Capítulo 31
Acordei e espreguicei-me na cama, sentindo meu corpo dolorido. Dei um risinho ao me lembrar motivo pelo qual ele estava assim. Por mim, faria questão de estar com ele sempre dessa forma, se o motivo sempre fosse o mesmo. Até cogitei propor a Adele que ela me deixasse de castigo mais algumas vezes se depois o resultado fosse aquele, mas, não, preferia amá-la todos os dias.
Minha loira não estava ao meu lado. Apanhei meu celular ao lado da cama só para constatar as horas, e vi que já se passavam de 9hs da manhã. É, ela acabou comigo na noite passada. Dormi feito uma pedra.
Fui para o banheiro e tomei um banho frio, precisava despertar porque hoje teríamos um dia bem agitado. Deixei o quarto vestindo um vestido floral soltinho e os pés descalços. Caminhava pelo corredor quando um som característico atrás de uma das portas chamou a minha atenção. Sorri e caminhei para lá. A porta estava entreaberta, empurrei-a devagarzinho e sorri mais uma vez ao encontrar minha namorada de olhos fechados.
Parei junto à porta, cruzando os braços e me deliciando com o que via e ouvia. Ela estava em outro mundo, sempre ficava assim quando entrava naquele quarto e pegava um de seus instrumentos. Adorava vê-la viajar na música, e eu me perdia no timbre rouco e suave que ela tinha.
Ela estava sentada no chão, como gostava de fazer. Tocava o ukulele caramelo, que tinha seu nome gravado sobre o braço do objeto – fora presente de aniversário de Antony. O caderno de anotações jazia aberto a sua frente juntamente com uma caneta. Os dedos pareciam dançar sobre as cordas. Se um dia eu achasse que não tinha como me encantar mais por aquela mulher, ela vinha, e provava que não.
Adele cantava a música Something, dos Beatles.
Something in the way she moves
Alguma coisa em seu jeito de andar
Attracts me like no other lover
Me atrai como nenhuma outra
Something in the way she woos me
Alguma coisa no jeito como ela me seduz
I don't want to leave her now
Que eu não quero deixá-la agora
You know I believe and how
Você sabe o quanto eu acredito
Somewhere in her smile she knows
Alguma coisa em seu sorriso, ela sabe
That I don't need no other lover
Que eu não preciso de outro amor
Something in her style that shows me
Alguma coisa em seu jeito me faz ver
I don't want to leave her now
Que eu não quero deixá-la agora
You know I believe and how
Você sabe o quanto eu acredito
Nessa parte minha namorada abre os olhos e me vê ali, parada, admirando-a. Ela me dá aquele sorriso meio tímido e continua cantando, mas dessa vez, cantando diretamente para mim. Caminhei e me aproximei mais dela.
O último refrão ela cantou duas vezes dividida em um sorriso. Ah meu Deus, eu amava cada vez mais essa mulher! Obrigada por colocá-la em minha vida, mesmo quando eu não queria acreditar, mesmo quando eu não queria mais ninguém.
-- Acordou inspirada? – perguntei assim que ela terminou.
-- Como todos os outros dias desde que te conheci.
Ah gente, assim eu não aguento! Me curvei sobre ela e peguei o instrumento de sua mão, o colocando carinhosamente no suporte da parede, depois voltei e sentei sobre o seu colo, colocando minhas pernas uma de cada lado de seu corpo.
-- Você é extremamente galante senhorita Evans. Sabia disso?
--Sou? Nunca havia percebido.
-- Ah você é!
Passei os braços por cima de seus ombros e aproximei minha boca da dela, mas sem beijar, apenas roçando nossos lábios. Seus braços me abraçaram, me apertando contra ela.
-- Você é tão linda Adele. – sussurrei.
-- E unicamente sua!
Sorri antes de beijar aquela boca que tinha o poder de me levar para outro lugar, outro espaço, outra galáxia. Foi um beijo calmo e sem pressa alguma. O encaixe perfeito sempre acontecia. O gosto que aquela boca tinha sempre me atingia em cheio, era como uma droga na qual eu havia viciado.
-- Vamos tomar café? – ela chamou.
-- Você fez o café da manhã?
Ela sorriu amarelo antes de responder.
-- Não. Eu não tenho o menor jeito amor, sempre estrago tudo que tento fazer. Mas papai veio aqui cedinho, queria saber como estávamos.
-- Você fez o seu pai preparar o café da manhã?
-- Ele se ofereceu. – disse sacudindo os ombros – E além disso, ele não fez sozinho, eu ajudei, um pouquinho, mas ajudei.
-- Ai amor!
-- Não se preocupe, não foi nenhum “trabalho” pra ele, papai ama cozinhar. Não sei como nunca aprendi – disse pensativa e eu sorri.
-- Acho que o seu talento está todo direcionado para a área da construção e da música.
-- Bem provável que sim.
Sorrimos e levantamos juntas do chão. Quando cheguei à cozinha havia uma enorme e variada mesa montada. Até senti-me um pouco sem jeito por saber que tinha sido meu sogro a preparar tudo aquilo.
Sentei e minha namorada fez questão de me servir. Estava tudo maravilhoso, Jack era um cozinheiro de mão cheia. Tudo perfeito. Terminamos o nosso café e demos uma organizada rápida na casa. Depois de tudo ajeitadinho, fomos tomar um banho. A loira foi a primeira, e enquanto isso, liguei para a minha mãe.
Nós iríamos até a casa da minha mãe, Adele insistia para ir, mas eu não queria que fôssemos e que tivéssemos que encontrar Diego. Desde o dia em que aquela confusão tinha acontecido eu não tinha tornado a vê-lo, e nas poucas vezes que falei com minha mãe ela evitou falar dele, e silenciosamente eu agradecia por isso. Pra mim, estava claro que minha relação com ele jamais voltaria a ser a mesma, e acho pouco provável que houvesse alguma possibilidade de reverter isso.
Dona Ester ficou animada quando eu disse que passaríamos por lá e logo se prontificou a fazer um almoço para Adele. Achei graça disso. Nunca a vi daquele jeito, paparicando alguma namorada minha, mas no fundo eu amava isso. Cheguei até a me perguntar como minha mãe reagiria ao contarmos pra ela que eu estava me mudando definitivamente para o apartamento da inglesa. Tomara que ela aceite bem e que compartilhe da nossa felicidade.
Mamãe me garantiu que não havia chance alguma de darmos de cara com meu irmão, e acrescentou que tinha novidades a respeito dele para me contar. Confesso que fiquei um pouco curiosa, porque minha mãe não costuma ser do tipo que gosta de fazer mistérios, só que dessa vez ela preferiu falar pessoalmente.
Demos uma atrasada básica para sair de casa porque Adele saiu do banheiro e veio me abraçar e beijar. Ela vestia apenas um roupão que estava levemente entreaberto, e pra completar aquele corpo exalando aquele cheirinho gostoso me fez ansiar por tocá-la. Não aguentei, joguei-a na cama e amei cada centímetro daquela mulher.
Senti um certo desconforto acompanhado de um arrepio assim que estacionamos o carro na frente da minha casa, quer dizer, na casa da minha mãe. Adele me deu um sorriso encorajador e desceu do carro dando a volta para abrir a porta do passageiro.
Ainda tinha a chave daquela casa, mas optei por tocar a campainha. Passaram-se coisa de um minuto até que a minha mãe abrisse aquele portão e aparecesse diante de nós com um enorme sorriso nos lábios. Nem bem me deixou entrar e me puxou para um abraço apertado. Fez o mesmo com Adele e isso a deixou com as bochechas coradinhas.
Ao entrarmos em casa fomos atingidas por um cheirinho gostoso que vinha da cozinha. Pelo cheiro, identifiquei de imediato o que era. Olhei para o lado e minha namorada tinha no rosto aquela mesma expressão que ela fazia quando comia feijoada. Coisa mais fofa!
-- Eu estava com tanta saudade de você minha filha. – mamãe disse assim que nos acomodamos na sala.
-- Também estava com saudade da senhora. Como estão as coisas por aqui?
-- Ah, está tudo bem. Tenho me sentido um pouco solitária, mas, criei meus filhos para voarem mesmo.
-- E o Diego mãe?
-- Vamos deixar essa conversa para depois do almoço, está bem? Estou apenas finalizando a carne, e já já podemos almoçar. Caprichei no prato viu Adele? Espero que você goste.
-- Não duvido que gostarei dona Ester, a senhora cozinha divinamente bem. E esse cheiro – disse fechando os olhos – está me deixando faminta.
Mamãe e eu rimos da loira.
-- Mas então, está moça andou lhe dando muito trabalho? – mamãe perguntou para a loira.
-- Mãe!
-- De modo algum! Na verdade, acho que ela cuidou de mim mais do que eu cuidei dela. A sua filha é uma mulher doce, simples, meiga, carinhosa, atenciosa... – sorriu timidamente - conviver com ela é mais que fácil, é prazeroso. Ela deu vida para os meus dias.
Minha mãe tinha um sorriso tão largo no rosto que pra mim foi impossível não sorrir junto. Ela ainda encarava minha namorada com uma expressão leve no rosto, parecia feliz.
-- Vocês são lindas juntas.
-- Concordo mãe. – disse entrelaçando meus dedos aos dedos da inglesa – Aproveitando que estamos falando de convivência, temos algo pra lhe contar.
-- Podem falar.
-- Antes de tudo dona Ester, quero que saiba que eu respeito, admiro e amo muito a sua filha. Ela é uma mulher realmente incrível, e tenho certeza de a culpa disso é quase toda da senhora. Eu quero traçar um caminho, um futuro com a Beatriz.
-- Oh meu Deus, você está me pedindo a mão dela? – perguntou minha mãe.
-- Não! Quer dizer, ainda não. Mas se ela quiser, muito em breve.
Girei o rosto para o lado e encontrei a loira me encarando bobamante. Se eu quiser? Se? É claro que eu ia querer, mas, no seu tempo. Deu uma piscadinha para a loira e voltei minha atenção para minha mãe.
-- Não é um pedido de casamento, mãe, mas queremos contar para a senhora que decidimos morar juntas. Adele me convidou para morar com ela, e eu aceitei.
Um silêncio tomou conta da sala. Dona Ester nos encarava séria e eu tinha a impressão de que ela nem mesmo respirava. Comecei a ficar tensa, e Adele também. Apertei a mão da loira tentando passar confiança e um pouco de segurança. Independente do que minha mãe dissesse, se ela aprovasse ou não, minha decisão estava tomada, e eu não voltaria atrás, então tudo o que eu podia desejar era que um dia ela pudesse entender.
-- Mãe?
-- Vocês fizeram um suspense enorme para me contar o que eu já sabia que iria acontecer. – sorriu preenchendo a sala e nossos corações de alívio – Se tiveram esse medo todo para me contar que decidiram morar juntas não quero nem ver quando for o pedido de casamento. – depois disso ela gargalhou.
-- Isso quer dizer que...
-- Isso quer dizer que desde o primeiro momento, quando Adele disse que a levaria para casa dela por uns dias eu sabia que isso aconteceria. Não que eu tenha previsto, mas como dizem, coração de mãe sente, e pelo visto não me enganei. Eu vejo amor em vocês, muito amor! Eu desejo toda a felicidade do mundo nessa nova fase da vida de vocês, e peço apenas para que não se esqueçam dessa velha aqui.
Levantei de onde estava sentada e caminhei até a poltrona a frente onde minha mãe estava. Abracei-a apertado, com carinho. Beijei seus cabelos onde despontavam alguns fios brancos e senti meus olhos molharem.
-- A senhora é a melhor mãe do mundo.
-- Que nada! Eu que tenho a melhor filha do mundo. – disse acarinhando meus braços que ainda estavam envoltos em seu pescoço – E você, não vem me dar um abraço?
Adele levantou rapidamente e se juntou a nós em um abraço acolhedor e repleto de carinho. Eu realmente tinha a melhor mãe do mundo, que me compreendeu desde o primeiro momento e que me apóia até hoje.
-- Prometo que irei cuidar muito bem da sua filha, e que em momento algum nos esqueceremos da senhora. Teremos almoço em família, aqui, ou em nossa casa aos domingos. E a senhora pode ir até nossa casa sempre que quiser. Tudo bem?
Só nesse momento dona Ester pareceu ficar emocionada. Acho que se devia ao fato de Adele incluí-la em nossa rotina e dizer que ela era família, que éramos uma família.
Passado o momento emoção mamãe foi para cozinha, e minha namorada e eu fomos para o meu quarto para arrumarmos minhas coisas. Eu não levaria tudo de uma vez, depois passaria aqui para pegar o resto, mas levaria o que fosse mais primordial.
Estávamos deitadas em minha cama enquanto olhávamos o teto repleto de adesivos de estrelas fluorescentes quando dona Ester bateu à porta dizendo que o almoço estava servido. Adele levantou mais do que depressa e eu ri, aquela criaturinha era louca por comida, e comida nordestina então!
Inegável a cara de satisfação que minha mãe fez ao ver Adele repetir o prato. Não era nenhuma comida sofisticada, pelo contrário, era uma comida bem regional e tradicional: um delicioso baião de dois e carne do sol com macaxeira. Adele amou, e não teve vergonha em me pedir para colocar um pouco mais pra ela. Tadinha, a sogra fisgou ela pelo estômago.
Depois do almoço retornamos para a sala e conversamos sobre diversos assuntos, no entanto, o que martelava em minha cabeça era o que ela queria me contar sobre Diego. Minha mãe pareceu ler meus pensamentos já que ela depositou a xícara de café sobre a mesa de centro, se aprumou na poltrona e olhou diretamente pra mim. Empertiguei-me no sofá me sentindo tensa.
-- Eu conversei com o seu irmão. – começou – Não fui capaz de reconhecer o meu próprio filho. Aquele não parecia o meu menino, não parecia o Diego. Foi uma conversa dura e longa, e somente no final, ele conseguiu compreender que havia agido errado. Mas arrependimento não o redimiria.
-- Isso não apaga o que ele fez mãe.
-- Não! Não apaga. Eu errei na criação do seu irmão Beatriz, ele se tornou um homem com valores distorcidos e carrega no coração um ódio e um preconceito que eu não ensinei. Ele não soube respeitar nem mesmo a própria irmã, e aquilo só me fez enxergar que eu precisava fazer algo urgente ou perderia de vez o meu filho.
-- Do que a senhora está falando?
-- Mandei o seu irmão para a casa do seu pai. Conversei com o Bernardo antes, expliquei tudo o que havia acontecido, comentei sobre as amizades nada sadias que Diego havia arrumado e sobre o hábito recente que havia adquirido de beber e fumar.
Meu pai nunca fora um pai amoroso e presente, nunca. Desde que ele e mamãe se separaram ele mudou-se para Mato Grosso, onde mantinha uma pequena fazenda onde produzia soja. Raras foram às vezes que ele nos visitou, e telefonemas ele fazia apenas em datas comemorativas, como o natal e no nosso aniversário.
Depois da separação, aquele homem fora se tornando aos poucos um desconhecido. Pouco se sabia sobre ele, assim como ele não sabia de quase nada da gente. Ele e mamãe mantinham uma estranha amizade, e as notícias chegavam até nós por meio desse contato deles.
O seu Bernardo é um homem rígido, não um troglodita, mas é bastante exigente e correto. Tinha plena convicção de que meu irmão, “sofreria” um bocado nas mãos dele, porque o homem não o deixaria em paz.
-- Por que a senhora fez isso?
-- Porque ele precisava encontrar o rumo certo da vida, e garanto que não há pessoa melhor para mostrar isso a ele do que o seu pai. Não dava pra ele ficar aqui, na companhia desses meninos estranhos. Além disso, não há nada melhor do que o ar fresco daquela fazenda, acordar com o galo anunciando um novo dia e ajudar o teu pai na colheita.
Tive até vontade de rir ao imaginar o Diego acordando cedo e pegando no pesado no dia a dia que se tinha em uma fazenda de produção. Meu pai não aceitaria e não permitiria que Diego acordasse tarde, assim como não o mimaria preparando sua comida, lavando sua roupa e dando-lhe dinheiro, tudo o que a minha mãe fazia antes. Sinceramente, eu não ia querer estar na pele do meu irmão.
-- Ele vai ter que rebol*r nas mãos do seu Bernardo.
-- Essa é a intenção! O mandei para lá sem nada: sem celular, sem dinheiro, sem cartão, nada, apenas uma mala com roupas. Agora ele vai aprender na marra tudo o que não aprendeu aqui. Vai ter que amadurecer mesmo que não queira. Sinto-me culpada, acho que errei muito na criação dele, se eu tivesse agido de maneira diferente em certas situações talvez o Diego de hoje fosse bem diferente.
-- Não se culpe dona...quer dizer, Ester, nem sempre o problema é com a forma com que a pessoa é educada, e diante do exemplo que temos da Beatriz, tenho certeza de que a senhora não fez nada de errado.
Mamãe sorriu largo para Adele. Pode até parecer um comentário bobo, mas vindo de fora, tenho certeza de que tinha um valor extremo para ela. Eu concordo com Adele, o problema não estava na educação, e sim no meu irmão. No entanto, não dava pra esquecer que minha mãe era conivente com a letargia do meu irmão dentro de casa, e o fato de ela o mimar também não dava para ser esquecido. É claro que eu não diria isso a ela, tinha consciência de que ela ficaria magoada.
-- Vamos torcer para que o seu Bernardo obre um milagre no Diego.
-- Se seu pai não der jeito, eu desisto, porque ninguém mais dará. – disse num tom divertido.
Ainda ficamos por ali por um bom tempo. Conversamos sobre muitas coisas, inclusive sobre a minha infância novamente. Por que as mães tinham que fazer a gente passar vergonha dessa forma hein?
Perguntei sobre Miguel, o homem “misterioso”, cujo cunho de relacionamento eu não tinha conhecimento. Com o rosto rubro, a senhora a nossa frente disse que ele era um “paquera”, mas que não tinha dado certo e ficaram apenas na amizade.
Tive que conter uma risada, porque ver a minha mãe me contar sobre o seu paquerinha, cheia de vergonha era engraçado. Até parecia que ela era a filha, e eu, a mãe autoritária que não abençoaria a relação. Por outro lado, fiquei contente por saber que agora ela conseguia se permitir, que havia deixado o casamento falido com o meu pai no passado, e voltou a viver.
Voltamos a reafirmar o acordo de almoçarmos sempre juntas aos domingos. Pedi para que mamãe não hesitasse de forma alguma se por acaso viesse a precisar de qualquer coisa, podia me ligar até mesmo quando não precisasse de nada, apenas para conversarmos. Adele deu o número do celular dela e anotou em uma pequena agenda o nosso endereço. Prometeu que cuidaria de mim e que estaria sempre ao meu lado, e isso se estendia também a minha mãe.
Só conseguimos deixar a casa de Dona Ester depois que ela nos fez lanchar. Despedimo-nos na calçada da casa com abraços emocionados. Sim, eu me sentia um pouco triste por deixar minha mãe sozinha. No fundo a gente sempre sente aquele aperto no coração, é inevitável. Porém, jamais a deixaria de lado, e apesar de não viver mais naquela casa a partir de hoje, Adele e eu jamais a permitiríamos que ela se sentisse só.
Fomos direto para o shopping, precisávamos comprar um guarda roupa maior, que comportasse satisfatoriamente minhas coisas e as coisas da Adele. O que ela tinha no quarto já estava abarrotado, e olha que agora estávamos levando mais coisas. Juntas, escolhemos um com as portas revestidas por espelhos e de cor escura, que combinava com o restante da mobília.
De lá passamos no escritório de Adele para que ela assinasse alguns documentos que precisavam ser enviados ainda hoje para um cliente. Enquanto ela ia até a sala de um dos sócios, fiquei na companhia de Carol, a sua secretaria. Nos demos bem logo de cara! Conversamos enquanto bebíamos um café.
Em casa, quando Adele falava da secretária, eu sentia certo ciúme, mas agora, diante da mulher de sorriso gentil, me dei conta de que era completamente infundado qualquer sentimento desse tipo. Pelo carinho e zelo presente na voz da mulher, uma relação entre elas jamais passaria de algo fraterno.
Quando a inglesa retornou, tinha um semblante cansado e um sorriso apagado. Abracei-a e perguntei se estava tudo bem e ela disse que estava apenas se sentindo cansada. Nos despedimos de Carol e rumamos para casa.
********
-- Você tem certeza de que quer ir amor? – perguntei encarando o reflexo de Adele pelo espelho enquanto terminava a minha maquiagem – Você disse que estava cansada, podemos ficar em casa.
-- Tenho. Amanhã é domingo amor, podemos descansar. Não queiro deixar de ir, é o aniversário da Nivea, me sinto um pouco em dívida com a Cléo. E, além disso, elas foram tão gentis em dizer que a nossa presença era importante.
-- Quer ir apenas porque se sente em dívida e por educação?
-- Não! Quer dizer, não só por isso, mas também porque vai ser divertido, princesa.
-- Pelo que eu me lembre não era a senhorita que não gostava de festas de aniversários?
-- Não gosto quando é a minha festa, quando é dos outros não importo. – disse em tom zombeteiro – Mas falando sério, quero ir por elas, porque vai ser divertido e porque preciso refrescar minha memória em uma coisa...
-- Que coisa?
-- Lá você vai saber.
-- Ah Adele, lá vem você me deixar curiosa.
Ela levantou da cama onde estava sentada e beijou atrás de minha orelha fazendo todos os pelinhos de meu corpo ficarem ouriçados. Até esqueci-me do que ela falava antes. Girei meu corpo para buscar os lábios dela, que nesse momento estavam tingidos de um vermelho escuro, tornando aquela boca ainda mais atraente.
Passei os braços por cima de seus ombros e beijei-a com carinho. Nossas bocas se moviam devagar, era um beijo calmo, mas não tardou para que aquela faísca que existia entre nós começasse a dar indícios de que logo pegaria fogo, e eu percebi isso quando suas mãos apertaram com força meu bumbum. Interrompi o beijo distribuindo beijinhos em seus lábios.
-- Temos que ir baby!
-- Tudo bem. – suspirou.
Retocamos o batom e deixamos o apartamento nos despedindo de Sherlock. Assim que deixamos o estacionamento mandei uma mensagem para Cléo avisando que logo logo chegaríamos, e ela pediu para avisar quando estivéssemos na frente da boate.
Conferi mais uma vez o presente que estava sobre o meu colo. O comprei com certa insegurança, afinal, não tinha muita intimidade com Nívea, pouco nos conhecíamos. Cléo deu a dica e disse que com aquilo, não tinha como errar.
Com menos de meia hora chegamos na Level. Tivemos dificuldade para encontrar uma vaga para estacionar, a rua estava tomada de carros e motos. Mandei mensagem para a Cléo avisando que já estávamos ali, mas não havíamos conseguido uma vaga. Ela disse para estacionar próximo ao carro da Nívea, na rua ao lado. Finalmente.
Adele segurou a minha mão cruzando nossos dedos assim que deixamos o carro. As pessoas transitavam pelo entorno da boate com copos e garrafas de bebidas nas mãos. Dali dava para ouvir parcialmente a música que vinha lá de dentro. Avistamos Cléo acenando para nós junto a porta.
-- Vocês vieram pra arrasar, não foi?
-- Ela ta um arraso, não ta não Cléo? – minha namorada falou me deixando sem graça.
-- Vamos entrar? – chamei tentando sair dali.
As duas deram uma pequena gargalhada e entramos. Cléo ia na nossa frente, andava devagar para que pudéssemos acompanhá-la sem que a perdêssemos de vista. O lugar estava lotado e em todos os cantos do lugar era possível ver casais – de todos os tipos – dançando agarrado ou aos beijos. Fomos para o andar de cima e encontramos Nívea e mais algumas pessoas – que vim saber depois serem três casais de meninas, um de meninos e uma prima da aniversariante.
Cumprimentamos a aniversariante e lhe demos os parabéns. Fomos apresentadas devidamente a todos e em seguida nos sentamos.
Um DJ tocava na casa. A música era boa e o ambiente era muito bom, era contagiante e nos deixava completamente a vontade. Todos naquela mesa estavam animados, e foi fácil interagir com eles, logo nos entrosamos e passamos a conversar animadamente.
Adele ficou responsável por dirigir e por isso não beberia nada alcoólico. Ela ia ao bar e voltava com uma cerveja pra mim e um drinque de frutas pra ela. A bebida começou a me pegar rapidinho e eu estava bem mais do que animada, tava sentindo calor, e a mão da loira na minha coxa aumentava ainda mais a temperatura daquele lugar.
Pouco a pouco o pessoal foi saindo para a pista de dança, fiquei olhando por um tempo, mas de repente senti vontade de me juntar a eles. Olhei para minha namorada e ela tinha um sorriso sacana nos lábios.
-- Você quer dançar? – ela perguntou.
-- Quero! Me acompanha?
-- Claro!
Ela levantou e me deu a mão, fomos caminhando e nos movendo no embalo da música por entre as pessoas, esbarrando em algumas até que chegamos a pista. O jogo de luzes nos dava pouca visibilidade, escondendo alguns detalhes. Tinha muita gente ali.
Começou a tocar uma música pra lá de sensual, e quando busquei o olhar de Adele ela mordia o canto dos lábios. Puta que pariu! Me desculpem o palavrão, mas eu tava quente gente, e aquela mulher mordendo aquela boca me fez incendiar de dentro pra fora.
-- Já pedi pra você não fazer isso em público. – falei próximo ao seu ouvido sem parar de mexer o quadril.
-- Não tem ninguém olhando, é só pra você. – ela sussurrou de volta no meu ouvido e eu me arrepiei.
-- Eu estou excitada Adele! Juntou a cerveja, você nessa calça apertada e essa bendita mordida nos lábios... – suspirei e dei as costas colando meu corpo no dela.
-- Está excitada é? – dessa vez ela mordeu minha orelha.
Minha calcinha molhou na mesma hora. Não consegui responder em palavras, então apenas gemi. Eu não sei se era efeito da bebida ou era apenas o meu desejo falando, mas eu tava assanhada!
A inglesa começou a mexer o corpo dela contra o meu enquanto deslizava suas mãos por minha cintura, apertando. O nível da minha excitação estava me levando a loucura, eu estava louca pra dar pra ela.
Peguei uma das mãos da loira e levei até a altura do meu seio, e ela, sem pestanejar, apertou com firmeza. Me soltei dela e a puxei para a nuca, deixando seu rosto quase colado ao meu. A respiração dela tava alterada e eu, estava louca.
-- Quero realizar uma fantasia... – sussurrei e em seguida passei a língua sobre os seus lábios.
-- Qual? – ela perguntou de olhos fechados.
-- Quero que você me foda no banheiro dessa boate.
Apesar da pouca luz eu consegui ver aquele azul assumir outro tom, um escuro, um que denunciava que eu havia conseguido levá-la a loucura também. Não me enganei! Adele pegou a minha mão e saímos daquela pista praticamente correndo até o banheiro.
Continua...
Fim do capítulo
Oi meninas! Tudo bem?
Desculpem pela demora, mas é que não andei me sentindo muito bem nesses últimos dias, e a única coisa que eu queria era a minha cama. Eu e a febre não nos damos muito bem. No entanto, deu certo aprontar o capítulo pra vocês, espero que gostem.
Comentem, tá? Um bom feriadão pra vocês.
Beijos e até o próximo.
Comentar este capítulo:
Mandyletta
Em: 07/11/2018
Boa noite autora linda! Espero que seu sumiço não seja pq tenha piorado. Melhoras pra ti e se cuide viu.
Pra matar a saudades do meu casal aq estou eu relendo a história de novo acredita? rs
ANSIOSA PELO HOT DA BOATE ;)
bjs
Resposta do autor:
Boa loite leitora mais linda ainda! Na verdade, piorei, depois melhorei e depois o tempo sumiu completamente das minhas vistas, virou uma bagunça! Mas obrigada, agora estou bem. E pode deixar que vou me cuidar.
Ownt! Sério mesmo que você tá relendo a história? Fiquei até sentida agora por ter deixado você com saudades desse casal. Mas confesso que achei fofo você reler tudo...
Opa! Já o hot chega!
Beijos amore, até o próximo!
Blume
Em: 02/11/2018
Ola
melhoras ai...
Capitulo MARAVILHOSOOOOOOOO
Parabens
bjbj
Resposta do autor:
Olá Blume! Tudo bem?
Já estou bem melhor amore, obrigada!
Fico muito feliz em saber que gostou do capítulo, muito!
Obrigada pelo carinho e por acompanhar sempre.
Beijos e até o próximo!
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LeticiaFed
Em: 02/11/2018
Oi! Diego exportado pro pai foi uma bela solução, vamos ver se funciona.
E essas duas no banheiro...ai,ai,ai! hahah Melhoras pra você, xô febre!
Beijo!
Resposta do autor:
Oi Amore! Tudo bem?
Acho que essa foi uma ótima opção. Quem sabe o choque do modo de vida e o fato de agora ter que se virar sozinho, sem uma mamãe pra mimar não acaba mudando a vida dele? Mas posso garantir que ele vai passar poucas e boas junto com o pai.
Eita, essas duas juntas colocam fogo em qualquer lugar. E as duas dentro de um banheiro na boate...promete!
Obrigada amore, já estou bem melhor, ao menos a febre me deixou em paz.
P.S.: Desculpa não ter respondido antes os seus comentários, viu? Sorry :)
Beijos e até o próximo!
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Pryscylla
Em: 01/11/2018
Eitaaaa!!! Prevejo um capítulo bem agente futuramente k?kkk
Bju
Resposta do autor:
Olá Pryscylla, tudo bem?
Opa! Vem hot ai! Esses amassos em boate são um caso, não é não? Ah se as parades das boates falassem ...kkkkk
Beijos e até o próximo!
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Thaci
Em: 01/11/2018
Boa noite, autora magnifica!!!!
Que casal fofo,gente!!!
Até que fim,a mãe da Bia,deu um jeito no encosto do Diego,espero que ele tome um rumo na vida. Hummm,vai tet hot no banheiro da boate????
Estou estranhando o silêncio do Edson. Ele deve está aprotando alguma coisa contra o nosso casal fofura.
Meninas, fiquem espertas!!! Por favor!!!
Aguardando cenas do próximo capítulo. Nota mil sempre.
Resposta do autor:
Boa noite leitora maravilhosa!!!!
Esse casal é fofo demais, dá até medo de acumular umas formigazinhas por aqui.
Pois é, até que enfim o Diego vai acordar pra vida, já não era sem tempo. Tá merecendo um choque pra quem sabe assim ele caia na real. Ainda bem que a mãe da Bia teve a estúcia de fazer isso, e tomara que o seu Bernardo dê um jeito de verdade nessa criatura. Opa! Vai ter hot sim...
Quando essas "peças" ruins ficam quietinhas quase sempre significa que estão aprontando, não é? Vamos torcer para que as meninas fiquem espertas e não caiam nas armadilhas desse cara.
Nota mil pra você também amore!
Beijos e até o próximo!
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