. Carol como sempre guerreira sem se deixar mostra fraqueza
Resposta do autor:
Oi Lis
Eu sei bem como é, também estou no fim da facul, está perdoada, rsrs.
Exatamente, quis mesmo enfatizar que tudo que acontece em nossa vida tem a ver com nossas escolhas, tanto para coisas boas como ruins, as vezes as consequências são irreversíveis como aconteceu com os três, Roberta tem uma segunda chance pelo menos.
Obrigada pelo carinho.
Beijos
Cris Lane
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Mille
Em: 21/11/2018
Olá Cris
O Nelson teve o que mereceu eu acho que poderia ter sido mais perverso com ele mais creio que na cadeia ele teve um tratamento especial. Assim imagino.
Carol sempre dando apoio e sendo forte ela precisa sim de alguém para amparar suas dores e se ela se permitisse ter uma pessoa especial e não a Sam.
Vamos aguardar o que ainda irá acontecer com ela.
Caio infelizmente morreu.
Bjus e até o próximo capítulo
Resposta do autor:
Oi Mille
A vida cobra o preço do que fazemos, e isso serviu tanto para o Nelson, quanto para o Caio, já que a morte veio para os dois como consequências de escolhas ruins.
Carol sempre forte, realmente precisa de alguém que cuide dela, será que ela vai encontrar?
Obrigada pelo carinho.
Beijo
Cris Lane
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NovaAqui
Em: 21/11/2018
Menos um estojo na vida de Carol
Só falta de livrar da Samantha
Pelo menos a família pode enterrar Caio
Abraços fraternos procês aí!
Resposta do autor:
Oi NovaAqui
Pois é, agora Carol pode respirar aliviada, ele pagou o preço que a vida cobrou, assim como Caio, mas ele pelo menos pôde ter sua despedida.
Agora só falta se livrar da Sam, rsrs. Pois é, vamos ver...
Obrigada pelo carinho.
Beijo
Cris Lane
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