Alguns colegas de Carolina passavam pela UTI para dar uma olhada na médica, saber como estava a evolução do estado dela, e para dar apoio para Carlos sempre que ele estava por lá.

Daniele, uma das ortopedistas do hospital, era uma de suas melhores amigas, havia apresentado uma prima para Carolina e as duas estavam saindo juntas a dois meses, tentando algum tipo de relacionamento.

Quando soube do acidente foi visitar a amiga e ver se estava tudo bem, fez novos exames e certificou-se que o trabalho do plantonista do fim de semana havia sido bem executado.

Ligou para sua prima e a chamou ao hospital para que ela visitasse Carolina, ao que teve uma surpresa quando a garota disse que elas haviam terminado no sábado.

 

-- Marcinha, Carol sofreu um acidente esse fim de semana, e eu não soube, por que você não me contou?

 

-- Eu não sabia Dani. Você está me contando agora.

 

-- Ué, como assim? Você não estava com ela no sábado? – perguntou intrigada –

 

-- Sim. – Pausou – Mas nós terminamos. Quer dizer, ela terminou comigo.

 

-- Por que? – disse espantada – O que você aprontou com ela?

 

-- Cara, eu pisei na bola, prima. – Dizia com vergonha – Eu fiz uma merd*. – Coçou a cabeça --

 

-- Porr* Márcia! Eu te apresentei a Carol, minha amiga, gente boa, para você aprontar com ela? – colocou uma das mãos na cabeça –

 

Daniele andava em círculos pelo corredor do hospital, sabia que Carolina tinha dificuldades para se relacionar com alguém, apresentou sua prima pensando que elas poderiam se entender, mas percebeu que foi um ato sem resultado.

 

-- O que você fez? – Fechou os olhos com força --

 

-- Eu fui à tal festa com ela, foi no sábado. Aí chegamos lá, ela encontrou uma ex-namorada, muito gostosa por sinal.

 

-- Marcinha, foco! – disse entre os dentes –

 

-- Desculpa. – Encolheu os ombros – Parecia ser mais velha, mas muito bonita, aí a mulher começou a me cantar na cara de Carol. E ela estava acompanhada também!

 

-- O que aconteceu Márcia? – estava chateada –

 

-- Eu não sei bem em que momento aconteceu, mas Carolina estava conversando com a mulher que chegou com a ex dela, eu estava no banheiro, quando alguém bateu na porta, quando eu saí, dei de cara com a gostosa.

 

-- E aí Marcia? —cerrou os olhos --

 

-- Ela abriu um sorriso lindo, impossível de recusar. Ela me agarrou e me puxou para dentro do banheiro de novo. Eu transei com ela lá mesmo.

 

-- Puta que pariu! – falou mais alto –

 

Algumas pessoas passavam e ficaram olhando para a médica, ela percebeu e saiu andando pelo hospital, entrou na sala dos médicos e sentou em uma das camas. Imaginou o pior acontecendo, Carolina descobrindo esse deslize da sua prima e por isso terminou com ela.

 

-- Márcia, eu não sei se eu te mato ou se eu te mato.

 

-- Mas você me deu opções iguais. – disse sem entender –

 

-- Cara, eu não acredito, você transou com a ex dela? Eu não acredito que você se prestou a esse papel.

 

-- Ah Dani, deixa de bobeira, Carolina não estava mesmo afim de nada comigo, estava só passando tempo, ela não se entrega, não adianta.

 

-- Tudo bem, só que o acidente foi depois que ela saiu da festa. O que aconteceu depois disso?

 

-- Cara, eu não entendi nada, eu estava no banheiro numa boa com a gostosa, e sabe aquelas cenas de novela – lembrava – Carolina abriu a porta que nós esquecemos de trancar. Na hora que ela nos pegou, ela ficou tão irada, mas deu para perceber que o problema dela não era comigo, mas sim com a ex dela. – Lembrava-se do ocorrido – Ela terminou comigo, disse que não queria mais me ver, aí eu fui para a saída, estava esperando Carol sair para conversar com ela, mas ela passou correndo, aí a mulher saiu atrás dela e eu sei que elas brigaram antes de Carolina sair. Eu voltei para casa de taxi.

 

-- Que merd*! Depois eu converso melhor com você Márcia. Agora tenta tomar jeito.

 

-- Você sabe que é difícil Dani. Mas oh, Carolina já estava chorando quando nos encontrou, eu não sei o que a amiga da outra lá disse para ela, mas não foi nada bom.

 

-- Eu não sei de nada. Deixa-me trabalhar, depois vamos ter uma conversa muito séria. Tchau.

 

-- Tchau.

 

Daniele desligou com a prima e se deu conta de que o acidente tinha algo relacionado a essa briga, Carolina sempre foi muito prudente no volante, e sabia que algo a abalou com essa atitude da ex-namorada. Pensou um pouco e se deu conta que seria Samantha.

 

-- Só pode ter sido ela.

 

Saiu da sala e encontrou com Izabel nos corredores. Começou a conversar com a amiga e contou o que aconteceu com Carolina no sábado.

 

-- Eu sabia que alguma aquela biscate tinha aprontado. – Segurava um prontuário nas mãos –

 

-- Eu não entendo como Carolina foi se envolver com essa mulher. Elas não têm nada em comum.

 

-- Realmente, mas parece que foi uma paixonite da época da escola, um caso muito mal resolvido. Ela esteve aqui ontem pra visitar a Carol, eu estava com o Carlos no corredor, é muito cara de pau!

 

-- Difícil essa vida de amores mal resolvidos. – Parou e ficou pensativa –

 

-- Carol merecia alguém muito melhor que essa doida. Samantha nunca deu valor ao amor dela, e olha que não foi pouco o que Carol fez por ela.

 

-- Eu já ouvi cada história dessas duas! – Daniele revirou os olhos --

 

-- Nem me fala. Ela estava indo muito bem, fazia anos que as duas não se encontravam, por que isso foi acontecer agora? – pensava – Bom, eu preciso liberar uma paciente, depois nós conversamos.

 

-- Vai lá amiga.

 

Daniele ficou no corredor, e acabou indo até a UTI dar uma olhada em Carolina, a moça estava do mesmo jeito, sem previsão de melhoras. Ficou imaginando como Carolina tinha se envolvido com Samantha daquela forma.

 

Setembro 1997

 

Carolina estava estudando na biblioteca da escola, fazia um simulado de matemática para o vestibular, estava concentrada e não percebeu a aproximação de Samantha. A garota sentou ao seu lado e colocou sobre a mesa um pacote de lanches que havia comprado em uma lanchonete perto da escola.

 

-- Nossa, você me assustou. – disse Carolina ao ver o pacote –

 

-- Desculpe, é que eu vi você tão concentrada, que eu não quis te chamar e acabei fazendo pior. – Sorriu –

 

Carolina percebeu um sorriso sincero, não daqueles irônicos que Samantha costumava dar enquanto humilhava as meninas. Ficou encantada com aquela face que aos poucos ia descobrindo na colega. Samantha passou a ficar mais tempo na escola, acompanhava Carolina nas tardes de estudo na biblioteca, não estudava nada, apenas fazia companhia para a outra. E isso foi aos poucos conquistando a confiança de seu objeto de desejo.

 

-- Eu trouxe para você, sabia que ia ficar a tarde inteira estudando aqui nesse “muquifo”. – Fez cara de nojo --

 

-- Samantha, é a biblioteca da escola, não tem nada de “muquifo”.  – Balançou a cabeça –

 

-- Esse lugar fede a mofo. Esse monte de livro velho.

 

Quando Samantha não estava com Carolina sua personalidade arrogante e soberba sempre aflorava, e ela continuava humilhando as meninas mais novas do colégio e fazendo as mesmas coisas fúteis com Lucia, só que esse tempo ficou reduzido, pois Samantha passava mais tempo com Carolina. Lucia estava desconfiada que algo estava acontecendo, mas a líder do grupo sempre negava.

Todos os dias, as duas saíam juntas da escola e no meio do caminho Samantha se despedia dizendo que ia para casa. Lucia sabia que a amiga estava escondendo algo, mas não tinha ideia que Carolina era o motivo dessa mudança na garota.

 

-- O que tem aí dentro? – apontou para o pacote –

 

-- Tem refrigerante, batata frita e um hambúrguer. Eu não sabia qual você gosta, então trouxe o basicão. – Deu de ombros –

 

-- Eu nunca como nesse lugar, é muito caro. Então eu não sei qual eu gosto, pois nunca comi nenhum deles. – Sorriu amarelo –

 

-- Então experimenta. Sua oportunidade. – Empurrou o pacote –

 

-- Samantha, olha só, eu estou achando até bom essa sua tentativa de parecer legal, mas eu não consigo acreditar totalmente nessa sua fase de boa samaritana. – Deixou o lápis sobre a mesa –

 

-- Carol, você é o motivo pelo qual eu estou tentando mudar. Eu falo sério quando digo que eu estou apaixonada.

 

-- Tem certeza que isso não é uma aposta de mau gosto com suas amigas? – olhava desconfiada –

 

-- Absoluta. Elas nem sabem que eu volto para ficar aqui com você.

 

-- Honestamente se eu não estivesse vendo isso acontecer, eu também não iria acreditar.

 

-- Agora coma. Senão vai esfriar. – Empurrou novamente o pacote –

 

Carolina ainda se perguntava se podia confiar mesmo em Samantha, se aquele comportamento da outra não estava muito forçado, mas ela queria confiar nas pessoas, ela queria dar uma chance a colega, sabia que tinha um sentimento escondido que ela teimava em guardar. Não queria dar o braço a torcer, afinal de contas era Samantha.

 

-- Tá bom. Mas se tiver alguma brincadeira aqui ou se me der dor de barriga eu te mato.

 

-- Não vai te dar dor de barriga. – Riu leve–

 

Samantha se permitia ser leve quando estava ao lado de Carolina, era sua personalidade em sua mais pura essência, não tinha máscaras, não tinha personagens, era apenas a garota solitária que buscava um pouco de atenção. Carolina pegou o pacote, retirou o lanche e colocou sobre a mesa, a batata colocou na direção de Samantha e empurrou para que ela comesse.

 

-- Eu não quero, eu trouxe para você. – Empurrou de volta --

 

-- Você vai comer sim, e beber o refrigerante, eu não vou conseguir beber isso tudo. – Empurrou de volta a batata --

 

-- Vamos dividir o canudo? – mordeu o lábio inferior –

 

-- Sim, por que? – perguntou ingênua –

 

-- Porque eu vou sentir o gosto da sua boca. – Sussurrou –

 

Carolina ficou vermelha, sentiu o calor subir em seu corpo, não sabia se era vergonha ou se foi de desejo. Tudo era muito intendo e desafiador quando se tratava de sua relação com a menina rica, era um delírio gostoso, o sabor do perigo, o risco do desconhecido, tudo fazia com que Carolina a desejasse mais e mais, mas a razão sempre lhe impedia de ir além.

 

-- Samantha não faça isso.

 

-- O que? Declarar meu desejo por você? Sempre vou fazer.

 

-- Sua sorte é que a única pessoa que fica aqui essa hora sou eu, senão o colégio inteiro estaria falando sobre nós duas. – Mordeu o sanduiche – Nossa, isso é bom! – Disse com a boca cheia --

 

-- Eu te falei. – Sorriu vitoriosa -- Então, por isso que eu venho para cá, eu não quero que ninguém, fique sabendo de nós.

 

-- Samantha, não existe nós. – Limpou a boca com um guardanapo – Não existe nada entre nós duas. A não ser você tentando ser uma pessoa que você não é.

 

-- E o que eu não sou? – perguntou intrigada –

 

-- Legal.

 

-- Eu sou legal. Eu trouxe até um lanche. – Enrugou a testa e reclamou –

 

-- Carolina riu -- Olha, você está criando uma Samantha boazinha e tal, mas você não é assim, e você sabe disso. Tudo que você faz tem algum interesse, eu só não entendi ainda qual é o seu interesse comigo.

 

-- Carol, eu vou te falar que dessa vez não existe nenhum interesse em fazer nenhuma maldade, eu juro. Ao contrário disso, eu só quero me redimir de tudo o que eu fiz contra você.

 

            Samantha dizia com sinceridade, ela apenas queria se retratar com a garota que tanto provocou e tanto fez sofrer.

 

-- Difícil de acreditar. Mas eu vou te dar o benefício da dúvida. Eu estou achando legal não ter que chegar aqui para estudar com medo de você fazer alguma coisa contra mim. Você é bem cruel quando quer.

 

-- Eu sei, eu sou boa, mas quando eu sou má eu sou melhor ainda. – Riu –

 

-- Que horror. Você fica aterrorizando as menores para manter a pose, porque não quer que façam o mesmo com você.

 

-- Faz sentido. – Estava escutando atenta –

 

-- Eu até acho que no fundo você já se cansou dessa pose de mandona, mas Lucia adora cantar de galo, e é ela que está liderando agora, Gabriela nunca teve interesse em pisar em ninguém, ia na onda de vocês.

 

-- Isso é verdade, Gabi é na dela, acho que ela ficava comigo para não ser humilhada, já que era uma de nós. Lucia é muito impulsiva, ela gosta de pisar nos outros. – Parou e pensou -- Eu vou confessar que eu também gosto, mas não gosto mais de pisar em você.

 

Carolina olhou de lado para a nova amiga, e acabou rindo. Samantha não entendeu qual foi a graça que Carolina viu no que ela disse.

 

-- O que foi?

 

-- Você não gosta mais de implicar comigo, porque no início adorava, não é?

 

Samantha ficou sem graça, mas Carolina tinha razão e por algum motivo a garota conseguia arrancar suas verdades sem fazer esforço.

 

-- Sim, eu adorava implicar com você, até que virou uma obsessão. Muitas vezes eu vinha para a escola com o único prazer em te ver para te provocar. Até que passou a ser só por te ver.

 

-- Samantha por que você tomou aqueles remédios? – colocou o copo sobre a mesa –

 

Samantha recebeu aquela indagação com surpresa, a resposta maior era que ela queria chamar atenção de sua mãe, e tudo saiu do controle, além de quase ter morrido, não conseguiu o que queria.

 

-- Eu queria experimentar algo diferente, e na época eu estava com a Verônica, a vocalista da banda que eu te falei. – Pausou – Ela que me ensinou a tomar calmantes com bebida alcoólica para dar onda. – Deu de ombros –

 

-- Você poderia ter morrido.

 

-- Eu exagerei na dose. – Fez uma careta --

 

-- Você bebe?

 

-- Claro! Adoro uma dose de whisky com gelo de água de coco. É uma delícia! Você já experimentou? – Sorriu marota --

 

-- Claro que não! Eu não bebo.

 

-- Nada? – olhou espantada para a colega –

 

-- Nada. Eu não gosto de bebida alcoólica. – Lembranças da infância lhe vinham à mente –

 

-- Você não sabe o que está perdendo!

 

-- Na verdade eu sei o que eu estou ganhando. – Riu – Sabia que a bebida alcoólica envelhece a pessoa mais rapidamente? Degenera o fígado e resseca a pele.

 

-- Falou a médica! – Revirou os olhos --

 

-- Exatamente, eu serei médica e que exemplo eu vou dar para os meus pacientes se eu beber e fumar? Não sou do tipo “faça o que eu falo, mas não faça o que eu faço”.

 

-- Eu sabia que você é CDF, mas Caxias desse jeito! – olhou com admiração – Você quer ser médica? – Apoiou a cabeça em uma das mãos admirando a menina ao seu lado --

 

-- Sim. Vou fazer cirurgia. Eu quero salvar vidas. – Voltou a escrever –

 

-- Eu tenho certeza que você será uma ótima médica, você tem bom coração. – disse com honestidade --

 

-- Obrigada. – Sorriu -- O que você vai fazer quando terminar o segundo grau?

 

-- Nada.

 

-- Como nada? – olhou para a colega – Não vai para a faculdade? Ou trabalhar com o seu pai?

 

-- Eu não! Eu não gosto de matemática. E que faculdade eu vou fazer? Para passar de ano eu tive que colar de Gabriela.

 

-- Samantha! – repreendeu a colega --

 

-- Ué, é verdade. Eu vou tentar a carreira de modelo. Meu pai conhece muita gente, ele pode me conseguir uma vaga em alguma agencia. É o melhor que eu posso fazer.

 

-- Mas carreira de modelo é curta, com trinta anos você já está aposentada. E depois?

 

-- Depois eu vou estar casada com uma mulher rica e que vai me bancar. – Riu –

 

-- Que piada sem graça, Samantha. Esse é o seu objetivo de vida? Viver dependente de alguém? Não tem vontade de construir nada? Nem de conquistar as coisas através de suas realizações?

 

-- Ai Carol, esse papo é muito cabeça para mim. – Coçou a testa – Parece trecho de livro de autoajuda. Você gosta de falar difícil, hein!

 

-- Samantha, você tem dezessete anos, está terminando o colegial, é hora de assumir responsabilidades. O mundo está aí para nos engolir, se você não abrir os olhos você não vai ter nada. – Apontou o dedo em riste --

 

-- Eu não penso no futuro. Só no presente. E no momento eu estou pensando em você.

 

-- Pensando em mim? – espantou-se --

 

-- Sim, em como você é linda e na vontade que eu estou de te beijar. – Aproximou-se –

 

-- Não Samantha, isso não é possível. Esquece isso, essa história de paixão, não é certo.

 

-- O que é certo, Carolina? Implicar com você era certo? Provocar você era certo? Prejudicar você era certo? – Dizia com pesar --

 

-- Não. Mas não é isso.

 

-- O que é então? – Olhava nos olhos da outra – O fato de sermos mulheres? O fato de ser eu?

 

Carolina sabia que era exatamente isso, duas mulheres apaixonadas, e ainda por cima, Samantha Monte Alto, a menina mais rica da escola, isso não estava nada certo, a homossexualidade não era bem vista, o preconceito era muito maior, e ainda tinha o fato de ser Samantha.

 

-- Você sabe que é. Eu não fui ensinada para namorar uma mulher. Ainda mais você!

 

-- Ai meu Deus. Você sempre estudou nesse colégio de freiras não é, ouviu a vida inteira que a mulher foi feita de uma costela e que deve ficar ao lado de seu homem até que a morte os separe e blá, blá, blá.

 

-- Samantha, mais respeito com os ensinamentos. – Ralhou – Sim, eu sempre estudei aqui e fui ensinada assim mesmo, mas como eu não pretendo casar, eu nunca pensei em namorados, homens não são confiáveis, e eu quero ser cirurgiã, não terei tempo para família e nem filhos.

 

-- Isso é bem radical. – soltou o corpo na cadeira -- Eu não quero filhos também, então já é um ponto ao meu favor. – Sorriu largo --

 

Carolina balançou a cabeça -- Samantha, honestamente, eu não consigo acreditar no seu interesse em mim, não combina com você.

 

-- Por que não? – cruzou os braços –

 

-- Você é rica, perua, dondoca, esnobe, terrivelmente irritante quando quer. Eu sou só eu. – Deu de ombros --

 

-- Nossa, quantos elogios! – fez uma careta -- Por isso você é tão interessante. Somos totalmente opostas, e o que eu não encontro em mim, eu vejo em você. Simples assim. – Deu de ombros --

 

Carolina ficou analisando o rosto maquiado da colega que parecia uma outra pessoa quando estavam sozinhas. Samantha sentia a mesma coisa quando estava com Carolina, sentia que poderia ser uma pessoa melhor, que poderia amar alguém de verdade e ser amada.

O silencio da biblioteca parecia gritar entre as duas, o desejo de um beijo ecoava pelo ambiente, mas Carolina virou o rosto quando Samantha se aproximava e não permitiu a investida da colega. Samantha ficou frustrada, mas entendeu o medo da outra, estavam em um local público e não queria expor seus sentimentos.

 

-- É melhor eu ir embora. – Voltou para a cadeira –

 

-- Obrigada pela companhia. – Sorriu –

 

-- Até parece que você gostou mesmo. – disse desanimada –

 

-- Eu adorei, e se quiser, amanhã eu estarei aqui novamente. – Piscou –

 

-- E sua amiguinha baleia?

 

-- Samantha! – ralhou –

 

-- Desculpe. – Abaixou a cabeça como uma criança que fez besteira –

 

-- Roberta não fica comigo todo dia, só quando tem trabalho, ela está fazendo cursinho.

 

-- Eu volto. – Mandou um beijo no ar –

 

Carolina sorriu e assistiu Samantha sair da biblioteca com ar de sapeca, de menina levada. Ficou pensando se ela realmente sentia o que dizia, mas se não fosse, seria muita frieza da menina rica, conquistá-la e depois ter o prazer de magoá-la. Balançou a cabeça descrente.

 

-- Não, ela não faria isso só por capricho. Ou faria?

 

Essa resposta, Carolina não teria assim tão fácil, na verdade, talvez nunca tivesse essa certeza.

 

*************

 

Samantha caminhou até sua casa com os pensamentos em Carolina, assistia sua admiração pela menina crescer a cada dia, conversa após conversa.

Realmente aquela menina mexia com ela, com seu modo de agir, com o seu modo de pensar, se arrependia de ter feito tantas coisas ruins com Carolina ao longo dos anos em que estudaram juntas. Percebia como tinha sido cruel e maldosa. Arrependia-se de ter julgado Carolina pelo emprego de sua mãe. Percebeu como ela perdeu tempo com aquele jogo malvado de interesses e exibição.

Quem não estava gostando disso era Lucia, que a cada dia desconfiava mais dessa mudança de comportamento da amiga, colocou na cabeça que algo estava acontecendo e se prometeu que iria descobrir qual era o segredo de Samantha.

Fim do capítulo