AnaLu

Eu olhava o desenrolar da cena atrás do grande monitor. Minha função era fazer um rascunho do que estava sendo rodado para enviar para o produtor musical já ir compondo algumas partes da trilha. Era um trabalho que eu estava amando. Não pela função em si, mas por poder estar perto da Luiza.

Nem precisava olhar para o lado para saber que ela estava às minhas costas. Cerro os punhos e finjo que não a noto. O perfume doce e enjoativo de Julietta me dava vontade de vomitar. Sabe quando nos filmes de terror as pessoas sentem os cheiros dos vampiros como doce e fedido. Então, Julietta. NOJO! Como estou com fones de ouvido continuo olhando para o monitor mesmo sabendo que ela me chama. Tento me concentrar na Luiza em frente às câmeras. 

Linda, quase sem maquiagem para mostrar uma mãe sofrida em busca da filha que foi sequestrada e vendida como escrava sexual. A minha Luiza era uma atriz maravilhosa! Eram os últimos dias de filmagem e estávamos em Barcelona na Espanha. Nos próximos dias voltaríamos para o Brasil e o trabalho da Luiza teria terminado. Eu iria para Los Angeles participar da construção de todas as trilhas do filme. Ainda tentava convencer a minha namorada a ir comigo.

Namorada, estranho né? O nosso relacionamento ainda é segredo. Sei que ela morre de medo da exposição. Morre de medo das minhas mães. Mas se dependesse de mim eu tatuava bem grande na minha testa: Propriedade de Luiza Nadge.  Sinto o cheiro enjoativo da manager da Luiza ficar mais forte e percebo alguém arrancar meu fone.

— Ô, garotinha petulante! Não me ouviu te chamar não? – e lá estava ela. Sempre bem maquiada, sempre de terninho, até acho que ela deve ter um pijama estilo terninho... unhas vermelhas, batom vermelho.... é uma mulher de 40 anos bonita, mas tem um grande defeito... quer o que é meu... a minha Lu.

— Juju, sanguebão! Mina, nem te vi ai! O que manda? – Julietta odiava todos os apelidos que eu implicantemente dava a ela. Sem falar nas vezes que eu esperava ela chamar para cantar: “Julie ta ta, ta me chamando! Julie ta ta, ta me chamando!”.

— Fala para a Luiza que eu a espero no trailer dela. Preciso ter uma conversa em particular com ela. – essa era outra mania da Julietta: achava que eu era menina de recados, e sempre chamava a Luiza para “conversas particulares” como se eu tivesse cinco anos de idade. Eu tenho certeza que ela já sacou que no parquinho Luiza Nadge quem brinca sou eu, e por isso, ela tenta me colocar cada vez mais pra baixo. Só que o feitiço vira contra a feiticeira porque eu sempre faço uma zuera com qualquer coisa que ela fala.

Um dia Julietta teve a petulância em me chamar de criança e pegar de dentro da bolsa um pirulito. Sorrindo a agradeci, abri a embalagem e fiquei ch*pando sensualmente olhando para Luiza que ficou completamente excitada e terminou a “reunião” antes do tempo. Depois eu fiz nela tudo o que a minha língua fez naquele pirulito.

Enfim a cena terminou e Luiza me procurou com os olhos abrindo um lindo sorriso assim que me achou. Sorri de volta e ela fez sinal para o trailer. Compreendi o recado e logo fui atrás dela.

Luiza

            Nesses últimos meses eu estava vivendo um conto de fadas. Nunca estive tão feliz na minha vida quanto agora. E a responsável por isso é uma mulher linda de apenas 18 anos! Ana Luiza me completava em um nível além do físico. A garota sabia tudo o que eu pensava apenas me olhando. Sabia tudo o que passava comigo. E por incrível que pareça, eu era do mesmo jeito com ela. Conseguia ler a minha Ju como se fosse um livro que eu sei de cor.

            Ficavamos sempre juntas. Dormíamos no mesmo quarto de hotel. Mas para quem visse de fora a relação era de madrinha e afilhada. AnaLu queria gritar aos quatros ventos que estávamos juntas, mas a minha covardia fazia com que fossemos com calma. As únicas pessoas que sabiam do nosso relacionamento eram Fê, AnaBea e tia Alice.

Flashback on

— Quando você vai ter coragem de assumir a AnaLu, filha? – tia Alice me perguntou quando ficamos sozinhas. Estávamos na Torre Eiffel juntamente com tio Cadu, AnaBea e AnaLu. 

— Tia... eu...

— Eu entendo que você tem medos. É completamente natural. Mas você deve entender que para AnaLu, está sendo muito difícil não fazer demonstrações de carinho em público. Você a conhece tanto quanto eu. Essa menina sempre foi extremamente expansiva.

— Tia... mas você aprova?

— Luiza Nadge! Vou falar como você: PUTA QUE LOS PARIU! Só não vê que vocês nasceram uma pra outra quem não quer. AnaLu sempre soube que você era a alma gêmea dela. Você que precisou de tempo, amadurecer a ideia... e dar uma chance a ela.

— Mas, tia, a diferença de idade. A Nanda, a Clarinha....

— Até parece que você é uma velha caquética né, Luiza? Por favor!!! O que sobra pra mim? Saiba que eu ainda me acho uma menina! – ela falou rindo.

— Tia, você é gata!

— A diferença de idade tá na cabeça de vocês, ou melhor na sua. AnaLu tem esse jeito irreverente de ser e isso mascara o quanto ela é madura. E digo mais: ela é a mais madura do que todos! E sobre a Nanda e a minha filha... bom...

— Aiiii, tia, morro de medo...

— Nanda vai espernear e não gostar. Mas Clarinha vai ficar feliz, depois de um tempo. Minha dica é: conte para Ana Clara assim que vocês se encontrarem. Vocês duas conseguem qualquer coisa da Nanda. – ela beija meu rosto e me abraça. 

Flashback off

— Luiza querida! – Julietta estava no meu trailer bem acomodada no sofá. “Odeio gente espaçosa!” 

— Julietta, não esperava te encontrar aqui. – falei a contragosto. Queria mesmo era ficar sozinha com a Analu, já que hoje a noite ela iria tocar junto com a tanajura. Queria marca-la com meu cheiro, meus arranhões.... tudo o que eu faço de melhor.

— A sua garotinha não avisou? – odiava o jeito que ela falava da AnaLu.

— Ju li eeeeeeeee ta ta! Falando em mim?

— Falando que você não teve a consideração de avisar a sua “TIA” que eu estava aqui.

— A AnaLu não é garota de recados, Julietta. Vamos ao assunto que te trouxe aqui. Você mudou os investimentos de fundo fixo para o mercado de ações.

— Garotinha, você pode nos dar licença? Os adultos vão conversar agora.

— Titia Luuuuuuuuu – falou zuando. – posso ficar ouvindo? Adoro o perfume da Ju Li EEEEEEEEEEEEEEEE TA TA, ta me chamandooooo! – segurei um riso porque a AnaLu se fazia de retardada perto da pedante da minha funcionária.

— Pode sim. – AnaLu sorriu sarcasticamente e se sentou ao meu lado.

Julietta começou a falar sobre as várias opções no mercado de ações e das moedas digitais, tudo sobre o olhar atento de AnaLu.

— Então, Luiza acho que o melhor seria colocar 50% de todo seu dinheiro em moedas digitais, mesmo com a perda que ocorra ainda é a melhor opção no momento.

— Eu não concordo. – AnaLu falou e Julietta a fuzilou com os olhos.

— Ah, criança vai brincar com barbie vai.

— Por que não, Ju?

—  O mercado de moedas digitais ainda é muito novo e volátil. Não estou dizendo que é ruim ou que não dá para ganhar dinheiro, mas é uma aplicação de altíssimo risco. Então não faz sentido colocar uma parcela muito grande dos investimentos em algo tão arriscado. O certo mesmo é dividir mais ou menos assim: colocar pelo menos 60% do dinheiro em aplicações conservadoras e de baixo risco, como bônus do tesouro ou uma carteira de ações de empresas consolidadas e estáveis, mas com crescimento contínuo; separar entre 25% e 30% para aplicações de risco médio, como algumas carteiras de ações mais arrojadas ou operações ligadas a câmbio ou fundos imobiliários; apenas o restante, entre 10% e 15% a gente investe em coisas mais arrojadas e voláteis, como criptomoedas ou em ações de alto risco, ou ainda em países emergentes – nesse caso se a gente ganha, ganha muito, mas se perde não destrói o patrimônio. Pelo menos foi assim que eu aprendi e é nisso que eu acredito. Até agora parece estar dando muito certo. – conforme minha AnaLu falava o queixo da mulher caia. – Eu sugiro continuar a aplicar em renda fixa e usar apenas 10% para “brincadeiras”. Assim, caso não dê certo o investimento, você ainda tem vários outros.

— Julietta? – perguntei.

— Ah... sim... a Ana Luiza tem razão. – a mulher gaguejava como se não entendesse como AnaLu sabia tanto de investimentos.

— Eu e meus irmãos mexemos com mercado de ações desde os 15 anos. Meu avô nos ensinou. E quando ganhamos ações das empresas do meu bisavô, vovô começou a nos dar dicas e, com 18 anos, cada um fica responsável por completo pelo seu próprio dinheiro. Agora vocês me dão licença que vou até ali brincar com as minhas barbies.

               ^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^

Ela olhava extasiada para a tela do computador. “Luiza Nadge volta ao Brasil na próxima semana”. Seus dedos contornavam o rosto da atriz. “Como ela está bonita!”. Ela se levanta e caminha pelo quarto olhando as paredes que eram tomadas por recortes de jornais, revistas, blogs, fotos compradas por ela de paparazzis, fotos dos ensaios fotográficos da Masom, e todos os nus, fotos tiradas pela Alex... Tudo era LUIZA NADGE. Luiza no início da carreira, casamento com Alex, brincando com seus afilhados.... fotos, fotos e mais fotos.

Uma reprodução de um nu tirado nas ilhas gregas tomava conta de uma parede inteira. Ela se aproximou e abriu os braços colando seu corpo no gelado que vinha da superfície. Sentiu seu sex* se contrair. “Logo meu amor, logo estaremos juntas!” falou sorrindo.

Fim do capítulo