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Striptease por Patty Shepard

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Palavras: 7887
Acessos: 12780   |  Postado em: 28/08/2018

Capítulo 9

Os olhos estavam fixos no desenho emoldurado logo a sua frente, os braços cruzados de forma confortável, mas em uma das mãos, uma taça de champanhe, no desenho em preto e branco, uma mulher caminhava em meio a algumas pessoas, não era nada tão elaborado, o que deixava o desenho bonito era a riqueza de detalhes em cada coisa que tinha, as sombras das pessoas, suas fisionomias, tudo. Helena acabou sorrindo fraco com o pensamento que chegou a sua mente, a mulher no desenho era Amélia, imaginou como ela reagiria se descobrisse isso.

 

— Admirando a própria arte? — a voz feminina ao seu lado não a fez desviar os olhos do desenho, acabou apenas dando uma pequena risada que morreu segundos depois. Mia havia simplesmente lhe dado às costas e ido embora não fazia muito tempo, depois que fora deixada para trás fez companhia a alguns convidados antes de isolar-se mais uma vez para pensar. Só então, após alguns segundos, virou a cabeça e olhou calmamente para Vera.

 

— Quase isso, na verdade apenas tendo lembranças do que me levou a desenhar isso. — respondeu de forma sincera assim que seus olhos se focaram na mulher mais velha, sorriu para ela antes de desviar o olhar novamente. — Fiquei muito feliz por te ver aqui hoje, Vera.

 

Helena lembrava-se muito bem de quando havia conhecido Vera, havia sido convidada para fazer parte de uma aula de Artes por um antigo professor de um dos cursos que ela já fizera para se aperfeiçoar mais e lá, no meio de tantos aspirantes a Artistas, estava Vera, a mulher que tinha muito mais talento em enxergar os significados por trás das pinturas, do que de fato, pintá-las. Afeiçoou-se logo de cara pela mulher elegante e tão simpática e por algum acaso acabaram se encontrando várias vezes após aquele dia, em exposições de amigos e em outras aulas não planejadas, assim, acabaram se tornando de certa forma, amigas.

 

— Oh, minha querida, você não sabe o quão feliz eu fiquei quando me deu a notícia de que finalmente faria a sua exposição. Eu nunca vi muito da sua arte, você sempre foi muito reservada, mas eu morria de vontade de vê-las. Por mim eu levaria todas para casa, acredite, mas minha filha colocou na minha cabeça que quadros tão sensuais não dariam muito certo no meio de um restaurante frequentado por diversas faixas etárias. — ambas as mulheres acabaram rindo juntas com as últimas palavras de Vera e Helena acabou concordando com um aceno de cabeça enquanto ainda sorria.

 

— Desculpe por isso, por muito tempo a sensualidade, ser sensual foi completamente proibido para mim. Agora que eu tenho toda a liberdade que sempre mereci, não é algo que eu consiga segurar ou guardar dentro de mim. Sua filha foi sensata, mas ficaria bonito na sua sala, com toda certeza. — voltou a olhar para Vera enquanto arqueava uma sobrancelha à medida que falava as últimas palavras. Vera riu e acabou concordando com um aceno de cabeça.

 

— Além de belíssima Artista, está tentando ser uma boa vendedora, Helena? — Vera brincou antes de levar a taça de vinho aos lábios, deu um bom gole no mesmo enquanto virava-se um pouco para ficar de frente para Helena para que ambas continuassem melhor aquela conversa. — Mas eu gostaria de falar justamente sobre a minha filha. — Helena tinha um sorriso no rosto, estava prestes a responder aquela brincadeira de Vera quando ouviu suas outras palavras, acabou arqueando uma sobrancelha de forma um tanto confusa.

 

— Sua filha? Desculpe, o que tem ela? — arqueou ambas as sobrancelhas em seguida de forma interessada.

 

— Vi vocês duas conversando, não parecia ser uma conversa divertida. — A expressão de Vera agora estava séria, aquele olhar predatório de uma mãe pronta para proteger a filha com unhas e dentes fez Helena tremer. — Consequentemente depois disso ela simplesmente sumiu, foi embora como se estivesse fugindo já que nem se despediu da própria mãe. Posso perguntar o que fez com minha filha, Helena?

 

— Oh... — Helena podia jurar que naquele momento havia ficado pálida, ela sabia que Vera tinha filhos, mas em nunca os vira, naquele momento lembrou de já ter ouvido ela falando deles e os chamando pelos nomes, mas em nenhum momento havia associado, como iria? Deus do céu. A Artista ficou completamente sem palavras e definitivamente, sem saber o que falar naquele momento para Vera. Não havia semelhança entre as duas, isso definitivamente foi mais um baque da noite. Levou a taça de champanhe aos lábios e bebeu o que restou de uma vez antes de respirar fundo. — Jamais imaginaria que você é mãe da Amélia.  — falou de forma sincera e acabou dando uma pequena risada, estava se sentindo desconfortável sob aquele olhar duro que Vera lhe lançava, ela definitivamente parecia de verdade uma leoa protegendo seus filhotes naquele momento. — Bom, foi o Hernando o responsável pela arquitetura desse lugar, ele sugeriu a Amélia para o design interior, mas bom, não foi assim que nos conhecemos. Ah... — a morena parecia escolher muito bem as palavras para dizer a Vera, mas não iria simplesmente mentir sobre tudo, afinal, julgando pelas palavras da mais velha, Helena desconfiava que ela não iria simplesmente acreditar em qualquer coisa.

 

— Minha filha anda muito distante nas últimas semanas, Helena, hoje me confidenciou que anda passando por alguns problemas pessoais, isso tem haver com você? — aquilo começava a parecer um interrogatório para Helena, o olhar firme de Vera mascarado pela calma e elegância impecável da mulher era algo de arrepiar, o movimento lento de levantar a taça de vinho e dar um gole, os olhos sequer piscaram ou desviaram de Helena, aquela mulher definitivamente, sabia intimidar alguém quando se tratava de seus filhos.

 

Helena franziu o cenho com as palavras de Vera, momentaneamente confusa. Tinha haver com ela? Ela definitivamente não sabia, mas sentiu-se completamente curiosa em relação a isso e por um momento, lembrou das palavras de Mia e sobre o fato de tê-la magoado. Umedeceu os lábios devagar antes de voltar a falar.

 

— Creio que não, Vera, sinceramente isso eu não sei dizer. Nos conhecemos de forma um tanto conturbada a pouco tempo, foram situações que não favoreceram o nosso convívio, o que eu realmente gostaria de mudar, nutro certo interesse por sua filha, eu a acho uma mulher simplesmente linda. Mas eu não creio que nada disso seja recíproco, acabamos nos desentendendo hoje, me desculpe, eu posso ter errado em alguns momentos com sua filha. — Helena definitivamente nunca havia passado por uma situação daquelas, sabia que estava sob a mira de uma mãe protetora, não podia simplesmente dizer qualquer coisa, também havia o risco de perder uma boa amiga, mas ainda assim, ela não havia mentido.

 

— Se errou com ela, o que pretende fazer pra concertar isso? — outra pergunta que desconcertou Helena. A mexicana realmente não era uma mulher que se desconcertava com qualquer coisa, era sempre dona de uma postura firme e de uma calma impecável, mas naquele momento, sob aquele olhar e no meio daquela conversa que definitivamente era um interrogatório, estava completamente longe de sua zona de conforto, por isso e por não ter a mínima ideia do que responder a Vera, manteve-se calada. Ela não tinha a mínima ideia do que fazer para conversar com Mia, não depois da forma como a última conversa havia acabado, também não era o tipo de mulher que corria atrás, mesmo sabendo que estava errada naquela situação. — É muito bom que esse silêncio signifique que esteja pensando nas palavras que irá dizer a ela quando for se desculpar. — as palavras soaram em um tom que fizeram Helena arquear uma sobrancelha imediatamente, aquilo era uma ameaça. — E melhor ainda que saiba que a coisa que Mia mais valoriza, é a sinceridade. — Passar bem, Helena.

 

E pela segunda vez na noite, uma Palermo deu as costas para Helena e saiu andando sem dizer absolutamente nada, deixando a mexicana sem saber o que falar para trás. Depois daquilo, definitivamente, Helena teve a absoluta certeza que Amélia e Vera eram mesmo mãe e filha. Mas se sentiu ainda mais confusa, uma ameaça seguida de um conselho, aquilo era um conselho?

 

...

 

— Mia? — a voz grave de Hernando ecoou pelo apartamento com as luzes apagadas, iluminado apenas pela luz da lua que passava pelas janelas abertas. Havia sido abordado por Mia ainda na galeria e recebido um ultimato para que viessem para casa, ali soube imediatamente que tinha algo de errado, mas ainda assim, não insistiu. Veio conversando com Drew no carro sobre coisas aleatórias sobre os trabalhos de ambos já que notava que Mia havia se enfiado em uma bolha completamente dela e não falava absolutamente nada. Quando Drew parou em frente ao prédio em que moravam, Mia apenas se despediu com um agradecimento e um bom noite e deixou o casal de namorados a sós no carro. Hernando estava preocupado e após ser acalmado pelo namorado, que preferiu deixar os dois amigos a sós para conversarem, subiu para o andar em que morava. A porta de seu apartamento continuava trancada, era sinal que Mia não estava ali, ao contrário da dela, que estava fechada, mas não trancada.

 

                Não obteve resposta alguma vinda da amiga, por isso mesmo procurou o interruptor ao lado da porta e assim o apartamento ganhou vida ao iluminar-se e Hernando finalmente deu de cara com a amiga sentada em uma extremidade do grande sofá da sala. A morena tinha as pernas perfeitamente cruzadas, ainda estava completamente vestida, incluindo os saltos. Estava com o braço direito apoiado e flexionado sobre o braço do sofá e o queixo apoiado em seu punho fechado, os olhos fixos em algum ponto qualquer, mas era possível ver algumas lágrimas escorrendo lentamente pelas bochechas da morena. Ela parecia estar fora do próprio corpo. Hernando acabou suspirando e devagar fechou a porta atrás de si para enfim ir andando em direção a amiga, a passos lentos se aproximou, mas não sentou-se ao lado dela, e sim se abaixou em frente a morena ficando cócoras antes de pegar a mão livre da amiga com ambas as mãos com cuidado, primeiro entrelaçou os dedos aos dela de forma carinhosa antes de puxar a mão para perto e dar um beijo bem demorado no dorso da mesma. Isso fez com que os olhos azuis completamente irritados pelo choro ganhassem vida e se focassem em Hernando.

 

— Estou aqui, pode falar. — a tranquilizou com o olhar e com o aperto firme dos dedos entrelaçados.

 

— É a Helena. — a voz quase não saiu, mas a expressão da morena pareceu ficar mais séria, dura, enquanto os olhos mantinham-se completamente fixos aos de Hernando. — Ela é a dançarina, Nando.

 

Primeiro, na expressão de Hernando, passou-se a clara confusão, os cenhos se franzindo, o silêncio predominando na sala por alguns segundos antes que a expressão dele mudasse para surpresa, uma completa surpresa. E então, nos minutos que passaram-se a seguir, Mia explicou pacientemente tudo o que aconteceu, como descobriu e o que as duas conversaram. Hernando ainda tinha a expressão completamente surpresa enquanto voltava para a sala com uma garrafa de vinho e duas taças na mão.

 

— Você tem noção do que é isso, Mia? É a coisa mais surreal que aconteceu nas nossas vidas. — o rapaz, já desarrumado, sem os sapatos e com a camisa fora da calça e mangas dobradas, jogou-se no sofá de forma relaxada, os pés se apoiando na mesinha de centro enquanto estendia para Mia uma das taças ainda vazias. — Mas bem que eu tinha te falado não é? Que ela podia ser uma mulher casada com vida dupla, ou uma pessoa importante que não pode revelar seus gostos peculiares. — ele ergueu a garrafa de vinho enquanto falava e assim que Mia aproximou a taça vazia, Hernando fora despejando o líquido rubro com cuidado até deixar a taça pela metade e enfim fez o mesmo com a sua antes de colocar a garrafa no chão.

 

— No caso dela, uma artista louca que encontra criatividade para suas obras da forma mais inusitada possível. Eu não acredito que você estava lá e não foi ver os quadros, Hernando. — Mia falou com certo desdém enquanto se ajeitava no sofá, estava sentada agora em posição de meditação, os saltos jogados no chão da sala. — Assim que eu entrei lá eu já senti algo diferente, primeiro o cheiro, eu sabia que eu tinha sentido aquele aroma em algum lugar, mas não conseguia associar até o momento em que vi o quadro e percebi que era o cheiro dela impregnado em todo lugar. Os quadros, não todos, eram momentos claros retratados no bar, um deles comigo no fundo, Hernando, isso é doentio!

 

— Claro que não é doentio, Mia, você está se exaltando, querida. Eu sei que foi muita falta de respeito o que ela fez com você, MAS, ela não te amarrou em nenhuma das vezes, inclusive pode ir tirando da sua cabecinha a ideia de processá-la. — Mia fez uma expressão ofendida com as últimas palavras do amigo, como se estivesse surpresa com o fato de o amigo falar que ela pensaria naquilo, por mais que de fato, ela realmente tivesse pensado, mas não admitiria. — Eu só acho que ainda exista muito por trás da Helena que você conheceu hoje, não é possível que alguém com a história dela se exiba para homens por pura diversão ou apenas pelo capricho de ter material para pintar, eu realmente não consigo me conformar com essa ideia.

 

Mia ficou em silêncio enquanto olhava para a TV que havia sido ligada por Hernando, uma comédia romântica qualquer passava na grande tela e a morena se viu respirando fundo com o desejo de que sua vida pessoal fosse o roteiro de uma comédia romântica onde tudo no final acabava dando certo e naquele momento todos os caminhos davam para um final pior que o outro, ao menos era assim que imaginava. Mas Hernando estava certo, toda aquela situação ainda continuava a ser deveras confusa, não entendia o porquê de Helena gostar de se exibir para homens em um bar depois de ter sido espancada por um, por anos! Hernando continuou falando, mas Mia já não mais ouvia, perdeu-se em seus próprios pensamentos, todos completamente voltados para Helena. De repente, sentiu-se completamente curiosa sobre os motivos que a levavam de verdade ir para aquele bar, seria só por capricho? Por fetiche? Ou apenas para ter algo a se inspirar em suas pinturas? Fechou os olhos por um momento e pensou se agora que sabia que era a dançarina que tanto havia alvoroçado a sua vida, ela conseguiria simplesmente seguir em frente e esquecer tudo aquilo.

 

Sentiu uma rápida palpitação em seu coração e um formigamento na boca de seu estômago, aquilo foi à resposta para a sua dúvida. Não iria conseguir simplesmente esquecer tudo aqui, talvez aprender a conviver e a deixar no passado? Certamente. Mas esquecer era algo que ela sequer poderia considerar, ela tinha certeza disso.

 

— Eu realmente me sinto curiosa com tudo isso, sabe? Mas ao mesmo tempo eu me sinto magoada, Nando. Eu sei que nós duas não nos conhecemos, eu sei que não conheço a história dela e entendo que, de alguma forma, eu gostei dela. De alguma forma, no meio disso tudo, eu só me sinto um objeto. — respirou fundo enquanto virava um pouco a cabeça para poder olhar para Hernando ao seu lado. — Eu não entendi o significado das palavras dela quando ela disse que eu era uma âncora fincada à realidade. Eu não me enxergo nesse meio como uma âncora. Continuo me enxergando como um objeto, uma oportunidade que ela viu de deixar seus quadros mais interessantes, ou uma oportunidade apenas de se aproveitar de uma mulher ou ganhar mais fama naquele bar como um showzinho diferente. — a voz doce da morena ia ficando cada vez mais embargada a medida que ia falando, era definitivamente uma manteiga derretida, não conseguia falar sobre algo que a chateava sem derramar nenhuma lágrima. — E pior, descobrir que ela começou tudo isso só por que queria me ridicularizar de alguma forma por que não gostava do meu jeito, é absurdo, Nando. É claro que eu não gosto daquele lugar, é claro que eu tenho nojo, é um lugar nojento e que não deveria existir, um lugar para humilhar mulheres. — soluçou em meio às lágrimas que já escorriam por seu rosto e ergueu a mão livre, começando a enxugar as lágrimas com força, com raiva. — Ela não me conhece.

 

Hernando observava toda a crise de choro da amiga em total silêncio, ela estava desabafando tudo o que estava a incomodando e realmente não iria interrompe-la até que ela acabasse, sentia-se triste por ela, ele no lugar da morena realmente não imaginava como estaria se sentindo, ele sequer conseguia se imaginar em uma situação tão absurda como aquela e de alguma forma, por deixar Mia daquele jeito, ele sentia raiva de Helena. Ele realmente não conseguia imaginar como seriam as coisas a partir daquele momento, mas se ele não seria capaz de esquecer tudo aquilo, sabia que Mia muito menos e conhecendo bem aquela mulher ao seu lado, tinha a absoluta certeza que haveria consequências que mudariam a sua amiga e realmente, isso não o agradava.

 

...

 

Os passos eram bem lentos, o palco parecia mais longo do que o normal, mas isso a agradava, assim podia desfilar mais, poderia se exibir mais. Os olhos se fecharam e o sorriso safado se desenhou nos lábios carnudos, os gritos faziam seu corpo esquentar, quase formigar pelo frenesi que sentia. Aquela sensação era deliciosa, o fogo que a fazia sentir-se viva. A máscara como sempre estava lá cobrindo o seu rosto, estava sem peruca desta vez, os próprios cabelos escuros estavam completamente soltos, o corpo era coberto apenas por uma... Camisa masculina, de cor branca e com alguns botões abertos o suficiente para deixar a mostra parte do vale entre seus seios e deixava bem claro que ela não usava sutiã desta vez.

 

A batida de Castle cantada por Halsey começou no momento em que se aproximava do pole dance, o segurou de maneira firme e o rodeou devagar, sequer olhava para os homens, apenas sentia a música, sentia seu corpo vibrando de acordo com a música, as mãos se agarrando com força a barra de ferro perto de seu corpo e quando o sorriso safado se moldou aos lábios, os pés se ergueram do chão e seu corpo ganhou uma volúpia sem igual, seus braços ganharam mais força e a medida que os movimentos iam ganhando vida, ia dançando no ar, o show ficava mais e mais interessante para aqueles homens, com a camisa que cobria o seu corpo subindo e descendo, exibindo a calcinha fio dental, ou por vezes os seios desnudos. Naquela noite não importava que a vissem daquela forma, muito pelo contrário.

 

Quando o pole dance foi deixado de lado caiu de joelhos, as próprias mãos foram subindo pelo corpo cheio de curvas quando começou a rebol*r, insinuava perfeitamente bem que não estava rebol*ndo em vão, era como se deixasse claro que seria daquele mesmo jeitinho que rebol*ria gostoso montada em um homem, o sorriso ficou mais intenso em seus lábios e ela foi se inclinando para frente o suficiente para que seu queixo quase tocasse o chão, a bunda ficou empinada e ondulou o corpo como uma serpente quando começou a engatinhar devagar para a beirada do palco, em direção aqueles homens nojentos que gritavam para ela coisas que ofenderiam qualquer mulher, mas que naquele momento, a excitavam. As mãos se apoiaram no chão e pendeu a cabeça um pouco para trás quando abriu a boca e colocou a língua para fora, na vergonhosa posição de uma puta submissa que esperava um homem goz*r em sua boca.

 

Sentia mãos nojentas tocarem sua pele, subir por suas coxas, se enfiarem entre suas pernas, mas o corpo arrepiou-se completamente quando a boca começou a ser finalmente preenchida como queria, mas por um líquido gelado. O gosto conhecido de cerveja chegou logo a seu paladar e quando o líquido gelado foi escorrendo pelo canto de seus lábios e descendo por seu pescoço, molhando sua camisa, os bicos dos seios endureceram completamente, marcaram a camisa que começava a ficar molhada e ficaram completamente em evidencia para aqueles homens. De alguma forma, eles sequer chegavam perto de tocar em sua máscara, o objeto de desejo daqueles homens era o seu corpo. Típico. Abaixou a cabeça ao mesmo tempo em que lambia os lábios e encarou o homem que despejava a bebida em sua boca, ele aparentava ser jovem demais para estar ali, mas Helena não se importava. Ergueu-se devagar no chão, sentia a camisa colada em seus seios e em sua barriga devido a pele molhada pela cerveja, os lábios entreabertos, o corpo inteiramente arrepiado pelo choque térmico, deu alguns passos para trás, escapando de mãos expertas e ela mesma levou ambas as mãos as próprias coxas e subiu, acariciando a própria pele até chegar as alças da calcinha, o sorriso se abriu quando ouviu um coro começando para que tirasse, alguns homens se inclinando sobre o palco para que pudessem ficar mais próximos dela, as mãos apoiadas no mesmo para que conseguissem tal feitio e a dançarina mascarada se aproveitou disso.

 

Bastou dois passos longos para que o salto do pé direito pisasse não no palco, mas sim perfeitamente em cima da mão do mesmo rapaz que havia despejado bebida em sua boca, viu a expressão surpresa e de dor chegar ao rosto do rapaz e sentiu quando ele tentou puxar a mão, mas fez mais força, muito mais, o impedindo de tira-la. Os olhos completamente fixos nos dele enquanto se inclinava, aquela expressão de dor nos olhos daquele rapaz fez seu íntimo se contrair e um sorriso sádico surgir em seus lábios enquanto inclinava-se o suficiente para aproximar um pouco sua cabeça da dele.

 

— Peça. — não falou alto, seria muito fácil descobrir o que ela havia falado apenas pela leitura labial. — Peça! — mandou mais uma vez, o mundo a sua volta parou, os outros homens sumiram e ela fez mais força com o pé, sentiu o movimento da mão do rapaz, ele tentando puxá-la, sem sucesso.

 

— Por favor. — ele pareceu contrariado ao falar aquilo, a expressão contorcida em dor ao mesmo tempo que parecia sentir prazer em ser humilhado por aquela dançarina em frente a todos aqueles homens e ao mesmo tempo, ele sentia-se completamente sortudo. — Está me machucando, por favor. — ele falou mais alto dessa vez.

 

Helena sentiu uma satisfação sem igual tomar conta de seu ser enquanto erguia novamente o próprio tronco, os olhos fixos no rapaz, voltou a ouvir o barulho ao redor, xingamentos dos homens perto do rapaz que pareciam indignados por ela estar o machucando, riu deles, a risada gostosa escapando por seus lábios no mesmo momento em que puxava a calcinha para baixo, soltou a mão do rapaz apenas quando precisou passar o pé para se livrar de uma vez da pequena peça íntima preta de renda, a segurou em seu dedo indicador antes de jogá-la em direção ao homem que havia sido usado para o deleite da dançarina, ele tinha um olhar incrédulo no rosto, segurava a calcinha pequena em mãos, já a dançarina, tinha um sorriso safado, completamente satisfeito estampado nos lábios, desviou os olhos dele e olhou mais além dos homens próximos ao palco de forma puramente automática, o sorriso em seus lábios morreu no momento em que seus olhos caíram em olhos esverdeados que passavam uma frieza tão grande que fez o corpo de Helena arrepiar-se, deu meia volta no mesmo instante e saiu andando a passos largos, desfilando pelo palco até sumir pelas cortinas.

 

A partir do momento em que voltou para dentro das cortinas, todo o resto se tornou automático, como se o tempo voasse ou como se Helena apenas observasse tudo como uma telespectadora, as cabeçadas incessantes em seu corpo a fizeram acordar de maneira repentina e um pouco assustada. Olhou em volta rapidamente, estava no próprio quarto, a luz solar adentrava o mesmo o iluminando pela janela e Vadia esfregava-se sem parar em seu corpo na tentativa de acordá-la, o miado manhoso fez Helena olhar para a gata preta. Sonhava que estava presa dentro do próprio corpo sem o controle das próprias ações e seu peito doía de tão rápido que seu coração batia, franziu o cenho com o cheiro desagradável de cerveja enquanto ia sentando na cama, levou a mão ao colo nu e o sentiu completamente pegajoso, olhou para o chão onde a camisa que havia usado na noite anterior estava jogada e a máscara logo ao lado assim como os saltos. Suspirou enquanto sentava-se e levava as mãos aos próprios cabelos os jogando para trás. Vadia não parava, esfregando-se na dona na tentativa de chamar atenção de qualquer forma.

 

— Eu já entendi. — falou baixo quando a mão esquerda alcançou o pelo macio da gata e começou a acaricia-lo com carinho fazendo a gata se jogar no colchão e oferecer a barriga para ser acariciada mais do que imediatamente. Isso trouxe conforto para Helena. Ela sorriu com carinho enquanto acalentava sua gata com todo amor que sentia por ela e a angustia que sentia no peito com as sensações que as lembranças lhe traziam, se dissipou, mas isso não durou muito tempo, não quando recordou-se daquele par de olhos verdes no meio daqueles homens.

 

Haviam-se passado uma semana após a sua exposição, após aquele terrível encontro com Amélia e ecos daquele dia ainda faziam com que ela não dormisse bem à noite, o que resultava em ela indo para o bar mais vezes do que gostaria. Estava se sentindo verdadeiramente cansada. Havia dormido pouco e Vadia era um despertador pontual que não tinha como ser desligado. Ergueu-se da cama devagar e foi direto para o banheiro, um banho era tudo o que precisava, aquele cheiro a enjoava.

 

E foi assim que seu dia começou, um banho gelado, lavou seu corpo muito mais do que o necessário, o ensaboou mais vezes do que deveria para sentir-se limpa depois de ter sido tocada por aqueles homens na noite passada, hidratou a pele com o hidratante que usava todos os dias e finalmente, colocou para lavar os lençóis sujos de sua cama, a camisa usada fora para o lixo e a máscara cuidadosamente guardada na última gaveta de sua cômoda. Novamente não iria para a galeria, estava indisposta demais para pintar. Passou parte da manhã tentando ocupar a mente com afazeres de casa, mas em algum momento simplesmente cedeu e sentou-se no sofá, sentia-se exausta, não estava no melhor dia para arrumar a própria casa.

 

Em uma das mãos tinha uma caneca de chá gelado, as pernas cruzadas em posição de meditação e Vadia bem aconchegada nelas em um sono profundo enquanto ganhava um carinho constante de Helena, a Artista estava vestida apenas com uma camisa larga de lã que deixava seus ombros expostos por ser folgada demais. Tinha olheiras leves embaixo dos olhos e o cabelo estava amarrado em um coque mal feito. Respirou fundo enquanto olhava para a pequena felina bem aconchegada em seu colo, momentos como aquele eram completamente normais já que a gata nunca desgrudava de sua dona.

 

Naqueles momentos em que não fazia nada era simplesmente inevitável que sua mente não corresse em direção a Mia, não conseguia deixar de sentir um incomodo que simplesmente a impedia de seguir em frente e esquecer aquela história, era como se sua mente deixasse claro que não deixaria ela esquecer até que ela fizesse o que devia ser feito. Mas ela sequer sabia o que devia fazer naquele momento. “Se errou com ela, o que pretende fazer para consertar isso?”, as palavras da mãe de Mia ainda soavam em sua mente e ainda soavam na voz de Vera, naquele mesmo tom ameaçador de uma mãe protetora. Mas infelizmente não sabia a resposta para aquela pergunta, Helena não era o tipo de mulher que ia atrás de alguém que havia deixado claro que não queria absolutamente nada, nem uma simples amizade. Era em vão, não era?

 

Colocou a caneca na mesinha ao lado da poltrona e respirou fundo mais uma vez, estava se sentindo tão angustiada e tão nervosa que sequer estava se conhecendo, se perguntava o que diabos ela estava fazendo lá na noite anterior, nunca, jamais esperava dar de cara com Alyson no meio do bar em uma de suas apresentações. A verdade era que estava ignorando a ruiva há alguns dias, por que não queria conversar sobre todos os acontecimentos da exposição, não queria ouvir um “eu te avisei” vindo de Alyson, não queria admitir que a amiga poderia estar certa quando disse que não era uma boa ideia ter chamado Mia, não fora trabalhar a semana inteira e isso não se dava ao fato apenas de estar ignorando Alyson, mas sim também por que não sentia vontade, sua mente andava cheia demais, perturbada demais para que conseguisse focar em uma pintura. Mas após a noite anterior, era apenas uma questão de tempo para que Alyson lhe procurasse.

 

O barulho da campainha a fez olhar de repente para a porta de sua casa, o breve susto fez o seu coração palpitar por breves segundos, suspirou com a clara preguiça de levantar e também, um certo receio, ela sabia quem era, mas no segundo seguinte a porta foi aberta e Helena suspirou, sequer precisou olhar para ter a certeza de quem era, sentia a presença tão conhecida e logo viu aqueles olhos esverdeados e cabelos alaranjados tão conhecidos, manteve a expressão plena, por mais que em seu interior estivesse um alvoroço absurdo e seu estômago chegasse a revirar.

 

Alyson fechou a porta atrás de si com calma e foi andando a passos lentos em direção a sala onde Helena estava, parou no meio da mesma, os cabelos ruivos, lisos, estavam soltos como a ruiva sempre gostava, o rosto cheio de leves sardas estava livre de qualquer maquiagem, tinha a chave da casa de Helena há muito tempo, mas usava poucas vezes, era sempre o tipo de pessoa que tocava a campainha e esperava que Helena abrisse, por que não gostava de invadir a privacidade dela de forma alguma, ganhou a chave daquela casa ainda quando a artista era casada e foi justamente por causa dessa chave que conseguiu salvá-la na última vez que a mulher havia sido espancada pelo ex-marido.

 

— Por quê? — a voz de Helena soou mais baixo do que gostaria, mas precisava quebrar aquele silêncio completamente desconfortável que estava instalado entre as duas e o olhar de Alyson estava a quebrando por inteiro, era aquele olhar de pura decepção que qualquer um iria odiar ver.

 

— Por que eu fui lá ontem? — ambas as sobrancelhas de Alyson erguerem-se em ironia. — Oras... Será que é por que eu estou sendo ignorada há uma semana? Ou talvez por que há uma semana você não vai para a galeria que tanto lutamos para conseguir? Eu posso listar muitos outros motivos.

 

— Não seja irônica, Alyson. — reclamou em tom calmo enquanto mantinha os olhos completamente fixos nos da ruiva, por mais que aquilo estivesse lhe incomodando, não queria baixar o olhar para ela naquele momento, à tensão que pairava entre ambas era absurda.

 

— Não ser irônica, Helena? E você quer que eu seja o que? Depois do que eu vi ontem! — Alyson levou as mãos a cabeça, mas não a tocou, as deixou suspensa no ar, como se estivesse tentando conter todo o alvoroço dentro de si para não acabar falando as coisas erradas naquele momento.

 

— Eu já disse para que você nunca fosse lá, Alyson, eu disse...

 

— Você que não deveria ir lá, Helena! — o grito saiu de forma completamente involuntária, como se não pudesse simplesmente suportar as palavras de Helena. A morena sentiu o seu corpo tremer no sofá com aquele grito e fechou os olhos momentaneamente, a mão apertando mais forte do que deveria a gata assustada em seu colo, Vadia havia se assustado com o grito.

 

— Não grite comigo. — as palavras desta vez saíram entre dentes enquanto abria os olhos devagar e voltava a encarar Alyson com uma seriedade quase sombria, sentiu a gata remexer-se em seu colo e escapar de sua mão no segundo seguinte, a felina parecia sentir que aquele momento não era hora de ficar perto daquelas duas.

 

— Você nunca deveria voltar lá novamente, Helena, por aquela mulher que eu vi no palco não era você! — Alyson pouco se importou com Helena pedindo para que ela não gritasse, as emoções que ela sentia simplesmente não deixavam que ela falasse tudo aquilo com calma, estava explodindo com a morena e ninguém iria conseguir conter aquilo no momento. — Aquilo foi nojento. Você se transformou na mulher que o Trevor sempre disse que você era! Uma vagabunda! — as duas últimas palavras saíram ainda mais altas do que as anteriores, em gritos que fizeram novamente o corpo de Helena tremer de uma forma tão desconfortável que era quase sufocante. — Eu não imagino como você pode gostar daquilo, Helena, aquilo não é viver livremente após o que você passou, aquilo é viver presa na porr* de um estereótipo que o Trevor te colocou! — Helena sentiu um nó em sua garganta e os olhos queimaram, o corpo tremeu novamente como se lutasse contra a vontade de se encolher naquela poltrona para fugir daqueles gritos, inclinou-se apoiando ambos os cotovelos em suas pernas e levando as mãos a cabeça. — Você não precisa daquilo para ter inspiração, você nunca precisou! Eu não quero que você viva dentro dos padrões que todo mundo impõe, Helena, mas isso não quer dizer que eu quero que você viva nos padrões que Trevor sempre impôs em você! Você não é uma vagabunda! — Alyson estava corada, ela tinha uma pele muito clara, então quando estava com raiva ela ficava corada, da mesma forma que ficava quando estava com vergonha. E a ruiva simplesmente explodiu, gritou a plenos pulmões com Helena por que realmente não se conformava com o que viu na noite anterior, não acreditava que aquela mulher sem qualquer pudor em cima daquele palco, era a sua amiga.

 

— PARA! — gritou enquanto apertava as mãos contra a própria cabeça, os dedos logo deslizaram por entre os fios escuros do próprio cabelo, sentiu vontade de chorar, mas segurava as lágrimas, não iria chorar. — Para! — mandou novamente, agora um pouco mais baixo e as mãos deslizaram para o rosto em seguida o escondendo na palma de sua mão, arfou, as palavras a atingiram em cheio, mas os gritos lhe perfuraram. Helena não gostava de gritos. Era um trauma que a perseguia devido aos abusos que passara em sua vida, não era um trauma tão intenso como no começo onde ela simplesmente se encolheria e continuaria naquela posição até que parassem de gritar com ela, não se movia ou sequer falava para não dar motivos para que gritassem mais. A terapia havia a ajudado há superar um pouco isso, mas não totalmente.

 

Alyson levou as mãos ao próprio rosto enquanto olhava para Helena, soltou um suspiro realmente pesado enquanto as mãos subiam pelos cabelos ruivos e os jogava para trás, as mãos logo chegaram à nuca onde os dedos se entrelaçaram e então sentiu a culpa lhe corroendo, ela sabia que Helena tinha medo quando gritavam com ela e mesmo assim continuou ali gritando e gritando, não conseguiu se controlar, era só mais uma briga das centenas de brigas que as duas tinham, mas aquela havia saído um pouco dos limites. A ruiva se aproximou a passos lentos e se abaixou em frente à Helena, os joelhos tocando o chão e as mãos foram em direção à cabeça de Helena, a tocou devagar, primeiro afagando os cabelos com carinho antes de se aproximar devagar e colar os lábios no topo da cabeça da morena em um beijo demorado.

 

— Ta tudo bem, eu não vou gritar mais, me desculpe. — a voz de Aly agora saiu mais calma, bem mais calma, quase um sussurro, os dedos deslizaram pelos fios escuros devagar em um afago carinhoso até Helena por si só erguer a cabeça, quando os olhos se encontraram, Aly sorriu fraco. — O que foi que eu disse a você? Quando gritarem com você, grite de volta, jamais baixe a cabeça. — Alyson falou baixo enquanto as mãos deslizavam até o rosto de Helena e assim, calmamente, o acariciou com carinho, era uma forma de dizer, mesmo que silenciosamente, que não iria machucá-la.

 

— É mais fácil falar. — a morena falou em um tom baixo e deu uma breve risada de forma triste enquanto fechava os olhos avermelhados por culpa da irritação de ter segurado o choro, pendeu um pouco a cabeça para o lado contra a mão de Alyson. — Isso se tornou uma conversa civilizada a partir de agora? — perguntou enquanto voltava a abrir os olhos.

 

— Sim. — Alyson falou enquanto dava um pequeno sorriso e então relaxou um pouco enquanto sentava sobre os próprios calcanhares. — Mas não tente mentir pra mim ou me enrolar. — Helena apenas acenou de forma positiva com a cabeça quando ouviu aquelas palavras e respirou um pouco fundo enquanto se ajeitava na poltrona, estava ainda se sentindo um tanto desconfortável, mas sabia que era preciso ter aquela conversa.

 

— Eu... Eu me sinto como se fosse outra pessoa quando coloco aquela máscara. É uma vontade que eu não sei explicar. Me sinto indestrutível, muito maior e melhor que aqueles monstros, eu não me importo com os gritos, com os xingamentos, com qualquer coisa que eles fazem, por que me sinto muito melhor que qualquer coisa que eles possam fazer. Eu realmente sei que não é a melhor forma de eu deixar tudo aquilo para trás. — falava em um tom calmo, tentando se expressar o melhor possível para que Aly lhe entendesse muito bem. — Mas é a forma que eu encontrei de conseguir lidar com o Trevor. Ele ainda me atormenta, Aly, eu ainda acordo no meio da noite com batidas nas portas, ou com ele saindo das sombras do quarto e vindo me atacar. Então é quando eu preciso me sentir superior de alguma forma e preciso descontar neles de algum jeito. Nesses momentos eu não tenho absolutamente medo de nada.

 

Alyson ainda tinha os olhos esverdeados completamente fixos em Helena, prestava bem atenção em cada palavra dita pela amiga e não podia negar que era pega de surpresa por cada palavra que ouvia, ela sabia a muito tempo que Helena ia dançar em um bar, ela mesma havia lhe contado para que ela não descobrisse da pior forma, na época as duas brigaram feio antes que simplesmente aceitasse ao perceber que Helena não iria deixar isso pra trás. Já fazia um tempo que vinha notando como a amiga vinha mudando e a última semana fora o que faltava para que Alyson fizesse o que deveria ter feito há muito tempo. Ela veio na casa de Helena de madrugada, tocou a campainha, entrou e encontrou apenas o vazio e o silêncio, então, foi atrás dela e o que viu em cima daquele palco fora uma mulher completamente vulgar, fora de si, não era a Helena que ela conhecia e isso realmente a assustava, a assustava por que tinha a sensação de que aquela situação poderia se agravar a qualquer momento.

 

— Mas essa forma não é saudável, Helena. Você... Estava irreconhecível. Vulgar, completamente desinibida. Você imaginou em algum momento que poderia ter algo na bebida que colocaram na sua boca ontem? Eu não quero te impedir de fazer o que anda te ajudando, então, por favor, será que você ao menos pode voltar à psicóloga? Nós procuramos outra, não tem problema, mas você precisa de acompanhamento, o que você passou não é algo que se cure dessa forma.

 

Helena respirou fundo mais uma vez enquanto voltava a se ajeitar onde estava, as mãos procurando as de Alyson na tentativa de ter algo com que se distrair enquanto conversavam, segurou uma das mãos da amiga com calma e começou a acariciar a palma da mesma com carinho com a ponta de seus dedos, sentia o peso do olhar de Alyson sobre si, mas não queria retribuir, não naquele momento, as palavras da ruiva rondavam a sua cabeça, a alguns dias também havia pensado que de fato seria melhor voltar para o acompanhamento psicológico, mas era orgulhosa demais para simplesmente admitir isso, ao menos na época. Assim, acenou de forma positiva com a cabeça.

 

— Tudo bem, mas vamos procurar antes, eu não vou aceitar qualquer uma. — Helena deixou claro enquanto arqueava uma sobrancelha e viu no mesmo momento o rosto de Alyson se iluminar e um sorriso surgir nos lábios da amiga, de alguma forma aquele sorriso lhe trazia tranquilidade. Viu quando a bola de pelos preta foi subindo devagar no colo de Aly, apoiando as patinhas gordas nas coxas da ruiva.

 

— Oi, minha gordinha linda. — a voz de Aly mudou no mesmo instante, de um jeito completamente tosco como se falasse com uma criança enquanto pegava a pequena felina de pelagem preta, a ajeitou em seu colo como se estivesse segurando um pequeno bebê e foi dando alguns beijos na cabeça peluda com carinho. — Titia te assustou quando chegou não, foi? Desculpa. — disse enquanto amassava a gata em meio a beijos, o que levou Helena a dar uma pequena risada, a Artista ficou em silêncio pelos próximos segundos vendo Vadia ser praticamente torturada por beijos.

 

— A Amélia é filha da Vera. — Helena falou em um tom baixo e de forma repentina. Aly ergueu a cabeça, afastando o rosto do pelo macio de Vadia para encarar a amiga.

 

— Eu sei.

 

— O que? Como assim você...

 

— No dia da exposição, eu tava conversando com eles quando a Vera apareceu para nos cumprimentar, foi quando descobri, você teria ficado sabendo se não tivesse me ignorado. — a ruiva deu de ombros enquanto erguia-se do chão ainda com Vadia no colo, era apaixonada por aquela gata e não a largava toda vez que vinha para a casa da amiga, sentou-se no sofá perto da poltrona e cruzou as pernas com calma antes de deixar que a gata se sentasse sobre suas pernas e começasse a amassar o famoso “pãozinho”.

 

Helena voltou a ficar em silêncio enquanto observava a interação das duas, tinha o cenho levemente franzido enquanto as olhava, sentia-se de certa forma agradecida por o assunto anterior ter morrido, mas tinha a certeza que depois ele voltaria a tona e voltaria já com Aly com nomes de diversas psicólogas prontas para lhe atender, adorava a eficiência daquela ruiva, ficou mais algum tempo em silêncio enquanto via Vadia cedendo aos carinhos e deitando de uma vez nas coxas de Alyson, relaxando completamente e certamente não sairia de lá tão cedo.

 

Então, simplesmente falou, contou detalhadamente tudo o que havia acontecido no dia da exposição, a conversa tão desconfortável que tivera com Amélia e logo em seguida com Vera, contou por que simplesmente ignorou a amiga depois e recusou-se a falar sobre por que não estava se sentindo confortável com aquela situação toda e quando terminou, encontrou Aly com ambas as sobrancelhas arqueadas como se estivesse perguntando “Você está falando sério?”. A ruiva ergueu a o dedo direito como se pedisse um segundo e levou a mão ao bolso do short que usava, puxou o celular ao erguer um pouco o quadril e olhou o visor do mesmo, franziu levemente o cenho enquanto destravava o celular e lia a mensagem, digitou uma resposta rapidamente e enfim tocou Vadia com cuidado.

 

— Desculpa, mas Titia vai ter que ir embora, eu trago sachê pra você da próxima vez. — falou da mesma forma tosca enquanto erguia um pouco a gata e dava mais alguns beijos na cabeça peluda antes de enfim, colocar o pequeno animal no chão para finalmente erguer-se do sofá e enfiar o celular no bolso, olhou para Helena com seriedade. — Você vai levantar essa bunda daí e vai atrás da Amélia. Você vai se desculpar pelo o que você fez e vocês vão conversar civilizadamente, Helena. — a ruiva já ia andando pela sala em direção à porta da casa, mas virou-se para a morena, apontava para ela. — CIVILIZADAMENTE! — quase gritou. Alyson era uma mulher extremamente doce e calma, mas isso mudava completamente quando estava irritada, ou quando ouvia algo que não gostava, Helena era acostumada com aquele comportamento, achava sexy. — Ela merece um pedido de desculpas por que o que você fez foi sim errado, por que ela não estava lá para o seu deleite como aqueles machos escrotos estão. Então levanta e vai! Faça algo produtivo e para de ficar vegetando nessa poltrona com seu chá. — as últimas palavras de Alyson foram seguidas pelo barulho da porta da casa sendo fechada pela ruiva que havia então partido, Helena imaginava que a mensagem que ela recebera fora algo relacionado ao trabalho. — E é bom que você volte com o número do telefone do irmão dela. — a ruiva havia entrado novamente de forma completamente repentina levando Helena a se assustar e da mesma forma repentina que a ruiva apareceu, ela sumiu ao fechar a porta novamente.

 

Helena soltou uma risada enquanto balançava a cabeça de forma negativa e descruzava as pernas devagar, as esticando um pouco enquanto apoiava a cabeça no encosto da poltrona, tinha um sorriso fraco nos lábios, mas não era de felicidade, não estava feliz naquele momento, estava confusa. Sentia-se como uma criança que precisava levar broncas de uma mãe para que soubesse o próximo passo que deveria dar. E Alyson estava certa, ela precisava mesmo conversar mais uma vez com Helena ou duvidava que iria simplesmente conseguir seguir em frente depois de todos aqueles acontecimentos, Amelia era uma pessoa que mexia com Helena e ela não negava isso, jamais negaria, precisava mesmo resolver a sua vida, estava caminhando para um ponto completamente diferente do que queria.

 

Passou maior parte do dia pensando nisso, com a cabeça presa nas palavras de Alyson e na conversa que tivera com Mia, pensou tanto que todo o seu dia passou no automático e já era por volta de três da tarde quando parou em frente ao belo balcão da secretária.

 

— Boa tarde, a Amélia está?

Fim do capítulo

Notas finais:

Oi, oi, gente! Esse capítulo foi um tanto trabalhoso pra mim, foram várias ideias entrando em conflito, então pode não ter ficado tão bom, mas ainda assim eu espero que gostem. Por favor, relevem qualquer erro, eu não revisei muito bem! 
Mais traumas da Helena vindo a tona, ela não é sempre esse mulherão que aparenta!


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Comentários para 9 - Capítulo 9:
Joanna
Joanna

Em: 17/09/2023

O que a máscara da Helena representa para ela é similar ao anonimato da internet, onde pessoas exteriorizam o que não o fariam em sociedade.

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Em: 18/10/2019

Olá! Quais as idades da Helena, Amelia, Vera e Alysson?

Obrigada!

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Blume
Blume

Em: 10/09/2018

ola

 

muito bommmmm

bjbj

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Isadora12
Isadora12

Em: 30/08/2018

Ansiosa para o próximo. Já quero essas mulheres se pegando porque sei que pegará fogo ??’???’?. Não demora a postar, por favor!!

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Angel68
Angel68

Em: 29/08/2018

Já sonhando com o próximo capítulo e com o grande encontro....olha, já nem sei se o tratamento da Helena é uma boa terapia e uma tarja preta, porque o que aquele monstro fez com ela, vai ser difícil superar....na boate, ela sentia prazer em infringir dor no cara, ali ela se sentia poderosa, vingada....mas é um distúrbio grave....como Mia entra nessa equação ? Autora, suas cenas são poderosas, intensas, e os diálogos então....cara, vc escreve muiiiiito bem !!!


Resposta do autor:

KKKKKKKKKKKKKK Olha, você ta bem certa, a terapia dela vai ser pesada pra conseguir superar tudo isso. 

É um disturbio muito grave, que pode piorar... Ou não.

Como Helena disse em um momento, Mia é a âncora fincada na realidade e vocês vão entender melhor isso depois e vão ver como Mia é importante nessa equação. Mia é basicamene o X da equação. 

E muito obrigada!!

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Sther22
Sther22

Em: 29/08/2018

Desde do começo estou acompanhando sua gisthist e ainda não tinha comentado. Mas não poderia deixar de te parabenizar sua história é muito envolvente , simplesmente maravilhosa!  Estou amando esse envolvimento de mia e Helena , espero que no próximo capituca role  pelo menos um beijinho kkk... Posta logo pfv.

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Suzi
Suzi

Em: 29/08/2018

Amei o capítulo, está tenso de uma maneira quase sufocante. o que significa que você conseguiu colocar em palavras a dimensão do trauma de Helena. Aly é demais, perfeita.

A fragilidade de Mia quanto a tudo que está acontecendo com ela é quase a mesma que Helena sente mas de maneira diversa, as duas assim que se entenderem irão se completar.

Doida pelo encontro, Helena tem que ser sincera e desabafar com Mia e esta precisa ouvir e espero que compreenda o que Lena está passando.

Suh


Resposta do autor:

É muito bom saber disso! Era o que eu mais queria, conseguir passar pelas palavras a tensão que existe entre elas e o que isso faz elas sentirem. 

E elas não sabem ainda, mas elas realmente se completam mesmo. Uma é o que a outra precisa ou sempre precisou/quis. 

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Sayo
Sayo

Em: 29/08/2018

Acho que esse certamente foi o capítulo mais intenso na minha opinião. Lidar com seus tramas, lidar com lembranças que te fazem sentir frágil, são as mais difícies de enfrentar.. Sim, vc as enfrenta por que elas são seus inimigos e vc precisar derrotar o efeito que elas causam na sua alma.. Todos.. sem execção, encontramos na vida uma forma de válvula de escape quando sentem todos os seus sentidos sobrecarregados pelo excesso de emoções..

Eu sabia que seria uma boa aposta ler sua história.. não me enganei.. Alias, preciso agradecer imensamente pela sua história por que ela fez acordar em mim, um antigo desejo que andava esquecido.. Graças a vc, vou voltar para um projeto que deixei esquecido no baú...

A espera por continuação sempre me faz ficar numa expectativa que dificilmente sinto.. rsrsrsr


Resposta do autor:

A Helena tem essa pose firme de mulher forte, foda e que lida muito bem com o que passou, mas na verdade é ao contrário, ela é realmente uma mulher frágil com MUITOS machucados e muitos traumas, esses que eu ainda vou apresentar a vocês nos próximos capítulos. 

E nossa, que maravilhoso saber que de alguma forma eu te dei forças pra reviver esse teu desejo esquecido, te desejo muito boa sorte nesse seu projeto, viu?! Que de tudo certinho. 

 

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Dolly Loca
Dolly Loca

Em: 29/08/2018

Amando essa história. Vai ser tensa essa conversa com a Mia, mas aguardo ansiosamente.

Bjo

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preguicella
preguicella

Em: 29/08/2018

Esse novo confronto vai ser tenso!
Que ele venha logo o próximo capítulo pra gente saber se Amélia vai aceitar as desculpas ou vai fazer Helena sofrer um pouquinho primeiro!

Tb tô apaixonada por vadia! hahaha

Bjão
Resposta do autor:

Sim, hahahaha, você não imagina o quão tenso será. 

Próximo capítulo vai chegar no máximo até o fim de semana, ou quem sabe ainda hoje?

Até o próximo!

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