Luiza

O calor na beira daquela piscina estava insuportável. Cris não calava a boca. Ela e Fernando, que deu o ar da graça e surgiu como uma drama queen divosa me abraçando e se dizendo com saudade, engataram um papo que não me interessava nem um ponto. Meu olhar estava no outro lado da piscina onde estavam “os jovens”, dançando ao lado de uma caixa de som portátil que tocava um funk horroroso e um cooler cheio de ice.

Ana Luiza estava no meio de várias meninas desconhecidas, mas, entre elas, a tanajura siliconada dava o ar da graça se roçando na minha AnaLu. Uma menina negra belíssima fazia, junto com Aline, um sanduiche de Ju. As letras das músicas eram explícitas e a minha menina, apenas de biquíni branco empinava a bunda ao ritmo dos funks. Eu estava hipnotizada. Eu queria que as mãos que puxavam a sua cintura fossem as minhas, que o corpo que a sua bunda roçasse fosse o meu, que o corpo colado ao seu.... Fosse o meu. Aquilo estava me deixando ao mesmo tempo com ódio e tesão. “Puta que los pariu Luiza!”.

Sem me conter me levanto subitamente e mergulho na piscina saindo do outro lado e, como quem não quer nada, me aproximo do cooler e pego uma bebida. Começou a tocar uma música que eu já tinha ouvido e ela me olha nos olhos sorrindo de lado e começa a acompanhar a cantora. (N/A: Ouça Din Din Din – Ludmilla feat. Mc Pupio & Mc Doguinha https://www.youtube.com/watch?v=FrJJlbHlxsI)

♫Eu já tô avisando que não tenho namorada

 Din din din, pode dar em cima de mim 

Din din din, pode dar em cima de mim 

Tá com ciúme, tá com ciúme? 

Pega na mão e assume 

Tá com ciúme, tá com ciúme? 

Pega na mão, pega na mão♫

“Garota bandida! Puta que Los Pariu!”. Vejo uma outra menina que não conheço chegar e ficar dançando próxima a ela. 

— Tudo bem, Lu? – AnaBea me pergunta notando que tem algo errado.

— Tudo! Tudo ótimo! Cadê o Jorge? – Notei que o namorado da minha afilhada não estava no churrasco.

— Terminei com ele.

— Mas por quê? – AnaBea era apaixonada pelo garoto desde sempre e esse foi um dos motivos que fez AnaLu terminar a relação que tinha com ele na adolescência.

— Eu não acho que ele seja o amor da minha vida – A menina me fala com aquela cara séria e compenetrada que só ela tem.

— Como assim?

— Lu, olha lá o vovô e a vovó – Tio Cadu e tia Alice estavam dançando funk coladinhos, sim coladinhos.... Como se fosse uma música lenta e ele ainda a puxava fazendo piruetas estilo Fred Astaire. – Agora olha as mamães – Vejo minhas amigas deitadas na rede da varanda namorando alheias a tudo e a todos como se fossem duas adolescentes. – É isso o que eu quero pra mim. Essa cumplicidade, esse amor, esse jeito de se olhar e saber o que o outro está pensando... Esse cuidado...

— E você não tinha isso com o Jorge?

— Nem de longe, tia Lu. Quem tem isso é você e a AnaLu, e é bom você parar de ânus glicosado e dar um jeito de resolver a situação – Dizendo isso AnaBea vira de costas e sai como se nada tivesse acontecido me deixando de boca aberta.

Bebo um gole de Ice e faço uma careta. “Que coisa doce! Como conseguem tomar isso? Parece açúcar misturado com água!”. Vou até o vestiário ao lado da piscina para fazer xixi. Quando estou lavando as mãos AnaLu entra e sorri para mim.

— Ah, que bom que tem alguém aqui. Lu... – Ela fala virando de costas para mim, sua bunda redonda e durinha quase tocando o meu sex*. AnaLu levanta o cabelo deixando a nuca a mostra. – Desamarra e amarra a parte de cima do meu biquíni de novo que ta frouxa?

Umedeço com a língua meus lábios, agora secos, na tentativa de lubrifica-los.  Me aproximo ainda mais do seu corpo na tentativa de sentir o seu calor, fico a poucos centímetros dela, meus seios nas suas costas. Meus dedos tocaram a sua pele ao desamarrar o biquíni, minha respiração descompassada fazia voar alguns fiozinhos de cabelo da sua nuca, algumas gotículas de suor a deixavam mais apetitosa ainda e a vontade de lamber aquela pele, que eu conhecia tão bem, me fazia fica cada vez mais excitada.

Engolindo em seco refaço o nó notando uma tatuagem nova atrás da sua orelha. Uma rosa delicada formando a letra “L”. Luiza... Flor. O apelido que ela me deu.  Fecho os olhos tentando disfarçar o sentimento. 

— Lu, aqui também – Ela fala abrindo a parte de baixo no meio das costas deixando os seios livres. Não consegui resistir e olhei para o espelho. Os mamilos durinhos, a expressão de tesão... Ela estava tão ou mais excitada que eu... Conseguia perceber isso claramente. Amarrei o biquíni e colei seu corpo no meu num abraço apertado cheio de saudade e desejo. O contato nos fez gem*r, e ela remexeu seu quadril friccionando sua bunda no meu sex*. Estava prestes a virá-la quando escutamos a porta do vestiário abrir e vozes altas. Nos separamos rapidamente a tempo de ver Cris e algumas garotas entrando.

— Ah, vocês estão aqui. Fiquei preocupada, Lu. Estava demorando. – “PUTA QUE LOS PARIU, CRIS!”.

— A tia Lu estava me ajudando a amarrar o biquíni – AnaLu me beija demoradamente no rosto. – Obrigada, tia.

— Vem AnaLu, vamos jogar Marco Polo! – Umas meninas que eu não faço a mínima questão em saber quem eram chamaram AnaLu.

— Puta que Los Pariu, Cris! Que hora você resolveu vir ver onde eu estava!

— Você estava demorando, sei lá – Ela disse cabisbaixa e eu fiquei com pena de ter sido grossa.

— Tá, desculpe. Eu vou pra casa.

— Vamos então.

— Cris, preciso ficar sozinha hoje. E eu viajo amanhã, então melhor você ir para casa.

— Claro, Lu, você tem razão – Eu vi que ela não ficou feliz com a minha decisão, mas a sua presença já estava ficando sufocante.

AnaLu

Depois da conversa que eu tive com a vovó e com a mamãe eu tomei a decisão de mostrar para a Luiza de que eu sou a mulher da vida dela. Só que para isso eu teria que estar mais presente no dia-a-dia do amor da minha vida. Eu não iria fazer nada demais. Iria apenas ser eu mesma. Meu maior empecilho, “Uiiii empecilho”, é o carrapato ruivo que vive grudado no meu amor.

No aniversário do João não deu muito certo. Aline sem noção entendeu tudo errado, mas depois eu conversei com ela e, com seu jeito Aline de ser, ela ligou para todas as amigas gostosas e fez vários planos mirabolantes para causar ciúmes na Luiza. Acho que até deu um pouco certo, mas caraca, muleque! Aquela filha do capeta tinha que ferrar tudo! Eu tinha certeza que a Luiza iria dar o braço a torcer. É questão de honra que ela dê o primeiro passo. Tô muito machucada ainda.

Mas a vovó e a mamãe estão certas. Fiquei observando a Lu hoje. Ela tava cagando pra Mainha. Sempre que eu olhava para ela, seus olhos estavam em mim. Essa mulher me ama! Eu tenho certeza!

Amanhã a Luiza sai cedo para a Nova Zelândia. Vai fazer umas fotos para uma revista de lá. Mas eu sei que volta logo. Só 4 dias. Então, vou começar meu plano. “Estoy aqui querriendo te”. Peguei as coisas que eu arrumei e fui para a casa dela.

No quintal cumprimentei os seguranças. Olhei para o céu e vi que estava repleto de estrelas. Queria que ela estive aqui comigo vendo isso! Entro na sua casa, subo as escadas, Jurema me arranha! “Ai que merd*! Mais um arranhão!”. Abro com cuidado sua porta e vejo que ela dorme embaixo de uma manta, ainda agarrada com a minha camiseta. Vejo que, como sempre, ela deixou sua mala arrumada. Vou até lá e coloco as coisas que arrumei nos locais que eu queria. Deixo tudo como ela tinha organizado.

Fiquei sentada no chão observando o seu sono. Quando por fim resolvo ir embora. Luiza se remexe na cama como se estivesse em um pesadelo. Deitei ao seu lado e a puxei para o meu peito. 

— Ju, não deixa me pegar... Não quero ir...

— É um pesadelo Lu, fica tranquila tô aqui – Ela se agarra em mim e se acalma dormindo logo em seguida.

Luiza

O alarme do telefone toca e eu acordo de um sonho maravilhoso onde eu dormia nos braços da AnaLu. Parecia que eu podia sentir o seu calor ainda na cama ao meu lado. “Que saudade que eu tenho dessa garota! Chega a doer”.

Me arrumo rapidamente e deixo para comer algo no aeroporto. A viagem seria cansativa já que seriam mais de 17 horas de voo. Jake estava a postos ao meu lado na sala vip enquanto eu tomava meu café e olhava as notícias no celular. Mesmo de óculos escuros alguns fãs me reconheceram e pediram fotos. Mesmo quando estava de mau-humor, triste, irritada, sempre tratava todos os fãs com carinho e atenção.

Como era de praxe quando havia uma autoridade ou uma celebridade em um voo, esperei para embarcar por último. Quando entrei havia uma mulher com aproximadamente a minha idade, loira, bonita, mas com uma aparência rústica sentada no meu lugar. “Puta que los pariu! Começou bem saporr*!”.

— Com licença, acho que a senhora está sentada no meu lugar – A mulher me olhou de cima abaixo dando um sorriso safado e olhando o próprio cartão de embarque.

— Mas não é que é mesmo! – A loira levanta da janela e me deixa sentar, tomando o assento do corredor. – Prazer, moça bonita, me chamo Lorenza Romagna.

— Luiza, prazer!

— Moça, me perdoe o atrevimento, mas você é bonita demais da conta. – “Mas o que é isso!” Mas a mulher é atrevida que só ela.

— Obrigada – Peguei uma revista fingindo ler. A comissária de bordo deu todos os avisos de segurança e o avião decolou. Já no ar a mesma comissária veio cheia de sorrisos e eu retribui o mínimo aceitável. Não estava no meu melhor humor. Só pensava na minha menina. O cardápio com o menu da primeira classe foi apresentado e iniciaram-se os pedidos. 

A atendente de bordo trouxe a toalha quente para limpeza das mãos. Com o rabo do olho eu vi Lorenza queimando os dedos com a toalha quente e falando palavrões. Ela aproveitou e passou a toalha até no rosto porque segundo eu ouvi tinha: “cheirinho bom de limão”. A mulher era uma figuraça e com certeza em outros tempos eu me interessaria por ela. Ela tem um charme bruto. “Essa daí deve ter uma pegada!”.

— Por isso que é tão gost... Quer dizer, bonita! Come como um uirapuruzinho temporão! – Lorenza puxa assunto depois de ver que eu deixei meu prato quase todo intocado. Não pude deixar de rir do jeito da mulher e tive a certeza de que ela não fazia a menor ideia de quem eu era.

— Lorenza, você não tá me reconhecendo? – Ela me olha com uma cara de quem está tentando buscar desesperadamente da memória. Um súbito reconhecimento passa no seu olhar.

— Mas é claro, coração! A quanto tempo a gente não se vê!  Quando foi a última vez mesmo? – Ela pega a minha mão e beija galanteadoramente erguendo a sobrancelha e dando um sorriso malicioso. “Puta que los pariu! Ela tá achando que já me comeu!”. Não aguentei e dei uma gargalhada.

— Acho que você tá enganada a gente não se conhece – Puxei a mão e deixei a mulher com cara de tacho.

— Mas, isso é fácil demais de ser resolvido, se a gente não se conhece, a gente ainda pode se conhecer... O que você acha? Fazer essa viagem se tornar inesquecível. Duas brasileiras na Nova Zelândia? – A cara de pau piscou pra mim sorrindo.

— Desculpe, mas esse aqui – Apontei meu coração – Já tem dona.

— Já diz o ditado: “Se não tentar como sabe se vai conseguir!?”.

— Legal. Aristóteles?

— Não. Tio Neco da venda lá de São Gabriel do Oeste – Ela disse rindo e eu comecei a rir junto. A danada tinha um sorriso cativante.

 Coloquei o tapa-olhos e os fones de ouvido, queria dormir e voltar para aquele sonho que eu tive com a minha AnaLu. Adormeci e acordei e já era de madrugada. Notei que a minha colega de assento não estava ao meu lado. Odeio dormir em avião porque sempre acordo totalmente amassada sem saber onde estou. Todos estão dormindo e as luzes estão apagadas. Apenas as luzes de leituras estão acesas. Vou até o banheiro e fico esperando a pessoa que estava dentro sair. A porta abre e Lorenza sai e me dá um sorriso surpreso, atrás dela sai a comissária de bordo que nos atendeu arrumando a saia. Começo a rir e balanço a cabeça. “Que safada! Lorenza Safadona!”. Volto para a minha poltrona e encontro Lorenza com a cara mais deslavada do mundo lendo uma revista.

— Mas você se recupera logo de um não, não é mesmo? – Falei em tom de brincadeira.

— Sabe como é, um não aqui, um sim ali... E assim vamos vivendo! E tem outra, a noite todos gatos são pardos... Ou melhor gatas! – Começamos a rir. – Luiza, desculpe não ter te reconhecido. A aeromoça que me disse quem você era. A famosa Luiza Nadge. Eu preciso tirar uma selfie com você. Posso?

— Quando eu tiver uma cara menos amassada, pode ser?

— Deixa eu te explicar: tem a Bá, que é a senhorinha que me criou, ela sabe tudo da tua vida e é fã, pra ela eu queria um autógrafo. Ela sabe o que você fez, com quem casou, onde morou.... tudim tudim.... sabe aquelas pessoas que veem reality show e programa de fofoca? Minha Bá.

— Claro! Me dá seu endereço mando uma foto autografada, super fofa para ela!

— Ela vai amar demais! Você vai fazer a velhinha feliz por maneira!

— E a selfie?

— É pro meu melhor amigo. Sabe aquele amigo que é como se fosse irmão? Então... é o Júnior... ele é teu maior fã e tem todas aquelas tuas fotos peladas! 

— Nus artísticos.

— Sim, peladas. Nus! Tua mulher, aquele chaveirinho loiro tirou. Meus pêsames – Ela ficou séria e encabulada. Ficamos em silencio por uns instantes.

— Ele tem todo o ensaio?

— Tem várias fotos reproduzidas! Pela casa dele! Teu maior fã! Então é pra ele, eu queria uma selfie, com todo respeito... –Você me dando um beijo no rosto.

— Ah, pode ser agora mesmo então. Fica parecendo uma pós foda!

— Júnior vai morrer de inveja! – Eu dei uma gargalhada e recebi vários resmungos e pedidos de silêncio das pessoas a minha volta.

Tiramos várias selfies em poses diferentes. Realmente eu não estava enganada e Lorenza era uma pessoa maravilhosa. Tirando seu lado safado, ela tinha um grande coração e contava da sua vida na fazenda e da sua paixão que era a genética animal. Eu não sei porquê, mas ela fazia a gente confiar nela e eu acabei abrindo meu coração. Quando eu me vi já tinha contado a ela toda a minha vida. Minha relação com a Nanda, Alex e AnaLu.

— Luiza, mas me conta aí, como é estar apaixonada? Como é esse trem aí que todo mundo fala?

— Você nunca se apaixonou?

— Olha, que eu saiba não – Fiz uma cara engraçada para ela. - E não estou zoando com você não, neste campo eu realmente não entendo nada.

— Lorenza é mais do que sex*. Amar alguém, estar apaixonada é mais do que tesão. É querer cuidar da pessoa amada, realizar todos os desejos, ser a razão dos sorrisos – Conforme eu falava eu me lembrava da AnaLu, da minha menina, do seu sorriso, do seu cheiro, do seu beijo, da sua voz. – É querer proteger, não deixar que nada nem ninguém faça mal a quem se ama. Querer estar sempre ao lado dela. Só pra ficar fazendo nada. Sei lá. – Olhei para ela e Lorenza prestava atenção como se eu explicasse um conteúdo importante que iria cair em uma prova! – E o sex* é diferente também. Não tem como explicar. É. Só sentindo. Só quando você sentir você vai saber.

Lorenza ficou em silencio olhando para o nada, até que ela toma a palavra novamente.

— Se você ama tanto a menina, porque não assume?

— É fácil falar, mas... Eu já não sei mais. O medo que eu tenho parece tão ridículo quando eu penso no quanto ela é maravilhosa.

— Bom Luiza, eu posso não entender muito de paixão, de amor, mas tem uma coisa que eu entendo muito bem é de lutar pelo o que eu quero. Realmente como você disse é muito fácil falar, mas fugir é muito mais fácil! E me desculpe a sinceridade morena, mas é isso que você está fazendo. Você está se boicotando por um medo infundado. Se essa Nanda é assim como tu diz, eu e ela temos algumas coisas em comum. E posso te dizer uma coisa, eu ia ficar orgulhosa pra porr* se eu soubesse que minha filha estava pegando um mulherão como você! Vai ser feliz mulher! Já diz o ditado: “Cavalo encilhado só passa uma vez. Se não montar, não passa outro e você acaba perdendo”.

— Tio Neco da venda?

— Aristóteles – Gargalhei novamente e fui alvejada por vários pedidos de silêncio. – A gente vai ser expulsa desse avião – Lorenza disse rindo.

Enfim o voo chegou ao fim e nos despedimos no aeroporto. Jake estava ao meu lado e Lorenza olhava para ele e ria. 

— Esse daí iria fazer sucesso lá na fazenda! Ia derrubar os bois tudo no braço! – Falou rindo.

— Lorenza, foi muito legal te conhecer! Você fez essa viagem mais leve! Me dá seu cartão para eu mandar a foto para a Bá!

— Adorei te conhecer também, Luiza – Ela diz me entregando um cartão de visitas -- aqui tem meus contatos. Só te dou duas opções do que fazer com ele: ou você pode me ligar para aplacar sua tristeza. – Ela disse safada e eu dou um tapa no seu braço. – Ou você leva a sua alegria pra conhecer o MS. Vou adorar saber que você teve coragem de ser feliz!

Nos beijamos e despedimos como velhas amigas, com a certeza de que nos veríamos novamente. Na limusine eu olhava o cartão e pensava que tio Neco da venda estava certo!

Fim do capítulo