Rosalie vez ou outra olhava pelo retrovisor para a loira, "dormindo parece um anjo, mas acordada..." preferiu nem lembrar. Dirigiu sem parar até as cinco e meia quando decidiu que já estavam distantes demais para Armando os alcançar, seu corpo todo doia e sua barriga roncava de fome mas eram medidas de segurança. Escolheu um motel no meio do nada com lugar nenhum e deixou Gabriel com Stella adormecida na caminhonete e foi até a recepção: - Preciso de dois quartos. - Sinto muito senhorita, só temos um de casal disponivel. O restante estão todos ocupados por conta de uma greve dos caminhoneiros que fecharam a rodovia mais a frente e não deixam nenhum carro passar. - informou a mulher. - Greve? - Sim, a rodovia está fechada. Se vai para a fronteira não vai conseguir passar ao menos por enquanto. - disse ela tirando os olhos do celular e enfim enxergando a morena escorada no balcão. A mulher a olhou de cima abaixo e sorriu de um jeito malicioso para ela. - Não teria mesmo mais um quarto? - perguntou Rosalie dando seu melhor sorriso sedutor. - Se quiser dividir o meu... - sugeriu a recepcionista. Bem que a morena se sentiu tentada, seria melhor que passar a noite perto de Stella. - Quando é que vou comer alguma coisa? - perguntou a loira entrando na recepção com Gabriel atrás, felizmente tinha recolocado a blusa. - Se não tem outro jeito, vou ficar com esse mesmo. - respondeu Rose ignorando Stella e sorrindo para a recepcionista. - São um casal novo não é? - perguntou ela apontando para Stella e Gabriel. - É eu meio que fico sobrando - murmurou Rosalie se perguntando se Gabriel não poderia cuidar da loira por uma noite. - Se eles te incomodarem muito meu quarto fica no final da ala esquerda - disse a mulher entregando a chave para Rosalie que pagou pela noite e pediu que levassem algo para os três. Voltaram para o carro e Stella não parava de reclamar: sobre a pele que estava queimada do sol, sobre o cheiro insuportável de suor, sobre o tempo, o motel, o quarto, o cabelo, a fome, o chuveiro que não esquentava direito, o colchão que não estava macio, o humor de Rose. A morena já não aguentava mais ouvir a voz dela então depois que recebeu a comida e deixou os dois jantando decidiu tomar um banho e ir descansar no quarto de uma certa recepcionista. Depois que saiu do banheiro, se vestiu e jantou foi até a porta só para descobrir que a chave não estava ali. Respirou fundo apertando os dentes para não dizer besteira e se virou para os dois que estavam sentados no único sofá que havia no quarto: - Onde ela esta? - Não pergunta para mim que eu não sei - disse Gabriel levantando e indo tomar banho. - Stella, me dê a chave - pediu aparentemente calma. - Para quê? Perdeu algo lá fora? - retrucou a loira. - A chave - insistiu Rose contando até cem. - Não vou dar, sei que quer ir atrás daquela oferecida mas seu lugar é aqui me protegendo. Boa noite Rosalie e durma bem - disse ela irônica. Rose observou Stella deitar na cama de casal com a maior naturalidade do mundo se virar, fechar os olhos e ignora-la por completo. Sentou no sofá incapaz de acreditar que Stella teve coragem para desafia-la. - Não consegiu pegar? - perguntou Gabriel saindo do banheiro com uma calça folgada e sem camisa. - Não, acabo de perceber que estou bem encrencada com essa garota - comentou a morena se dando conta do quanto tempo gastou olhando para Stella. - Vai querer a cama ou o sofá? - quis saber o garoto com um sorriso compreensivo. - O so...a cama - disse depois de pensar bem - Boa noite Gabriel. - Boa noite Rose. Deitar na cama era outra história principalmente com Stella esparramada nela, empurrou os braços e as pernas da loira para o canto e depois deitou como se o colchão fosse de pregos. O corpo tenso ouvia a respiração relaxada da outra e adomecer não foi fácil mas conseguiu, acordou meia hora depois com Stella agarrada a si. Foi impossivel não ficar ofegante e seu corpo reagir ao toque, a respiração dela em sua nuca a arrepiava toda e idéias cada vez mais pervertidas passavam por sua mente. Para não enlouquecer levantou com o maior cuidado possivel e saiu pela janela do quarto, não foi para o quarto da recepcionista como pretendia no inicío, entrou na caminhonete e deitou no banco de trás só dormindo depois de muito tempo quando seu corpo e sua mente se acalmaram. Stella acordou com o celular tocando, não era o seu e sim o de Rose. Na tela estava escrito Snake e ela procurou a morena pelo quarto mas não encontrou, checou a chave embaixo do travesseiro e viu que ainda estava ali. Não conseguiu mais dormir, ficou andando de um lado para o outro do quarto pensando aonde a morena tinha ido até Gabriel acordar e pedir o café. Não demoraram para trazer e os dois comeram em silêncio depois que ela destrancou a porta até o garoto perguntar: - Viu Rose hoje? - Não e não faço idéia de onde esteja. - disse Stela lendo as mensagens dos pais no celular, sua pele ainda ardia do sol de ontem mas de resto estava bem. Estava ligando para eles quando alguém bateu na porta, mandou Gabriel abrir e continuou conversando alegremente sobre a chegada deles a Europa. Seus olhos foram para a porta ao ouvir a voz de Rosalie desejando bom dia ao garoto, os cabelos curtos dela estavam bagunçados, as roupas que vestiu para dormir amarrotadas e no exato instante em que ela entrou a tal recepcionista passou em frente a porta sorrindo feliz para a morena. Foi a gota d'água para Stella que se trancou no banheiro, contou ao pai que precisava desligar e se sentou no vaso pensativa. Uma parte sua se magoara e ela não sabia o motivo, outra queria estapear Rose por sua falta de consideração. " E se alguém tivesse entrado nesse quarto e matado nós dois? O que ela faria? Ah, nada! Porque estava ocupada demais com aquela galinha cheia de penas e depois ainda tem a cara de pau de dizer que é minha segurança!" pensou bufando no final. - Stella venha arrumar suas coisas, precisamos partir - gritou Rosalie do quarto. A loira saiu do banheiro, recolheu suas roupas e foi para o estacionamento chutando a roda da caminhonete com força e esperando ali. Tudo se tornara confuso demais para ela e não queria decifrar o mistério do que realmente sentia: - Calma aí bonita - disse uma voz masculina atrás dela. Se virou e encontrou um rapaz loiro com a pele queimada de sol, segurava a alça da mochila cargueira que estava nos ombros e sorria para ela de um jeito encantador. - Quem é você e o que faz para manter esse bom humor todo a essa hora da manhã? - perguntou ela sendo simpatica. - Mirar chicas bonitas como tu - respondeu ele com um ar de dom Juan barato - Soy Héctor e tu és.... - Stella - chamou uma voz conhecida com seu mau humor de sempre. Rosalie percebeu que Stella estava distante e concluiu que era melhor assim, cada uma no seu lugar, a noite encolhida no banco de trás lhe rendeu uma boa dor nas pernas mas dormiu mais do que dormiria se tivesse ficado na cama. Tomou café rapidamente e saiu sem ver Stella que estava trancada no banheiro, a recepcionista a recebeu com aquele olhar sacana do dia anterior e Rose sorriu para ela de modo galante: - Vim acertar as contas - disse a fitando com intensidade. Ouviu o valor e pagou sem problemas - Você conhece bem as estradas da região? Preciso continuar a viagem, não posso esperar essa greve acabar. - Claro, o que quer saber? - Pode me dizer um modo de chegar a fronteira sem ser parada em um desses bloqueios? - perguntou entregando a ela um gps. A recepcioniasta a encarou de um jeito encantador antes de pegar o aparelho e o usar. Alguns minutos depois devolveu o gps a Rose e acrescentou: - Uma pena que não tenha aparecido. Rosalie piscou para ela e dizendo um tchau sem graça voltou para o quarto, Gabriel a esperava com as duas malas prontas e os dois foram para o estacionamento e avistaram próximo ao carro Stella conversando tranquilamente com um desconhecido. Segurando sua mala com força a morena se aproximou dos dois e a chamou: - O que quer? - perguntou a loira ficando séria na hora. - Precisamos partir, se despeça do seu... - a morena olhou o rapaz com cabelo de milho de cima a baixo - seu amigo. - Soy Héctor, prazer - disse o rapaz estendendo a mão. - Rosalie e aquele é o Gabriel - a morena apertou a mão dele e depois virou-se para Stella - Nosso tempo é contado e a menos que queira repetir o que aconteceu ontem temos que ir agora. - Desculpe, para donde estan indo? - Héctor interrompeu uma possivel resposta de Stella. - Para a Argentina, estamos em uma viagem de férias - respondeu a loira antes que Rose falasse. - Poderian me dar boleia? Estoy haciendo un....como se diz aca? - Um mochilão? - sugeriu a loira. - Eso, lo que piensam? - Ele pode vir não é Rose? Rosalie fitou Stella, a loira estava com seu melhor olhar pidão e foi impossivel não ceder porém tinha que tentar. - Podemos conversar a sós? - Claro! No hay problema. - respondeu o rapaz indo conversar com Gabriel e as deixando sozinhas. - Você não pode estar falando sério? Acaba de conhecer esse sujeito, nem sabemos quem é e diante da atual situação poderia ser um assassino pronto para enfiar uma faca em sua jugular - ponderou a morena. - Ele não tem cara de assassino para mim. - rebateu Stella. - Garanto que a ruiva do posto também não tinha cara de sequestradora - retrucou Rose. - Gabriel e você são unha e carne, não posso desabafar com ele sem que você saiba de tudo. Deixa o Héctor vir com a gente, se ele der problema você se livra dele - argumentou a loira. - Estamos perdendo um tempo precioso aqui, chame aquele loiro burro e deixo claro aqui que se você morrer por conta desse pedido eu não tenho culpa - disse por fim a morena colocando as malas na caçamba e indo para a cabine. Gabriel ocupou o banco do lado de Stella para alivio de Rose, o tal Héctor foi na frente conversando sem parar em seu portunhol com os dois garotos de trás. A estrada indicada pela recepcionista era de terra batida que cortava todo o trecho ocupado pelos grevistas e saía próximo a fronteira., respirou fundo desejando pela primeira vez na vida estar bem longe dali.

Fim do capítulo