Capítulo 10
Toda a sua atenção estava focada no desenho que ia se formando na folha abaixo de suas mãos, era uma ótima desenhista, por mais que nem sempre demonstrasse isso, precisou fazer aulas extras de desenho na faculdade para poder se aperfeiçoar, era o tipo de profissional que primeiro transcrevia as suas ideias com um lápis na mão e só depois que se dava por satisfeita era que passava o projeto para o computador, seus projetos eram feitos no SketchUp, gostava da perfeição que o programa dava a seu trabalho, mas mesmo tendo uma ferramenta tão boa em seu computador, preferia primeiro passar as suas ideias para o papel, desenhar da forma que imaginava antes de passar para o programa e ir aperfeiçoando como bem gostava. Os olhos azuis focaram-se nas fotos exibidas no computador da área que havia visitado logo pela manhã, havia tirado foto de todos os cômodos, de vários ângulos possíveis para que pudesse fazer o seu trabalho e deixar que a criatividade corresse por seus dedos. A morena assustou-se momentaneamente quando o telefone tocou, respirou um pouco fundo enquanto se ajeitava na cadeira atrás da bela mesa e retirou o telefone do gancho antes de levá-lo ao ouvido.
— Sim? — a voz saiu calma, a mão livre ia limpando a folha com resquícios da borracha usada há pouco tempo atrás, já estava terminando e nos olhos passava a satisfação de ter algo ficando do jeitinho que ela queria.
— Uma moça chamada Helena está aqui pedindo para falar com você. Posso deixar entrar? — a voz calma de Rose soou do outro lado da linha e Mia arregalou os olhos no mesmo instante enquanto erguia o olhar em direção a porta de seu escritório, seu coração bateu com força dentro do seu peito e a morena teve que respirar um pouco fundo enquanto largava o lápis em cima da mesa.
— Ah... — inicialmente não soube o que falar, será que era a Helena que imaginava? Duvidava! Existiam várias Helenas pelo mundo, não podia ser, não depois daquela conversa. — Você vai manter a sua expressão neutra e vai me responder apenas com um sim ou com um não, ok? — silêncio do outro da lado da linha, Mia respirou fundo mais uma vez antes de voltar a falar. — Ela é morena, alta, lábios carnudos e olhos claros?
— Sim.
Seu coração saltou dentro de seu peito mais uma vez enquanto arregalava os olhos de forma completamente incrédula, abriu a boca na tentativa de dizer qualquer coisa, mas simplesmente não sabia o que dizer, Deus, não queria ver aquela mulher e ao mesmo tempo seu interior gritava para vê-la, a curiosidade lhe esmurrava no desespero de saber o que ela queria ali.
— O Hernando está?
— Não.
Suspirou de forma pesada, céus, como gostaria que o amigo estivesse para que pudesse recorrer a sua ajuda, mas ajuda para que? Para fugir dali? Para enfrentar Helena? Ela não sabia. Apoiou os cotovelos na mesa enquanto sentia seu corpo formigando pela ansiedade e também pelo nervosismo, sentia raiva, ao mesmo tempo em que a curiosidade apenas crescia mais.
— Deixe-a entrar.
Desligou o telefone no segundo seguinte e levou ambas as mãos as próprias coxas onde as uniu, estava tremendo, notou ao olhar. Fechou momentaneamente os olhos e os abriu no momento em que ouviu o barulho da porta de seu escritório se abrindo, calmamente cruzou as pernas enquanto via e ouvia Rose pedindo para que Helena entrasse.
— Deseja alguma coisa? — Rose perguntou, tinha um olhar claramente curioso e Mia podia jurar que ouviu ela silenciosamente perguntando o que estava acontecendo.
— Obrigada, Rose, eu te chamo se eu precisar. — Mia a dispensou de forma educada e com um sorriso fraco que não passava de um entortar de lábios. Rose apenas acenou de forma positiva com a cabeça e fechou a porta, enfim, deixando as duas mulheres a sós.
— Fiquei surpresa que você tenha me recebido tão facilmente. — a voz grave de Helena soou extremamente calma, os olhos de cor mel focaram-se nos de Mia de forma satisfeita, um sorriso quase vitorioso surgindo nos lábios carnudos. Naquela tarde a morena tinha os cabelos escuros presos em um rab* de cavalo, usava um short jeans de cintura um pouco alta e uma camisa de alcinhas de cor bege, por cima, um kimono aberto, verde claro, com algumas orquídeas brancas estampadas em seu tecido, nos pés, chinelos de couro, a morena sempre fora dona de um estilo extremamente simples que eram constituídos em sua maioria por vestidos ou combinações simples e confortáveis.
— Não tanto quanto eu ao saber que você estava aqui. — Mia rebateu, os olhos não saiam dos de Helena em momento algum, era como uma briga silenciosa, quem desviasse primeiro, perdia e nenhuma das duas parecia querer a derrota naquele momento. A tensão voltava a crescer. — O que você quer?
— Conversar, Mia. — chamou-lhe pelo apelido como se já fosse alguém próximo, isso fez a Designer arquear uma sobrancelha. — Posso te chamar assim? Por mais que te chamar de Amélia soe mais gostoso. — deu de ombros enquanto dava-se a liberdade de se aproximar já que a mulher atrás da mesa não parecia muito disposta a oferecer uma das poltronas para que Helena se sentasse, mas mesmo assim ocupou uma das poltronas em frente à mesa de Mia sem pensar duas vezes, sentou-se de forma confortável e calmamente cruzou as pernas enquanto os olhos voltavam a encarar os olhos azuis da morena a sua frente, agora apenas com uma mesa as separando.
A designer respirou fundo e arrependeu-se no momento em que aquele cheiro tão familiar tomou conta de seus sentidos, céus, como adorava aquele cheiro e como adorava a forma como o seu nome soava na boca de Helena, adorava tanto que sentia raiva e isso transparecia em seu olhar, a raiva transparecia em seu olhar. A tensão cresceu um pouco mais entre as duas mulheres e o silêncio tomou conta do lugar, os olhares fixos um no outro pareciam queimar e consequentemente aumentar a temperatura de ambos os corpos e de todo o ambiente. Mia não falou absolutamente nada, também não sabia o que falar, não entendia o porquê de Helena querer conversar sendo que tudo já havia sido colocado a pratos limpos da última vez.
O silêncio continuou, em algum momento ambos os pares de olhos desviaram-se e se concentraram apenas em observar as feições uma da outra, havia certa admiração entre elas, se achavam lindas, mas ambas eram orgulhosas demais para simplesmente deixarem os atritos de lado e admitirem algo como aquilo justamente naquele momento. Em determinado momento Helena baixou o olhar de vez e respirou um pouco fundo, estava criando coragem para falar o que queria. Pigarreou, chamando ainda mais a atenção de Mia.
— Na verdade eu vim aqui por que eu precisava me desculpar. — falou em um tom baixo e franziu um pouco o cenho enquanto olhava para um detalhe em seu short, se sentiu incomodada com a situação, mal lembrava-se qual fora a última vez em que se met*u em algo parecido com aquilo. — Bom, eu sei que não foi bacana eu ter feito o que fiz, as minhas primeiras intenções não foram boas, eu concordo, realmente não foram.
— Foi desprezível.
Helena rolou os olhos enquanto erguia o olhar e voltava a encarar Mia com uma expressão que deixava claro que estava silenciosamente perguntando “você está falando sério?”.
— Sim, foi desprezível, mas em momento algum eu vi você como um objeto apenas para deixar o show melhor. Acho que em algum ponto você se tornou o que deixava tudo mais intenso... Mais gostoso, era o meu ápice, eu desejava que você estivesse lá, por que você deixava as coisas melhores...
— Eu deixava as coisas melhores? — a designer tinha as sobrancelhas arqueadas e não pode deixar de dar uma risada ao interromper Helena. Por sua vez, a Artista rolou os olhos mais uma vez antes de rebater.
— Deus, você é difícil de conversar. Você quer que eu seja mais direta? Eu não forcei você a nada, eu não prendi você na cadeira, eu não beijei sozinha, não faça tanto drama sendo que ambas sabemos que você, mesmo fazendo todo esse charminho de mulher durona, gostou e muito.
Mia ergueu-se de sua cadeira no momento em que ouviu aquelas palavras, a expressão completamente contorcida em indignação com a audácia que Helena tinha ao vir ali para falar aquelas palavras, ao mesmo tempo em que sentia o orgulho completamente ferido por que sabia e como sabia, que aquela mulher estava mais do que certa, ela havia gostado, ela podia ter recusado, ela podia ter fugido, mas se perdeu naquele cheiro, naquela boca, naquele corpo e fora impedida de correr por si mesma, pelo turbilhão de sentimentos que Helena lhe causava.
— Vai embora, Helena. Vai embora! — as últimas palavras saíram um pouco mais alto e tudo o que Helena fez fora arquear ambas as sobrancelhas e um sorriso quase safado desenhou-se no canto de seus lábios.
— Ah, Mia... Não... Amélia. — deu um novo sorriso ao falar o nome da mulher a sua frente enquanto se inclinava um pouco. — Eu te atingi em cheio não foi?
Mia semicerrou os olhos ao mesmo tempo em que sentiu o seu rosto esquentar, estava corando e se amaldiçoava ainda mais por isso, deu as costas para Helena, se negando a deixar que ela visse isso e saiu andando em direção a grande janela que tinha em seu escritório. A morena caminhou devagar enquanto ambas as mãos iam em direção ao próprio rosto, o acariciava devagar até os dedos chegarem aos fios negros. Helena observava tudo com um pequeno sorriso no canto dos lábios, os olhos completamente focados em Mia, mais precisamente naquele rebol*do natural que ela tinha e que Helena infelizmente nunca havia percebido. Estava a secando e não se orgulhava disso, mas isso não significava que não gostava. O sorriso satisfeito no canto dos lábios deixava claro seus sentimentos.
— Na segunda vez eu só queria você. — continuou enquanto os olhos ainda estavam fixos na mulher, atenta a qualquer movimento dela. — De alguma forma você fazia eu me sentir menos suja. Eu não tinha a intenção de te magoar, de te humilhar, de te usar ou qualquer coisa do tipo. Eu só tinha a intenção de matar a vontade que eu sentia. É errado, eu sei, eu realmente sei que eu errei, e realmente vim aqui pra pedir desculpas. — ajeitou-se na poltrona e sorriu fraco enquanto cruzava os braços. — Eu acho você interessante, Amélia. Acho muito. Você tem todo esse jeito de mulher superior, é sexy.
Mia virou-se em direção a Helena, os braços automaticamente se cruzaram enquanto tinha o cenho franzido e olhava fixamente para a Artista e Dançarina. Estava no meio de um tornado de sensações e sentimentos que estavam a deixando completamente confusa. Sentia raiva de Helena ao mesmo momento em que arrepiava-se com as coisas que ela dizia, estava ficando confusa! Mais do que já estava desde que aquilo tudo havia começado, mas ela não soube o que falar, não soube que resposta dar a Helena, novamente estava ali, corando, sem saber como reagir aquela mulher.
— Você me irrita, sabia? — indagou em um tom sério, o cenho se franziu imediatamente enquanto pensava nas próximas palavras que diria a Helena. — Isso faz com que eu apenas ache que você só quer uma conquista a mais na sua lista.
— Eu não sou esse tipo de mulher.
— Você tem certeza que você não é? — riu de forma debochada e balançou a cabeça de forma negativa. — Helena, você é uma Stripper. Uma Stripper que não respeita limites e que pensa apenas em benefício próprio, em se satisfazer, em saciar suas vontades e foda-se o resto. E é exatamente isso o que você esta tentando fazer aqui, saciar uma vontade. Quer minhas desculpas pra que? Você não depende disso pra viver, eu não sou absolutamente nada pra você e sou insignificante em qualquer ponto da sua vida além de servir como uma coadjuvante para pinturas extravagantes e ousadas de uma mulher que parece não ter muito controle da própria vida.
Helena tinha uma sobrancelha arqueada enquanto mantinha os olhos fixos naquela pose tão arrogante de Mia, aquela conversa entre ambas estavam se tornando em uma troca de palavras duras e verdadeiras. Não era exatamente isso que imaginava quando saiu de casa e veio diretamente para aquele lugar com toda a confiança que conseguia ter ao imaginar que conseguiria conversar civilizadamente com Amélia.
— Se você é tão insignificante na minha vida, por que eu estou aqui, Amélia? Escolher saciar uma vontade fútil como as desculpas bobas de alguém com quem eu não me importo ao invés de estar em qualquer outro lugar, entre as pernas de qualquer outra mulher, ou planejando o meu próximo showzinho. — a expressão de Helena voltou a ficar séria. Na verdade a seriedade começava a reinar entre ambas, mas perdia apenas para a tensão que crescia mais e mais tornando aquele ambiente um tanto sufocante, os olhos focados um nos outros como se estivessem travando uma batalha. — Então, eu te pergunto, por que eu te irrito? Por que eu não tenho medo de jogar na sua cara as verdades que você se recusa a enxergar?
Amélia ergueu um pouco o queixo para aguentar aquela enxurrada de palavras e aquela última pergunta que a fez trincar os dentes, não conseguia desviar os olhos de Helena, estava inteiramente perdida naquela intensidade dos olhos da Artista, sentia o próprio corpo esquentar, de raiva, de frustração, de vergonha... De tesão.
— Por que você, sendo uma Artista tão famosa, escolhe ser uma puta sem respeito que serve como atração para os homens e acha que tem o direito de levar quem não quer, para o mesmo caminho nojento que você.
As palavras firmes e tão fortes de Mia fizeram os lábios de Helena se entreabrirem pela surpresa em ouvir aquilo, a morena se mexeu desconfortável na poltrona enquanto o cenho ia se franzindo completamente enquanto encarava a Designer, o caminho que aquela conversa estava tomando acabaria com ambas se machucando, sentia vontade de fazer Mia engolir todas aquelas palavras, mas analisava a situação em silencio e o silencio durou alguns bons segundos antes de ser quebrado pela artista.
— Você é muito arrogante. Muito, Amélia. — a voz da Artista Plástica saiu absurdamente calma e uma pequena risadinha soou logo em seguida enquanto erguia-se devagar da poltrona em que estava sentada e ia caminhando devagar em direção a Mia. A morena em pé próxima à janela arqueou uma sobrancelha, se sentiu desconfortável com o fato de Helena ter levantado e vir caminhando em sua direção, sentia o peso das próprias palavras aumentando o quilo da tensão entre elas. — Foi por isso que me irritou tanto na primeira vez que eu te vi, exala arrogância. Você julga e muito sem saber a verdade por trás, você julga aquelas meninas como vagabundas sem saber o motivo de elas estarem lá, você me julga gratuitamente apenas pelo que vê. Isso é cruel.
— A sociedade é feita de julgamentos ou conclusões, Helena. Nós julgamos aquilo que vemos no dia a dia de forma automática. Julgamos as pessoas pelo o que elas nos mostram e assim conclusões são tiradas. — pendeu a cabeça um pouco para o lado enquanto se encostava na janela atrás de si. — Eu não julgo aquelas meninas, eu sei que muitas delas não tiveram opções além daquele lugar. O que, definitivamente, não é o seu caso, você tem opções.
Helena continuava a se aproximar em passos lentos, passo a passo ia se aproximando de Mia até enfim, parar a pouquíssimos passos da morena, ambas as mãos se enfi*ram nos bolsos do shorts que usava e assim, respirou fundo enquanto olhava para aquela mulher tão cabeça dura.
— Sabe por que eu disse que você era a âncora na realidade? — A artista perguntou e Amélia ficou em silencio, apenas a espera da resposta. — Por que eu não tenho muito controle sob a vontade de ir para aquele bar, é como se parte de mim se desligasse e apenas a raiva comandasse. Raiva por que eu estive em um relacionamento abusivo de anos com um homem frequentador assíduo de locais como aquele. Mas eu não vou te contar a minha vida, não com você me julgando dessa forma. Você só precisa saber que você, de alguma forma, me trouxe a realidade naquele palco, você me despertou desejo, vontade, fez eu me divertir em dançar e me exibir apenas para você, aqueles homens sumiam. E por isso eu me interessei tanto por você, Amélia, por que você me fez despertar de algo que eu só conseguia depois de saciar a raiva. — estava séria, mas os sentimentos transbordavam na intensidade do olhar da Artista e dançarina e tudo o que Amélia via neles, era sinceridade. — Você perguntou, por que você, naquela noite e eu me perguntei isso por dias e me senti um monstro, me senti um monstro por que deixei a raiva que me domina tomar conta a ponto de usar uma mulher inocente. Eu vim me desculpar com você com sinceridade por que reconheci que errei em muitos pontos e você merecia uma explicação, um pedido de desculpas.
Mia tinha o lábio inferior preso entre seus dentes, havia erguido uma barreira entre ela e Helena, estava em total posição de ataque para rebater qualquer gracinha da morena, estava com respostas na ponta da língua para expressar a irritação que Helena lhe causava, mas aquelas palavras, aquele olhar, foi capaz de simplesmente desarmá-la, de deixar a barreira em frangalhos, de fazê-la esquecer de qualquer resposta ou raiva que estava sentindo. De repente, se sentiu mal ao mesmo tempo em que sentia-se extremamente curiosa e interessada na vida de Helena. No dia da exposição da obras de Helena, havia descoberto sobre o seu relacionamento abusivo, mas não muita coisa além disso, mas com aquelas palavras Mia havia entendido que havia um universo de coisas por trás de tudo aquilo, havia mais história do ela podia imaginar e um motivo nada normal por trás do motivo daquela mulher virar uma stripper a noite. Queria perguntar, queria saber mais, queria entender, queria... Conhecê-la? Desviou o olhar, não aguentou o peso do olhar de Helena, baixou-o e respirou fundo, ela não soube o que falar.
Helena sorriu fraco com as reações de Mia e com o ato dela desviar o olhar daquela forma, era sinal que havia desarmado a morena, sentiu-se, de certa forma, aliviada com isso, também era sinal de que a tensão instalada entre ambas estavam se dissipando aos poucos. Era um alívio tão grande que a surpreendia, a necessidade que tinha de que Mia entendesse estava a surpreendendo.
— Me desculpe por fazê-la se sentir um objeto, por magoar você, a dançarina não é a mesma mulher que eu quero que você conheça. — falou um pouco mais baixo, de forma mais... Delicada, arredia, como se estivesse tomando cuidado com as palavras que falava. Como queria se aproximar mais... Os olhos estavam fixos no rosto de Mia, mesmo que a garota não a olhasse mais, a olhava fixamente, ela era extremamente linda e a forma como mordia o lábio era quase um convite pra Helena. Mas tudo o que menos queria era estragar aquele momento, era deixar Amélia arredia novamente, por isso, ficou quase imóvel a alguns passos dela. Mas em determinado momento, com aquelas palavras, Mia teve que erguer o olhar e encontrou o de Helena, as duas se encararam em silencio por alguns segundos. — Vamos... Não se faça de durona, estou começando a achar que estou conversando com uma pedra de gelo.
— Pedra de gelo? — a morena arqueou uma sobrancelha como se perguntasse “É sério isso?”.
— É controverso eu sei, você é muito quente e...
— Não comece! — a interrompeu imediatamente antes que começasse a mais uma vez ficar vermelha com as palavras de Helena, não duvidava mesmo que aquela morena era mais do que capaz de falar cosias completamente inapropriadas ali. O sorriso largo e sem vergonha surgiu nos lábios de Helena e Mia rolou os olhos quando o viu antes de dar uma pequena risada antes de balançar a cabeça de forma negativa. — Você começou tudo de uma forma muito errada, Helena, muito. Mas você conseguiu fazer eu acreditar em você, eu realmente gosto de sinceridade e...
— Aceite sair comigo. — Helena a interrompeu de maneira repentina, Mia arqueou uma sobrancelha mais uma vez, mas ficou em silêncio, bom, não era a primeira vez que Helena a chamava para sair, mas daquela vez havia sido diferente da primeira, sentiu-se nervosa. — Eu realmente gostaria de te conhecer, descobrir que você é muito além de uma mulher linda, arrogante, quente... Mas uma pedrinha de gelo... E realmente gostaria de te mostrar quem eu sou de verdade, dessa vez com roupa e sem danças. — a mulher tinha um sorriso um tanto divertido no canto dos lábios enquanto olhava para Mia.
A tensão havia se esvaído completamente entre elas, havia uma sensação de alívio no lugar dela, um alívio que parecia fazer muito bem a ambas as mulheres. Mas Mia ainda se sentia surpresa com o convite e não sabia exatamente como se portar diante dele, a morena ainda não estava pronta para aquilo, não estava pronta para se aceitar até aquele ponto, por isso mordeu o lábio inferior com um pouco de força enquanto a insegurança passava por seus olhos. Helena percebeu e deu uma pequena risada, entendeu que Mia não queria.
— Não se preocupe, eu sei que dissemos palavras muito duras uma para a outra hoje, mas vamos deixar isso no passado a partir de agora. — deu as costas para Mia e saiu andando a passos lentos em direção à mesa da morena, retirou as mãos dos bolsos assim que se aproximou da mesma, puxou para perto o bloco de post it e pegou o lápis jogado em cima do papel rabiscado com desenhos de uma planta, isso chamou a atenção de Helena, tanto que ela o olhou por alguns segundos antes de sorrir fraco, tinha muito por trás de Mia que precisava conhecer. Escreveu rapidamente no bloco e deixou o lápis de lado antes enfim se afastar. — Eu estou em casa todas as noites, agora você tem meu endereço, quando mudar de ideia, vá até lá, eu vou te receber com prazer. Ou caso prefira, você sabe onde eu trabalho. — deu de ombros para a morena e a olhou por alguns segundos, sorriu fraco antes de ir andando em direção à porta da sala, iria embora, já havia feito o que tinha vindo e sentia-se extremamente satisfeita com isso.
— Me desculpe, eu não... Não acho certo. — Mia enfim falou, referia-se ao convite para sair, era clara a indecisão da morena, estava tão confusa com tudo aquilo que simplesmente não iria conseguir tomar uma decisão naquele momento.
— Apenas pense, Amélia. — foi o que Helena respondeu antes de chagar a porta, assim a abriu e olhou para Mia uma última vez. — Ah... Para Croquis eu recomendo uma Lapiseira, as da Pentel são maravilhosas, com lápis você suja e rasura mais e não fica tão nítido como ficaria com Lapiseira. — aquelas foram às palavras de despedida, piscou para Mia uma última vez antes de sorrir e enfim, sumir da visão de Mia quando passou pela porta e a fechou.
Mia fora deixada para trás completamente perdida, a pose de mulher durona e arrogante havia caído a muito tempo e estava só a mulher chorona e frágil que verdadeiramente era, estava tão sem chão após aquela conversa que quase não entendeu as últimas palavras da mulher, só após alguns segundos fora que olhou para a sua mesa e recordou-se do desenho que antes fazia com um lápis HB. Balançou a cabeça de forma negativa e acabou sorrindo fraco ao constatar que Helena continuava a ser uma mulher extremamente intrigante, mas isso não era algo ruim como antes, seu coração ainda batia mais forte do que deveria dentro de seu peito e aquela sensação... Era alívio? Felicidade? Ela não sabia, mas era tão gostosa que a fazia sorrir. Caminhou devagar até a mesa, os olhos procurando onde Helena havia escrito e achou o bloco de post it, o pegou com calma e leu o endereço rapidamente, o sorriso divertido surgiu novamente em seus lábios, riu baixo quando viu as palavras extras, além do endereço, bem escritas: “Se derreta, pedrinha de gelo. :)”.
Helena estava parada em frente ao elevador enquanto esperava calmamente que o mesmo subisse, tinhas as mãos dentro do bolso do shorts mais uma vez enquanto olhava fixamente para um ponto no chão, tinha um sorriso fraco, porém extremamente satisfeito nos lábios, sentia-se deliciosamente leve. Era como se de fato, tivesse tirado um peso gigante de suas costas, como se tivesse se libertado de algo que estava a acompanhando a um tempo, era muito bom. Quando ouviu o toque do elevador ao chegar no andar, ergueu a cabeça, quando a porta abriu-se deu de cara com aquele belo homem barbado que ela conhecia muito bem.
— Hernando. — o cumprimentou com um sorriso calmo, o arquiteto arqueou uma sobrancelha para logo em seguida fechar a expressão e ficar bem mais sério do que Helena esperava, isso fez a morena rir enquanto entrava no elevador quase no mesmo momento em que Hernando saia.
— O que veio fazer aqui? — a pergunta do homem soou extremamente séria e por mais que Helena tivesse sido sua cliente, Mia era muito mais importante do que ela. E Helena entendia, tanto que achara o cuidado do homem algo realmente fofo, não foi a toa que sorriu com a pergunta dele.
— Não se preocupe, eu fiz o certo dessa vez. — piscou para ele enquanto apertava o botão do andar térreo e dava alguns passos para trás para encostar-se na parede do elevador, as portas se fecharam calmamente, deixando um Hernando com o cenho franzido e expressão perturbadoramente séria para trás.
Segundos depois Hernando entrava como um furacão na sala de Mia, de uma forma que fez a própria morena se assustar com a entrada repentina, as sobrancelhas estavam completamente arqueadas, estava sentada atrás de sua mesa ainda com aquele papel na mão enquanto olhava para Hernando se perguntando o que havia acontecido.
— Oh... Você a encontrou. — ligou os pontos enquanto via o rapaz cruzar os braços e manter aquela expressão séria e protetora.
— O que ela veio fazer aqui? O que aconteceu? — ele perguntou logo de imediato, por mais que mentalmente dizia que Mia parecia estar bem e que nada de grave parecia ter acontecido como no último encontro das duas, o que de certa forma o deixava surpreso.
— Ela veio se desculpar e foi extremamente sincera. — arqueou uma sobrancelha ao final de suas palavras enquanto se ajeitava um pouco e cruzava as pernas, as costas se apoiaram de forma confortável no encosto enquanto os olhos não saiam de Hernando, aquele olhar do amigo de quem queria saber absolutamente tudo a fazia ter vontade de rir. Assim, pacientemente, contou tudo o que havia acontecido ao amigo, detalhe por detalhe e não teve receio de nada, não deixou nada de fora. — Eu fiquei muito... Pensativa. — disse em tom baixo, enquanto olhava para Hernando que agora tinha o endereço de Helena em mãos, o rapaz tinha uma sobrancelha arqueada. — Ela se mostrou de uma forma tão diferente, é como se fossem duas pessoas diferentes uma da outra. É confuso. Me deixa morrendo de curiosidade de conhecê-la mais, de desvendar esse mistério em volta dela.
— Ela tem raiva do ex e por isso dança em lugares que ele frequentava? É loucura. — Hernando agora tinha o cenho franzido enquanto inclinava-se, estava sentado em uma das poltrona, colocou o post it em cima da mesa para que Mia pegasse antes de voltar a encostar-se no encosto da poltrona, o homem cruzou as pernas enquanto a expressão ficava pensativa. — Sinceramente, ela aparentou ter alguma mágoa muito profunda pra acabar fazendo isso. Mas não é pra menos, relacionamentos abusivos como o dela são capazes de destruir a mente de uma pessoa. — respirou um pouco fundo antes de indagar. — Você vai sair com ela?
Mia ficou em silêncio diante a pergunta de Hernando, queria aceitar o convite ao mesmo tempo em que queria simplesmente correr de toda aquela situação tão absurda. Também não se sentia confortável de certa forma, aceitar sair com Helena era como aceitar todas as dúvidas que andavam percorrendo-a desde o primeiro beijo que as duas tiveram e ainda não estava pronta para fazer isso e nem sabia se queria, no fundo, automaticamente, pensava o que iriam achar quando soubessem que ela estava saindo com uma mulher.
— Eu sinceramente não sei. Apesar de ter vontade e me sentir extremamente curiosa sobre ela, eu não acho que deve ser a coisa certa a se fazer. Não acho que eu esteja simplesmente pronta para sair com uma mulher, principalmente com o que já aconteceu entre nós. — a morena falou de forma séria, não olhava para Hernando, não mais, afinal, sentia-se de certa forma envergonhada por admitir aquilo, estava se sentindo tão confusa e tão, tão insegura que era como se estivesse perdida e sem um rumo certo para seguir. Ela nunca foi uma pessoa impulsiva, que age com seus sentimentos, ela sempre pensou demais e isso sempre a prejudicou, por que acabava não fazendo e sempre se arrependia depois.
Hernando a olhava em silêncio, estava sério, era como se estivesse se vendo na mulher, como se visse o Hernando adolescente e assustado antes de ter o seu primeiro encontro com um homem. A empatia que sentia por ela era realmente grande e naqueles momentos realmente se sentia como o irmão mais velho de Mia, pronto para ampará-la e cuidá-la da forma que ela merecia enquanto dizia para ela ficar calma, por que ele a entendia.
...
Já era o fim de tarde de uma sexta-feira, quatro dias após o último encontro de Mia e Helena. E Mia ainda não havia conseguido tirar aquele encontro de sua cabeça, havia tido a tarde livre e se sentira a pessoa mais inútil do mundo por que tudo o que fez fora ficar deitada em seu sofá com a mente repleta de pensamentos sobre a situação em que se encontrava, criando fantasias de como seria a sua vida, de como poderia ser aquele encontro, se sentia como uma adolescente, fantasiando coisas que queria que acontecessem em sua vida. Mas estava se auto sabotando, ao mesmo tempo em que queria, era como se desse uma tapa na própria cara e lembrava que aquilo era errado e se descobrissem que ela estava saindo com uma mulher? O que aconteceria? Isso iria afetar o seu trabalho? Sua vida?
Desviou os olhos do teto e olhou em direção a porta de seu apartamento quando ouviu o toque suave da campainha, franziu um pouco o cenho enquanto erguia-se devagar do sofá, os cabelos levemente bagunçados por estar deitada há muito tempo, os pés descalços tocavam o chão frio enquanto os braços envolviam o corpo de forma preguiçosa enquanto ia andando devagar em direção à porta, girou a chave duas vezes antes de segurar a maçaneta da porta e puxar a mesma devagar, a visão da elegante mulher parada a sua frente à fez arquear uma sobrancelha, a elegância transparecia por suas roupas, uma bela saia lápis preta e uma camisa de seda bem solta, mas com a barra presa dentro da saia. O estilo de Mia às vezes era completamente inspirado na elegância daquela mulher que crescera vendo.
— Mama. — um sorriso carinhoso surgiu nos lábios da morena antes de dar um passo à frente, ali não era um local público, não precisavam manter aparências, não precisavam continuar sob o salto. Assim, Mia praticamente jogou-se nos braços de sua mãe. A mais velha deu uma pequena risada enquanto envolvia o corpo da filha de forma carinhosa, os lábios logo tocando o topo da cabeça da morena em um beijo que transbordava carinho.
— Então quer dizer que você lembra que tem uma mãe. — fez drama, o sorriso se tornando divertido enquanto via Mia se afastar um pouco para olhar para a mais velha. — Vamos, me convide para entrar, não foi essa educação que eu te dei.
— Como se logo você precisasse de um convite, não é mesmo? — a morena rebateu enquanto soltava a mais velha e dava passos para trás voltando a entrar dentro de casa, deu espaço para que sua mãe passasse e enfim fechou a porta.
— Eu liguei pro seu escritório, mas me disseram que você não foi trabalhar hoje a tarde, então já que você não vai me ver... — a Palermo mais velha era assim, todas as chances que tivesse de lembrar a Mia que ela havia “esquecido” que tinha uma mãe, ela com certeza lembraria até que Mia não aguentasse mais, era sua forma de castigar e Mia já sabia muito bem disso.
— Foi o único dia que tive livre nas últimas semanas, então eu só quis ficar em casa e fazer absolutamente nada. — Mia gesticulou com as mãos como se estivesse cansada de sua rotina, mas parou no meio da sala antes de sentar-se. — Você quer beber alguma coisa?
— Não se preocupe, meu amor. Eu estou bem. — Vera a tranquilizou enquanto deixava sua bolsa sobre uma das poltronas e então sentava-se no sofá ao lado de forma confortável, levou as mãos aos saltos nos pés e os tirou devagar para poder relaxar, os deixou de lado e então cruzou as pernas. As duas conversaram pelo resto da tarde, colocando em dias todos os assuntos que ficaram suspensos pelo tempo em que ambas ficaram sem se ver, sempre foram amigas, Mia nunca teve receio que confidenciar as coisas para a mãe, até a dançarina mascarada aparecer. — Seu pai ficaria muito orgulhoso se visse você hoje em dia, mesmo que o desejo dele fosse que você fosse uma chefe.
— Eu adorava cozinhar com ele. — a morena deu uma pequena risada enquanto se ajeitava, estava confortavelmente deitada no sofá com a cabeça apoiada nas coxas de sua mãe, o carinho que recebia era o melhor que poderia receber e que era capaz de fazê-la esquecer de todos os seus problemas e apenas... Relaxar. — Adorava trabalhar naquela cozinha, mas eu nunca me vi trabalhando pelo resto da vida lá, era como um hobbie. — a morena havia trabalhado no restaurante para ajudar os pais por alguns anos, mas depois largou para focar na faculdade e o melhor de tudo era que seu pai sempre havia a apoiado, mesmo que aquilo não fosse o que ele queria de fato para ela, ele sempre a apoiou e sempre se sentiu orgulhoso. — Mas era muito bom cozinhar com ele. — a morena confidenciou, as palavras não passavam de múrmuros calmos enquanto olhava para a mãe de forma preguiçosa.
— Era muito bom ver vocês dois cozinhando juntos, lembro quando vocês brigaram uma vez por causa daquele seu primeiro namoradinho. — a mais velha relaxou um pouco mais, se tinha uma coisa que gostava de fazer era ter aquelas lembranças em meio a conversas com Mia, no começo era doloroso, era extremamente doloroso lembrar do marido após a sua morte, mas hoje em dia era como uma espécie de conforto para a saudade que sentia. — Vocês dois ficavam competindo na cozinha do restaurante, com raiva, quem fazia o prato mais rápido, quem fazia mais gostoso, quem servia mais pessoas, eram dois cabeças duras, nem olhavam um pra cara do outro e no fim do dia, cansados por causa dessas competições bobas, sentavam no chão da cozinha e se desculpavam. Era muito bonito, apesar de eu sempre ter medo de vocês destruírem aquela cozinha. — Mia começou a rir com as lembranças que invadiam a sua mente, era exatamente daquele jeitinho quando os dois brigavam, competiam para ver quem era melhor e no fim, cediam a exaustão e a raiva e faziam as pazes, riu ao mesmo tempo em que sentiu o aperto no coração por conta da saudade que sentia do pai. Vera sabia que a filha sentia saudade do pai e como sentia, os dois eram muito unidos, por isso enquanto observava a sua menina com um sorriso calmo no rosto, tratou de mudar o assunto para não aumentar a saudade que ela sentia. — Agora entrando no assunto de namoradinho... Como está a Helena? Vocês já se resolveram?
Mia sentiu o próprio coração acelerar enquanto arqueava ambas as sobrancelhas pela surpresa que aquelas palavras lhe deram, ergueu-se imediatamente do colo da mãe voltando a sentar-se no sofá para olhá-la de forma um tanto confusa, mas ainda completamente surpresa. Como ela sabia daquilo? Sentiu o corpo formigar pelo nervosismo que lhe atingiu quando ouviu a pequena risada da mãe.
— Ah, meu amor, você achou que eu não ia perceber aquela conversa que vocês tiveram no dia da exposição? Logo depois você simplesmente sumiu. Eu apenas liguei os pontos, você andava com problemas pessoais, brigou com ela logo depois. Eu tive uma conversinha com ela e...
— Você o que? Você conversou com ela?! — se tivesse um buraco bem no meio daquela sala, com toda certeza Mia teria pulado exatamente naquele momento. — Meu Deus, mama. — reclamou enquanto escondia o rosto entre ambas às mãos como se estivesse se recusando a acreditar naquela conversa.
— Mas é claro que eu conversei com ela. Você acha que eu iria deixar alguém te machucar assim? Ela se desculpou com você? Eu posso fazer uma visita a ela.
— Mama...
— Não foi nada demais, ok? Eu só queria saber se era ela a culpada. Ela foi muito sincera, eu gostei disso. Ela admitiu que tinha feito algo de errado e disse que tinha muito interesse em você. — tentou se justificar, afinal, a filha nunca gostou do fato de ela sempre se met*r no meio de seus problemas daquela forma, mas Vera nunca conseguia segurar, ela acima de tudo queria ver seus filhos bem e felizes, fazia a mesma coisa com Frederick, inclusive quando bateu na ex noiva dele quando descobriu as traições e quase foi presa por isso. — Ela é um bom partido. Vocês conversaram?
Mia estava incrédula, olhava para a mãe realmente sem acreditar nas palavras que ouvia, continuou em silêncio a encarando, sentia vontade de chorar, aquelas palavras não eram de forma alguma as palavras que esperava de sua mãe, era como se ela realmente não se importasse com o fato de Mia poder estar envolvida com uma mulher e era justamente isso que a deixava surpresa, havia passado tantos dias perturbada com o próprio preconceito pensando o que a sua família acharia de tudo aquilo e deparou-se primeiro com Fred achando que ela já se envolvia com mulheres e agora... Sua mãe, conversando sobre o assunto como se fosse à coisa mais normal do mundo.
— Ela disse que os sentimentos dela não eram recíprocos. Mia, eu adoraria ter uma artista como ela como minha nora. Eu seria a sogra de alguém conhecido, famoso. Isso é incrível, posso imaginar tendo mais companhia para falar sobre arte. — Vera continuava falando, como se apenas sonhasse com o possível envolvimento ou algo a mais entre sua filha e a Artista. A Palermo mais velha sequer parecia notar o choque de Mia ao seu lado, parecia empolgada demais sobre aquela situação e era justamente isso que deixava a morena incrédula.
— É recíproco. — a voz de Mia não saiu mais alto do que um sussurro, mas foi mais do que o suficiente para fazer Vera olhar para a filha com uma sobrancelha arqueada e um sorriso surgindo nos lábios no segundo seguinte. Mia corou.
— Então por que essa carinha? — a voz da mais vela voltou a ficar terna enquanto levava a mão direita ao rosto de sua filha e o tocava com carinho. Mia sentiu um alívio imediato em seu coração enquanto respirava fundo, aquele toque foi como um calmante para o alvoroço em seu estômago.
— Ela me convidou pra sair, mas eu não aceitei, ainda assim ela deixou o convite no ar, mas... É complicado, Mama. — falou baixo e Vera notou facilmente o quanto aquele assunto estava mexendo com Mia, era sinal de que de fato, ela falava a verdade, havia sentimento ali e era recíproco.
— Não é complicado, meu amor. Se já se resolveram, não há nada de complicado. Você tem que tirar essa carinha triste e ir atrás do que você quer, não ligue para o que os outros falam e também não se sinta pressionada só por que eu quero uma nora como a Helena. — brincou em suas últimas palavras e sentiu-se bem ao arrancar ao menos um pequeno sorriso de Mia com sua brincadeira, inclinou-se em direção a sua filha e deu um beijo demorado em sua testa de forma carinhosa. — Já está anoitecendo, mas certamente da tempo de você sair com ela. Eu vou embora e você pare de ficar vegetando neste sofá. — deu-lhe uma pequena bronca enquanto arqueava uma sobrancelha antes de enfim, erguer-se do sofá, encaixou os pés nos saltos ao lado do mesmo enquanto ajeitava a saia que usava. — Bom, ao menos não preciso te alertar sempre pra você usar camisinha.
— Ah, Deus, mama! — rolou os olhos com as palavras da mais velha e balançou a cabeça de forma negativa, sua mãe definitivamente, era impagável, mas acabou rindo logo em seguida, nada a fizera tão bem quanto passar aquelas horas ao lado de sua mãe, conversando sobre banalidades de suas vidas e desabafando sobre problemas nos trabalhos.
Por mais que Vera estivesse completamente curiosa em relação aquele envolvimento de Mia e de Helena, ela tentava de todas as formas possíveis, respeitar o espaço que Mia claramente queria ter e isso não era normal, era mais um motivo para ela não ser tão invasiva e encher a filha de perguntas na intenção de tirar todas as dúvidas que passavam por sua mente, despediu-se devidamente da filha segundos depois e partiu deixando a Palermo mais nova completamente pensativa.
Mia ainda estava sentada no sofá com os olhos focados na porta de seu apartamento, estava, novamente, sozinha. Acabou sorrindo fraco enquanto sentia uma sensação muito semelhante a alívio percorrer o seu corpo, o que era aquilo? Estava aliviada por que não havia sido julgada pela mãe? Provavelmente. Deixou que seu corpo caísse para trás e deitou de uma vez, os olhos voltando a se focar no teto, ainda sorria. Que sensação maravilhosa era aquela? Era como se tivesse simplesmente esquecido os problemas que andavam rondando a sua cabeça. Era esse o poder de saber que sua mãe iria apoiá-la de qualquer forma? Que não via problema algum em ela se relacionar com uma mulher. Riu brevemente ao lembrar do quão empolgada Vera parecia estar com aquela situação. Então, pensou o quão incrível a sua mãe era, então, ergueu-se repentinamente do sofá já alcançando o celular em cima da mesa no centro de sua sala, viu o horário, faltava pouco para as 18 horas. Tinha tempo.
— Em cem metros, vire à esquerda. — a voz robótica soou dentro do carro, Mia dirigia de forma atenta, estava nervosa, respirou findo pela milésima vez desde que saiu de casa a pouco mais de dez minutos. Havia se arrumado o mais rápido que havia conseguido e de fato, sequer ainda era 19 horas quando saiu de casa, mas faltava pouco. Dirigiu devagar, com medo que seu nervosismo lhe causasse algum acidente até chegar ao bairro relativamente próximo a Galeria de Helena, virava a esquerda devagar, os olhos indo para o celular rapidamente vendo que o GPS dava mais 3 minutos até a chegada ao destino e foram os três minutos mais longos de sua vida, quando parou em frente a uma casa de cor bege olhou um pouco na tentativa de enxergar o número da mesma. Era a casa certa. Voltou a dirigir apenas para manobrar o carro e o estacionar devidamente para enfim, sair do mesmo. O travou enquanto ia enfi*ndo as mãos nos bolsos da jaqueta de couro, parou em pé na calçada enquanto olhava para a bela casa com uma varanda mediada e uma garagem aparentemente pequena. Estava mesmo pronta para passar uma noite ao lado de Helena? Lembrou das palavras de sua mãe, não havia nada complicado e ela estava certa.
Respirou fundo mais uma vez para conseguir ter acesso aos três segundos de coragem e quando soltou o ar saiu andando a passos largos atravessando a passarela entre o gramado, subiu os três degraus da varanda rapidamente e foi direto até a porta, não esperou, não hesitou, apenas tocou a campainha.
— Deus. — Se arrependeu e deu meia volta se afastando um pouco da porta, o coração bateu absurdamente forte em seu peito e se sentiu nervosa, realmente nervosa enquanto o rosto corava. — Meu Deus. — Praguejou-se ao lembrar-se que não havia trazido absolutamente nada, já estava começando mal, estava começando muito mal, levou as mãos aos cabelos escuros e os penteou para trás com os dedos, sequer dava tempo de correr até a conveniência mais próxima para trazer pelo menos um vinho, já havia tocado a campainha, droga de três segundos de coragem!! Então seu coração saltou mais uma vez quando ouviu um pigarro vindo da porta, droga, havia se distraído.
Fim do capítulo
Oi, oi, gente. Mais um capítulo fresquinho pra vocês, não me odeiem com o final, vocês sabem que eu adoro deixar vocês com o gostinho de quero mais.
Espero pelo feedback de vocês e também espero que gostem! Até o próximo.
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Solgull365
Em: 21/09/2023
NandaSulivan
Em: 17/04/2019
Muito lindo este capítulo, já sou fã da Eva , uma leoa mesmo...kkkk.
Entendo o quanto é complicado depois de tanto tempo se sentindo segura sobre sua sexualidade, Mia está tendo que encarar está nova fase em sua vida, e ter este apoio de sua mãe realmente vai fazer toda a diferença, para tudo o que tem pela frente...
Parabéns autora , estou amando.
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Sther22
Em: 27/09/2018
Tô viciada em sua história autora! Ela é maravilhosa e sua escrita é show ????, parabéns. Te entendo em relação as provas, época de provas e é muit puxado. Eu também tô fazendo provas e realmente é dificil manter o foco nos dois. Boa sorte bjs.
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Jebsk
Em: 26/09/2018
E uma pena que não posso responder sob o seu comentário Autora.
Abri outro apenas para lhe dizer: "Não diga que Helena vai ter muito chão pela frente" me vem logo, a imagem de Helena de quatro no chão, vou ter problemas com my love.
Li seu outro comentário sobre a faculdade. Foca nos estudos que logo acaba
E para descontrair: extraí meus 4 cisos durante a época da monografia. Tudo estresse. Eu me formei ;-)
Resposta do autor:
É uma pena mesmo não ter essa funcionalidade aqui.
KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK, menina, aquieta esses pensamentos. Vai ter mais Helena de quatro no chão em algum ponto da história. Ah com certeza vai. Então aquieta a mente e o coração que você vai se realizar quando esse momento chegar.
Olha, eu já te acho um ícone por causa dos comentários que eu adoro e agora depois de saber que você arrancou os 4 cisos na época da monografia. Olha. Fada guerreira e ícone dos comentários sim. To te aplaudindo.
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Renata Cassia
Em: 22/09/2018
Quando terá o próximo capítulo? ;(
Resposta do autor:
Estou demorando por que estou em época de trabalhos e provas na faculdade, então não consigo parar e focar direito na história quando só penso em provas. Mas eu to dando o máximo pra postar até o final de semana!
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Jebsk
Em: 12/09/2018
Autora danadinha,
Outro capítulo mas do que viciante. Primeiro, você começa com sua escrita perfeita. Segundo, nos seduz com a tensão das personagens e quando menos esperamos, você nos deixa com aquele gostinho de quero mais e com urgência. E agora?
Garota, você brinca na escrita!!! Se algum dia for publicar suas obras não esqueça de mim. Compro na hora. ;-)
Bom, ainda não percebi como a Mia pode ser a âncora de Helena. Mas acredito que Mia deverá mudar e muito suas atidudes e amadurecer, pois Helena, precisa de alguém com segurança emocinal para aguentar toda essa carga des traumas que carrega. Mia ainda é uma menina muito mimada.
Agora, se a Vadia gostar da Mia irei dá mais crédito.
Estou ansiosa para conhecer Helena e autora, vai rolar um beijo pelo menos no próximo capítulo?
E para descontrair: Helena, minha PENTEL é 0,5 e na cor vinho
até
Resposta do autor:
Olha, você desse jeito vai acabar me deixando envergonhada. Mas eu fico muito, muito feliz que a minha escrita seja capaz de tudo isso.
E olha, eu bem que tenho muita vontade de publicar essa obra um dia, mas eu certamente irei avisar a vocês.
Tem muuuuito chão pela frente pra essas duas, você ainda vai ver muita coisa acontecendo entre elas para que haja confiança de verdade e para que de fato a Mia se torne a âncora de verdade que Helena diz que ela é. Mia é muito mimada sim, mas ela vai começar a abrir os olhos aos poucos.
Hmmmm, um beijo? Talvez sim, talvez não.
UAHSAUSHASAUSAHSAUSHAUSH Suas formas de descontrair são as melhores, adoro seus comentários.
Até o próximo!
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Patyjoy Barros
Em: 09/09/2018
Amando muito sua história, mais poxa vc tem que ser tão maldosa e demorar tanto?
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Angel68
Em: 09/09/2018
Ai. Meu.Deus. Como esperar o próximo capítulo ? O negócio é me agarrar na tarja preta....o duro é especular o que pode rolar desse primeiro encontro.... a primeira transa ? Ou um completo desastre, porque as duas estão que nem fogo e gasolina, basta sair uma faísca, que a explosão pode sair...uma transa quente ou uma bela discussão....torcendo para que a heterossexualidade da Mia vá pro brejo, literalmente, hahahahahaha...e a Vera gente ?? Que mulher !!!! Eu morrendo de medo dela agir mal com a Mia....percebi também que bastou uma palavra amiga da mãe pra convencer a Mia desse importante passo que ela pode estar dando indo de encontro com a Helena....ela sente uma forte atraçao, mas o medo do que a sociedade pode pensar dela ainda é grande...
Resposta do autor:
KKKKKKKKKKKKKKKK. Sim, estão que nem fogo e gasolina, qualquer faísca pode sair algo realmente explosivo, mas também pode sair algo bem surpreendente, já vimos que as duas podem nos suspreender sempre de alguma forma não é mesmo?
E sim, a atração que a Mia sente pela Helena é realmente grande, mas é empatada por causa do medo que ela tem de ser julgada, mas ela se importa muito mais com o que a mãe acha, por que ela é MUITO apegada a mãe. Então se ela sabe que vai ter o apoio da mãe em qualquer decisão que ela tomar, então isso quer dizer que ela tem tudo.
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Nany lupita
Em: 09/09/2018
AFF, Não demora a postar por favor. Tô super ansiosa pro próximo capítulo!
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preguicella
Em: 09/09/2018
Eita que a conversa foi tensa, mas elas começaram a se entender!
Ah se todas as mães fossem como Vera!
Mas esse final aí foi maldade! Só espero que não aconteça nenhum mal entendido com a possível presença da amiga de Helena.
Esse final foi maldade!
Bjão e até o próximo! ;)
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Jackie O
Em: 09/09/2018
Oi Patty,
Passando pra te falar que a tua escrita me encanta, e gostaria muitíssimo de saber se você tem outras histórias.
Adoro história com mulheres fortes, donas de si e inteligentes, e tem tudo isso aqui.
Te desejo muitas inspirações porque talento você tem de sobra!
Beijos de Luz
Resposta do autor:
Oi, Jackie!
Muito obrigada! Eu realmente fico muito feliz em saber que a minha escrita te encanta dessa forma e bom, no momento eu não tenho outras histohist em andamento, tenho outras duas, mas ambas paradas no segundo ou terceiro capítulo, pretendo continuar, mas assim que eu o fizer eu começo a postar aqui! Gostei muito da recepção que tive aqui e de como voces se expressam bem nos comentários. Isso realmente me motiva a escrever mais, afinal minha criatividade é completamente influenciada pelos comentários que recebo.
E mais uma vez obrigada!!
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