AnaLu

Luiza estava ali. Eu senti antes mesmo de tê-la visto. Ela deveria voltar apenas semana que vem. “Por que ela voltou mais cedo? Por que ela está aqui na minha casa?”. Eu não queria me machucar, mas estava nítido e parecia um letreiro piscando “POR SUA CAUSA, ANALU ANTA!”.

Fechei os olhos quando senti o seu perfume passar por mim e adentrar da varanda para dentro da casa. Olhei para suas costas e seu rebol*r mexeu comigo. Ela não me reconheceu. Certeza que não.

Enquanto Lucas dava a sua tacada eu tiro as minhas roupas, deixando-as em cima de uma cadeira, ficando apenas com o biquíni. Eu só conseguia pensa que ela voltou por mim. “Caraca, por que não me enviou uma mensagem? Tempo para responder conversinha com a tal Lorenza ela teve!”.

Eu estava completamente cega pelo ciúme. Completamente. Pode ser criancice, imaturidade.... pode. Mas não consigo me sentir diferente. Eu estou muito machucada. O jogo continuou e eu já não prestava mais atenção ao que acontecia no tapete verde.

Ouço o barulho da porta e novamente sinto o seu perfume tão característico. A vontade que eu tinha era de me virar e toma-la nos meus braços, subindo as escadas e trancando-a no meu quarto. Sair de lá só quando tudo fosse esclarecido. Mas e o que eu faço? Tudo ao contrário. “Tá fazendo merd* AnaLu. Tá fazendo merd*!”. Parecia que eu ouvia voz da AnaBea dentro da minha cabeça falando.

— Tá fazendo merd* AnaLu. – quase me caguei de susto quando minha irmã falou ao meu lado.

— Puta que pariu viada! Quase pari um filho agora! Não faz assim, aparecer do nada! – falei baixinho só para ela ouvir.

— Para de fingir que não viu a Lu! Vai lá e conversa com ela! Parece criança! – ela olha para onde Luiza está sentada e tive que seguir o seu olhar. A mulher da minha vida estava com uma cara de cansada, mas nem por isso menos linda. No seu colo Heleno completamente reformulado. Parece que Heleno foi para aqueles programas de cirurgia plástica que arrumam gente torta, tá ligado? Que transformam as pessoas feias em... feias arrumadas... então... Heleno estava assim. Continuava um ursinho feio, mas agora arrumadinho.

Quando Luiza vê que estamos olhando para ela, levanta e sorri. PARA TUDO. Que sorriso é esse caraleoooo. É aqueles sorrisos de propaganda de pasta de dente. Tudo no lugar perfeito! Branco que chega a refletir a luz! Também ela tem que cuidar da aparência porque tá sempre fotografando e não usa photoshop, lembrei quando eu vi uma revista uma vez que a modelo não tinha umbigo, usaram tanto photoshop na mulher que esqueceram de colocar o umbigo de volta, que nome estranho umbigo, por que umbigo né, será que é por ser só um? Tá aí... se fosse dois seria doisbigo, três tresbigo e assim por diante... tem gente com umbigo tão feio, FOCO ANALU FOCO... Respirei fundo e percebi que estava próxima a ela, tinha me despedido do pessoal e me aproximado dela como um imã.

— Oi, tia Lu. – falei e notei que a minha voz parecia a voz do Batman. Como se saísse de uma caverna. “Que merd* é essa?”.

— AnaLu, bora brincar de Marco Polo? Tia Lu! – Lucas chegou e vi que a Luiza ficou com uma cara séria – Como a senhora tá, tia?

— Bem.

— Meu pai vai enlouquecer quando souber que a senhora tava aqui. Quando ele era adolescente ele tinha uma foto sua no quarto. – Olhei paro Lucas e quase dei uma risada. Pai é? Ele quer é falar pro bofe novo que, pelo que ele me contou, é bi.

— Vai indo que eu já vou, Lucas.

— Esse é o Lucas? Mas ele não era gordinho?

— Adolescência faz isso com as pessoas. – olhei para ela e a foto dela abraçada na loira me veio à cabeça novamente. As legendas. As trocas de mensagens. A raiva e a tristeza voltaram do nada. - Fala, Luiza, quer alguma coisa? A galera tá me esperando...

— Eu vim te trazer o Heleno. – peguei meu velho companheiro de tantas histórias, cirurgias da AnaBea, batalhas, viagens...

— Tá lindão. – ele tava mesmo. Feio, mas lindo.

— Você também, esse cabelo... quer dizer...- fala Lu, diz o que eu quero ouvir. Ficamos por alguns momentos em silêncio e ela apenas me olhava.

— Mais alguma coisa? – Lu por favor, fala... me explica... me diz... me conta...

— Não.

— Ok, Lu. A gente se vê. – peguei Heleno e sai de perto dela sem esperar a sua resposta. Eu tô cansada de correr atrás. Parece que a adolescente é a Luiza. Velho, eu sempre dou o primeiro passo. Sempre. Tô cansada. Machucada. Triste.

Luiza

Fiquei olhando as costas da minha menina cada vez mais longe. AnaLu pega o ursinho com cuidado e o coloca em uma espreguiçadeira, se jogando na água logo em seguida. O barulho que aquela garotada fazia estava me dando dor de cabeça. Uma garota não parava de agarrar o pescoço da AnaLu dentro d´água e sempre dava um jeito de ficar se roçando nela.

— Vai ficar parada que nem um fiscal de trânsito até quando Luiza? Parece aqueles bonecões de posto! Pelo menos senta. – AnaBea me entrega um copo com suco que eu bebo em um só gole. Noto que estava em pé no sol há quase meia hora.

— Eu... eu vou embora Beazinha.

— Lu, quando vocês duas vão ser adultas e vão se resolver?

— Eu...

— Ai Luiza, sabe o que mais. Cansei! Mulher de DEUS! O que mais a minha irmã tem que fazer para você tomar uma atitude?

— Eu... eu...

— Você vai perder a mulher da tua vida, e quando acordar vão ter se passado 5... 10... 15 anos... AnaLu vai estar belíssima e plena e você? – sim, eu vou estar horrorosa com tudo caído.

— Eu...

— Tá Lu, tô exagerando. Se eu pensar na vovó você será tão ou mais linda que ela... mas Lu... você vai ficar esse tempo todo andando em círculos procurando algo que está ali naquela piscina mas que queria mesmo estar num quarto fechado com você. Se você tivesse tomado uma atitude...

— Eu tô aqui...

— E vai esperar que tudo caia do céu como sempre? Poxa Lu? Você não luta por nada? Pelo que você lutou na sua vida? Lutou de verdade? Acorda, você tem que dar o primeiro passo... aproveita que a casa está vazia.

— Como vazia? – falei apontando o monte de gente.

— Vovô e a vovó estão no haras. Mamães em Búzios. João com Sofia. Eu posso muito bem ir pra Summer. AnaLu fica sozinha até domingo.

— Tem certeza? – uma chama de esperança começou a se acender dentro do meu peito.

— Absoluta.

AnaLu

A baderna, como tia Edi falou, foi até tarde da noite e acordei tarde na sexta-feira. Fui a praia tomar uma água de coco no Zé e fiquei até umas três horas por lá. Quando cheguei em casa estranhei o silêncio, mas encontrei um bilhete da AnaBea que dizia que tinha dado folga para tia Edi e que ela iria passar o final de semana na Summer que era para eu me virar com comida.

Fiquei tranquila porque a folga para tia Edi era mais do que merecida, mas meio chateada por AnaBea não me chamar para ir com ela. Pensei na Luiza e em como ela ficou me olhando ontem enquanto eu estava na piscina. Ela me olhava com um olhar onde tudo estava misturado... eu conseguia perceber nitidamente desejo, tristeza, ciúmes... Precisamente as mesmas coisas que eu sentia. Mas ela ficou ali... parada... sozinha... me olhando... só me olhando, sem fazer nenhuma menção em falar comigo, me puxar para um canto, me agarrar, me arranhar, me beijar na boca, com paixão... “Ahhhh como eu queria!”. E de repente ela não estava mais ali. AnaBea disse que ela teve que ir para São Paulo às pressas...

Olhei para os pugs aos meus pés e Jurema que abanava aquele rabo e passava nas minhas pernas. “Ah safada, se você acha que vou te dar carinho... tá muito certa porque eu sou dessas!”. Peguei aquela gata traidora com cuidado, porque não dá para vacilar e fiz carinho na sua barriga.

Como havia comido alguma besteira na praia não estava com fome. Depois do banho coloquei uma calcinha boxer e um camisetão, indo para a sala de TV. Passaria a noite vendo séries em 4k. Os pugs, logicamente, me acompanhavam.

Era umas 8 horas da noite e me chamaram para uma emergência na casa da Luiza. Parece que a piscina estava transbordando e não sabiam onde era a válvula de escape. Tentei explicar para o pobre homem que não entendia onde era que tinha que abrir. Mesmo a contragosto fui eu mesma até a casa da Lu, porque sei que iria dar um problemão depois ter que arrumar o telhado por causa da infiltração e essas coisas aí. Tô me achando agora aquelas velhas que ficam falando das goteiras da casa. Comecei a rir.

O senhorzinho que me acompanhava falou que pegaria um balde na dispensa e que era para eu subir sozinha. Subi até o último andar e entrei na porta que dava para a área descoberta da piscina privativa da Luiza. Estava tudo escuro e quando me aproximo vejo que a piscina estava normal e funcionava perfeitamente. Fico parada olhando em volta e vejo que as espreguiçadeiras foram tiradas dali para dar lugar a nada mais do que... AREIA... sim... AREIA... fina, branca... como areia da praia... mas como foi parar ali.

Por fim, a luz interior da piscina se acende iluminando o lugar e noto, no lado direito da piscina, uma mesinha simples, com uma decoração singela... ando até lá sorrio ao ver que tudo aquilo era uma réplica... uma imitação de uma cena... a minha preferida de todas as que a Luiza já fez.

— Olhi minina... eu não sou letrada como tu visse... – “Caraca mano! Ela tá encenando a parte da minissérie em que ela se declara pro mocinho”. A minissérie que eu amava. Luiza ganhou o prêmio Emmy pela sua atuação. Ela era uma pescadora, simples e cheia de fibra. Andava sempre de pés no chão e com um vestidinho curtíssimo! Eu me viro lentamente e a emoção toma conta de mim. Luiza era a Flor. Flor era a minha Luiza.

— Lu...

— Flor... – ela disse se aproximando e ficamos frente a frente. Nossos olhares presos um no outro como dois prisioneiros invisíveis, nossos corações batendo como um só, nossa respiração parecia que era a mesma... ela pega a minha mão. – Visse... eu nãos sou letrada como tu visse, nem sei falar essa montuera de palavra bunita... mas aqui dentro – ela sobre nossas mãos colocando no seu coração – tem um coração que bate só por ti. – eu sabia o que aconteceria depois, porque vi inúmeras vezes essa cena me imaginando no lugar do ator.

Fecho os olhos o que não demora a vir. A boca da minha mulher, do meu amor, da minha Luiza... me tomando, invadindo, sugando... eu abro espaço e a aperto em meus braços. O gosto dela me invade inebriando meus sentidos, a saudade... Porr* que saudade. Ela agarra meu seio com uma mão e com a outra espalma a minha bunda, enchendo a mão, enfiando os dedos entre as bandas... desesperada, em fogo... eu não estava atrás, me sentia da mesma maneira. Só que não podia ceder agora... a gente precisava conversar.

— Lu, espera. – falei enquanto retomava o fôlego e segurando as suas mãos atrevidas com delicadeza. Uma delas escapa das minhas e vai direto para a minha bucet*, a qual ela espalma possessivamente dando um leve apertando, como se mostrasse: MINHA. Ela gem* sofridamente e cola nossas testas. Respiramos várias vezes para nos acalmarmos. Ela me olha carinhosamente e retira o cabelo da minha testa, colocando de volta no topete estiloso.

— Senta Ju. Preparei para você. – olho para o lado e vejo que tem uma cesta cheia de potes. Levanto uma sobrancelha em interrogação. Luiza Nadge cozinhando? Nunca! – É só sanduiche – começamos a rir, me lembrei quando ela conseguiu queimar uma sopa, sim... Luiza foi esquentar uma sopa para tia Alex e incinerou a coitada da panela, deu perda total. - Isso eu sei fazer – ela abre um dos potes e me mostra e tem suco. É de caixinha. – ela colocou o sanduiche no meu prato com cuidado, vi que ela tirou as bordas do pão como eu faço e usou ricota. Eu servia o suco e sorria para ela. Sei que para a Luiza, fazer um sanduiche, era um evento, e não me admiro se não tem várias panelas sujas lá embaixo.

— Obrigada, tá ótimo. – ela sorriu para mim como se eu tivesse a elogiado demais. Eu estava encantada. Ela fazia tudo para me agradar e eu estava amando.

— Ju... – ela pega minha mão por cima da mesa. – me desculpe. – começo a soluçar como um bebê querendo mamar. As lágrimas corriam pelo meu rosto sem eu conseguir segurar. Luiza também chorava e se levantou e sentou no meu colo, com uma perna em cada lado das minhas pernas. – Não... não chora... olha para mim... AnaLu... amor...

— Você... me... machucou... – e chorava, como nunca antes. Eu estava ali completamente nua na frente dela, sem nenhuma máscara.

— Eu... eu sei... eu fui estúpida, ridícula, infantil, medrosa, eu disse estúpida....

— Não fala assim de você que eu não gosto! – falei limpando o rosto.

— Ju... eu amo você... só você... só você... – ela pega meu rosto me beijando e fazendo eu a olhar. – Eu nunca amei ninguém como eu te amo. NUNCA. Alex, sua mainha... ninguém... – comecei a chorar de novo e coloquei meu rosto na curva do seu pescoço...

— Doeu tanto...

— Ai... – ela aperta seu corpo no meu e eu me agarro nela, suas unhas, agora curtas roçam a minha nuca quase raspada. – Eu fui uma estúpida, uma estúpida... eu devia te proteger... e fui eu que te feri.

— Por que você demorou tanto Lu?

— Medo... medo bobo. AnaLu eu me dei conta que você é a Flor. Você é simples, ama a natureza, ama estar assim – ela olha para cima – embaixo desse céu estrelado. A Julietta foi a gota d´água. Eu via como você ficava ressentida com os paparazzi. Eu não quero que você deixe de viver a sua vida, sua vida do jeito que você quer por minha causa...

— Luiza... Puta que pariu Luiza. Você tá falando com a neta de um dos maiores juízes do país que desde sempre é ameaçado de morte, e que a mãe era da Interpool e agora tem uma empresa de segurança e o caralh* a quatro. Eu nasci com alguém 24horas por dia na minha cola. Nesse momento, tem pelo menos três seguranças que sabem onde eu estou... eu nunca estou sozinha. E você vem me falar de que eu estava ressentida?

— Mas cada vez que apareciam os repórteres você....

— A repórter porr*.... aquela ridícula, cara de pato, botoxada, que se espirra o peito salta fora e tem que buscar na lua, aquela italiana Giovanna sei la de que... eu morro de ciúme daquela mulher, porque ela fica te pegando, te tocando, tirando lasquinha...

— Puta que los pariu, sério?

— Para de ser tansa Lu, mas que sério. Ela até apertou tua bunda na última vez...

— Aí Ju... – ela ficou séria e lembrou de quando a repórter a entrevistou. - que idiota que eu fui.

— Lu, e agora cara... porque não me mandou mensagem... porr* Lu... achei que tinha te ganho com o Heleno.

— Eu queria fazer surpresa, fui burra... devia ter mandado mensagem.

— E aquela loira da foto? Toda cheia de amor pra dar?

— Foi ela que fez eu ver o quanto tempo eu estava perdendo em te deixar. Eu te amo! TE AMO! EU TE AMO ANA LUIZA – ela gritava para os céus e eu a olhava sorrindo como uma boba! Minhas mãos seguravam a sua bunda.

            — Flor...

— Eu te prometi não prometi? Lembra que você disse que era uma das suas fantasias?

— Aham... – comecei a beijar seus seios sobre o tecido fino do vestido. Deixando-os sensíveis.

— Ju...

— Uhm... – disse ch*pando forte seu mamilo duro.

— Quando você soube que me amava?

Quando eu soube que eu amava a Luiza? Quando? Lembranças da infância me vieram a cabeça. Lembranças singelas. Amor incondicional. Adoração. Amor doce. Minhas mãozinhas percorrendo seu rosto. “Como você é bonita tia Lu”. Heleno. Cuidado. Meu e dela. Quando quebrei o braço no skate com 8 anos que ela interrompeu as filmagens de um longa só para ver realmente se eu estava bem. “Quando eu crescer vou casar com você tia Lu”.  Nunca ficamos muito tempo longe uma da outra. Nunca. Ela fazia Jake vir me buscar. Adoração. Amor livre. Amor. Adolescência... tesão... a primeira vez que me masturbei pensando nela fiquei morrendo de culpa, mas aos poucos fui entendendo que era ela, só ela, sempre foi ela... eu sou dela... eu nasci para ela... e quando eu aceitei isso tudo ficou mais fácil.

— Desde as outras vidas Lu, desde as outras vidas.

Fim do capítulo