Capítulo 71 -- Quase Lá
A ILHA DO FALCÃO -- CAPÍTULO 71
Quase Lá
Alexandra segurou a porta, colocou a cabeça para fora e espiou ao redor cuidadosamente.
-- Caminho livre -- avisou, a loira -- Agora vê se sossega aí dentro -- ela colocou a mão sobre a cabeça de Natasha e empurrou para baixo -- Você empurra o carrinho, doutora. Eu vou averiguando o caminho.
Bruna posicionou-se atrás do carrinho e começou a empurrá-lo pelo corredor. Seu coração batia forte e suas pernas pareciam pesadas.
-- Vamos ao combate! -- Alexandra deu um murro no ar.
-- Que combate? -- Bruna franziu a testa -- Nem se atreva a provocar alguém. Quanto menos chamarmos a atenção, melhor.
-- Você sabe que eu gosto de fortes emoções -- Alexandra caminhava a passos largos à frente do carrinho -- Arma em punho, soldado!
Bruna apontou para a vassoura e para o espanador presos ao carrinho.
-- Qual dos dois? -- perguntou, sorrindo.
Alexandra olhou para ela descorçoada.
-- Esperar o que de uma pomba branca? -- os saltos das botas de couro de Alexandra ecoavam no chão de mármore do hospital, enquanto elas se aproximavam da porta fechada no final do corredor -- Não se preocupe, eu protejo a todas -- levantou a camisa e mostrou a arma sob a cintura.
Bruna não mostrou qualquer sinal de surpresa. A loira adorava promover seu próprio exibicionismo.
-- Estou vendo -- disse, simplesmente.
Alexandra parou diante da porta. Ignorando o ar inquisitivo dos olhos de Bruna, ela abriu a porta com cuidado e vislumbrou o local. Estava deserto.
-- Ninguém! -- sussurrou -- Vamos usar o elevador. É mais rápido e seguro.
Aguardaram um pouco até que, finalmente, o elevador parou e as portas se abriram. Elas entraram e Alexandra imediatamente apertou o botão para o térreo.
-- Segure o elevador -- uma suave voz feminina pediu. Bruna estendeu o braço e impediu que as portas se fechassem.
A mulher que entrou em seguida não era muito alta. O uniforme não lhe caía bem. Parecia ser uns cinco números menores.
-- Obrigada. Estou atrasada -- ela olhou para o carrinho e depois, as encarou de cara feia.
-- Que andar? -- perguntou, Alexandra.
-- Terceiro, por favor.
Alexandra apertou o botão e encostou-se à parede do elevador, observando-a atentamente.
-- Uma coisa é ser feia, outra é imitar o Belzebu sem querer -- ela cochichou no ouvido da médica.
Bruna sentiu no seu âmago, que estava prestes a dar um chilique caso tivesse que ficar mais um minuto naquele elevador. Alexandra não parava de olhar para a mulher.
-- Vocês são novas no trabalho? Não sabem que é proibido usar esse elevador? -- a mulher fez uma careta -- Para vocês tem o elevador de serviço.
Apesar de ser a pessoa mais grosseria e antipática do mundo, Alexandra, esboçou um sorrisinho simpático e casual. Por um instante Bruna imaginou a loira enfi*ndo o cano do revólver na boca da moça.
-- Interessante. Sempre achei que no elevador todos eram amigos -- disse Alexandra.
-- Por que diz isso? -- perguntou a mulher.
-- Quando um peida, todo mundo cheira.
-- Você não tem vergonha na cara, né? -- ela disse, muito irritada.
-- Vergonha não, só beleza -- retrucou Alexandra, cheia de ironia.
-- Chega, Girani! -- Bruna resolveu dar um basta, antes que as duas se agarrassem -- Desculpa, moça.
-- Não peça desculpa para esse tira-gosto de dinossauro -- no terceiro andar as portas abriram, mas a moça não saiu -- Não vai descer aqui? -- Alexandra perguntou -- Não estou me sentindo muito bem. O seu cabelo é tão seco, que eu olho pra ele e me dá sede.
-- Foda-se, sua loira sem graça -- a moça esbravejou, irada.
Alexandra sentiu raiva e engoliu em seco. Mas, tinha que se controlar ou colocaria tudo a perder.
-- O "foda-se" é um ponto de equilíbrio entre corpo e alma. E, se de uma coisa tenho certeza, é da minha beleza. Portanto, suas palavras não me agridem.
Bruna empurrou Alexandra para longe da mulher e tentou amenizar a situação.
-- Olha moça, pode ir tranquila. A minha amiga está um pouco nervosa. É o primeiro dia dela no trabalho, coitada. Por favor, seja compreensiva.
Ao ouvir as palavras de Bruna, ela ficou muito quieta, observando Alexandra atentamente.
-- Tudo bem, mas ela me deve desculpas -- a mulher exigiu.
Alexandra fez uma mesura relutante para ela. Coçou a cabeça e olhou para o chão.
-- Suponho que me considere verdadeiramente louca. Mas, como dizia Pedro Bial: O sol nasce, águias voam, meu pé esquerdo tá doendo, vitamina de abacate, as rosas são vermelhas, Nova Lima tem ladeira e relógio! Ah, que vontade! Que vontade de dormir e logo após salvar uma criança muda do sul da Indonésia. Entendeu?
-- É... acho que entendi -- ela deu um passo para fora do elevador -- Mas, não esqueçam! Na próxima vez, usem o elevador de serviço.
-- Pode deixar -- antes da porta se fechar, Bruna mandou um tchauzinho pra ela.
-- Estou precisando de ar -- disse Natasha, no meio de um ataque de tosse.
Alexandra empurrou ela para dentro do cesto.
-- Aguenta só mais um pouquinho. Já estamos quase lá -- ela disse, animada.
A porta do elevador se abriu e o sorriso nos lábios de Alexandra sumiu instantaneamente. Talita estava logo ali, encostada ao balcão de recepção do Pronto Socorro.
-- E agora? -- Bruna olhou para ela com os olhos arregalados -- A Talita vai nos reconhecer de cara.
Alexandra passou os braços em volta dos ombros de Bruna.
-- Relaxa, doutora mediúnica. Como disse o presidente americano Roosevelt: "Não temos nada a temer a não ser o próprio medo. E Alexandra Girani" -- ela completou com um sorriso maroto -- Leve o carrinho para atrás daquela pilastra e fiquem ali até eu voltar.
Mal terminou de falar, Alexandra entrou no elevador e as portas se fecharam.
Imediatamente Bruna abriu o carrinho.
-- Tudo bem, Natasha?
-- Estou começando a me arrepender de ter aceitado esse plano maluco. Eu tenho asma e já usei a bombinha umas três vezes.
-- Tente manter a calma. Estamos a alguns metros da porta de saída -- Bruna falou tentando tranquilizá-la, mas na verdade estava apavorada -- A Girani logo estará de volta. Por hora, vamos fazer o que ela pediu e nos escondermos.
Isabel andava enquanto falava.
-- Por que não me disse que teríamos que viajar?
-- Porque se eu dissesse, você não me deixaria ir junto -- André fez um gesto impaciente com a mão -- Vamos para o balcão de check-in.
-- Eu vou bater tanto na Xanda. Quem ela pensa que é? -- a voz de Victória soou realmente irritada -- Tadinha da Bruninha. Essa deve ser a quinta vez que a Alexandra a arrasta para essas aventuras malucas.
-- Pode deixar, Vic. Eu mesma vou dar uma lição naquela loira desmiolada.
-- Você está dizendo isso há mais de um ano, Isa -- Victória entregou os documentos para a funcionária da companhia aérea e fixou os olhos em Isabel -- Você sempre acaba dando razão a ela.
Isabel fez um biquinho charmoso.
-- É que ela é tão fofa!
-- A poderosa é fofíssima! -- completou André.
-- Minha Bruninha é altamente sensível e bondosa. A Xanda é uma má influência para ela.
-- Para com isso, Vic -- Isabel meneou a cabeça de um lado para outro -- Não vou discutir, nem censurar a Xanda por ela ajudar as pessoas.
-- Você está dizendo que aprova essas barbaridades que ela faz? Me poupe Isabel. A Xanda agi como se fosse a dona do mundo.
-- Para mim a poderosa veio de outra dimensão!
-- Cala a boca, André -- Isabel ficou olhando para ele. A cabeça latej*v* de tensão desde que pusera os pés no aeroporto -- Você é outro que só me apronta.
-- Euuuu...?
-- Você mesmo! Por sua causa estamos indo para Florianópolis apenas com a roupa do corpo.
-- Não faça tempestade em copo d'água, mona. Vocês podem comprar roupas novas em Florianópolis.
-- O avião já está na pista -- a mulher do balcão de check-in disse a Victória.
Victória respirou fundo novamente e tentou se acalmar. Não podia perder o controle. Ela gostaria de simplesmente virar as costas e sair dali, deixando a Bruna em companhia da maluca da Alexandra. Mas não podia. Tinha que ignorar o fato da loira ser a pessoa mais louca e irresponsável que já encontrara e lembrar-se que só estava indo por causa da Bruna. Não podia perder o foco.
-- Tá certo. Então vamos.
Minutos depois, eles subiam a bordo do enorme avião com destino à Florianópolis.
Cinco minutos depois, que Alexandra se foi, Bruna estava explodindo de impaciência.
-- Meu Deus! Aonde a Girani se met*u? -- soltou um resmungo.
-- Estou aqui, florzinha!
-- Aiiii... -- Bruna levou um susto e se virou -- Sua...
Nesse instante, a campainha de emergência soou pelo Pronto Socorro. Todos os médicos e enfermeiros que estavam no local saíram apressados. As pessoas ficaram agitadas e especulavam sobre a identidade do paciente que estava passando mal.
-- Que cara é essa, doutora? Não queríamos uma oportunidade para atravessarmos a recepção sem sermos reconhecidas?
-- Precisava esse alvoroço todo?
Alexandra a encarou, com um sorriso malévolo.
-- Precisava.
Bruna conduziu o carrinho em alta velocidade em direção às portas envidraçadas que se abriam para a parte externa do hospital.
A noite apresentava-se agradavelmente fresca depois do calor do dia. Alexandra tocou no braço de Bruna e apontou para a parte lateral do prédio. Então, foram naquela direção, afastando-se das luzes.
-- Pode sair, Natasha -- disse Bruna, abrindo a tampa do carrinho.
Natasha não pensou duas vezes, pulou desengonçadamente para fora do carrinho.
-- Jesus! Estou sem ar... minha bombinha... vou morrer...
-- Não se preocupe -- Alexandra deu-lhe uma palmadinha de leve no ombro -- Caso precise, temos aqui conosco, uma médica para cuidar do seu corpo físico e caso morra, uma médium para cuidar do seu espírito.
-- Você devia ter seguido carreira no exército. Que gênio, parece um general -- disse Natasha, em meio a um ataque de tosse.
-- Não me ofenda. Sou totalmente contra a regimes que impõe força sobre o mais fraco, que causa opressão -- ela cerrou os dentes e esforçou-se para continuar -- Sou contra os prepotentes, dominadores, despóticos, tiranos, ditatoriais. Que massacram o povo, perseguem e reprimem as minorias.
Bruna e Natasha ficaram olhando para ela em silêncio. Não podiam acreditar no que estavam ouvindo.
-- Agora vamos. Perdemos tempo demais -- disse Alexandra, olhando para elas de testa franzida, os braços cruzados diante do peito -- Desse jeito quando encontrarmos o filhote de gavião, ele já vai até estar voando.
Depois de passarem pela alfândega, saíram à procura de um restaurante. André estava com fome e não parava de reclamar.
-- Se estivéssemos viajando com a poderosa, eles teriam nos servido um banquete.
-- Não duvido -- Isabel olhou ao redor. Sentiu-se completamente perdida. Ia pedir informação a alguém quando um homem moreno, usando uniforme, sorriu para ela como se adivinhasse suas dificuldades.
-- Procurando alguma coisa, senhorita? -- perguntou, sorrindo com simpatia. Qualquer ajuda seria bem recebida no momento; principalmente vinda de um homem usando uniforme.
-- Estamos procurando um bom restaurante. Tem algum por aqui que possa nos recomendar?
-- Temos ótimos restaurantes na praça de alimentação -- sorria solicito, examinando a figura elegante de Isabel -- continue a andar nesta direção e logo encontrará a praça de alimentação. O nome do restaurante é Ovelha.
-- Obrigada, senhor.
-- De nada! -- disse ele, acenando com simpatia.
Realmente, logo encontraram a praça de alimentação e o restaurante Ovelha. Não houve o menor problema para acharem uma mesa vaga e se acomodarem.
O garçom se aproximou, anotou os pedidos e se afastou.
-- Preciso ir ao banheiro. Vamos comigo, Vic? Não quero ir sozinha.
-- Vamos. Eu também quero.
-- Vão me deixar aqui sozinho? Que droga!
-- Não me diga que quer ir junto? Era só o que faltava -- Isabel enroscou seu braço no braço de Vic e empinou o nariz -- Vamos amiga.
Por algum tempo, ele ficou olhando elas se afastarem. Depois, fez uma careta e mostrou a língua.
-- Bobonas! Se acham. Tomara que a poderosa e médium aprontem uma... aiiii...
Alexandra apertou a orelha dele com força, deixando-o de pé.
-- Poderosa??? -- André estava com os olhos fixos em Alexandra -- O que você está fazendo aqui em Florianópolis?
-- Não! Eu não escutei isso -- Alexandra olhou para ele incrédula -- Você trouxe a Isa e a Vic até aqui!
-- Se eu não a trouxesse, ela me...
-- Não retruque! -- explodiu ela, raivosa -- Você sabe muito bem do que a Isa é capaz -- ela apertou o lóbulo da orelha com mais força.
-- Aiiii... tá doendo! -- André esperneou até que Alexandra o soltou.
-- Você tem tanto medo assim da sua esposa? -- o sotaque marcante na voz debochada de Natasha deixou Alexandra extremamente irritada.
-- Claro que não! Tá pra nascer a mulher que vai mandar em mim!
-- Xanda! -- Isa berrou, próxima ao ouvido dela -- Repita se tem coragem!
Alexandra congelou no lugar.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Anny Grazielly
Em: 14/09/2020
Kkkkkk... genteeeeee... adorando adorando adorando demais
NovaAqui
Em: 09/11/2018
Acho que as duas vão querer matar Alê kkkkll a poderosa está perdida. Natasha vai rir e debochar dela até o fim kkkk
Acho que Andreia e Marlon vão aparecer antes da Girani tomar uma surra de Vick e Isa kkkk
Abraços fraternos procês aí!
Resposta do autor:
Boa tarde NovaAqui.
Sei não. Essa loira é tinhosa.
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Keilaspm
Em: 08/11/2018
Adorei vandinha ansiosa por mais caps quando vai ser o próximo não demorei por favor
Resposta do autor:
Boa noite Keilaspm
Já estou trabalhando no próximo capítulo. Vou fazer o possível para postar amanhã.
Mas se não der, com certeza sabádo atualizarei a história.
Obrigada, meu anjo. Fica em paz.
Beijos.
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Mille
Em: 08/11/2018
Vai já ficar mansinha kkkkk Isa coloca a Xanda na parede. Nat vai usar isso para zuar a loira.
Bjus e até o próximo capítulo
Resposta do autor:
Boa noite, Mille.
Em Última Noite de Amor, Alexandra se borrava toda quando Isabel olhava brava para ela. As coisas não mudaram nada.
Natasha com certeza vai tirar uma com a cara dela.
Beijos meu anjo. Até.
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