AnaLu

Eu caminhava devagar, mas meu coração estava aos pulos. Tranquei a porta de acesso para a pequena piscina privativa que existia na cobertura da casa da Luiza. Quando eu vi que ela estava deitada tomando sol apenas com a parte de baixo do biquíni, com os seios à mostra... a minha boca começou a salivar. “Caraca, tia Alex era gênia por fazer essa parte privativa para elas tomarem sol a vontade!” 

Fiquei completamente nua pelo caminho entre a porta e onde estava meu objeto de desejo. Luiza ouvia alguma coisa nos fones de ouvido e não me ouviu se aproximar. Fiquei parada por alguns instantes a observando... os seios com os mamilos rosados, durinhos devido ao vento que soprava por ali, as gotículas de suor que se dispersavam pelo vale entre os seios deviam deixar a sua pele com um gosto levemente salgado... 

Sem conseguir me conter eu abaixo e coloco as mãos, uma de cada lado do seu corpo que estava alojado confortavelmente numa espécie de esteira acolchoada. Deixei meu corpo suspenso sem tocar nos seu seios direito.

— AnaLu, o que...? – ela exclama.

— Cala a boca, Lu. Eu não aguento mais esperar. – por fim, largo meu corpo sobre o seu, minha perna entre as suas.

Eu passo o meu rosto inteiro pelos seus seios como se estivesse matando a saudade daqueles mamilos, daquele cheiro... daquela pele... ela puxa meu cabelo e beija a minha boca intensamente... eu me perco nos seus lábios... sinto seus dedos no meu sex* e eu gemo... gemo.... gemo seu nome... - Ai, Lu...

             — AnaLu, se você gem*r mais uma vez te jogo um balde de água gelada! – acordei com a voz da AnaBea e vejo que adormeci enquanto estávamos vendo séries na TV do meu quarto.

Sabrino, Valdir e Dóris roncam ao nosso redor, cada um deitado perfeitamente instalado em cima das nossas pernas. “Por isso que eu estava com dor!”. Me levanto e vou até a cozinha pegar um pouco de sorvete para nós duas. Luiza ainda deve estar voando. Só de pensar nela me dá uma sensação boa e ao mesmo tempo ruim por saber que não posso beija-la, abraça-la ou só ficar a seu lado a vendo desenhar.

— Até quando vai ficar de frescura com o neguinho? – disse para minha irmã quando entreguei seu pratinho com sorvete.

— Ah, mana, pára. Já te expliquei, não faz eu me sentir pior! – ela já havia me falado que achava que Jorge não era o grande amor de sua vida.

— Tá, desculpa, cabeção! Caraca, tive uma ideia ótima! Por que você não vai pro lado sapo da força?

— AnaLu, eu não curto meninas.

— Como você sabe se nunca ficou com nenhuma.

— Eu não sinto tesão.

— Mas eu lembro que você lia umas paradas de conto lésbico que tinha umas putarias iradas no meio. – AnaBea fica vermelha. – Viu? Então, o que eu to te falando não é para você sair dando para lagoa inteira. Dá uns beijinhos. Como também dá uns beijinhos em meninos. Mas pra isso, Ana Beatriz, mana sua loka, tem que ir pra pixta e sair! E não ficar em casa vendo série com a irmã solteirona.

— Ah sim, bem solteirona mesmo que você é.

— Pede pra Summer te levar pra balada!

— Tá, vou pensar..., mas agora vamos terminar de ver o episódio?

Luiza

Dentro do carro eu pego meu celular e mando uma mensagem para o telefone que está no cartão. Dra. Lorenza Romagna -  Marruá Genética Animal. “Oi, esse é o meu telefone. Agora você pode jogar na cara do seu melhor amigo que tem meu número privado. Obrigada novamente pelas dicas e pelas gargalhadas! Com certeza visitarei seu Mato Grosso do Sul! Beijo, Luiza.”

Já no quarto do hotel fui direto me refrescar e tirar a nhaca de aeroporto e avião. Ficar respirando o mesmo ar que dezenas de pessoas por horas seguidas não é nada agradável. Quando a gente vê aqueles filmes as pessoas lindas e maravilhosas desembarcando de voos longos é tudo mentira. A realidade é chubasa, minha gente! Chulé, bafo e asa!  Só acontece quando se tem um jatinho onde se pode dormir decentemente e tomar banho. Como o meu. Só que eu fui inventar de emprestar para o meu melhor amigo, para que ele voltasse a falar comigo e acabei me fudendo bonito. Tendo que aguentar um voo comercial. “Puta que los pariu Luiza! Até parece que não foi divertido ter ficado conversando com a Lorenza!”. Acho que eu to ficando louca porque ando conversando comigo mesma, e o pior que ando respondendo.

Saí do banheiro e abri a minha mala tirando de lá minha nécessaire. Voltei novamente e abri a pequena bolsinha encontrando dentro dela um MP4 onde estava escrito “ME ASSISTA”. Não consegui conter o sorriso e terminei o que tinha que fazer no banheiro e corri para a minha cama jogando de qualquer jeito minha mala no chão e seu conteúdo. Meu olhar é fisgado por algo que sai rolando e vai para debaixo da cama. Me ajoelho e pego o objeto quando reconheço já com lágrima nos olhos: HELENO.

O bichinho de pelúcia que, em algum momento da sua vida foi um ursinho, foi ganho por Alex em um brinquedo de tiro no Pier de Santa Mônica quando as meninas tinham 5 anos e foram nos visitar em Los Angeles. Lógico que AnaLu se encantou com o urso e andava com ele para todos os lugares. Se vermos as fotos das meninas de até uns 10 anos de idade, Heleno está lá firme e forte.

Heleno é um guerreiro. Passou por inúmeras cirurgias feitas pela AnaBea e sobreviveu, por isso sua aparência de hoje. Pelo que vejo foi implantado algumas partes de outros bichos de pelúcia que não são originais... ele deve ter perdido em alguma batalha. Heleno também é um cara extremamente viajado. Quando as crianças eram pequenas eu não conseguia ficar menos de um mês sem vê-las. Alex muitas vezes brigava comigo por isso, mas sempre cedia.

Quando eu precisava me ausentar por mais tempo, AnaLu, não sei como ela conseguia isso, escondia Heleno “o viajante” dentro da minha mala sempre com uma cartinha, dizendo que ele me protegeria e que se eu ficasse com muita, mas muita saudade dela, que eu o abraçasse muito forte que ela iria sentir e me abraçaria de volta.

Sinto meu pescoço encharcado pelas lágrimas que caiam livremente dos meus olhos. Deitei Heleno “o protetor” no meu travesseiro e remexi nas minhas coisas encontrando a parte que faltava.

“Minha LuLu,

 Sim, minha. Minha Luiza.

 Você sempre foi minha. 

 Mesmo quando eu não havia nascido eu tinha certeza que deveria estar em outro plano cuidando de você. 

 Mesmo quando você foge, você é minha.

 Mesmo você negando, você é minha.

 Mesmo você falando todas aquelas palavras que foram como facas me apunhalando, você é e sempre continuará a ser minha.

 Mesmo com o seu MEDO.

 Mesmo com a sua NEGAÇÃO.

 Mesmo que o mundo acabe, você é minha.

 Como eu sou tua e sempre fui.

 Por que é tão difícil você realmente aceitar isso? Nós duas nos completamos. 

Eu continuo aqui, por que você continua aí?

Esperando você cruzar a porta.

Sua Juju.”

            Peguei minha bolsa e joguei tudo o que tinha dentro em cima da minha cama procurando desesperadamente meus fones de ouvido. “Puta que los pariu! Deixei no avião!”. um fone de ouvido. Olhei dentro da mala para ver se não ficou em nenhum lugar e não tinha a PORRA DE UM FONE DE OUVIDO!!! Peguei o telefone da mesinha de cabeceira e liguei para o Jake perguntando se ele tinha um para me emprestar. O coitado deveria estar dormindo e se prontificou em ir comprar um para mim. Falei que podia ser um dele mesmo. Fiquei andando com Heleno pelo quarto inquieta até que ouço uma batida na porta.

— Aqui está, senhora Luiza. – o homenzarrão me entregou os fones e sorriu. – É o Heleno? – apenas confirmei para ele fechando a porta, claro que agradeci a gentileza.

            Corri para a cama abraçada em Heleno “o fofo” e pluguei o MP4 no fone. Procurei meus óculos de leitura porque PUTA QUE LOS PARIU, aquela tela era pequenina demais. Dei o play e apareceu AnaLu sorrindo para mim sentada na sua cama vestindo um dos seus camisetões que a deixam com o ombro de fora aparecendo a tatuagem. “Como eu amo!”. Dei a pausa e fiquei olhando o rosto daquela menina mulher.

— Viu como ela ficou linda, Heleno? – olhei para o boneco feio todo cheio de “cicatrizes” de batalha. – Ela sempre foi, você tem razão. Heleno “o sábio”. Ana Luiza sempre foi linda por dentro e por fora. Sempre.

Me deitei com Heleno no meu braço e fiquei com pena do pobre. Coloquei um dos fones em uma orelha dele para também escutar.

— Não acostuma. – Cheirei ele. – Amanhã você vai tomar banho. Tá com cheiro de mofo.

Apertei o play novamente e ela começou a falar. “Espero que você entenda o recado. Eu vou ficar quieta no meu canto vivendo a minha vida como sempre foi e como eu sempre fiz.”  Apertei a pausa de novo.

Ok. Entendi o recado. Ela vai seguir em frente se eu não fizer nada. Se eu não der o próximo passo. Se eu não for atrás.

— Que grande merd* né Heleno? Eu fiz a maior cagada da minha vida! Puta que los pariu! – olhei para ele – Não adianta me olhar com essa cara de recriminação, já tá feito! – fiquei novamente encarando o ser encardido zarolho sem um pedaço da boca. – Você tem razão Heleno. É isso mesmo o que eu vou fazer.

Apertei novamente o play e volto minha atenção para AnaLu que pegou o violão e começa a cantar uma música que sempre gostei. N.A: Ouça Ai Amor – AnaVitória Ouça https://www.youtube.com/watch?v=rOemX8-L2CI

♫ Ei, fiz questão da promessa lembrar

Tu jurou minha mão não soltar
E se foi junto dela

Ei, 'cê não sabe a falta que faz
Será que teus dias tão iguais?
Eu me pego pensando

Ai, amor
Será que tu divide a dor
Do teu peito cansado
Com alguém que não vai te sarar?

Meu amor
Eu vivo no aguardo
De ver você voltando, cruzando a porta
Pararara

Ei, diz pra mim o que eu quero escutar
Só você sabe adivinhar
Meus desejos secretos

Ei, faz de conta que não percebi
Que você não esteve aqui
Com teu jeito singelo

Ai, amor
Será que tu divide a dor
Do teu peito cansado
Com alguém que não vai te sarar?

Meu amor
Eu vivo no aguardo
De ver você voltando, cruzando a porta

Sem hora pra voltar
Sem rota pra tua fuga aiaaaa

Com tempo pra perder
Teu olho degradê pra colorir
Pra colorir

Sem hora pra voltar
Sem rota pra tua fuga aiaaaa

Com tempo pra perder
Teu olho degradê pra colorir, iiiiir

Ai, amor
Será que tu divide a dor
Do teu peito cansado
Com alguém que não vai te sarar?

Meu amor
Eu vivo no aguardo
De ver você voltando, cruzando a porta
Pararara♫

O vídeo termina com ela sorrindo lindamente para a mim. Suspiro com a certeza de que Heleno “o conselheiro” estava certo. Eu vou atrás do meu amor. Vou pegar esse cavalo encilhado como diz tio Neco da venda lá da cidade da Lorenza. Pego meu telefone e seleciono um dos contatos.

— Fê... sim, sei que horas são... me escuta, viado... cancela tudo o que der pra ser cancelado. Antecipa tudo o que der. Quero estar de volta em casa o quanto antes.

Fim do capítulo