Alma Negra por kpini
Capítulo 27
Marcella
Subi a escada ainda muito abalada por tudo o que estava acontecendo na minha vida naquele momento, todos aqueles problemas e ainda por cima saber que Vivi estava me perseguindo, porque eu tinha certeza absoluta do que havia visto naquela janela, não estava enlouquecendo, era ela, mas porquê? Por que Meu Deus, por que ela estava me atormentando? Eu a havia amado tanto, ela fora tão importante pra mim, teria feito tudo por ela. Se ainda estivesse viva, seria minha mulher, teria sido minha companheira por toda vida. Então não havia como entender o porquê dessas aparições assustadoras nos meus sonhos e agora naquela janela.
Entrei no quarto ainda atordoada, acendi a luz e parei em frente ao espelho, meu reflexo mostrava um rosto marcado pelas lágrimas e pelo cansaço, parecia que eu havia envelhecido uns dez anos naquelas poucas horas. Os olhos de um chumbo profundo e escuro traziam ainda vestígios do pavor que eu sentira e a minha feição pesada deixava transparecer meu sentimento conturbado. Fora as olheiras, se tivesse levado um soco teria a mesma coloração. Tudo aquilo estava mexendo demais comigo. Às vezes eu queria poder esquecer meu passado, fingir que nada daquilo tinha acontecido, que Vivi nunca tivesse aparecido na minha vida, apenas deitar minha cabeça no travesseiro, fechar os olhos e acordar só quando toda aquela tormenta houvesse sumido da minha mente, restando apenas um vazio no lugar. Queria que aquela sensação de angustia terminasse, mas meu subconsciente retornava sempre com a mesma pergunta “será que algum dia ela terminaria?”
Comecei a me despir lentamente, maquinalmente pois não tinha vontade de nada, só desejava a doçura do esquecimento e um pouco de paz. Tudo estava desmoronando a minha volta e parecia que em algum momento eu seria soterrada por aqueles problemas. Minha cabeça latej*v* e meu corpo tremia de um frio que vinha de dentro. Me sentia pesada e ao mesmo tempo vazia, como se tudo de bom que existia dentro de mim tivesse sido removido cirurgicamente, sobrando apenas as coisas ruins.
Entrei no banheiro desanimada e pensei que um banho de imersão seria a melhor opção no momento, quem sabe com ele eu conseguisse desestressar um pouco, meus músculos tensos precisavam se distender, e eu precisava acalmar minha alma, talvez a água quente ajudasse. Caminhei até a banheira, liguei as torneiras e fiquei parada ali, apenas observando enquanto ela enchia e o vapor subia. Queria relaxar um pouco, por isso coloquei algumas gotas de óleo de camomila e lavanda, além de sais de erva cidreira, o aroma invadiu minhas narinas e instantaneamente meu corpo começou a se acalmar. Aquele dia tinha sido tão pesado e complicado que mesmo com toda a minha coragem, força, e resistência, que sempre me protegeram com uma camada grossa o bastante, não estava sendo nada fácil. Fechei os olhos e imediatamente uma imagem se formou no fundo das minhas retinas: vi nitidamente o rosto lindo com o sorriso suave e os olhos encantadores de Viviana, o som de sua voz invadiu meus pensamentos e me levaram de volta a nossa ultima vez juntas.
Tudo tinha sido tão mágico, tão perfeito, fizemos amor tão mansamente, como se tivéssemos todo o tempo do mundo a nossa frente, cada toque, cada beijo, sentidos tão intensamente, não havia nem um espaço de tempo que não nos pertencesse naquele instante. O mundo era nosso, ou melhor, o mundo éramos nós, e nada além de nós. Ela foi tão minha naquele dia, e eu me entreguei de corpo e alma para lhe dar prazer. Cada segundo daquele ato de amor foi de entrega plena, paixão, amor, realização. O encontro das nossas peles, os beijos que pareciam nunca ter fim, longos, quentes, profundos. O encontro dos nossos olhos, que se perdiam dentro da vastidão do que sentíamos. O gosto do prazer que invadiu minha boca no momento do seu orgasmo, o gemido final que sua voz rouca de emoção deixou pairando no ar. Tudo isso parecia ainda tão presente em minha mente, como se tivesse sido na noite passada. Depois de tudo havíamos conversado sobre nosso futuro, e tudo o que ainda viveríamos, brincamos, rimos e namoramos, fizemos nossos planos ... eram tantos planos... tantas ideias de uma vida juntas.
Por que ela tinha feito aquilo? Balancei minha cabeça em negação, não conseguia aceitar aquela tragédia. Mesmo tendo se passado tanto tempo, tantos anos, tantas horas...eu não conseguia entender, não conseguia aceitar. Ela era tão cheia de vida, tão repleta de uma felicidade que se expandia em todas as direções! Teria sido tão diferente se ela tivesse vindo até mim quando sua mãe descobriu o diário. Ela encontraria abrigo e proteção em meus braços, no seio da minha família. E por que ela havia sido tão descuidada com seus relatos? Será que havia sido mesmo um descuido, ou como sua irmã dissera, ela de alguma forma queria ser descoberta? Essas perguntas me atormentavam porque eu não conseguia respostas para elas e dessa forma não parava de repeti-las durante todo esse tempo. Se eu conseguisse saber o porquê dela ter feito aquilo, quem sabe eu..., não, eu sabia que não adiantaria, nunca conseguiria aceitar o que ela fez.
Sacudi a cabeça com violência tentando tirar aquelas imagens e pensamentos de dentro dela, desliguei as torneiras, liguei a hidromassagem e mergulhei mansamente na água quente. Inalei profundamente enquanto relaxava os músculos, encostei a cabeça em uma toalha dobrada que estava na beirada da banheira e fechei meus olhos sentindo o calor envolver completamente meu corpo, aos poucos a tensão foi diminuindo, estava tão cansada com tudo aquilo, que minha mente se desligou e adormeci.
De repente estava caminhando em meio a flores multicoloridas, uma brisa suave e perfumada balançava meus cabelos e a minha frente, no final do campo de flores, se abria um gramado verde que parecia não ter fim, sentia minha pele aquecida pelos raios de sol que também brilhavam em um lago de águas plácidas de um azul intenso que margeava o belo jardim. Tudo era tão calmo, trinados de pássaros chegavam aos meus ouvidos numa melodia deliciosa e sentia uma paz interior profunda, junto com uma felicidade que há muito não sentia, aquele tipo de felicidade sem ter porque que acontece do nada e nunca sabemos explicar. Caminhei até sair do meio das flores, e olhando mais a minha frente avistei uma árvore frondosa com um belo banco de madeira pintado de branco sob ela. Decidi ir até lá e me sentar para apreciar ainda mais aquele cenário de encantamento.
Meus olhos se perderam observando tudo ao meu redor quando notei ao longe uma mulher que vinha em minha direção, apertei os olhos para conseguir enxergar melhor, e conforme ela se aproximava meu coração começou a acelerar de emoção, eu certamente conhecia aquele modo de caminhar, aqueles cabelos negros como ébano, presos em uma trança única, sabia que seus olhos eram azuis e que em seus lábios haveria um sorriso doce que formavam um covinha em seu rosto lindo, nem que se passassem mil anos eu não esqueceria nenhum detalhe dele. Levantei-me de um salto e comecei a correr ao seu encontro o mais rápido que pude, e sem nem uma palavra sequer me joguei em seus braços que já estavam abertos a minha espera.
Quanta saudade! Eu a abracei com toda a força, enquanto lagrimas de amor e alegria escorriam pela minha face. Como ela estava linda!
- Marina! Meu Deus! Você! Eu não consigo nem dizer o quanto estou feliz por te ver! – Disse beijando seu rosto repetidas vezes.
- Cella minha irmã amada! – Respondeu retribuindo meus carinhos.
- Mana estava morrendo de saudades! Você não imagina o quanto sinto a sua falta! – Falei olhando em seus bondosos olhos.
- Eu sei minha querida. Também sinto muitas saudades de todos vocês. Lembre-se que não estou longe por querer. – Ela retrucou suavemente
- Por que Marina, por que você nos deixou de forma tão abrupta? A tristeza tomou conta daquela casa que sem a sua presença ficou tão vazia. As meninas se ressentiram tanto. A Dudinha não entende direito o que aconteceu, mas Roxanne está para nos enlouquecer, cada dia aprontando alguma coisa na escola, ficou respondona, me agride como se eu tivesse culpa da sua morte. Apesar que agora, quem sabe, ela faça amizade com a Milli, e talvez fique mais calma. Sinto que ela pode mudar, porque Milli é tão centrada e calma. Ah me esqueci completamente, você não sabe quem é Milli! Tenho tantas coisas pra te contar. Na sua ausência muita coisa aconteceu, eu preciso te atualizar... Existe a Bianca também, meu Deus tantas coisas pra te contar...
- Eu sei Cella! Mas tenha calma, tudo vai se estabilizar. E mais uma vez, você sabe que não fiz a passagem por minha escolha, era o momento de eu partir. Tudo tem sua hora e sua razão de ser. Nada é por acaso. – Ela sorriu com doçura.
- Desculpe. Eu sei que não foi por sua vontade. Mas é que tem sido tão difícil tão doloroso. E tenho tanta coisa pra te dizer. – Continuei a falar rapidamente.
- Na verdade minha irmã, eu sei de tudo que esta acontecendo, acompanho vocês mesmo estando aqui do outro lado. Nunca abandonei vocês. Porém não foi para conversar sobre essas mudanças que você veio até mim hoje. Eu pedi pra te ver porque preciso de falar uma coisa importante. Preciso que você me escute atentamente. Infelizmente não temos muito tempo. – Disse segurando minhas mãos.
- Como assim não temos muito tempo? Não posso ficar aqui com você? Estou tão cansada, eu gostei tanto desse lugar, me trouxe paz, e ter você ao meu lado é o que eu mais quero nesse momento. – Falei já sentindo as lágrimas chegarem novamente aos meus olhos
- Aqui ainda não é o seu lugar meu amor. Você tem muita vida ainda pela frente. E como eu disse antes, não somos nós que escolhemos o momento de partir. Acredite sua missão ainda é longa. – Ela falou enxugando meu rosto delicadamente com a ponta dos dedos.
- Quer lugar é esse afinal? É o paraíso? Como cheguei até aqui? Você sempre vai poder me trazer para cá? – Questionei me dando conta apenas naquele momento da estranheza da situação.
- Está fazendo perguntas demais como sempre! Aquiete-se e me ouça, é muito importante o que eu tenho pra falar. – Repreendeu sorrindo enquanto começava a caminhar.
- Está bem, farei o que você me pede. Mas só porque faz muito tempo que não há vejo. – Disse rindo enquanto caminhava ao seu lado
- Cella percebi que está muito atribulada e sua alma cansada. Sei que não esta sendo fácil para você tudo o que vem acontecendo. Tantos problemas para carregar sozinha e as novas, digamos assim, situações pelas quais está passando. Sei também dos seus autos questionamentos, que chegou a achar que estava louca, mas não está. Acredite em mim. Você precisa se manter forte e lúcida. Tem que estar centrada. Muitos eventos obscuros ainda estão por vir e será necessário que você tenha calma, tranquilidade e coragem para lidar com eles. Lembre-se que tudo tem uma razão de ser, tudo tem um porquê. Eu confio em você minha irmã. Sei que você é capaz de lutar e vencer cada obstáculo. E lembre-se você não lutará sozinha nessa batalha, nós estaremos sempre junto a você. Deixe Bianca te conduzir e cuidar de você nessa jornada difícil. E mais uma coisa, nem tudo é o que parece ser, muitas vezes nos deixamos enganar, nos iludimos com o que vemos, ou melhor com o que achamos que vemos. Não se esqueça disso, é muito importante. – Falou me encarando francamente.
- Marina você está falando por enigmas. Não consigo entender. Por favor, me explique melhor. O que vai acontecer? O que eu estou achando ver? Como estou me iludindo? É sobre Vivi? – Perguntei angustiada.
- Com o tempo você compreenderá, apenas tenha fé e não se entregue. Não posso falar mais do que eu já disse. Só não se esqueça de nada. Sempre que se sentir sozinha pense em mim e estarei ao seu lado, te apoiando. Lembre-se que o amor pode superar tudo. Agora infelizmente você precisa voltar. Nosso tempo se esgotou. – Sorriu novamente
- Não! Ainda não! Eu não quero ir. Por favor, minha irmã, me deixe ficar mais um pouco com você. - Implorei
- Hoje não será possível, só pude vir para acalmar seu coração, mas haverá outros dias, eu prometo. Não se esqueça que eu te amo. Diga as meninas que sinto muita falta delas e dê um beijo na avó por mim. Até breve Cella. –Deu um beijo em minha face e começou a se afastar sem olhar para traz.
Tentei segui-la, gritei seu nome, estendi os braços como se com isso pudesse prendê-la ali enquanto lagrimas caiam dos meus olhos mas não conseguia mover minhas pernas, e aos poucos tudo foi ficando desfocado.
Acordei lentamente ainda com a mesma sensação de paz que senti ao abraçar Marina, mas com o rosto molhado por conta do choro. Tinha sido um sonho tão bom. Eu não queria ter despertado. Estava triste e ao mesmo tempo feliz. Apesar de não me lembrar exatamente de tudo o que sonhara, algumas palavras ainda pairavam aos meus ouvidos, só do sonho ter sido com ela já era o bastante. Desde sua morte eu vivia pedindo pra poder vê-la novamente
Meu corpo estava totalmente relaxado, e senti que estava com um sorriso nos lábios. Sentia-me mais forte, centrada e confiante.
Nesse instante Bianca entrou no banheiro, colocou a xicara de chá sobre o balcão da pia e sorrindo para mim sentou-se na beira da banheira. Olhando em meus olhos começou a acariciar meus cabelos.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
mtereza
Em: 13/09/2018
Que bom vc regressou amo a sua historia e as personagens principalmente Bianca , Milli e Marcela bjs
Resposta do autor:
Oi Maria Tereza
Que bom ter você aqui de novo!
Muito obrigada pelas palavras e por ter esperadp a minha volta.
Agora se Deus quiser não sumo mais.
Quanto a história muita água vai rolar debaixo dessa ponte.
Beijos Carinhosos
K.
Mille
Em: 13/09/2018
Olá querida amiga Ka saudações alviverde.
Alegria quando vi atualização de sua história só agora que tive um tempinho para ler e comentar.
Marcela irá precisar se contentar para vencer as batalhas e Bianca será muito útil, espero que a Cella de abra assim se sentirá mais leve dividindo com a Bianca.
Bjus e até o próximo capítulo
Resposta do autor:
Minha querida Mille
Quantas saudades!!!!
Infelizmente nosso Palestra perdeu na quarta, agora vamos ver se conseguimos recuperar na proxima rodada.
Não imagina a minha felicidade de vê-la aqui comentando minha estória, tão bom receber de volta as pessoas queridas.
Acho que Marcella e Bianca ainda vão ter que aguentar algumas barras, mas o amor sempre ajuda nessa caminhada não é mesmo?
Volte sempre viu?
Beijos carinhos
K
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NovaAqui
Em: 13/09/2018
Que bom que você voltou!
Não imagina o quanto estou feliz!
Cella e Bi são lindas!
Obrigada por estar aqui novamente.
Espero de coração que tudo esteja bem com você e os seus.
Abraços fraternos procês aí!
Seja bem-vinda a esta casa!
Resposta do autor:
Oi minha linda!
Bom demais ter voltado, senti muita falta do carinho de vocês.
E você não imagina minha alegria por saber que esta feliz!
Vou te contar um segredinho, eu também as acho lindas ;)
Obrigada você por ter aguardado a minha volta e por essa recepção maravilhosa.
Infelizmente minha familia não anda muito bem, mas com a força de Deus vamos caminhando.
Seja bem vinda à minha sala de estar ;*
Beijos carinhosos
K
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NayGomez
Em: 13/09/2018
Uou que bom que vc voltou achei que não iria voltar, senti saudades desse conto, espero que vc não suma de novo e volte pra postar. Bjs inte mais.
Resposta do autor:
Oi Nay sua linda!
Jamais deixaria voces sem o final, é que muitas coisas estão acontecendo e ai ficou bem dificil para mim.
Eu senti muitas saudades de escrevê-lo também.
Se Deus quiser agora volto com mais regularidade.
Obrigado por ter aguadado.
Beijos carinhosos
K
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