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La Santa Muerte
O celular da policial tocou, olhou para o relógio ao lado da cama e já se passava das 3 da manhã. Atendeu ainda meio grogue de sono.
— O que houve? —Perguntou com a voz sonolenta.
—Tem uma viatura passando pra te pegar em 15 minutos, consegue ficar pronta? —Disse Mendonza.
—Ok.
Foi até o banheiro e lavou o rosto, soprou nas palmas das mãos para sentir o hálito e percebeu que não era um dos melhores aromas. Lavou a boca com um enxaguante bucal, o uniforme, distintivo e arma ficavam sempre pronto. Nunca se sabia quando iria precisar. Já era acostumada com as chamadas fora de hora. Um teste para ver se a pistola estava travada e logo depois colocou no coldre. Quando terminava de amarrar os cadarços do coturno cano alto quando ouviu a sirene da viatura.
Desceu pelas escadarias do prédio de quatro andares sem fazer muito alarde. Ao chegar na viatura foi recepcionada por Mendonza.
—O que houve para me acordar a esta hora da madrugada—Disse, seguida de um bocejo—Desculpa.
—A filha de um amigo que me é muito caro, ao que tudo indica, se matou.
—Mas isso não é com a policia civil investigativa? O que o DEA tem a ver?
—Preciso da sua experiência só para uma confirmação. Como disse, o pai dela é um amigo de longa data.
A viatura correu em alta velocidade pelas ruas vazias da Cidade do México, a sirene afugentava os que ainda transitavam, fazia uma friagem atípica. Ao chegar no local do crime, os legistas estavam retirando o corpo da casa. que ficava em uma zona residencial de classe média alta. Colocou as luvas que um perito passou e levantou o pano que cobria o corpo. O que viu foi uma jovem loira, bem nutrida, com fortes olheiras. Aparentemente o corpo já estava em rigor mortis. Conferiu as mãos e encontrou traços de um pó branco. Com ajuda de um saquinho retirou um pouco do resíduo.
—Manda para analise por favor. —Disse entregando a amostra para um dos policiais.
Ao entrar na casa, se deparou com um local de aspecto de sujo, bagunçado. Roupas jogadas pelo chão, pia cheia de louças que pelo cheiro já se fazia muito tempo que estavam ali.
—Ela morava sozinha? —Perguntou para Mendonza, que a seguia—Algum namorado, amante?
—Ela tinha um relacionamento discreto. É só isso que dizia aos pais.
Ao chegar no quarto, encontrou garrafas de bebidas vazias por todo o cômodo, um frasco vazio de rivotril caído ao lado da cama. Uma substância branca em cima de uma mesa. Mistura fatal. Pensou.
—O que fazia da vida?
—Estágio de jornalismo na revista CASAyDECOR. Os pais estão viajando para Amsterdã de férias. Só conseguiram voo de volta para amanhã de manhã. Era para ela ter ido nessa viagem, mas dias antes disse que não se sentia bem e resolveu ficar.
—Ela fazia algum tratamento?
—Sim, sofria de depressão. Mas não falava sobre o problema com ninguém, só a família sabia. Nem os colegas de trabalho sabiam de nada. Mas ela estava trabalhando normalmente, ontem até entrevistou Alejandra DellValle.
—Interessante, vou conversar os amigos dela. E todo mundo que estiveram por último com ela. Incluindo Alejandra.
—Tenha total liberdade para tomar as atitudes que achar melhor.
—Não quero dar nenhum parecer antes do resultado laboratoriais e de autopsia, vamos conversar com todos. E esperar os resultados. E este namorado, não temos nada sobre ele?
—Nada, o celular dela não tinha nada sobre ele. É possível que ela possa ter inventando. Os policias não acharam nada, nem fotos, nem mensagem. Enviamos todos os aparelhos eletrônicos para perícia também.
—Ok, vou dar mais uma circulada por aqui. Amanhã eu começo tomar os depoimentos.
O nome DellValle cruzou mais uma vez pelo caminho da agente. Mais uma vez fez seu corpo todo se arrepiar, tal como a aparição de um fantasma. Igual aconteceu enquanto fazia suas buscas particulares sobre a senadora.
Ao chegar na delegacia depois de algumas horas de pericia na casa, a agente teve acesso ao laptop da jovem. Acesso também, as senhas das redes sociais. Nas averiguações a policial observou algumas postagens sobre amores não correspondidos, amar a si próprio, o assunto depressão era recorrente nas postagens da timeline . Mas nenhuma mensagem em privado que era de se chamar atenção, o TI ia fazer beckup para saber se algo havia sido apagado. No celular da jovem também nada de anormal foi encontrado, nada que indicasse que ela se relacionava mesmo que em segredo com alguém. Só aumentando a suspeita de que podia se tratar de apenas invenção sobre o tal namorado.
Alguns fatos novos surgiram durante o dia, uma mensagem suicida apagada da vítima que a polícia conseguiu recuperar no computador aumentavam ainda mais as chances de ter sido mesmo um suicídio.
Para MAMMA E PAPÁ
Mãe, você sempre me criou para ser uma princesa, sempre ser a número 1 em todos os campos da minha vida. A melhor aluna, a melhor atleta, a melhor...a melhor sempre. Desculpa pela decepção. Sei que vai faltar o entendimento e uma resposta plausível para o que eu fiz, mas garanto que foi o melhor a ser feito. Eu não sofri, está sendo aparentemente tudo tranquilo. Os remédios logo começam fazer efeito e vou para a segunda dose. Mamá, não fique com raiva de mim e nem se distancie de Deus. Papa, te amo...
Com todo amor, Paula Abranches Quezada...
Resultados preliminares da autópsia indicaram, como causa da morte paragem cardíaca por mistura de álcool, clonazepam e cocaína. Todos os resultados dentro dos parâmetros esperado. Mas ainda faltava ainda tomar depoimentos de todos que tiveram contanto com Paula nos seus últimos dias. A lista era relativamente extensa, e o nome de Alejandra era um dos últimos.
O sol já se punha quando a agente se deu conta do quanto havia trabalhado demais, lido e relidos relatórios, visto e revisto fotos tirados pela perícia da casa e do corpo da vítima. Apenas neste momento havia conseguido comer um lanche rápido, graças a insistência de um dos seus colegas americanos.
***
Era feriado no México, feriado do dia de Santa Muerte. A cidade estava agitada, com tons festivos apesar de uma comemoração ser considerada bizarra por quem não entende. Acordei cedo, tomei meu café e me arrumei para ir ao cemitério trocar as flores do túmulo do meu pai. Vesti toda de preto com direito a um tule da mesma cor no rosto. Os arranjos de flores espalhados pela enorme varanda. A imagem de filha amorosa e devotada tinha que continuar. Precisava continuar. Até quando, só o tempo iria dizer.
Segui em contingência para o Panteón Francés de San Joaquín, onde ficava o mausoléu da família DellValle. O local estava movimentado, várias viúvas de narcotraficante, empresários, gente da alta sociedade. Um verdadeiro show da ostentação do luto. O carro parou alguns metros de distância do mausoléu, desci e em passos lentos fui até o local. Dois seguranças ao meu lado, alguns olhares curiosos e claro, paparazzis me perseguindo. Me mantive firme em meu papel, mas algo me chamou atenção. Um carro parou atrás dos meus, uma mulher de terno preto desceu. Os cabelos levemente despenteados. Ao ser abordada pelos seguranças foi logo mostrando o distintivo.
—Senhora— Antes que o segurança concluísse a frase eu respondi.
—Pode deixá-la passar.
A policial se viu obrigada a deixar a arma com o segurança, o que fez surgir dela uma visível face de descontentando.
—Uma hora bem inconveniente, policial.
—Sua assessoria não respondeu nenhum dos meus chamados, ou era isso ou ter que te intimar.
—Desculpa, tem sido dias atribulados — Respondi tentando manter o tom sereno.
A policial franzia a testa por conta do sol forte, eu tentei manter a calma. Fingi secar uma lágrima enquanto conversávamos. Ficar de frente a um agente do DEA era uma situação que sempre me deixava nervosa.
—Certamente já está sabendo sobre o que aconteceu a Paula Abranches.
—Sim, certamente, suicídio, né? Eu fui ao velório, tão jovem... —Respondi reticente.
—Ainda estamos investigando. Mas ao que tudo indica... —Ela tentou se esquivar de me dar mais informações.
—Podemos conversar em inglês se achar melhor, agente...?
—Melanie Simons, e como preferir, interrogatório em qualquer idioma é valido.
—Que tragédia o que aconteceu com essa moça. Era tão bonita, cheia de vida. Eu sou amiga do pai dela de longa data. Em que eu posso ajudar?
— Você esteve com ela horas antes do incidente, certo?
—Sim, ela e a equipe foi ao meu apartamento para uma entrevista.
—Algumas pessoas disseram que a Senhora.
—Sem formalidades por favor—Interrompi abruptamente.
—Algumas pessoas disseram que vocês conversaram em particular. Sobre o que falaram?
—Ela veio me agradecer por ter cedido a entrevista, e falamos algumas coisas sobre decoração.
—As mesmas pessoas disseram que no trajeto de volta para o estúdio ela chorava.
—Eu não notei nada de anormal no comportamento dela, alguns relapsos, ela tropeçava algumas vezes na fala. Mas achei que fosse pela falta de experiencia, nervoso ou algo do tipo.
—Então não notou nada que te chamasse atenção? —Retrucou a policial.
—Se tivesse notado algo, certamente eu teria falado com o pai dela— Respondi ainda tentando manter a serenidade.
—Vocês tinham contato mais próximo?
—Não, não fazíamos parte do mesmo vinculo social. As festas que frequentei na casa dos Abranches ela sempre estava rodeada de amigos da mesma idade. Trocamos um comprimento ou outro.
—Estranho, ela tinha você nos contatos pessoais dela. Achei que tinham mais contato uma com a outra.
—Não, Não. Como eu lhe disse, se eu tivesse percebido algo de errado antes eu teria conversado com DOM ABRANCHE. Eu e ele temos intimidade para isso.
—Certo, vou colocar seu depoimento nos autos e qualquer coisa lhe procuro novamente. Espero que desta vez sua equipe colabore mais — Disse em um tom de sarcasmo.
—Com toda certeza Agente...?
—Simons— Respondeu completando a frase.
—Oh, desculpe. Agente Simons.
Observei a policial se afastando e com ar de deboche pedindo o distintivo para o segurança. Toda aquela conversa me deixou nervosa e de pernas bambas. Respirei aliviada ao ver que ela entrou na viatura. Precisava tirar o DEA do México e as medidas já haviam sido tomadas, logo a policial receberia uma ligação de Nova York a mandando retornar. Estava em meio a uma operação tensa e o DEA me rodeando era o que eu menos precisava.
Fim do capítulo
Espero que gostem.
Comentar este capítulo:
anny silva
Em: 20/10/2018
Essa alejandra e muito esperta.
Acho que isso ai nao foi suicidio não algo a mais aconteceu!
Anciosa pelo proximo bjsss
Resposta do autor:
Será mesmo? vamos agurdar :)
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