Capítulo 24
Ao longe consegui ouvir um celular tocar uma musiquinha irritante, típica de despertador mesmo, daquelas que te enchem o saco e tudo o que você quer, é que ela pare de tocar. Coloquei o travesseiro sobre o meu rosto e puxei o lençol até a altura do pescoço.
Dava pra ouvir passos e movimentos por todo o quarto. Suspirei resignada. Só precisava de mais alguns minutos de sono, só mais alguns. Em alguns segundo fiquei naquele limbo entre estar acordada e dormindo, aquele instante em que você fica para de ouvir e perceber tudo ao seu redor.
-- Beatriz? Ei! – uma voz mansa me chamava.
Ignorei aquela voz e os suaves toques em meus ombros e costelas e girei na cama, na direção contrária. A voz e os toques insistiram, trazendo à tona aquele meu velho humor que me era normal. Bufei e abri os olhos lentamente, dando de cara com Cléo bem próxima de meu rosto.
-- Beatriz desculpa te acordar, mas é que temos pouco tempo para descermos. – ela ajeitou os óculos de armação redonda no rosto, olhou o relógio em seu pulso e continuou – Temos que tomar café e correr para o credenciamento que vai acontecer daqui há meia hora.
-- Puta que pariu!
Levantei me enroscando no lençol, me atrapalhando para calçar meus próprios chinelos e um tanto cega por não estar usando meus óculos de grau, e nem minhas lentes de contato. Passei por Cléo quase a derrubando, mas ela não pareceu se importar já que apenas sorriu.
Tomei o banho mais rápido da história e corri para o quarto enrolada apenas na toalha branca do hotel. Nem me dei conta de que minha companheira de quarto/viagem estaria no mesmo ambiente e que isso a deixaria constrangida.
Quando a fotógrafa me avistou assim levou as mãos ao rosto de um modo que me pareceu bem cômico, e eu tive que prender a gargalhada que subiu minha garganta rapidamente. Ela era mesmo uma graça.
Fui até a minha mala e escolhi uma roupa. Achei melhor me vestir no banheiro, do contrário seria um atentado a sanidade de Cléo. Voltei para o banheiro, mas não sem antes dizer que ela já podia tirar as mãos dos olhos.
Sai do banheiro sentindo que não tinha tomado banho, porque já estava com aquela sensação de calor, uma coisa abafada instalada em meu corpo. De volta ao quarto, peguei meu celular e o coloquei no bolso da calça social que eu usava, peguei a mão de Cléo e sai praticamente arrastando a garota até o restaurante do hotel.
O lugar estava lotado, mas da equipe só consegui avistar um rapaz magricela que cuidava dos equipamentos de áudio e vídeo da revista.
A grande variedade de comida servida na enorme mesa fez o meu estômago roncar, e como eu era a rainha do mico, a garota do meu lado ouviu o sonoro protesto e riu sem constrangimento nenhum. Ai que vergonha.
-- Quanto tempo temos? – perguntei quando nos sentamos em uma mesa, cada uma com o seu pequeno prato.
-- Levando em conta que eu não fui sincera quando disse que tínhamos apenas trinta minutos, agora – olhou o relógio – temos os exatos trinta minutos. – disse com um sorriso amarelo.
-- Sabia que eu não ia levantar tão cedo, não é?
-- Imaginei. Vi que você foi dormir tarde.
Quase me engasguei com suco que eu bebericava. Como assim ela viu? Quer dizer que ela percebeu toda a minha movimentação? Será que ela viu quando tirei alguma foto? Ai Jesus! Será que ela ouviu algum gemido?
Baixei a cabeça e não falei nada. Se ela viu ou ouviu algo, era melhor eu não ter a certeza disso. Mas uma coisa me deixou com uma pulguinha atrás da orelha, cogitei duas hipóteses: a primeira era que ela havia acordado com a minha movimentação, e a segunda era a que ela havia fingido dormir. Será?
Sentindo-me mais tranquila com o tempo que não era tão escasso quanto pensei, peguei o celular para mandar mensagem para Adele. A essa hora ela já devia estar de pé, se arrumando para sair. Sorri ao imaginar ela vestida naquele terninho cinza que a deixava maravilhosa, quer dizer, ainda mais maravilhosa. O bumbum dela dentro daquela roupa ficava uma coisa que...dava até calor.
Adele me respondeu quase que instantaneamente com um bom dia repleto de carinho, do jeito que só ela sabia fazer. Conversamos por alguns poucos minutos enquanto eu dividia a minha atenção e dedicava toda a minha coordenação motora entre digitar no celular e levar colheradas do iogurte com granola até a boca.
Coloquei o aparelho celular de lado e percebi que Cléo me encarava.
-- Posso te fazer uma pergunta? – disse arrumando seus óculos sobre o nariz.
-- Pode.
-- O que andam dizendo lá na revista sobre você, é verdade?
-- Depende, o que andam dizendo?
Eu sabia bem o que as más bocas falava de mim pelos corredores da My Sprinter, mas queria ouvir da boca dela e assim saber se ela também fazia parte daquele grupo que me julgava simplesmente por estar envolvida com Adele.
-- Antes de qualquer coisa, quero dizer que eu não compactuo com isso. Odeio especular e fofocar sobre a vida alheia, e você pode até achar que estou aqui fazendo o mesmo que eles, mas no fundo, só quero dizer que você pode contar comigo.
Senti verdade e firmeza em cada palavra dela, me fez ver um apoio nela quando precisasse. Sabia que ela era uma boa pessoa!
-- Obrigada! Mas então, o que andam dizendo?
-- Que você e a filha do Jack estão tendo um caso, e que por isso você tem ganhado bastante benefícios dentro da revista.
-- A verdade, é que eu e Adele estamos sim em uma relação mais íntima, porém, isso não tem influência alguma no meu cargo ou em minhas funções. Entrei na revista por mérito meu, e pretendo permanecer assim, ganhando aquilo que eu realmente mereço. Adele e eu não tínhamos vínculo nenhum antes, só nos conhecemos de verdade bem depois, e hoje, ela não tem influência alguma sobre qualquer coisa dentro da revista. E absolutamente eu não fiz nenhum teste do sofá com Jack.
Cléo deu um sorrisinho de lado e arrumou novamente seus óculos – era uma mania.
-- Aquele povo gosta de criar historinha, parece que não tem nada de mais proveitoso pra fazer além de criar teorias a cerca da vida dos outros.
-- Você acredita em algo que eles dizem?
-- Eu? Claro que não! Na verdade, - sorriu sem jeito – eu shippo vocês duas. Vocês são lindas juntas, parecem que foram feitas uma para a outra.
Tive que rir da expressão entusiasmada que transformou seu rosto.
-- O fato de eu ser gay não te incomoda?
-- Por que me incomodaria? A propósito, eu também sou.
Ficamos naquele papo por alguns minutos. A garota me mostrou em seu celular a foto da namorada enquanto falava orgulhosamente da estudante de veterinária. As duas formavam um belo casal! A paixão presente na voz de Cléo era bem evidente, e ela escancara os sentimentos dela pela outra com uma facilidade absurda.
A garota discreta e quase sempre calada falou, falou e falou. E eu adorei cada segundo da nossa conversa.
Quase nos perdemos dentro daquela conversa, e se não fosse o celular da outra alarmar, provavelmente teríamos esquecido o que tínhamos que fazer: o credenciamento. Corremos pra lá e encontro Gregório a beira de um colapso nervoso.
-- Onde vocês estavam?
-- Desculpa. – falei me sentindo desconcertada.
Passado aquele primeiro momento em que Gregório puxou a nossa orelha, todo mundo deixou aquele salão com a credencial no pescoço. Recebemos uma pasta de papel com a programação do evento, que receberia atletas de crossfit e bodybuilding no Torneio Brasileiro.
Nossas tarefas tinham horários e metas, e cada um sabia bem o que ia fazer se seguisse fielmente o seu cronograma. O assistente de Edson era um cara muito organizado, calculava e traçava todos planos milimetricamente para então executá-los.
Com as tarefas divididas, voltamos ao quarto para nos prepararmos para algo que se assemelhava com uma maratona, porque o evento seria bem longo e bem dinâmico. A abertura do Torneio se daria em mais ou menos uma hora, e esse era o tempo, o único tempo que teríamos de parada até a hora do almoço.
Deitei em minha cama e tentei relaxar um pouco, enquanto Cléo mexia em alguma coisa no notebook em seu colo. Ela estava séria e silenciosa, talvez centrada. Mandei mensagem para Adele, no entanto ela não ficava online desde o café da manhã, quando nos falamos.
Aquele tempinho de descanso logo passou. A equipe inteira se reuniria na entrada principal do salão de festas do hotel. Edson e Gregório ditavam ordens e nos davam dicas. Teríamos a parada para almoço às 13:30h, e até lá, só água e barrinhas de cereais, e café preto, para quem era adepto.
Quando a primeira palestra, aquele que deu abertura ao torneio terminou, tudo aquilo me pareceu com um estouro de uma boiada. Todos saíram afoitos para os estandes que de vendas de produtos médicos, suplementos alimentares e acessórios que estavam montados na parte de fora do salão.
Olhei o meu cronograma e vi que nesse meio tempo, minha função era conseguir uma entrevista – não agendada - com o palestrante, um ex atleta de bodybuilding. Corri até ele que deixava o pequeno púlpito e o abordei tentando não parecer uma louca. O cara era gentil e concordou em me falar algumas coisas sem maiores recusas.
Fiquei meio encucada com essa parte do cronograma já que eu trabalhava como redatora e não como repórter, porém, dei o meu melhor e tentei fazer a tarefa com louvor. Confesso que fiquei um pouco nervosa, mas além do nervosismo, eu estava muito empolgada. No fim, deu tudo certo.
Com tudo anotado em meus rascunhos, o agradeci e corri para os estandes, para cumprir a próxima tarefa do cronograma. Eu que já era pequena, estava me sentindo menor ainda no meio de tanta gente robusta. As mulheres davam duas de mim!
Próxima tarefa do cronograma, acompanhar uma sessão de fotos e entrevistas de atletas sobre o todos os preparos que giravam em torno de uma competição.
E assim a manhã percorreu. A equipe inteira deu graças a Deus quando finalmente houve uma pausa no evento para o almoço. Minha cabeça e minhas pernas já davam indícios de que estavam sendo sobrecarregadas além do normal.
Dessa vez nossa refeição não seria no hotel, e sim próxima ao local onde aconteceria a segunda parte da programação, no Centro de Convenções da cidade. Dentro da van todos falavam ao mesmo tempo, contavam o que tinham visto e o com quem tinham falado, e eu, queria apenas falar com Adele, mas ela ainda não tinha visualizado a mensagem que tinha mandado mais cedo.
O almoço foi tranquilo e ainda nos sobrou alguns minutos para descansar. Minhas pernas agradeciam.
Na segunda parte do dia se daria o momento de competições, e era nessa hora que todo mundo tinha que estar bem atento a tudo que fazia e acontecia ao redor. Edson perambulava pelo lugar com Gregório em sua cola, e era perceptível que os dois na verdade estavam de olho em como nós estávamos trabalhando.
De longe avistei Cléo que parecia deslizar por todo o espaço, capturando com suas lentes as competições de todos os ângulos e posições possíveis. Ela estava concentrada, mas ficou um pouco inquieta quando Edson se aproximou e tocou sem ombro.
Por que ele tinha que ter essa mania chata de tocar na gente?
Fui chamada por uma moça da comissão do evento e dispersei minha atenção que antes estava voltada para o trio. Cogitei conversar com a garota, talvez ela se sentisse da mesma maneira que eu me sentia na presença de Edson, e o que Adele me contou sobre a acusação de assedio insistia em martelar em minha cabeça. Na correria, não voltei mais a pensar na cena.
Na parte da tarde tivemos uma parada para coffee break, mais algumas palestras e competições, e finalmente chagava ao fim um dia corrido, cansativo, no entanto, proveitoso. Aquele era só o primeiro dia, ainda nos restava um par de coisas a se fazer pela frente, então era melhor pensar com entusiasmo do que deixar o desânimo antecipado chegar junto.
Quando chegamos de volta no hotel já se passava das 21h, e todos, sem exceção alguma estavam esgotados. Quer dizer, não sei Edson, porque esse sumiu durante o coffee break e não retornou mais. Gregório que disse que ele estaria no hotel mais tarde. Como se eu me importasse com o que ele faz ou deixa de fazer.
Seguimos a rotina da noite passada e Cléo foi tomar um banho primeiro. Deitei na cama e peguei o celular que passou grande parte do dia esquecido no bolso da calça.
Adele: Amor desculpa não ter lhe dado a devida atenção hoje. Tive alguns problemas na obra e precisei me dividir em 10 pra dar conta do recado. Acabei de chegar a casa, e tudo o que queria era um daqueles seus abraços que você me dá assim que eu passo pela porta. Estou com muitas saudades de você princesa.
Terminei de ler a mensagem e liguei para minha loira. Eu também estava com saudades dela, estava morrendo de saudade na verdade. A voz cansada não me deixava dúvidas do quão cansativo havia sido o seu dia, o meu também não foi diferente, mas ela estava debaixo de um alto estressa há alguns dias, então o seu cansaço ia além do físico.
Adele me inquiria sobre o que tinha feito, se havia me alimentado e se havia me hidratado bem, quando Cléo entra no quarto e me encara com um sorriso singelo nos lábios. A loira se despede dizendo que precisa urgentemente de um banho e eu vou fazer o mesmo. Falaríamos-nos mais tarde.
Assim que saí do banho perguntei para Cléo se ela queria jantar no restaurante, ou no quarto mesmo. Fiquei com dó dela ontem já que ela dormiu sem jantar. Decidimos pedir um jantar no restaurante e aproveitar nossas camas.
A refeição não demorou a chegar, e quando senti aquele cheiro divino invadir o quarto foi que me dei conta do tamanho da fome que eu estava sentindo. A garota na cama ao lado também confessou estar morta de fome.
O sono começou a chegar assim que terminei a minha refeição. Os olhos pesavam e ardiam, e estava bem difícil mantê-los abertos. Cléo foi a primeira a terminar, já tinha escovado os dentes e estava debaixo das cobertas, aninhada.
Meu celular tocou quando eu voltava do banheiro, e diferente da noite passada, Cléo não estava dormindo, portanto não vi problema de atender uma ligação. Só tinha que me conter para não falar nada que fosse deixar envergonhada depois. Adele não pegava leve comigo, e não perdia uma oportunidade de me provocar.
-- Oi meu amor! – atendi sorrindo – Já jantou?
-- Sabia que seria a primeira coisa que perguntaria. Jantei sim, e a senhorita?
-- Também já jantei. Estou deitadinha, sentindo meus olhos pesarem.
-- Os meus também não estão me dando uma trégua, estou morta!
Ficamos em silêncio, e juro que eu não sei dizer se foi porque não sabíamos o que falar, ou porque caímos naquele limbo do sono. Mas só voltei quando a voz mansa dela me chamou carinhosamente.
-- Desculpa. Acho que dormi.
Ela riu do outro lado da linha.
-- Vamos dormir princesa, ambas estamos cansadas. O dia foi puxado.
-- Vamos.
-- Bia?
-- Hum?
-- Eu to morrendo de saudades de você princesa. Sinto como se algo estivesse faltando, e realmente está. Você é um pedaço de mim.
Palavras simples, mas que tinham o enorme poder de fazer meu coração dar saltinhos dentro do peito.
-- Eu também estou com muita saudade de você loira, e olha que não tem nem dois dias que estamos longe uma da outra. Quero que a semana passe logo.
-- Estaremos juntas rapidinho amor.
-- Tudo que eu quero.
-- Boa noite princesa. Eu te amo.
-- Boa noite amor. Também te amo, muito.
Desligamos e eu fiquei encarando o celular onde uma foto nossa – com Sherlock no meio, claro – estampava a tela. Foi preciso muito pouco tempo para que meu coração se entregasse completamente pra ela, pra que ele ficasse louco pela inglesa. Eu a amava, do fundo do meu coração!
Não sei como, mas acabei dormindo enquanto encarava meu celular.
**********
Sexta! Hoje era o sexto dia que eu estava longe de casa, e o quinto dia em que estamos naquela corrida desenfreada da cobertura do evento. Tava muito, mas muito cansativo, no entanto, não posso reclamar. E apesar de tanta correria, tudo estava caminhando na mais perfeita ordem.
O evento encerraria domingo, no entanto, a equipe estava liberada para retornar para Fortaleza, amanhã, ao meio dia. Eu não via a hora, estava louca para ir pra casa, louca pra abraçar e beijar muito a minha loira! Não agüentava mais de saudade.
Tínhamos nos falado todas as noites, e quase sempre eu dormia falando ao celular. Eu praticamente entrava em uma batalha contra o cansaço, e quando ouvia aquela voz do outro lado da linha, meu corpo inteiro se acalmava. Sentia como se a voz dela me abraçasse carinhosamente. É uma coisa muito louca de explicar, mas tudo o que eu sentia por ela era assim mesmo, louca de se explicar, mas gostosa de sentir.
Na noite passada Adele havia me avisado que viajaria hoje de madrugada e que provavelmente só retornaria no domingo a noite. Ela teria que vistoriar pessoalmente um empreendimento imobiliário que levava o nome de seu escritório, não sei bem, mas era algo assim.
Compreendi que talvez isso lhe roubasse um pouco mais de tempo e que isso dificultaria as mensagens trocadas e as nossas ligações, mas, trabalho é trabalho! Hoje à noite, por exemplo, não poderíamos nos falar porque ela estaria no vôo, e quando chegasse ao seu destino, eu já estaria dormindo.
Ergui o braço diante de meus olhos e encarei o relógio em meu pulso, marcava 18h. Adele deveria estar em casa já. Voltei a olhar para o grupo de mulheres que competiam na tradicional barbells – barras com cargas. Se eu fosse fazer o que elas faziam, acho que colocaria um ovo de tanta força que teria que aplicar pra levantar aquele treco. Apesar de achar que não levaria o menor jeito, era o máximo poder prestigiar competições assim.
-- Beatriz?
Ouvi a voz de Gregório me chamar e girei o corpo de um lado para o outro tentando encontrá-lo.
-- Oi. – falei sorrindo.
-- Edson está te chamando lá na cabine (uma pequena sala que usávamos como centro de reuniões e afins).
-- Eu?
-- Sim, você! Vai logo. – ele bateu palminhas como se espantasse algum bicho.
Às vezes eu achava que Gregório era gay. Ele disfarçava bem, mantinha uma barba bem cuidada e espessa, falava grosso, e estava sempre aprumando seus ombros largos, porém, alguns trejeitos como o mindinho levantado ao pegar uma xícara e a mania de rolar os olhos me faziam suspeitar.
Caminhei na direção da cabine me perguntando o que Edson queria comigo. Na reunião de mais cedo ele nem mesmo direcionou o olhar em minha direção, quem dirá falar algo. Bati a porta que estava fechada e ele mesmo abriu, me dando passagem.
-- Gregório disse que estava a minha procura.
Dei alguns passos incertos para dentro da sala, me posicionando bem próxima a uma mesa redonda que havia no meio do ambiente, deixando o móvel entre ele e eu.
-- Sim. – dito isso ele trancou a porta com a chave – Preciso ter uma palavrinha com você em particular.
Senti meu corpo gelar.
-- Pode falar. – minha voz era trêmula.
-- Você tem se saído muito bem, tem se empenhado, e vejo que Jack estava super certo quando apostou em você.
-- Obrigada.
-- No entanto, como eu já tinha te dito uma vez, eu também estava apostando muito alto no seu trabalho. Sou um homem de negócios, e você sabe muito bem que tudo na vida tem um preço, não sabe?
-- Do que você está falando Edson?
-- O fato de você estar aqui hoje tem um preço, e eu quero cobrá-lo.
Meu coração começou a bater feito louco. Olhei para a janela e as persianas estavam fechadas, ninguém conseguiria me ver ali dentro. A porta estava trancada, e só havia essa saída.
-- Eu não sei o que você está pensando e nem o que quer comigo Edson, mas eu não esse tipo de mulher.
-- Como não? Todo mundo já tirou uma casquinha, agora é a minha vez.
O quê? Ouvi mesmo o que achava que tinha ouvido? Tive ímpetos de ir até ele e estapear seu rosto. Quem ele pensa que é pra falar assim comigo? Que tipo de mulher ele achava que eu era? Mas fiquei no meu lugar por medo de me aproximar.
-- Edson, eu preciso ir. – tentei.
-- Ah claro! Você tem muito a fazer ainda, não é mesmo? Não quero lhe atrapalhar, e já conversamos. No momento certo você saberá meu preço.
Ele me lançou um olhar nojento que me fez ter ânsias de vômito. Deu um sorriso libidinoso e se voltou para a porta, destranco-a apontando a saída com um gesto. Quase corri para alcançar a porta, e quando passei por ele, senti sua mão resvalar por minhas costas. Não ousei olhar para trás, e sai dali o mais depressa possível.
No meio do caminho esbarrei em Cléo, que caminhava na direção contrária a que eu ia.
-- Ei! Pra onde vai com tanta pressa? – ela brincou segurando meus ombros – Bia?
Sentia minha boca seca, uma vontade absurda de chorar. Minha mente e meus sentidos estavam completamente perturbados, bagunçados. Meu coração batia tão violentamente que eu sentia meu peito doer. Cléo tentava buscar meus olhos enquanto ainda me mantinha cativa, e eu desviava, sabia que eles denunciariam o choro que eu tentava segurar.
Eu não tinha condições alguma de falar com ela, do contrário, se tentasse pronunciar alguma coisa, sei que desabaria. Aquele não era o momento.
-- Vocês não tem mais o que fazer não? Ah claro, a nossa querida Ana Beatriz não precisa trabalhar já que ela tem outros meios de conseguir o quer, não é mesmo? Mas e você pirralha? – àquela voz nojenta.
Sentindo meu corpo explodir em raiva, virei na direção de Bárbara que nos olhava com deboche.
-- O que é que você quer hein? Não tem nada mais interessante pra fazer ou você gosta mesmo de perder o seu tempo tentando me azucrinar?
-- Sua...
-- Não sei o que eu te fiz Bárbara, mas quer saber? Acho que você é uma pessoa mal amada, e o seu problema comigo é inveja! Você tem inveja porque eu tenho do meu lado uma pessoa maravilhosa, que eu amo e que me ama da mesma maneira! Acho que você não suporta ver alguém feliz e de bem com a vida. Você é mesquinha e baixa. E pra você não perder o seu valioso e querido tempo, sim, Adele e eu estamos juntas, não precisa mais especular com todos da revista, aliás, pode falar pra todo mundo. Se alguém tiver dúvida ou se alguém tiver algo para me dizer, pode avisar que estarei em minha mesa, a disposição. E não, eu não fiz nenhum teste de sofá, o que acontece e que talvez eu seja mais competente do que você, apenas!
Dei as costas e caminhei de volta para o espaço onde ainda acontecia as competições. Deixei uma Bárbara boquiaberta, talvez por não esperar que a mosca morta aqui abrisse a boca pra dizer algumas verdades. Cléo tinha um sorriso maroto nos lábios quando a deixei na companhia da insuportável.
Encostei-me a uma pilastra de ferro e passei grosseiramente as mãos em meu rosto, espalhando as solitárias lágrimas que rolaram por minha face sem autorização nenhuma. Fechei os olhos e desejei profundamente que Adele estivesse ali naquele momento, que ela me acolhesse dentro daquele abraço quentinho e reconfortante.
Cheguei a tirar o celular do bolso para ligar pra ela, precisava ao menos ouvir a sua voz. No entanto, me lembrei que ela deveria estar atarefada e não queria atrapalhá-la. Voltei a enxugar meu rosto e decidi que o melhor para esquecer o que acabara de acontecer seria mergulhar no meu cronograma que ainda tinha algumas tarefas a serem cumpridas.
Passei o restante daquela noite evitando encarar Cléo, que sempre que podia me lançava aquele olhar perscrutador por debaixo de suas lentes. Na volta para o hotel, eu fui a última a entrar na van, propositalmente, assim poderia “escolher” onde e quem estaria ao meu lado. Evitei a fotógrafa.
O caminho de volta para o hotel pareceu extremamente longo, como nunca antes fora. Edson falava algo com Gregório e alguns integrantes da equipe. Sua voz me causava repulsa e me perturbava.
-- Bia, pode tomar banho antes, tenho que ir até a recepção revolver uma coisinha que eu esqueci. – ela disse assim que entramos no quarto enquanto encarava o seu celular.
-- Tem certeza?
-- Uhum. – caminhou até a porta ainda olhando o celular – Não demoro.
Olhei para a porta fechada achando muito estranha a forma como Cléo saiu. Não sei que coisinha ela podia ter pra resolver na recepção, mas não ia ficar aqui me perguntando. Separei minhas coisas e caminhei para o banheiro.
Deixei o banheiro já devidamente vestida achando que encontraria minha companheira de quarto, mas al não havia o menor sinal que indicasse a sua volta. Balancei os ombros e caminhei na direção da minha cama. Deitei e pesquei o celular na mesinha ao lado. Abri o aplicativo de mensagens com a esperança de Adele estar ali pra falar comigo.
Esperança frustrada, nada dela.
Sentia meu estômago revirar. Não estava com fome, apenas com uma leve dor de cabeça. Abracei o meu próprio corpo e minha mente foi invadida por cenas do que aconteceu na cabine. As palavras de Edson saltavam na minha cabeça, me ferindo, me magoando.
Meus olhos começaram a queimar e as lágrimas pediam passagem. Aproveitei que estava sozinha e deixei elas rolarem. O que eu deveria fazer meu Deus? Sentia-me suja, enojada e vulnerável. Aquele home era abominável, era grotesco e nojento.
A denúncia contra ele que antes foi retirada, foi um erro, porque agora, sabendo bem do que ele era capaz, eu tinha certeza de que ele era, e foi capaz de fazer isso. Agora só me perguntava quem era a outra garota e por qual motivo ela havia retirado a queixa contra ele.
Girei o corpo ficando de barriga pra cima e encarei o teto. Cerrei os olhos sentindo a dor de cabeça aumentar. Enquanto eu ainda divagava, sentia duas certezas dentro de mim crescendo: eu não baixaria minha cabeça para mais ninguém e eu faria algo para que Edson não saísse mais uma vez ileso. Cretino!
O cansaço emocional e físico que eu sentia começava a cobrar o seu preço e o meu corpo aos poucos foi se entregando, um sono sorrateiro veio me visitar e eu não tive forças para resistir, só deixei ele me abraçar.
-- Bia? Bia? Ei.
Abri os olhos preguiçosamente. Tinha a leve impressão de que estava sonhando, mas o toque firme em meu ombro me dizia que era real. Encarei Cléo que estava bem próxima de meu rosto, como já era comum, ajeitando seus óculos sobre o nariz.
-- Oi Cléo. – sentei na cama – Aconteceu alguma coisa?
-- Aconteceu, quer dizer, preciso de sua ajuda.
-- Minha ajuda?
-- Uhum. Pode vir comigo?
-- Aonde?
-- Por favor, não pergunta, só vem. É algo muito importante, e eu preciso realmente da sua ajuda, muito.
Seu semblante sério me convenceu. Não sei o que era, mas se era algo importante e se ela precisava de minha ajuda, é claro que eu não me negaria.
-- Tudo bem. Só me deixa trocar de roupa, é rapidinho.
-- Não dá tempo. Veste isso aqui. – disse me estendendo um roupão do hotel.
-- Você tá me preocupando Cléo.
Vesti o roupão e deixei o quarto no encalço da fotógrafa que andava apressadamente logo mais à frente. Entramos no elevador e ela apertou o botão que nos levaria ao 17º andar, alguns andares acima do que estávamos hospedadas.
Me encarei no espelho do cubículo metálico e tentei arrumar meus cabelos. Senti-me desconfortável por estar trajando um pijama curto por baixo do roupão. Sem contar que eu não tinha a mínima ideia de para onde a garota que roía as unhas ao meu lado estaria me levando.
Quando as portas se abriram ela segurou a minha mão e saiu praticamente me arrastando pelo corredor. Paramos na frente de uma porta que com um cartão magnético que ela tirou do bolso da calça ela abriu. Olhei pra ela sem entender e morrendo de vontade de perguntar.
-- Não pergunta... – ela cortou a minha vontade.
-- Eu estou ficando cada vez mais preocupada.
Entramos por aquela porta e eu percebi que se tratava de uma enorme e confortável suíte, onde uma ampla sala com sofás e TV dividiam o ambiente. Mais à frente uma porta, onde eu acreditava ser o quarto propriamente dito.
De repente uma música começou a tocar baixinho, quebrando o silêncio que tomava o lugar. Busquei respostas no olhar de Cléo, mas esta sorriu na minha direção, deu um beijinho em minha bochecha e sussurrou um “Aproveita”.
Fiquei de boca aberta quando a mulher me deixou sozinha naquele lugar. O que diabos estava acontecendo? Como ela me pede ajuda e depois me deixa aqui, sozinha, sem saber de nada? Passeei o olhar pelo lugar tentando encontrar respostas. Não estava entendendo nada.
Parei e pude prestar atenção na música que ainda tocava baixinho. Eu conhecia. Movida pela curiosidade dei alguns passos lentamente na direção da porta do quarto que estava aberta.
Parei junto a porta e senti meu coração dar um solavanco quando pude finalmente ver o que havia ali dentro. A música começou a tocar mais alto e meu coração pareceu acompanhar as batidas. Senti meus olhos molharem. Levei as mãos a boca.
-- Meu Deus!
-- Oi minha princesa. – a voz mansa chegou ao meu ouvido, por trás.
Continua...
Fim do capítulo
Olá meus amores! Tudo bem com vocês?
Vou confessar uma coisa, fiquei muito feliz com a quantidade de comentários no capítulo anterior, muito mesmo. Prometo tentar ser menos carente, tá?
Alguém tem alguma aposta ai do que foi que Beatriz viu?
Uma ótima semana à todas.
Música do capítulo: Ouvi dizer - Melim
https://www.youtube.com/watch?v=NC9h8ptsjMY&list=RDNC9h8ptsjMY&start_radio=1&t=208
Beijos e até o próximo!
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Blume
Em: 03/10/2018
ola
Com toda a certeza sera a Adele, amando esse casal, e esperando nao ter tempo ruim para as duas.kkkkk
NB: Adorei a musica, simplismente nao acredito que EU existia sem conhecer ''MELIM'' como pode isso acontecer... agora so estou ouvindo Melim kkkkk
obrigada
parabens
bjbj
Resposta do autor:
Olá Blume! Tudo bem?
Também amo esse casal. Vamos mandar vibrações positivas pra que entre elas não haja tempo ruim ou pessoas querendo que elas se separem. E se tentarem, que não consigam.
Opa! Que bom que gostou da música e da banda. Adorei saber que apresentei essa banda maravilhosa pra você. Eu AMO, e quase sempre, enquanto escrevo os capítulos estou ouvindo músicas deles. E uma dica, no dia que tiver uma oportunidade de ir ao show deles, não perca! É maravilhoso. A vibe então, nem se fala...De nada amore!
Obrigada pelo carinho!
Beijos e até o próximo.
LeticiaFed
Em: 01/10/2018
Oi, Bruna!
Hummm, confesso que fiquei um pouquinho ansiosa com a entrada da Bia de roupão numa suite desconhecida, mas era a Cleo levando, uma pessoa do bem. Agora...que surpresa fofa da Adele, hein? Qual seria? Uma cama enfeitada com rosas, um jantar especial, velas? Ou Adele com um anel em mãos? Todas acima estão corretas?? hahaha Olha, por mim tanto faz, o importante é nosso casal estar juntinho. Deixo pra autora querida nos surpreender...
Volta logo que está ótimo! Beijo grande e boa semana!
Resposta do autor:
Oi Leticia! Tudo bem?
Num é? Deu uma tensãozinha ficar imaginando para onde ela estaria sendo levada, ainda mais debaixo de tanto mistério onde não se podia perguntar nada. Ah, a Adele é uma fofa! Rapaz, diga aí, tu lê um pouquinho dos meus pensamento, né não? Só pode! Vamos ver qual das opções a senhorita acertou?
Volto rapidinho!
Beijo grande e até o próximo.
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Raisa
Em: 01/10/2018
Ah mas com crtz foi a voz da loira...rss. E vai rolar aquela noite que só vc sab escrever. ;-) . Agora ela tem q denunciar esse pilantra.
Resposta do autor:
Olá Raisa! Tudo bem?
Só pode ser ela, não é? Já chega falando juntinho assim no ouvido. Ui! Ah, pois é, tem que rolar uma noite pra matar a saudade delas, né não? Bora ver! A primeira coisa que ela tem que fazer é contar tudinho pra Adele, não pode deixar a loira de fora.
Beijos e até o próximo!
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Mis
Em: 01/10/2018
Que delícia chegar aqui na segunda e ter capítulo novo da história do meu casal preferido.
Bia tem que contar pra Adele do assédio. Isso é muito sério. Esse cara é um nojento e tem que pagar pelo que faz.
Obrigada autora por nos presentear com essa linda história
Bjos
Resposta do autor:
Oi Mis! Tudo bem?
Aiii e eu fico que nem besta lendo comentários assim.
Concordo com você, não é uma boa deixar a Adele por fora do que aconteceu, ela tem contar tudo o que Edson, o nojento disse a ela. Acho bom o Edson não provocar muito a inglesa não.
Eu que agradeço pelo carinho de vocês! Muito obrigada
Beijos e até o próximo.
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Mandyletta
Em: 01/10/2018
Tô muito melhor agora com esse capítulo postado (manoo passei a semana inteira entrando aq, pra ver se tinha att hahahah)
Eeeh salvou minha segunda tediosa! Que ódio desse Edson já esperando a Adele fazer picadinho dele.
Uma ótima semana pra ti tmb! Bjs
Resposta do autor:
Olá amore! Tudo bem?
Nossa! Quer dizer que eu judiei de você te fazendo esperar, foi? Desculpe pela ansiedade que lhe causei. Mas que bom que agora está melhor, não é mesmo? Prometo não lhe deixar entrando aqui pra checar a atualização hahaha
Fico muito contente em saber que salvei sua segunda! Uhuuu!
Edson que aguarde a gringa. Ele vai ver só;
Beijos e até o próximo.
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preguicella
Em: 30/09/2018
O que ela viu eu não sei, mas a voz que ela ouviu foi da Adele, isso eu tenho certeza! hahaha
Vou voltar pra moita! Hahaha
Bjão
Resposta do autor:
Olá Preguicella! Boa noite! Tudo bem?
Essa voz mansa ela conhece muito bem, não é mesmo? Só nos resta descobrir o que foi que Beatriz viu.
Vai voltar pra moita, mas volta aqui quando sair um novo capítulo, não é? Pode me abandonar não hein? Fiquei por aqui!
Beijão! E até o proximo.
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