Coincidências por Rafa e
Capítulo 15
-- Vamos sair daqui? Está chato, eu tô pegando fogo e você só quer beber.
-- Não posso. – a moreninha a olhou sem entender e ela achou melhor mudar de assunto. – Augusto... – chamou o amigo. – Fica aqui com a gente. – o homem sorriu, havia entendido o convite.
-- Claro. – sentou-se entre as duas, mas Lívia se levantou ficou na ponta, ao lado da moreninha. Estava de frente para pista de dança, sem perder Haidê de vista.
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“When the days are cold/ And the cards all fold/ And the saints we see/ Are all made of gold/ ...When you feel my heat/ Look into my eyes/ It’s where my demons hide/ It’s where my demons hide/ Don’t get too close/ It’s dark inside/ It’s where my demons hide/ It’s where my demons hide...” *
-- Agora entendo o que lhe faz gostar tanto dessa música. – Luciano falou para Haidê, fazendo-a sorrir.
-- Mas se falar a alguém eu lhe mato. – foi a vez de Luciano sorrir.
-- O problema que você me ama demais para isso.
-- Olhe nos meus olhos e verá os meus demônios, não esqueça. – ele estava sorrindo quando viu a expressão de Lívia.
-- Existem demônios piores que os seus aqui neste bar, eles me assustam mais. – a advogada o olhou sem entender e ele completou. - Querida, seu intuito era chamar atenção da surfista? Se foi isso, alegro-me em informar que atingiu seu objetivo com louvor. – Haidê viu Lívia olhando-a com uma expressão fechada.
-- Não era esse meu objetivo. – afastou-se um pouco para ficar de frente para Luciano, olhando-o nos olhos. – Na verdade, eu só queria me divertir e aproveitar.
-- Não me importo se quiser aproveitar um pouco desse corpinho lindo. – Haidê deu outra gargalhada com o jeito do amigo. Lívia permaneceu observando-a irritada.
-- Pode usar e abusar de mim. – respondeu sorrindo. O homem apertou o abraço e lhe deu um selinho.
-- Então vou massacrar essa loira infantil. – deu outro beijo em seu pescoço. – Com todo respeito, é claro. – Haidê não parava de rir com as brincadeiras do amigo. – Qual o tamanho do estrago neste coraçãozinho?
-- Eu não deveria, mas me apaixonei.
-- Claro que deveria. – respondeu de forma afetada. – Tem coisa melhor do que beijar na boca e usar aquilo que dá coceirinha e comichão? – Haidê apertou o abraço e continuou rindo. – Sempre recomendo aos meus pacientes: queridos, não existe botox ou silicone melhor que sex*. Faz bem para pele, alma, corpo e retarda o envelhecimento. – Lívia estava cada vez mais incomodada com a alegria da advogada. – Dê, minha querida, se olhares matasse eu já teria me esticado aqui, seco e esturricado feito uma vítima de raio.
-- Não liga, como minha avó costuma dizer: sai no xixi.
-- Venenosa! Amo dona Helena, minha bruxa preferida. – deu uma gargalhada. – O que ela achou do rompimento com Lívia?
-- Acredite: ama Lívia e se duvidar, a neta é ela. – respondeu sorrindo. – Acredita que nós ainda ficaremos juntas.
-- E vocês conversaram depois que contou toda a verdade? – a advogada ficou séria e respondeu sem jeito.
-- Como você mesmo falou: os demônios deste bar são bem perigosos.
-- Haidê, eu não julgo suas atitudes, mas tento entender Lívia. Além de não ser o certo a justiça com as próprias mãos, tem o fator perigo. Já pensou que essa “fase de negação” ... – enfatizou essa parte. – Pode ser pelo medo de lhe perder? Vai que acontece algo? Olha o tanto que ela perdeu na vida, agora você?
-- Poderia ter me procurado e conversado, mas agiu como se eu fosse apenas a assassina, sem olhar o contexto.
-- Deusa da minha alma, nem eu sei o que faria se tivesse me entregado a você e de repente: pimba! Descubro que minha mulher é uma mistura de Kill Bill com Bruce Lee. – sorriu lembrando algo. – Pensando bem, agora tem a Sharlize Theron em Atômica que é uma mistura de tudo isso sem deixar de ser gostosa. Assistiu esse filme? Eu ia lhe chamar para ir ao cinema, mas Mari disse que o ogro me bateria achando que era ironia.
-- Ele assistiu e adorou. – brincou. – Luciano olhou para loira e teve medo da expressão que ela demonstrava.
-- Querida, aquela loirinha ali a qualquer hora vai me bater. Essa música está muito melosa, vai que ela resolve ser a Uma e mostrar a katana? Eu tenho medo! – gritou no ouvido de Haidê.
-- Ela não tem altura da Uma Thurman. – respondeu com voz de enfado.
-- Altura não é documento, exemplo disso foi o único golpe que ela lhe deu, suficiente para nocaute. – a advogada lhe beijou e parou de dançar.
-- Odeio quando você tem razão. Vamos sentar e beber. – piscou e saiu em direção a mesa, sem se importar com os olhares que Lívia lançava.
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-- Lívia, deixa a coroa para lá, vai acabar perdendo a diversão com a ninfeta. – Augusto aconselhou depois de apontar para menina que estava sentada e emburrada.
-- Ela que se foda! – respondeu irritada e virou a garrafa de cerveja de uma só vez.
-- Se eu soubesse que essa vaca velha viria para cá, teria chamado vocês para outro lugar. – Milena desabafou para Augusto, estava incomodada com a reação da loirinha. Lívia ouviu a conversa e a olhou com uma expressão enigmática. – Que cara é essa?
-- A mesma que não aguenta ouvir tanta bobagem. – levantou-se e pediu mais bebida. Havia tomado várias cervejas, estava um pouco tonta, viu Haidê passando em direção ao banheiro. Olhou para os amigos, nenhum havia percebido, a moreninha estava aos beijos com Augusto. Resolveu ir atrás da advoga, havia uma senhora limpando a área externa que levava ao banheiro. Aproximou-se e pediu de forma convincente mostrando uma nota de cem. – Eu preciso conversar com uma amiga que passou para lá e se segurar o fluxo de gente por um período, ficarei bem agradecida, na volta lhe entrego a irmã gêmea dessa. – a velha colocou uma placa de que o ambiente estava fechado para limpeza. Ela entrou e esperou Haidê sair de um dos reservados. – Oi. – a morena olhou e passou para lavar as mãos.
-- Oi. – respondeu sem olha-la. Lívia revirou os olhos e se escorou próxima ao balcão.
-- Parece que está se divertindo muito.
-- Não mais que você. – respondeu olhando-a pelo espelho.
-- Quem é o grandalhão sebento? – Haidê se virou fitando-a nos olhos.
-- Não lembro de ter obrigações com você, ou lhe deva explicações. – os olhos verdes pareciam sair fogo.
-- Apenas respeito.
-- Respeito? E por que lhe devo respeito?
-- Terminamos há poucos dias e...
-- Terminamos? Sério mesmo? Não lembro disso.
-- Haidê... – bateu com a mão na parede, não sabia o que falar. – Quem é aquele paspalho?
-- Lívia, você acaba de fazer a pergunta errada?
-- Eu?
-- Sim. Deve perguntar: sou a nova paspalha?
-- Não entendi a piada.
-- Não é piada. – jogou a toalha de papel no lixeiro. - Enquanto se diverte com seus queridos amigos, corre o risco de perder tudo. – bateu com o indicador no ombro da loirinha. - E estes idiotas que estão aí fora, eles serão os primeiros a lhe deixar sozinha.
-- O que está falando?
-- Descubra, veja se o excelente advogado que contratou é tão bom assim.
-- Ele é muito melhor que seu noivo maravilha.
-- Então ele é péssimo, porque meu ex noivo é muito bom, principalmente em roubar dinheiro dos outros. – piscou e quando estava saindo Lívia a chamou de novo.
-- Haidê, acho que você me deve uma explicação.
-- Sério? Eu já vivi muito nessa vida, mas não conheci ninguém mais egocêntrica do que você. – sorriu vitoriosa.
-- Não torne as coisas difíceis. Eu só quero saber quem é o idiota.
-- Garotinha, melhor voltar para seus amiguinhos antes que sintam sua falta e lhe coloquem de castigo. – Lívia a puxou pelo braço e tentou beija-la, mas foi impedida. – Não faça mais isso. – advertiu irritada.
-- Ele é melhor do que eu?
-- Gosto de pessoas sóbrias. – limpou o pó no rosto da loira e saiu pisando pesado. Lívia se olhou no espelho e jogou água no rosto.
-- Merda!
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Haidê voltou e sentou ao lado de Mariana.
-- Está tudo bem? – perguntou baixinho.
-- Não. – limitou-se a responder, bebeu o resto de caipirinha e pediu outra.
-- Ei, vai com calma aí. – Úrsula brincou. – Não vou conseguir lhe acompanhar nesse ritmo. – Haidê forçou um sorriso e olhou em direção ao grupo, não viu Lívia entre eles, procurou com os olhos, mas não a encontrou.
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-- Moça, você não tem condições de sair com essa moto.
-- Não enche garoto! – subiu na moto e deu partida, saiu acelerando.
-- Tão linda e sem responsabilidade. – lamentou.
Lívia só queria voltar para casa e se isolar, esquecer o mundo. Estava próxima ao túnel quando ultrapassou um carro e viu Jeanine, assustou-se, desequilibrou-se e não conseguiu se manter na moto, caiu próximo a estrada.
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Haidê ficou mais um pouco entre os amigos, a conversa com Lívia havia lhe deixado mais triste. Vê-la naquele estado lhe apertava o coração. Despediu-se de todos, mas foi impedida de sair sozinha por Luciano.
-- Eu lhe deixo em casa, não tem problemas.
-- Não Mari, você também precisa relaxar.
-- Mas eu não. – Luciano afirmou se levantando após terminar a bebida. – Eu lhe deixo e volto.
-- Não precisa, eu posso pegar um uber ou táxi, o que aparecer primeiro. – brincou.
-- Nada disso. – passou o braço pela morena. – Vamos comigo. – saíram abraçados. Milena viu e chamou atenção de Augusto, só então sentiram a falta de Lívia.
-- A bonitona está com o charmoso. Foi esperta e arrumou outro que aparenta mais grana.
-- Ainda bem, não aguentava mais essa história. – Augusto afirmou sorrindo.
-- Viu a Lívia?
-- Não. – respondeu após olhar ao redor. – Ei, ela precisa pagar a conta.
-- Eu não tenho dinheiro.
-- E você acha que eu tenho? – Milena respondeu irritada. – Melhor procurarmos por ela.
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-- Eu sei como você está.
-- Então explica? – perguntou enquanto olhava a estrada pela janela. - Nem eu sei mais o que sinto, penso ou faço. – confessou após respirar fundo. – Está muito difícil.
-- Quando Marcos me deixou fiquei sem rumo. – apertou a mão do amigo.
-- Ainda se culpa?
-- Eu sou médico, sai naquele dia ele estava bem, quando volto...
-- Ele teve um aneurisma, não tinha como adivinhar.
-- Sou médico, eu poderia ter ficado mais atento. – confessou batendo com a mão no volante.
-- Não se culpe. – aproximavam-se do túnel quando Luciano a alertou.
-- Parece uma moto caída. – Haidê olhou e viu um corpo pouco afastado.
-- Tem alguém ali. – Luciano parou o carro.
-- Cuidado, pode ser uma armadilha. – pegou uma lanterna e antes que acendesse, Haidê desceu, havia reconhecido a loirinha pela roupa.
-- É Lívia. – correu em direção a loirinha. – Amor, Lívia... – viu o pulso.
-- Não tem lesão aparente, só algumas escoriações. – Luciano fez uma avaliação rápida com a lanterna.
-- Eu tiro o capacete?
-- Com muito cuidado. – olhou para morena. - Vamos lá, ajudo você. – neste momento Lívia despertou.
-- Bá, deixa eu dormir. – Luciano a olhou e sorriu.
-- Parece ótima.
-- Filha... – disse irritada e se censurou. – Como ela faz isso? Irresponsável!
-- Calma, não está sendo fácil para ela. – Haidê o olhou seria e ele levantou as mãos em defesa. – Amigo! – brincou. Haidê olhou para Lívia, chamando-a.
-- Lívia... Lívia, acorda! – a loirinha ergueu a cabeça e segurou com a mão. – Calma, levante-se devagar.
-- Está doendo? – Luciano perguntou preocupado, mas ela o olhou irritada.
-- Sai de perto da minha mulher. – tentou levantar a mão para bate-lo, mas caiu.
-- Está bêbada, por sorte não aconteceu nada.
-- Vontade de passar por cima dessa moto. – Haidê desabafou.
-- O que? Olha essa máquina... Essa belezinha deve custar uns seis meses do meu salário. – Haidê revirou os olhos.
-- Ajuda a colocar ela no carro? Eu levo a moto.
-- E cair de propósito detonando-a? Nem pensar. Leva a Lívia no meu carro e eu sigo vocês. – levantou a moto. – Assim testo essa máquina.
-- Deixa procurar o controle do portão e as chaves da casa, não quero assustar dona Dirce. – ele olhou sem entender. – Depois lhe falo quem é ela.
Haidê chegou na casa da loirinha, abriu o portão, entrou e esperou o médico passar. Ela desceu do carro e segurou Lívia, que acordou e lhe beijou, mas em seguida voltou a dormir. Luciano se aproximou para ajudá-la, Bá apareceu e ficou assustada com o que viu.
-- Ave Maria Santíssima! O que aconteceu com a minha criança?
-- Calma dona Dirce, ela está bem.
-- Como está bem? Toda cheia de arranhão e com esse bafo. – constatou após se aproximar.
-- Vou leva-la para o quarto, depois explico o que aconteceu. – olhou o amigo. – Por aqui Lu. – subiram as escadas, ele a deixou sobre a cama. – Eu assumo daqui.
-- Não é melhor coloca-la no chuveiro? Um banho frio nestas horas é a melhor coisa. – Bá perguntou preocupada.
-- Dona Dirce? – perguntou na dúvida.
-- Sim.
-- Sou Luciano, amigo de Haidê e irmão da sócia dela, Mariana. – apresentou-se com um sorriso. – Sou médico e em outras circunstancias de acidente de moto eu faria de tudo para ela não dormir. Neste caso eu já a avaliei, ela estava de capacete e está bem.
-- Não seria melhor leva-la ao hospital para exames?
-- A mídia toda cairia em cima quando chegasse ao hospital, além de ser a bomba do ano: campeã de surfe sofreu acidente dirigindo uma moto bêbada e drogada. – Luciano revelou com cuidado.
-- Drogada? – ergueu as mãos como se fizesse uma prece.
-- Ela ficaria irritadíssima quando acordasse. – Luciano constatou.
-- Drogada Haidê?
-- Dona Dirce...
-- Não esconda nada. – advertiu. Haidê suspirou e falou a verdade.
-- Tinha pó no rosto dela quando conversamos mais cedo.
-- Esses amigos dos infernos doutora. – amparou-se sobre um móvel. - Isso não é vida! – Luciano se aproximou sentando-a.
-- Calma dona Dirce.
-- Vou arruma-la na cama, depois desço e conversamos.
-- Quer ajuda? – Luciano perguntou mesmo sabendo a resposta.
-- Não precisa, assumo daqui. – o olhou. – Obrigada! – ele leu muita preocupação no semblante da velha senhora.
-- Haidê, por que não fica aqui? – a morena o olhou surpresa. – Qualquer coisa estará aqui para ajudar dona Dirce.
-- Eu ficaria muito agradecida se ficasse, ela lhe respeita e iria gostar.
-- Não acho uma boa ideia. – Radar sentou em suas patas traseiras e ergueu as duas da frente chamando atenção da morena.
-- Acho que até o cachorro está pedindo. – Luciano afirmou segurando o sorriso.
-- Por favor doutora... – Dirce voltou a pedir. Ela olhou o moreno com uma cara de poucos amigos.
-- Está bem. Agora vou arruma-la.
-- Qualquer coisa só ligar, deixarei o celular ao meu lado. – piscou e saiu acompanhado da velha senhora.
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-- Doutora Haidê... – a morena olhou para trás e fez sinal para que ela entrasse no quarto. – Peguei suas roupas. – mostrou e deixou sobre um pequeno sofá. – Tem toalhas limpas no armário do closet e escova de dentes... – forçou um sorriso. – Acho que já deve ter uma aqui. – a advogada olhou surpresa para as suas roupas e Bá entendeu. – Ela trouxe dentro da mochila quando veio da sua casa.
-- Imaginei.
-- Doutora...
-- Por favor, pode me chamar de Haidê, combinamos isso, não foi? – Bá pegou em suas mãos.
-- Então me chame de Dirce ou Bá. – estava com o semblante cansado. – Não sei porque terminaram, mas isso a afetou. – Haidê fez menção em falar, mas ela a interrompeu. – Ela anda fazendo bobagem atrás de bobagem, precisa de você.
-- Dona... – revirou os olhos. – Dirce, eu não posso agir como mãe de Lívia, só quero que ela entenda isso. – Bá olhou para menina que chamou a morena.
-- Haidê...
-- Ela voltou a usar drogas, agora não sei como faremos.
-- Não vou mentir, ela usou e bebeu muito.
-- Fernando tentou conversar com ela, mas fugiu. Hoje chegou um documento entregue por um oficial de justiça, não sabia o que fazer, liguei para Fernando.
-- Eu sei dessa intimação. – Lívia voltou a se mexer na cama.
-- Melhor conversarmos amanhã. – olhou para loira que tinha um sono inquieto.
-- Haidê... Jeanine... Jeani... Amo... – as duas se olharam.
-- Ela precisa dessa garota. – respondeu cansada. – Já que fiquei para dormir aqui, vou ao menos tomar um banho. – Bá a segurou.
-- Jeanine morreu, ela está chamando você...
-- Tudo bem Bá... – deu de ombros. – Não é a primeira vez que perco algo valioso. – forçou um sorriso e Bá passou uma mão pelo seu rosto.
-- Eu sei que ela lhe ama. – forçou um sorriso. - Vou fazer um lanche para você.
-- Não precisa. – Bá parou olhando-a. – Comi e bebi antes de tudo isso.
-- Qualquer coisa é só me chamar. – a advogada colocou a mão sobre o ombro da mulher confortando-a, mas ela a pegou e apertou entre as suas.
-- Não vou precisar. Agora vá descansar. – saiu deixando-as sozinhas.
A advogada tomou banho e vestiu as roupas que Lívia havia levado para casa.
-- Eu não sei quando você trouxe... – falou olhando-a dormir e, depois deitou ao seu lado, refletindo sobre o dia. – Garota, o que estou fazendo aqui? Não temos nada em comum. – contornou os lábios de Lívia com o indicador, em seguida beijou de leve e sorriu ao ouvi-la pronunciar seu nome.
-- Haidê... – choramingou.
-- Como eu lhe amo. – deitou-se de lado e adormeceu após passar um longo tempo olhando-a, velando o sono inquieto.
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-- Ela foi embora. – constatou se sentando, pegou o copo e bebeu o resto do líquido, fez uma careta. – Só tem gelo e água aqui.
-- Era o meu copo de uísque, só tem o gelo derretido. – Augusto respondeu após pegar um cigarro.
-- E agora? Como vamos pagar por tudo isso? – o homem olhou ao redor.
-- Vamos jogar a conta para morena.
-- Está louco?
-- Claro que não. – sorriu. – Falaremos que foi ela quem mandou. Jogamos de uma para outra.
-- Eu não tenho coragem, aquela mulher me deu medo quando a conheci.
-- Bem, como não tenho de onde tirar, vou lá jogar a meleca no ventilador. – levantou-se e seguiu até a mesa dos amigos de Haidê. – Boa noite! – disse a todos, sem se preocupar com quem estava falando, só Ramiro respondeu.
-- Boa noite!
-- Eu quero falar com Haidê.
-- O que quer com ela? – Mariana perguntou encarando-o.
-- Lívia fez algumas despesas na mesa e disse que era para entregar a conta para Haidê. – sorriu. – Acho que ela devia uma quantia, um acordo entre as duas depois de tudo... – deu de ombros. Mariana olhou para os amigos sem acreditar no que ouvia.
-- Então vá atrás dela e cobre. – Ramiro respondeu.
-- E de preferência na justiça. – foi a vez de Úrsula intervir.
-- Olha, na boa, estamos aqui porque elas se combinaram, algo assim...
-- Se Haidê está devendo, tem que pagar. – Milena interrompeu o amigo.
-- Ei, estou interrompendo algo? – Luciano retornou e chamou atenção do casal.
-- Eles querem que Haidê pague a conta deles. – Érika explicou e o médico deu uma gargalhada.
-- Como é? – Luciano não acreditava no que ouvia.
-- O máximo que vocês levarão daqui é uma ligação para polícia. – Úrsula ameaçou e só então Augusto a reconheceu.
-- Vamos andando Milena. – ela não entendeu o gesto do amigo e continuou ameaçando-os.
-- Aquela vaca está devendo e vai ter que pagar, esta maldita conta. – Mariana se levantou, mas seu irmão a segurou.
-- Chega! Agora vocês sairão daqui ou ligo para polícia. - Úrsula ameaçou de novo. Milena abriu a boca para falar, mas Augusto a puxou.
-- Mila, ela é uma juíza... – disse baixinho em seu ouvido. – Melhor sair. – a levou de lá.
-- E agora? Como vamos pagar?
-- Vou passar um cheque, amanhã faço Lívia cobrir.
-- E eles aceitam cheque aqui?
-- Se não aceitarem, meu cartão não tem limite para tudo isso. – alertou e aguardou a conta chegar.
-- Eu mato a Lívia! Como ela faz isso com a gente?
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-- Isso é o cúmulo! – Mariana declarou irritada.
-- Haidê não vai acreditar quando falarmos. – Érika completou.
-- Ela estava melhor hoje. – foi a vez de Úrsula falar em tom de desabafo.
-- Eu a deixei na casa de Lívia. – Luciano comunicou displicentemente e todos olharam para ele.
-- Como é? – ele contou toda a história aos amigos.
-- Elas voltarão. – Mariana anunciou com um fio de esperança.
-- Eu nem sabia que Haidê estava com mulher, mas bem que eu toparia ficar com ela... – sorriu. – Ah se me desse uma chance. – Érika falou entre suspiros.
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Haidê acordou com uma mão ousada por baixo da sua camisa, acariciando seu seio.
-- Haidê... Meu amor, como eu lhe amo. – a advogada estava surpresa, não sabia o que fazer.
-- Lívia... – antes que falasse algo, seus lábios foram capturados em um beijo cheio de desejo e saudades.
-- Como eu lhe amo! – subiu sobre o corpo maior, levantou a camisa da morena e ch*pou um dos seios. Haidê sentiu a boca da loirinha ch*pando-a, ficou toda molhada e cheia de desejo.
-- Lívia... – a afastou um pouco e só então percebeu que ela estava dormindo. A colocou sobre a cama e se levantou ajeitando o cabelo. – Assim não consigo... Lívia, por favor, maneira um pouco. – andou em círculo, parou observando-a. – Parece um anjinho dormindo. – sentou na cama, passou a mão pelo cabelo loiro. – O que eu faço? Está muito difícil sem você. – voltou a deitar olhando-a até adormecer.
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-- Haidê, eu fiz um café para você.
-- Obrigada Bá, mas preciso ir. – olhou o relógio. – Tenho uma audiência hoje, preciso me preparar. – a velha sorriu.
-- Apenas uma xícara.
-- Só uma xícara. – respondeu correspondendo ao sorriso.
-- A sua vida deve ser uma roda de emoções. Eu lembro de um criminalista que morou perto de Estevam... – disse pensativa. – Ele vivia nessas correrias de audiência e estudos. Precisa ter muito estômago para viver no meio desses criminosos e vivenciar essas brutalidades.
-- Hoje estou acompanhando a promotoria. – explicou enquanto bebia o café. – Um tipinho alega lapso de sanidade enquanto matou a esposa, a sogra e abandonou a filha de onze meses entre os dois corpos.
-- Minha Nossa Senhora! – fez o sinal da cruz. – Os homens não respeitam mais as mulheres. Eles chegam e se elas recusam a corte, eles batem até matar. Não existe leis neste País.
-- Leis existem, assim como as brechas e histórias convincentes. O que precisamos são punições mais severas.
-- Eles não passam muito tempo, não é? E voltam para fazer terrorismo aos familiares das vítimas ou pregando por alguma religião.
-- Verdade Bá. – refletiu quanto à justiça que fazia com as próprias mãos. – Agora preciso ir.
-- Boa sorte!
-- Quando ela acordar... – pensou um pouco. – Deixa para lá.
-- Por que não deixa seu número e lhe faço uma chamada para avisar? – ela pensou melhor.
-- Vou deixar meu número, mas não precisa avisar quando ela acordar. – fingiu desinteresse.
-- Está bem. – Bá também fingiu acreditar. Haidê estava saindo quando Fernando chegou.
-- Onde ela está? – perguntou irritado.
-- Fernando... – olhou de forma repreensiva para o homem. – Bom dia! – ele olhou para Bá e só então percebeu a presença de Haidê.
-- Desculpe, eu não sabia que estava com visitas.
-- Ela não é visita. – pegou a mão de Haidê e segurou entre as suas. – Ela é Haidê. – Fernando a olhou pensativo e só então lembrou quem era.
-- Ah, claro! – esticou a mão que foi recebida. – Fernando... Quer dizer, eu sou Fernando, padrinho de Lívia. – estava sem jeito. Ela era uma mulher intimidadora.
-- Prazer. – recebeu a mão forçando um sorriso.
-- Eu vim falar com ela. – olhou para Bá. – Lívia não aparece para trabalhar, estamos com várias coisas atrasadas e agora essa maldita intimação. – Haidê prestou atenção no homem e viu que ele estava realmente preocupado com a loirinha. – Eu quero falar sério com essa garota.
-- Calma meu filho. – Bá interrompeu. – Sente aqui, venha tomar um café.
-- Não quero nada. – olhou de uma para outra, estava cansado. – Eu não consegui honrar meu compromisso com Estevam e George, vou deixar a empresa.
-- Fernando, por favor, isso não vai adiantar. – disse despreocupadamente.
-- E o que vamos fazer? Esperar ela se destruir?
-- Não precisa disso, já tem Jaques, Francine e os amigos para fazer isso por ela. – os dois se olharam surpresos. – Olha, eu sei que parece loucura, mas é a única forma de Lívia mudar.
-- E o que precisamos fazer? – Fernando perguntou curioso.
-- Ignora-la. Bá, sei que é difícil, mas não poderá passar mais a mão na cabeça dela. – olhou para Fernando. – Quanto a intimação, estou vendo isso com Mariana, ela assumirá o caso. Lívia tem que pensar o contrário, acreditar que não estamos nem aí para ela. – explicou todo o plano e os dois concordaram em segui-lo.
-- Ela vai enlouquecer. – Bá confessou com o semblante cansado.
-- Ela tem que mudar ou vai perder tudo. – foi a vez de Fernando interrompe-la, ele estava preocupado.
-- Não vai perder, desde que o plano dê certo. – Haidê afirmou com convicção.
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-- Haidê, você ainda mora aqui?
-- Desculpa vó! – tentou beijá-la. – Eu pensei em ligar.
-- Pensou e não ligou. – reclamou.
-- Vó...
-- Nada de vó. – sentou-se irritada.
-- Estava com Lívia. – falou de uma vez antes que ela a interrompesse. – Ela bebeu demais, caiu da moto, tive que ajudar. Bá pediu para dormir com ela e...
-- Está bem. – demonstrou não gostar. – Agora ela é melhor que sua avó. – reclamou.
-- Minha vovó, eu lhe amo e foi a primeira vez que falhei em anos como neta dedicada. – Helena a olhou. – Agora preciso ir embora. – a beijou. – Terei um dia estressante.
-- Vai matar alguém? – foi irônica.
-- Não dona Helen Zoiler, irei a um julgamento.
-- Vai aprisionar. – viu que o humor da avó não estava dos melhores.
-- Conversamos mais tarde. – a beijou de novo e saiu.
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-- Ei dorminhoca. – Bá passou a mão pela perna da loirinha.
-- Bom dia! – espreguiçou-se.
-- Boa tarde! – respondeu com ironia. Lívia olhou em volta e depois para seu próprio corpo.
-- E esses arranhões? Bá, eu trouxe alguma garota para casa? – estava assustada.
-- Não uma garota qualquer. Quanto aos arranhões: você caiu da moto e se machucou. – fechou o cenho. – Quantas vezes disse para não beber quando estivesse dirigindo? E usou drogas, também.
-- Bá, foi só um cigarrinho e...
-- E não tem mais juízo. – brigou. – Não vou mais admitir que faça isso com você mesma.
-- Não exagere. – tentou se levantar mas sentiu uma tontura e voltou a deitar na cama.
-- Viu? Está tonta e com dor de cabeça. – levantou-se.
-- Para onde vai?
-- Pegar um remédio e chá. – saiu e não demorou a voltar. Lívia lembrou de Haidê ao seu lado e o beijo.
-- Bá, eu tive um sonho tão louco, parecia real. – disse confusa, com a mão na cabeça.
-- O que sonhou?
-- Haidê estava aqui, ainda sinto o cheiro do perfume dela... – respondeu pensativa. - E nós...
-- Não quero saber de nada! – quase gritou. – Quanto a Haidê, foi ela que lhe trouxe. Encontrou você caída na estrada, como uma bêbada e drogada. – usou termos pejorativos para atingi-la. – Uma esportista jovem, que fez milhares de fãs adolescentes, os mesmos que pensam em ser igual a grande Lívia Fachini, a campeã mundial de surf. – levantou-se. – Eu não vou ficar aqui e vê-la se destruir.
-- Como? – estava em silêncio, escutando as reclamações da velha senhora. – E vai para onde?
-- Eu vou para casa da minha irmã, combinei tudo com ela quando chegou a intimação e lhe procurei como louca, mas você não estava nem aí.
-- Que intimação?
-- Francine quer mais dinheiro, acha que a pensão dela é muito pouca.
-- Enlouqueceu? – levantou-se, mesmo com dor de cabeça. – Preciso falar com Gus.
-- Ele não foi trabalhar, avisou que estava se sentindo mal. Depois do que fiquei sabendo sobre ontem, faltar serviço por causa de ressaca é muito bom. – foi irônica. – Uma chefe que trata os funcionários da empresa assim, prospera muito.
-- Como ficou sabendo?
-- Fernando ligou para falar com você. Ele está saindo do escritório.
-- O QUE? – gritou. – Eu dormi quantos anos?
-- Mais de quinze horas.
-- O que está acontecendo? Todos estão me deixando... – cheirou-se. – É meu desodorante? Creme dental?
-- Sua irresponsabilidade. – saiu deixando-a sozinha.
-- Merda! – olhou para cama e depois para sua imagem no espelho. – Quem tirou minha roupa? – a imagem da morena veio a sua mente, tocou os lábios com os dedos. – Então o beijo foi real. – sorriu.
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-- Não Lívia.
-- Fernando, por favor, eu preciso da sua ajuda.
-- Não precisa de mim, você tem ajuda do seu advogado. – terminou de colocar seus pertences em uma caixa.
-- Por favor, eu preciso de você... – pegou o braço do padrinho. – Preciso da minha família: você e Lis. – o homem soltou o braço e caminhou pela ampla sala e a olhou pensativo.
-- Eu prometi ao meu melhor amigo que cuidaria de você como um pai, foi por isso que me escolheu como seu padrinho. Depois que ele morreu, eu e Lis assumimos essa responsabilidade, dando o suporte necessário a George. – passou a mão pelo cabelo e a encarou nos olhos. – Hoje eu vejo você se afundar e acabar com tudo que seu pai, tio e eu construímos. – abriu os braços. – Tudo isso é seu, mas você não tem responsabilidade. – bateu com força na mesa. – Estou velho, tudo o que investi na vida está aqui dentro. Não vejo futuro permanecer e assistir você afundar tudo. Esqueceu que tenho família? Nandinho entrou agora na faculdade, como vou pagar? Como vou mantê-los se continuar aqui com essa sua instabilidade emocional e total falta de responsabilidade? Esqueceu que existem mais pessoas trabalhando para você? E não é de graça. Eles precisam alimentar seus familiares, manter o plano de saúde e todas as contas. Esta intimação é um aviso... – andou em círculo. – O seu advogado não veio trabalhar, estava indisposto. A semana passada só veio um dia e o salário que tira aqui equivale a quatro pessoas da produção e que rendem muito mais. Está ciente de tudo isso?
-- Eu sei. – afirmou com uma voz de fracasso. – Por favor Fernando, não deixa a empresa. – pediu quase chorando.
-- Se eu ficar, tenha em mente que a primeira coisa que farei será demitir aquele oportunista e proibir a entrada dele e da sua amiguinha aqui. – Lívia o abraçou.
-- Por favor, não me deixe sozinha... – pediu chorando. – Eu não entendo nada disso, você é quem me orienta. – ele apertou o abraço.
-- Eu vou demitir aquele delinquente e acabar com suas regalias. – respondeu enquanto a abraçava e Lívia se afastou olhando-o.
-- Isso é um sim? – fitou o homem mais velho que permanecia sério. - Eu amo você, dindo.
-- E não me venha com este sentimentalismo. – estava com os olhos cheios d´água. – Sempre que quer algo me chama assim. – sorriu.
-- Eu só quero que fique comigo. – encostou o rosto ao corpo do homem mais alto.
-- Sim. – afastou-se e chamou a esposa. – Lis, por favor, venha até a minha sala. – desligou o telefone e a olhou. – Agora não vai voltar atrás. – alertou no mesmo tom de seriedade.
-- Não. – forçou um sorriso.
-- Chamou querido?
-- Chamei sim. – olhou para Lívia. - A garota vai assumir algumas responsabilidades até criar juízo. – Lis sorriu olhando para loirinha que se aproximou, abraçando-a. – Ficarei no comando até ela se mostrar preparada. Enquanto isso, quero que peça aos recursos humanos para fazer a demissão de Augusto. – Lívia permanecia abraçada a madrinha. – Avise aos seguranças que depois da sua demissão, ele e a tal Milena estão proibidos de entrar aqui na empresa.
-- Sério?
-- Estou com cara de quem está brincando? – perguntou com uma voz irônica. – E não quero que vá a sua casa.
-- Fernando... – Lis tentou argumentar, mas foi interrompida.
-- Quer que eu fique? Então vai ser tudo ao meu modo. – respondeu de forma ríspida. Lis apertou mais o abraço a loirinha.
-- Tudo bem madrinha. – beijou o rosto da mulher. – Assumo que pisei feio na bola e agora estou colhendo os erros. – afastou-se. – Agora tenho que conversar com outra pessoa.
-- Lívia... – a chamou com autoridade. - E não pense em chegar tarde em casa. – advertiu. – Amanhã tem expediente normal e o exemplo de pontualidade e responsabilidade vem do chefe. – a loirinha concordou com a cabeça e antes de sair ele completou. – Amanhã conversamos sobre esse processo.
-- Tudo bem.
-- Fernando... – Lis se aproximou. – Querido, você está sendo severo demais.
-- Ela precisa disso. – respondeu cabisbaixo.
-- Lívia tem vinte e quatro anos, não pode estipular hora para chegar em casa ou quem vai ser seu amigo.
-- Lis, eu não posso agir de outra forma. – olhou a esposa. – George foi bonzinho, ela teve muita liberdade, agora está assim.
-- E quanto ao processo? Ela falou algo?
-- Não. – andou pela sala. – Acredito que vá se aconselhar com Haidê.
-- Ela vai enlouquecer quando descobrir a verdade sobre a mãe.
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Júnior e Yan estavam jogando videogame quando ouviram a porta.
-- Eu vou. – Helena avisou. – Deve ser alguém conhecido para o porteiro deixar passar. – abriu a porta e deu de cara com a loirinha.
-- Será que Haidê está aí? – perguntou envergonhada. Yan ouviu a voz da surfista e pulou, depois correu em sua direção.
-- Lívia! – gritou animado, a loirinha se abaixou e falou com o menino.
-- Ei gatinho. – fez um carinho no rosto da criança.
-- Você não apareceu mais. – disse envergonhado.
-- Estava resolvendo algumas coisas. – o menino olhou para trás e chamou Júnior.
-- Júnior, essa é a namorada da minha tia. – o loiro se aproximou.
-- Eu conheço ela. – respondeu sorrindo.
-- Ela pega onda. – revelou empolgado. Helena olhou para Yan e sorriu, sabia que essa revelação seria muito para cabeça de Júnior.
-- Sério?
-- Sim, ela é campeã. – Lívia sorriu com a empolgação do menino.
-- E como você consegue pegar? Eu pensei que ela derretesse, tá ligado?
-- Como? – Lívia não entendeu a pergunta.
-- Não é pegar com a mão, ela pega na prancha. – Yan explicou.
-- Como assim? – Helena resolveu interromper ou passariam a noite toda ali.
-- Está procurando Haidê? – Lívia balançou a cabeça ainda surpresa com o loiro. – Ela está lá no quarto, melhor subir antes que ele faça outra pergunta.
-- Por favor dona Helena, não tenho mais espaço na minha cabeça. – confessou e Júnior a interrompeu.
-- Tem como “rearrumar” a bagunça dentro da cabeça, assim tem mais espaço. – explicou empolgado. – Olha só...
-- Júnior, ela precisa conversar com Haidê, depois você explica. – Helena o interrompeu antes que ele continuasse.
-- Eu vou subir. – informou correndo em direção a escada.
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Lívia se aproximou da porta do quarto e ouviu uma música clássica.
-- Clássica? – pensou surpresa e bateu de leve na porta.
-- Pode entrar. – respondeu com uma voz suave. Lívia entrou e viu a surpresa nos olhos azuis. – Você?
-- Eu precisava conversar com você. – Haidê estava sentada em uma poltrona lendo alguma coisa e uma taça de vinho ao seu lado, as duas se olharam e ela se levantou. Lívia permaneceu parada, admirando-a enquanto sentiu o coração disparar, parecia que estava a galopes. – “Meu Deus, que mulher é essa?” – pensou fitando-a nos olhos e só então percorreu o corpo maior. A morena estava de calças jeans rasgada, uma camisa de malha, cabelo em um rabo de cavalo e descalça. Ela sorriu ao perceber os olhos verdes percorrerem seu corpo.
-- Sobre? – perguntou mantendo uma das sobrancelhas erguida.
-- Sobre o que? – Lívia respondeu com outra pergunta.
-- Disse que precisava falar comigo. – aproximou-se de forma predadora. - Sobre o que quer falar?
-- Ah! Eu... Eu... – permaneceu olhando-a nos olhos, sem saber o que responder.
-- Você... – repetiu a pergunta. – Quer falar?
-- Eu... – Haidê estava muito próxima, Lívia não conseguia desviar os olhos do corpo definido, falou sem pensar. - Estou com saudades. – confessou sem perceber. Haidê respirou fundo e segurou a vontade de beijá-la.
-- Lívia, por favor, sejamos práticas. – cruzou os braços, era uma forma de se segurar e não abraça-la.
-- Eu só estou sendo sincera.
-- Sincera? Está com saudades de uma assassina?
-- Haidê, eu fui injusta com você e quero que me desculpe.
-- Desculpar? Não tem motivos. – afastou-se. – Apenas disse o que sentia: eu sou uma assassina.
-- Haidê... – a olhou indo em direção a varanda e seguiu. – “Você começou do final, sua idiota!” – pensou irritada. – Eu quero agradecer por ontem... – analisou a expressão da morena. – Se não passasse por ali, talvez estivesse pior.
-- Então se lembra de ontem? – a analisou.
-- Não. – colocou as mãos nos bolsos. – Acho que lhe devo um agradecimento, além da desculpa.
-- Não deve nada. – foi direta. – E seus amigos? Sabia que me procuraram para pagar a conta que você havia prometido a eles?
-- O que? – estava surpresa. Haidê a conhecia bem e viu que estava surpresa.
-- Disseram que eu lhe devia algo e exigiram que pagasse a conta para eles. = a fitou nos olhos. - Engraçado que Úrsula conhecia um dos donos e descobriu o valor da conta.
-- Eu não acredito. – caiu sentada segurando a cabeça. – Que vergonha!
-- A maior vergonha é uma campeã mundial de surf, com uma rede social cheia de fãs adolescentes, cair bêbada de uma moto. – colocou o indicador na boca como se lembrasse de algo. – Ah, também estava cheia de pó.
-- Haidê...
-- Disse que nunca havia usado nada muito pesado... – falou baixo, mas em um tom firme. - Depois garantiu que não usaria mais drogas... O que realmente quer para sua vida?
-- Você. – respondeu de imediato.
-- Sem chances. – afastou-se.
-- Ficamos assim? – Haidê segurou as lágrimas que pediam para sair.
-- Não ficamos. – respondeu fitando-a nos olhos. – Fernando ligou para mim... – resolveu contar uma meia verdade. – Pediu que assumisse a questão da intimação.
-- E você?
-- Encaminhei para Mariana, ela é a melhor nesses assuntos.
-- Mas você acompanhará? – percebeu a expressão da morena e reformulou a pergunta. – Será que você poderia acompanhar?
-- Eu sou criminalista...
-- Eu sei que entende do assunto. – foi firme.
-- Claro que entendo, sou advogada, mas ela tem mais propriedade. Amanhã Fernando vai no escritório para conversar com ela, esperei que essa fosse uma iniciativa sua. Algo do seu interesse.
-- Fernando assumirá tudo. Ficarei como assistente para aprender. – confessou envergonhada. – Agora só tenho domínio total sobre minha marca, sou o rosto por trás de tudo. – brincou mas Haidê não sorriu.
-- Alguém com maturidade tinha que assumir para não ir à falência. – a loirinha estava muito envergonhada.
-- Ele está me dando uma segunda chance. – respondeu encarando-a. – Quando terei a minha? – Haidê a amava, não tinha como negar, precisava dela.
-- Eu preciso de um tempo.
-- Tempo? Para que?
-- Não esperava ouvir da mulher que amo algo como assassina.
-- Desculpa... – aproximou-se. – Haidê, eu amo você. – a impediu de se aproximar mais.
-- Melhor respeitar esse tempo.
-- Até quando?
-- Até quando for necessário. – Lívia a olhou com tristeza e isso cortou o coração da morena. – Agora preciso terminar de ler aquele processo. – a loirinha concordou com a cabeça e saiu, sentiu as lágrimas rolarem por sua face, passou pela sala e não parou para conversar.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Mille
Em: 25/10/2018
Acorda Lívia enquanto é tempo
Que cara de pau do Augusto e Milena não ter dinheiro para pagar a conta e ainda colocar na para a Haide pagar.
E está certo a decisão se todos mostrar a realidade para a Lívia porque se passar a mãona cabeça nunca terá responsabilidade com seus empreendimentos e a vida.
O tempo será Bom para elas.
Bjus e até o próximo capítulo
Resposta do autor:
Ela está acordando Mille, posso lhe garantir que essa situação vai mudar. Beijos
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LeticiaFed
Em: 25/10/2018
Oi Rafa, que bom lhe ver de volta! Espero que os problemas de saúde na família estejam resolvidos ou bem encaminhados. E desejo muito sucesso com a segunda parte de Erros e Recomeços. Alguma previsão de ostagem? Em livro físico e e-book?
Quanto a Lívia...está colhendo o que plantou por imaturidade e irresponsabilidade, mas Haidê está sendo uma grande amiga acima de tudo. Apesar das acusações pesadas, tem amor suficiente para ajudar a loirinha. Torcendo para que ela aproveite a chance de ouro que está recebendo. E mande passear de vez os amigos da onça Augusto e Milena.
Ótima semana pra você.
Resposta do autor:
Oi Letícia, infelimente não está, mas entregar na mão de Deus é a melhor solução. Não há ainda previsão para publicação do livro, mas já está concluido. Tenho que procurar a editora e toda essas questões. Beijos e bom final de semana.
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