Capítulo 67 -- É tão difícil pedir perdão!
A ILHA DO FALCÃO -- CAPÍTULO 67
É tão difícil pedir perdão!
-- Alexandra Girani, por favor! Venha se sentar comigo -- a voz áspera e profunda da moça mostrava uma irritação mal disfarçada -- Cada vez que a Bruninha tenta começar a palestra, você atrapalha. Vamos! -- houve um som de pés pesados se afastando e a loira fixou o olhar nas senhoras.
-- Essa é a minha esposa, Isabel. Eu amo esse jeito feroz dela -- Alexandra enfiou as mãos nos bolsos -- Não tenho medo. Só obedeço, para não deixar Isa ainda mais aborrecida. Eu vou, mas de lá, estarei de olho em vocês.
Elisa e Pedrita entreolharam-se, deram de ombros e voltaram a atenção para a jovem médium que começava a falar:
-- Uma caravana de camelos atravessava o deserto. Chegou a hora do descanso e o cameleiro preparava-se, como habitualmente, para prender os camelos às estacas, quando verificou que faltava uma estaca.
Não sabendo como resolver o problema, perguntou ao mestre da caravana:
-- Mestre, falta uma estaca para um camelo. Como fazer?
-- Não terás problema. Eles estão tão habituados a ficar presos que, se tu fingires que atas o camelo com a corda, ele pensará que está preso e nem sequer tentará sair do lugar.
O cameleiro assim o fez e o camelo ali ficou, por toda a noite.
No dia seguinte, quando se preparavam para partir, o mesmo camelo simplesmente recusou-se a sair do lugar, mesmo quando o cameleiro o puxava com toda a força. Sem saber que atitude tomar, dirigiu-se de novo ao mestre, contando-lhe o sucedido.
-- Homem! -- respondeu-lhe o mestre -- Que fizeste ontem? Não fingiste que o ataste à estaca? Então, faz o mesmo hoje. Finge que o desamarra.
O camelo, mal o cameleiro fingiu que o desatava da estaca imaginária, recomeçou a caminhada.
Moral da história:
Muitas vezes não avançamos devido às nossas "estacas mentais". Por acreditarmos em certas regras preestabelecidas e obedecidas por nossa mente.
Nos acomodamos simplesmente, por que permitimos que alguém amarre as nossas rédeas quando e como bem entendem. Porque chegamos num estágio de acomodação muito grande, ao qual nos impede de pensarmos por nossa própria conta, por achar trabalhoso demais. (Autor desconhecido).
É uma questão de interesse, comprometimento consigo mesmo. É preciso levantar a cabeça e olhar a sua volta.
Disse Martin Luther King: O que me preocupa não é nem o grito dos corruptos, dos violentos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética, dos homofóbicos, dos racistas, dos fascistas... O que me preocupa é o silêncio dos bons. Por isso meus irmãos, devemos nos unir contra a corrupção, contra o fascismo, contra a homofobia, unir as cidades, os estados...
Alexandra virou-se e fez um sinal de ok para as duas senhoras que estavam sentadas logo atrás. Isabel lhe deu um cutucão nas costelas e ela gem*u de dor.
-- Presta atenção, Xanda. Você ouviu o que a Bruninha falou sobre a união contra a homofobia?
-- Estou prestando atenção, meu mel. Inclusive achei muito interessante essa ideia de unir os estados. Se o Piauí se unir com o Maranhão fica Piranhão?
Isabel revirou os olhos.
-- Quem são aquelas mulheres que você tanto olha?
-- Ah! Aquelas são a Elisa e a Pedrita. Elas são novas por aqui. E como sou a acolhedora da noite, devo fazer de tudo para deixá-las à vontade. Não foi o que você e a Victória falaram?
-- Foi, mas não precisa exagerar, amor -- com um movimento acariciante, Isabel correu os dedos por suas faces -- Estou até começando a ficar com ciúmes -- brincou.
-- Não se preocupe, mel. A Pedrita é tão magra, que quando calça tênis a confundem com um taco de golfe.
Elisa e Pedrita foram envolvidas por um sentimento realmente incrível. Ninguém conseguia desviar o olhar da médium. Todos prestavam atenção em cada palavra que ela dizia, estavam muito envolvidos e focados no que estava acontecendo.
Bruna prosseguiu:
-- Lembro-me de uma famosa frase de Chico Xavier: "Estenda a mão ao que necessita de apoio. Chegará seu dia de receber cooperação."
Alexandra apontou para Bruna e olhou para Isabel.
-- Escutou isso, Isa, meu mel? Essa frase foi dita especialmente para mim. Eu senti algo muito forte dentro do meu coração. Preciso estender a mão à aquelas duas senhoras.
-- Não adianta querer me enrolar, Xanda. Você está com segundas intenções, abre o jogo.
-- Credo amor! O que te garante que eu não esteja sendo influenciada por um espírito bondoso?
Isabel olhou para ela séria, levantando uma sobrancelha.
-- Sei -- ela disse, desconfiada.
Bruna terminou a palestra, escutou, respondeu às perguntas e colocou-se à disposição para conversar com as pessoas individualmente. Para finalizar, agradeceu a presença de todos.
Rapidamente uma multidão ansiosa a rodeou e parecia impossível aproximar-se dela.
-- Acho melhor irmos embora -- disse Elisa, desanimada -- nunca chegaremos até ela.
-- Você tem razão -- concordou Pedrita -- Vamos.
Ao se virarem deram de cara com Alexandra.
-- Não deixe outras pessoas estragarem seu dia. Vai lá e estrague você mesmo -- a loira apontou para a multidão -- Vamos lá falar com a doutora mediúnica?
-- Tá louca? Seremos pisoteadas -- protestou, Elisa.
A loira deu um risinho.
-- Vocês não conhecem Alexandra Girani. O impossível não existe para mim, sigam-me!
As senhoras hesitaram por um momento, mas por fim, decidiram obedece-la.
Alexandra abriu caminho através da multidão, empurrando uns e outros dos dois lados ao passar, derrubando no chão, senhoras, crianças e homens sem a menor educação. Plantou-se diante da médium com as mãos nos bolsos.
Bruna cruzou os braços, indignada.
-- Não conhece as quatro palavrinhas mágicas, Alexandra?
-- Claro que conheço. Como acha que chegamos até aqui?
-- Quais são? -- perguntou Bruna, ainda de braços cruzados.
-- Sai da frente, caralh*!
Bruna bufou, Elisa balançou a cabeça e virou-se para fitar Pedrita com um desespero explícito.
-- Natasha nunca poderá se encontrar com essa mulher. Seria uma verdadeira catástrofe mundial as duas juntas.
-- Ainda bem que elas vivem a mais de mil quilômetros de distância uma da outra. Deus nos livre e guarde -- comentou Pedrita.
Bruna deu um sorriso polido, antes de descer dois degraus e parar próxima às senhoras.
-- Boa noite! As senhoras desejam falar comigo?
Elisa hesitou um pouco, estava encabulada. Alexandra lhe deu um tapa encorajador nas costas, tão forte que a mulher quase perdeu o equilíbrio.
-- Fala para ela o que você quer. A doutora mediúnica é uma santa. Acredita que ela e a Vic, tem mais de dez filhos?
-- Alexandra, isso não vem ao caso. Por favor, senhora...
-- Elisa, meu nome é Elisa -- ela completou -- E essa é a minha amiga Pedrita.
-- A Pedrita é tão magra que pode ser salva de um afogamento com um biscoito de polvilho!
-- Alexandra, por favor! -- Bruna a fitou, franzindo a testa -- Desculpem a Alexandra, ela é uma grossa -- Bruna passou o braço pelos ombros de Elisa e começaram a andar em direção a uma sala reservada até pararem junto a uma mesa coberta com uma toalha muito branca -- Sentem-se, vamos conversar.
-- Fala Elisa -- pediu Pedrita.
-- Nós viemos até aqui a pedido da Natasha Falcão. Ela está sofrendo muito. Sua esposa e o filhinho...
Elisa contou toda a história. Bruna não só prestou atenção na narrativa, como fez perguntas e alguns comentários pertinentes.
-- Ela não devia ter fugido. Pelo que você me contou, a Natasha deve amá-la muito -- Bruna comentou, observando o olhar tristonho da mulher -- Gostaria muito de poder ajudar, mas...
Alexandra inclinou-se para frente e a fitou com aqueles olhos azuis e perigosos, antes que ela conseguisse terminar a frase.
-- Não me diga que você não vai participar da operação?
-- Que operação? -- Bruna franziu o cenho e ficou olhando fixamente para ela.
-- Operação, Falcão Depenado! -- disse Alexandra, com evidente orgulho.
-- Ah, mas não mesmo! -- Bruna levantou-se, dando a volta na mesa umas três vezes até parar próxima à Elisa -- Sinto muito. Sinto muito, mesmo, mas não vai rolar.
-- Por que não? -- insistiu Alexandra.
-- Porque eu sou uma médium e não, Indiana Jones -- afirmou ela, coçando a orelha -- Ainda tem a Vic e as crianças.
-- Sei, sei. Entendo -- Alexandra olhou séria para as mulheres -- Não se preocupem, senhoras. Melhorem essas caras enrugadas. Se tem uma coisa que acaba com a tristeza, é a alegria. Eu não as abandonarei. Principalmente você, Pedrita. Que é tão magra que se colocar um vestido verde fica parecendo um quiabo.
Bruna balançou a cabeça, acenando com uma das mãos, em um gesto de despedida.
-- Me perdoem por não poder ajudar. Quero distância dessa louca mafiosa. Vocês não fazem ideia do que ela é capaz -- Bruna saiu da sala rapidamente.
-- Eu tinha certeza que ela não iria com a gente -- lamentou-se Elisa.
-- Convenhamos que a ideia é um absurdo -- afirmou, Pedrita.
-- Nem tanto minha cara Louva Deus.
Pedrita olhou para ela de cara feia.
-- Você está fazendo bullying -- resmungou, revoltada.
-- Bullying? Deixe de ser ridícula! Bullying é quando você tira uma foto bonita e seus amigos falam: Nem parece você -- Alexandra passou o braço pelos ombros de Elisa -- Para ser bem sincera com as senhoras, a doutora mediúnica morre de medo da Victória. Só existe uma pessoa no mundo capaz de afastá-la da família.
As duas amigas entreolharam-se.
-- Quem?
-- Eu, lógico. Quem mais, seria? -- Alexandra segurou Elisa pelo braço e cochichou em seu ouvido: a doutora mediúnica estará amanhã em Florianópolis. É só dizer o endereço.
-- Sério? -- Elisa estava incrédula.
-- Eu sou Alexandra, a grande! A sorte do garoto é que ele é um gavião, se fosse um urubu, não ia sobrar nem o cheirinho -- disse a loira, olhando para Pedrita -- Você é virgem. Não é mesmo?
Talita abriu a porta da frente do chalé, e entrou distraidamente. Acendeu a luz e assustou-se com a figura sombria parada no centro da sala. Ela carregava duas malas que colocou no chão.
-- Poxa, pensei que nunca mais voltaria a vê-la -- Carolina disse, parecendo tranquila -- Minha irmã, enfim a liberou?
Talita tinha centenas de respostas na ponta da língua, mas escolheu a mais cortês.
-- Ela está bem melhor. Então, aproveitei para vir até a ilha buscar algumas coisas que estou precisando -- a médica apontou para as malas -- Está indo para onde?
-- Não ouviu o que a senhora Falcão falou? Ela não quer mais me ver na Ilha do Falcão.
-- Por que será, né! -- ela fez um gesto impaciente com a mão.
-- Talita, eu... eu sinto muito.
De todas as coisas que ela esperava ouvir, nada poderia surpreendê-la mais.
-- Você sente muito?
Carolina assentiu com a cabeça encostada à porta.
-- Você sente muito?! -- a raiva explodiu no rosto da médica -- Por mais que eu tente, não consigo entender a sua atitude. Você praticamente expulsou a Andreia da ilha, e sente muito?
Carolina franziu o cenho.
-- Pensei muito, nesses dias, e estou arrependida.
Talita não conseguia acreditar no arrependimento da garota.
-- Não é para mim que você deve falar essas coisas. Por que não tenta convencer a sua irmã? Porque eu, sinceramente, não acredito.
Fechando a porta antes que Carolina entrasse no quarto, Talita apoiou a cabeça no batente da porta. Amargurada!
Ao ouvir a voz de Carolina do lado de fora do quarto, ela reprimiu a tristeza e se recompôs rapidamente. Abriu a porta e a encontrou parada, fitando-a com expressão chorosa. Uma onda de culpa a sufocou ao pensar que talvez estivesse sendo injusta.
-- Eu te amo -- sua voz mal era um sussurro -- Me perdoa, por favor!
Talita virou-se para encará-la. Mais do que qualquer outra coisa, queria encostar a cabeça no ombro dela e dizer: "eu também te amo". Mas de forma alguma daria esse gostinho a ela. Não seria tão fácil assim.
-- Olha, Carol. Eu não...
Carolina agarrou a médica pela cintura e a puxou, afastando-a da porta. Sua boca se colou à dela, forçando-a a agarrá-la para não perder o equilíbrio.
A garota pousou as mãos por trás da cabeça de Talita, forçando os lábios entreabertos com a ponta da língua, ela respondeu com um suspiro. O contato fez o coração da médica bater mais forte.
-- Sinto muito a sua falta. Me perdoe!
A voz de Carolina, ansiosa, esperançosa, ecoou nos ouvidos de Talita.
Fim do capítulo
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Anny Grazielly
Em: 14/09/2020
Kkkkkk... fico imaginando Alex e Nat juntas... kkkkk... seria muita comédia...
jake
Em: 12/10/2018
Vandinha minha autora preferida queria lhe agradecer por mais um lindo trabalho. Amei a Volta da Alex tava com Sds a operação resgate da Alex vai ser ótima imagina ela junto com Falcão...vai ser diversão garantida....anciosa pelo próximo Cap.
Bjs e um ótimo fds cheio de paz ...
Resposta do autor:
Olá minha querida!
Não precisa agradecer. É um grande prazer para mim.
Quando essas duas se encontrarem vai sair faíscas.
Beijos.
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NovaAqui
Em: 12/10/2018
Bruna está realmente bem arrumada com Alexandra kkkkk tenho certeza que a operação Falcão Depenado será um sucesso kkkkk levem todos à Ilha. Esse monte de filhos da Bruna, as Meninas da Africa, Alexandra e sua trupe kkkkk seria o máximo kkkkk
Carolina não me convenceu com esse jeito meigo. Para ela ganhar o perdão da irmã, só procurando Andrea
Bom feriado
Abraços fraternos procês aí!
Resposta do autor:
Boa tarde, minha querida!
Não né! É muita criança pra minha cabeça. Kkkk
Só as moças já está bom demais.
Beijão linda.
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Mille
Em: 12/10/2018
Olá Vandinha
Alex quando pega no pé da pessoa não a deixa em paz e a Pedrita foi a escolhida.
Se não for a Alex a fazer a Bruninha ir a Florianópolis seria a Natasha, da até medo essas duas juntas Nat e Alex
Será que o arrependimento da Carolina é verdadeiro???
Bjus e até o próximo capítulo
Resposta do autor:
Boa tarde Mille!
Essas duas juntas vai ser complicado. Personalidades parecidas.
Carolina é uma incognita. Será que dessa vez ela aprendeu?
Beijão garota!
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