Capítulo 66 -- Acolhedora
A ILHA DO FALCÃO -- CAPÍTULO 66
A acolhedora
Natasha sorriu, vitoriosa. Então, existe alguém capaz de encontrar Andreia decentemente sem que fosse preciso subornar ou espancar meia dúzia.
-- Quem é Bruna Sontag? -- ela perguntou curiosa.
-- Bruna Sontag é uma famosa médium. Ela é conhecida no Brasil inteiro por suas cartas psicografadas e cirurgias espirituais.
-- Ela é médica e alguns dias na semana, trabalha em um Centro Espirita no Rio de Janeiro -- disse Pedrita, com o entusiasmo de quem admirava profundamente a médium.
Sentindo-se ainda mais empolgada, Natasha inclinou-se e fitou Elisa nos olhos.
-- Quero que viaje amanhã mesmo para o Rio.
-- Viajar para o Rio? -- Elisa deu um pulo da cadeira -- Para quê?
-- Para trazer a doutora até aqui. O que mais poderia ser? -- perguntou Natasha, completamente tranquila.
-- Ah, mas não, mesmo! -- Elisa começou a andar de um lado para o outro no quarto -- A doutora Bruna nunca vai aceitar vir comigo. Ela é uma pessoa muito ocupada.
Natasha sacudiu os ombros com indiferença.
-- Confio no seu poder de persuasão.
-- As coisas nem sempre são como você quer, Natasha. Tem situações que nem o dinheiro resolve.
-- Você está muito dramática. Simplesmente vá e arraste a doutora para a ilha com você, queira ela ou não. Ninguém mandou você e a Pedrita ficarem enchendo a minha cabeça com esse negócio de Espirito bom e Espirito mau - Natasha parou um instante, pensativa. Depois, voltou-se para Elisa - Falando nisso, a frase: Espirito bom é Espirito morto, está certa?
-- Meu Deus, dai-me paciência. Não vou nem responder - a senhora estava a ponto de arrancar os cabelos.
-- Deixa pra lá. Eu pergunto no Google. Então, está decidido. Você vai até o Rio buscá-la.
-- Está vendo isso, Pedrita? Está vendo o absurdo? -- a senhora estava indignada -- Quem ela pensa que eu sou? Um gângster?
Pedrita permanecia quieta, mal respirava.
-- Para que você não diga que eu sou uma pessoa desumana, fria e calculista. Vou permitir que a Pedrita lhe acompanhe. Podem até passear pelo Complexo do Alemão, se quiserem. O que foi agora? -- questionou ao ver a expressão desaprovadora das duas -- Que coisa. Nada agrada vocês.
Leozinho piscou quando as luzes dos flashes brilharam, perto da entrada do hotel. Eram os repórteres, tirando fotos. O gerente olhou feio para eles.
-- O que houve? O que há de errado? -- Sidney aproximou-se, com ar de preocupado.
-- Já estou com a cabeça cheia de problemas e agora esses repórteres que não largam do nosso pé.
Sidney colocou a mão no ombro dele e sorriu.
-- Você está muito perturbado. Devia tentar se acalmar. Que tal um banho de mar e uma água de coco bem gelado.
-- Quem me dera poder fazer isso! -- quando outro flash feriu seus olhos, Leozinho ficou a ponto de explodir.
-- Ei, senhor Leopoldo!
O gerente resmungou alguma coisa e virou-se na direção da voz.
-- Há alguém procurando pelo senhor. Um delegado.
-- Polícia?! -- repetiu Leozinho, com surpresa -- Onde ele está?
-- Disse a ele para esperar no restaurante -- respondeu o rapaz -- Na verdade ele quer falar também, com o senhor Sidney e com a Jessye.
A polícia? Sidney sabia que podia escapar facilmente se quisesse. Mas não deixaria Leozinho numa situação difícil.
-- Não temos nada a temer. Vamos logo acabar com isso.
A expressão de Leozinho suavizou-se ao olhar para o amigo.
-- Você tem razão -- Leozinho beijou-lhe na bochecha e caminharam juntos até o restaurante.
No aeroporto, Elisa e Pedrita se dirigiam para a alfândega. O fiscal deixou suas bagagens passarem sem sequer olhar dentro delas.
-- Viu isso? -- resmungou Elisa -- Só porque somos cinquentonas, nem olham nas bagagens. E se fossemos traficantes?
-- Mas, não somos -- disse Pedrita, puxando a senhora pelo braço -- Vamos logo antes que eu me arrependa e entre no próximo avião de volta à Santa Catarina.
-- Não sei nem o que dizer para a doutora Bruna. Que vergonha!
-- A Natasha é completamente sem noção -- Pedrita fez um gesto em direção a porta -- Vamos até o Centro Espirita, participamos da sessão, tiramos algumas fotos para provar que estivemos lá e depois voltamos para o hotel. Amanhã, bem cedo, retornaremos à Florianópolis e falamos para a Natasha que a doutora se negou a acompanhar a gente.
-- Mentir? Que coisa feia, Pedrita -- Elisa parou de caminhar para ficar frente a frente com a amiga -- Para não arranjarmos confusão com a Natasha, vamos tentar. Eu disse, tentar. Não insistir.
Pedrita sorriu.
-- Entendi.
Jessye tinha combinado com um dos funcionários, da Natasha no Rio, para ir buscá-las no aeroporto. Depois de caminharem por mais alguns metros chegaram num pequeno hall, onde estava uma moça alta, morena de olhos verdes. Ela olhou para as duas sorrindo e perguntou em voz clara e com forte sotaque americano.
-- Elisa e Pedrita?
Elisa concordou, fazendo um gesto com a cabeça.
-- Sim sou Elisa e ela é a Pedrita.
-- Bem-vindas ao Rio de Janeiro. Me chamo Kristen. Desculpem que o meu português não é muito bom. Vamos agora.
Lá fora estava um enorme carro preto e um motorista uniformizado ao volante. Ele saiu rápido, aproximou-se da porta de trás e abriu-a, fazendo uma saudação quando elas entraram.
Dentro da limusine, Kristen sorriu para Elisa, que inclinou a cabeça e olhou para ela, séria.
-- Estamos indo para o hotel?
-- Sim. Vocês podem descansar um pouco antes de irmos para o Centro Espirita -- Kristen deu uma olhada no relógio de pulso e voltou a olhar para Elisa -- A sessão começa as dezenove horas.
Elisa assentiu, sentindo um nó na garganta. Trocou um rápido olhar com Pedrita, depois, virou a cabeça para olhar pela janela e apreciar a paisagem.
Natasha fez uma careta quando, o delegado Edvar entrou no quarto. Ela já sabia, com certeza, de que o delegado queria falar.
-- Bom dia, senhora Falcão. Podemos conversar?
-- Já estamos -- respondeu ela, mal-humorada.
O delegado sentou-se numa cadeira próxima à cama.
-- Serei breve. Não quero incomodá-la -- disse ele, tirando do bolso um bloquinho de anotações -- Estive hoje pela manhã na ilha e conversei com alguns de seus funcionários.
-- Então?
-- Só me incomodei. Falaram de tudo, menos do caso.
Natasha sentiu vontade de gargalhar. Até imaginou Leozinho e Sidney passando uma receita de panqueca de carne moída para o delegado.
-- Mas, vamos logo ao que interessa. Por que a senhorita se recusou a registrar um Boletim de Ocorrência?
Natasha franziu a testa.
-- Sou obrigada? -- Natasha sustentou o olhar com firmeza -- Deve ter sido um terrível acidente. Ninguém iria à minha casa, armado com a intensão de me matar. O tiro só pode ter sido disparado acidentalmente, e eu estava na linha de tiro por acaso. Essa é a única explicação lógica para mim.
O delegado pareceu surpreso.
-- Não está curiosa para saber quem foi o autor do tiro?
-- No momento essa é a minha menor preocupação. Sempre cuidei da segurança da ilha e vou continuar cuidando.
O delegado ergueu as sobrancelhas e tomou nota em seu bloco.
-- A senhora está ciente de que não posso simplesmente fazer vista grossa e ir embora. Não é mesmo?
Natasha encolheu os ombros.
-- Fique à vontade.
Edvar suspirou.
-- Deveria estar preocupada. Existem muitas pessoas que podem querer a sua morte.
A afirmação do delegado a deixou com a expressão desconfiada. Será que ele estava com a razão? Haveria mesmo um assassino percorrendo as ruas da ilha, querendo acabar com a sua vida? Quem poderia odiá-la a esse ponto?
-- Sua esposa Andreia está na Ilha do Falcão?
Estava tão entretida com essas considerações que só ouviu a pergunta do delegado quando ele a repetiu:
-- Sua esposa Andreia está na Ilha do Falcão?
Natasha evitou deliberadamente olhar para ele. Não queria ser influenciada no que diria. Mas, antes que pudesse abrir a boca, ele fez outra pergunta.
-- Sua esposa estava junto com a senhora na hora da ocorrência?
-- Ela estava no interior da casa.
-- Alguma possibilidade de ela ser a autora do tiro?
Natasha lançou um olhar duro para Edvar.
-- Não. Nenhuma possibilidade - disse, tentando manter a calma -- Andreia estava de nove meses, mal conseguia andar. Imagina conseguir pegar uma arma e vir atrás de mim até a garagem! Sem chance.
-- Ela poderia ter contratado alguém.
Natasha conteve um: Vai pra puta que te pariu. O delegado estava sendo insistente demais! Isso provocou uma irritação que veio se somar ao desconforto de estar impotente sobre uma cama.
-- Como já lhe disse, o senhor pode ficar à vontade. Eu acho, detetive, que o senhor deveria se hospedar no hotel. Tudo por minha conta, claro -- Natasha estava calma, concentrada e séria -- Se o senhor estiver certo, precisa encontrá-lo antes que ataque novamente. Talvez eu realmente seja um alvo fácil. Confesso que sou descuidada, e passo a maior parte do tempo sem seguranças.
O delegado ficou satisfeito. A resposta o tranquilizou.
-- Ótimo. Vou voltar para a Ilha hoje mesmo. Desejo-lhe pronta recuperação, senhora Falcão -- o delegado se levantou, fez um gesto de despedida com a mão e saiu.
O carro parou diante de um antigo prédio de pedras brancas que mais parecia um antigo palácio, com balcões diante das janelas e enormes portas de madeira.
Elisa e a Pedrita saíram do carro, arrumando os vestidos enquanto admiravam o lugar.
-- Que jardim bonito -- comentou Pedrita.
-- Lindo né. Transmite uma sensação de paz interior muito diferente.
-- Já deve ter começado -- disse Pedrita, puxando Elisa na direção da porta -- Não quero perder essa palestra por nada nesse mundo.
Subiram um lance de escada e diminuíram o passo ao se aproximarem da porta aberta, por onde podiam ouvir o burburinho das conversas.
Se aproximaram silenciosamente, a sala estava lotada. Uma mulher alta e loira, parecendo uma atriz de Hollywood, veio recepcioná-las. Ela usava uma camisa branca de manga comprida e arregaçada. Vestia calça preta, bem justa e bota de couro. Os olhos de um azul raríssimo examinaram as duas visitantes sem qualquer constrangimento
-- Ah, vocês devem ser novas por aqui -- disse a moça.
-- Sim, é a nossa primeira vez nesse Centro -- afirmou Elisa.
-- Será que no final, conseguimos falar com a doutora Bruna? -- perguntou Pedrita -- Está tão cheio.
-- Claro que conseguem. Não se preocupem que eu dou um jeito. Está escrito em Calipso: Não temas; eu sou o primeiro e o último.
-- Apocalipse 1-7 -- Elisa a corrigiu, fitando a moça meio desconfiada.
-- Foi o que eu disse -- a loira apontou para uma das extremidades do salão e no mesmo instante virou as costas, fechando a porta atrás de si -- Entrem e sintam-se em casa. Se quiserem podem passar um paninho nos móveis.
Elisa e Pedrita hesitaram, franziram a testa e tomaram a direção indicada, andando sem fazer barulho pelo enorme salão lotado. Nem respiravam para não chamar a atenção.
-- Sentem aqui -- berrou a moça, apontando para duas cadeiras vagas -- as vozes cessaram, um silêncio absurdo pairou sobre o salão e todos se viraram para olhar.
-- Shiii...Silêncio! -- pediram.
Isabel olhou para Victória, balançou a cabeça e cochichou próxima ao seu ouvido.
-- Eu disse que não ia dar certo deixar a Xanda como acolhedora!
-- Sentem aqui, senhoras -- Alexandra tocou no ombro de Pedrita -- Poxa moça, você é tão magra, que se fosse um Transformers, seria uma bicicleta -- ela deu uma risadinha -- Podem deixar comigo, assim que terminar a palestra eu levo vocês até a doutora mediúnica.
Assim que Alexandra se afastou, Elisa se virou para Pedrita.
-- Quem será essa louca?
-- Não sei. Só sei que quanto mais eu rezo, mais assombração aparece.
Fim do capítulo
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Anny Grazielly
Em: 14/09/2020
Kkkkk... adoreiiiiii... isso eh muito showww trazer as meninas para essa história... kkkk
Krikadreammy
Em: 05/10/2018
Olá Vandinha,
Hahahaha, morrendo de rir...
Essa Xanda...
Adorei q vc resolveu trazer elas de volta...
Aguardando ansiosamente os próximos capítulos...
bjs
Kris
Resposta do autor:
Olá Krikadreammy!
Não sei se aguento essas loucas juntas, mas vamos ver no que dá.
Beijão.
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Mille
Em: 05/10/2018
Kkkkk
Oi Vandinha
Xanda é demais ri muito
Só espero que a Peditra e Elise consigam convencer essa tropa ir para a ilha mais acho que a Xanda vai tomar iniciativa principalmente quando souber que a Andrea está com uma criança recem nascida e sem cuidados.
Bjus e até o próximo capítulo
Resposta do autor:
Olá Mille!
Alexandra é uma louca, mas adora uma operação de resgate. Qual será dessa vez?
Beijos.
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Mille
Em: 05/10/2018
Kkkkk
Oi Vandinha
Xanda é demais ri muito
Só espero que a Peditra e Elise consigam convencer essa tropa ir para a ilha mais acho que a Xanda vai tomar iniciativa principalmente quando souber que a Andrea está com uma criança recem nascida e sem cuidados.
Bjus e até o próximo capítulo
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NovaAqui
Em: 05/10/2018
Bom dia, Van!
Elisa e Pedrita estão perdidas. Acho que elas serão sequestradas junto com a Bruna kkkk
Vamos em qual plano mirabolante elas serão envolvidas
Abraços fraternos procês aí!
Resposta do autor:
Elas não sabem com quem estão se metendo. Kkkk...
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