Capítulo 19
Helena abriu a porta de sua casa e se deparou com Júlia segurando Antenor pela mão. Os olhos da prima estavam vermelhos indicando que ela havia chorado muito.
Era uma sexta-feira, 15 de novembro, e sabendo que Helena estaria em casa, Júlia combinou e foi se encontrar com a prima. Estava com duas sacolas nas mãos: a dela e de Antenor, pois pretendia passar o final de semana prolongado com a prima. Precisava, e muito, conversar com alguém e Helena era a única pessoa com quem poderia dividir as angústias pelas quais vinha passando.
-- Júlia! O que foi que houve? Você está chorando?
Ela entrou com os passos lentos e deixou-se envolver pelo abraço de Helena. Esta a conduziu para um sofá na sala e a acomodou, confortavelmente. Chamou pela empregada e pediu que fosse servido um chá.
Vendo, realmente, que Júlia estava por demais abalada, pegou Antenor pela mão e levou-o para outra sala:
-- Querido, quer ver televisão?
Em resposta, ele sorriu e apertou a sua mão, numa incontida alegria.
Depois de ligar a televisão e acomodá-lo num largo e confortável sofá, ela retornou para dar atenção à prima.
-- Vamos, Júlia, diga-me o que está acontecendo? Não tenho tido tempo de ir à chácara, desculpe ter deixado você um pouco de lado, querida.
-- Não tem do que se desculpar, Helena. Você tem sua casa, seu marido, seu trabalho. Não pode ficar tomando conta de mim, sempre.
Helena, esperou que a moça servisse o chá, depois voltou-se novamente para a prima.
-- Você está transtornada, Júlia! Aconteceu alguma coisa grave na chácara? Você e Sylvia brigaram?
Uma nova carga de soluço rompeu e Helena, mais que rapidamente, tirou a xícara das mãos da prima.
-- Eu... Eu não sei mais o que... o que fazer, Lena! Ajude-me, por favor!
-- Meu Deus, minha querida! Venha aqui. -- Helena aproximou-se mais dela e a tomou nos braços.
-- Eu... Eu prefiro ir para o quarto. Não quero que ninguém me veja assim, principalmente Antenor.
Helena foi até a cozinha e recomendou a moça para ficar de olho no menino e levou Júlia para o quarto de hóspedes.
Depois de devidamente instalada numa poltrona, Júlia soltou o ar dos pulmões.
Helena puxou uma cadeira e ficou bem próxima, a sua frente.
Júlia a olhou nos olhos e, mais uma vez, Helena se enterneceu com a beleza da prima. Não se conteve e falou:
-- Eu não sei por que isso acontece. Mas eu ainda me surpreendo com sua beleza Júlia. Como pode ser tão linda, minha querida! -- Afagou-lhe suavemente o rosto -- Agora desabafe, coloque tudo o que está lhe atormentando para fora. Sabe que pode confiar em mim.
Júlia enxugou os olhos num lencinho, recostou-se melhor na poltrona e deu início à longa conversa que teria com a prima.
-- Você sabe que... que eu e Sylvia...
Helena acenou a cabeça em afirmação.
-- Pois é, eu... eu nem sei como... como falar Helena... Ainda fico constrangida.
Helena sorriu-lhe com ternura e tratou de deixá-la à vontade.
-- Fique tranquila. Temos todo o tempo do mundo para conversar. Esse fim de semana prolongado será só nosso. - Piscou e sorriu de novo - Nem Antônio estará aqui. Pois viajou ontem a trabalho e só retorna na próxima semana.
Júlia sorriu-lhe em resposta e novamente inspirou fundo. Passou as mãos nos cabelos e em seguida cruzou-as sobre as pernas.
-- Eu nunca lhe falei claramente sobre o meu envolvimento com ela... Nunca fiquei muito a vontade... Você sabe. É tudo tão novo para mim... Mas... Mas mesmo assim... não me arrependo.
Olhou para a prima com o rosto vermelho. Apesar de ter muita abertura com Helena, aquele era um assunto delicado e, para ela, ainda muito constrangedor para tratar assim abertamente. Poucas vezes abordara o assunto com a prima, mas de forma um tanto quanto sutil.
-- Nós... nós nos envolvemos intimamente... É... dormimos juntas e... e fizemos tudo... tudo o que um casal faz... você já sabe disso!
Helena manteve-se calada e tentando ficar o mais natural possível, para deixar a prima à vontade.
-- Mas... mas depois que terminávamos de... de fazer... Você sabe...! Eu... eu ficava me sentindo incomodada...
-- Por que? Você não gostava? Não se sentia bem, não sentia prazer?
Helena não conseguiu evitar o sorriso ao perceber o rubor no rosto da prima se tornar ainda mais intenso.
-- Cla... claro que eu gostava. Demais até... É... é muito bom! Mas eu me sentia, me sinto culpada. Afinal ela... ela é noiva! Não é correto trair. Eu sou contra esse tipo de... comportamento.
-- Mas, mesmo assim você...
-- É. Eu não conseguia resistir. Sylvia, ela... ela me envolve... Quando eu percebo já estou nos... nos braços dela. Uma força irresistível me arrasta para ela... É mais forte do que eu... Era... Agora estou resistindo, mas...
Helena apoiou os cotovelos nos braços da cadeira e uniu os dedos sob o queixo. Novamente esboçou um sutil sorriso e deixou-se ficar observando os variados tons de vermelho que oscilavam no rosto de Júlia. Não resistiu e perguntou.
-- Não está mais fazendo amor com ela?
Júlia arregalou os olhos e cobriu o rosto com as mãos. Helena não conseguiu mais prender o riso, e deixou-o sair completo, cristalino.
-- Desculpe-me Júlia, mas é incrível como você fica encabulada, mesmo comigo, minha prima!
-- Para Helena! Você não imagina como é difícil para mim falar disso! - Fechou a cara -- Se você for ficar rindo, acho melhor eu ir embora.
Helena tentou parar de sorrir.
-- Calma. Você não vai embora coisa nenhuma! Eu não estou rindo de você... Mas é que você fica tão engraçadinha, toda vermelhinha, ruborizada!
Júlia recostou-se no espaldar da poltrona, fechou os olhos e deixou as lágrimas escorrerem. Helena se sensibilizou e segurou-lhe as mãos.
-- Desculpe, querida. Não vou brincar mais. Pode continuar quando quiser.
Júlia demorou um minuto ou dois em silêncio, depois enxugou as lágrimas e, na mesma posição, mantendo os olhos fechados deu continuidade ao desabafo.
-- Eu me afastei dela. Não conseguia mais continuar nessa situação clandestina, vendo-a sair do meu quarto de madrugada, antes que os demais acordassem, como se estivéssemos cometendo um crime. E também estava acontecendo uma coisa estranha comigo. Quando o noivo dela não estava aqui no Brasil, a gente se amava, eu me sentia culpada, mas em menor grau. Não me sentia tão perturbada. Mas quando ele chegava, a sensação de culpa era muito grande. Eu me sentia a outra, entende? Sentia-me, muitas vezes, uma prostituta, uma vadia. Um volume de sentimentos diversos, desencontrados tomava, ou melhor, ainda toma conta de mim. Quando estávamos nos amando..., é... ao mesmo tempo em que sentia como se estivesse tomando posse do que não me pertencia, do que eu não tinha direito, sentia um prazer enorme, embriagador, quase perverso em saber que, enquanto a noiva dele me devorava, enlouquecida de tesão, ele dormia inocente sob o mesmo teto.
-- Nossa! - Helena admirou-se - Interessante!
-- Depois que terminávamos e a razão voltava a me dominar, eu me sentia horrível, pois a sensação que eu tinha era de que estava a maculando, levando-a a praticar uma coisa que eu mesma considero errada, levando-a a trair o noivo.
--Você disse sentia. Não sente mais?
-- É... Sinto. Mas, mesmo sendo delicioso saber que ela me ama, que me deseja, não é correto ficarmos nos entregando aos apelos da carne. E sei também que é errado me sentir vitoriosa sobre ele.
-- Julia não se culpe por isso. Você sente isso em relação a Augusto porque ele nunca foi simpático com você. Aliás, ele não é simpático com ninguém.
-- Você acredita que desde que fomos apresentados, ele deve ter me dirigido a palavra, uma ou duas vezes e, mesmo assim, como se eu fosse uma coisa qualquer? -- Os lábios dela tremeram e os olhos adquiriram um brilho diferente -- Você precisa ver como ele olha para o meu filho. Vejo ódio e ciúmes nos olhos dele. Nunca deixei Antenor sozinho perto dele. Nunca confiei.
-- É, minha querida! Você está numa situação difícil, complicada!
-- Eu decidi me afastar dela, Helena, porque o amando ou não, ela é noiva dele! Firmou um compromisso com ele. Eu não posso me envolver nisso, entende? Está sendo muito difícil ficar longe, mas eu tenho que me manter afastada dela.
-- Você está certa! -- Helena sentia o coração cortar de pena da prima -- ela já veio da França comprometida com ele. A gente não manda no coração, mas nem sempre pode ceder aos seus clamores.
-- Estou morrendo de saudades dela, Helena. Está sendo quase impossível manter-me distante, me fazer de fria, de indiferente.
Helena se ajeitou melhor na cadeira, curvou o corpo para a frente e descansou os braços sobre as coxas.
-- Você está distante como, Júlia? Mal está falando com ela, é isso?
Uma nova carga de soluços sacudiu Júlia.
-- Eu preciso fazer isso. Só assim eu consigo resistir. Quando se aproxima o horário dela voltar para casa, eu me revisto de uma máscara de frieza e, de certa maneira, de indiferença. Ela chega e... e vai logo a minha procura e, quando eu olho para ela..., meu Deus, é tão difícil! Quando olho para ela apenas... apenas lhe dou um sorriso neutro e distante, como eu dou para qualquer pessoa, entende?
-- Meu Deus, Júlia! Como você consegue?
--Tenho evitado conversar com ela, pois tenho medo de ceder. Falo apenas o necessário -- O choro estava cada vez mais forte -- Ela... ela puxa conversa... comigo, mas... mas eu me mantenho... monossilá...bica. É terrível ter que fazer isso, mas só assim consigo me manter longe dela.
-- Meu Deus!
-- Quando olho para ela e vejo aqueles olhos lindos... brilhando em minha direção... Se derramando de amor para mim e... e ao mesmo tempo sofridos, cheios de saudades, eu fico para morrer, Helena. A vontade que tenho é de correr até ela e me jogar em seus braços, abraçá-la, beijá-la e me entregar inteira para que... para que ela faça o que bem quiser comigo.
Helena recostou-se novamente na cadeira e perguntou:
-- Então quer dizer que vocês estão rompidas? Vocês não estão mais juntas?
-- Não. Eu dei a ela uma espécie de ultimato: ela só tocará em mim de novo, depois que estiver devidamente separada de Augusto.
Helena levantou-se e deu alguns passos pelo quarto.
-- Agora entendo a razão pela qual Sylvia tem estado tão abatida! -- Helena virou-se para Júlia -- Você sabia que ela tem sentido mal na empresa? -- Dava razão à prima, mas não era a favor de que ela agisse com tanta frieza assim. Tudo bem que não dormissem juntas, mas também não precisava se manter a anos-luz de distância. -- Você sabia que ela foi parar na emergência, duas ou três vezes, num curto período de tempo?
Júlia olhou para Helena horrorizada. Sentiu o coração bater forte no peito e uma ardência lhe tomou todo o corpo. As pernas ficaram fracas e todo o corpo pôs-se a tremer.
-- Eu.. eu não sabia! Meu Deus! O que... que ela sentiu?
-- Fraqueza, tristeza, depressão. Uma pessoa que não está comendo, e pelo que você me contou, imagino que nem dormindo está, o que você acha que ela sentiu?
-- Mas... mas será que é por que nós... Eu me afastei...?
-- O que você acha, Júlia?
-- Meu Deus! Eu... eu nunca imaginei que ela pudesse... ficar tão... tão abatida assim. -- O choro tornou-se convulsivo -- Helena! Eu.. eu não sabia! Eu não sabia que ela estava assim, nesse estado. Eu juro!
Helena suspirou, olhou para a prima e balançou a cabeça em sinal de lamento.
-- Ninguém da chácara sabe! Ela pediu para não contar nada.
-- Meu Deus! E agora?
Helena tornou-se a sentar.
-- Agora? Você é quem sabe. -- Ficou irritada com a prima -- Precisava ser tão dura com ela, Júlia? Precisava deixar de, praticamente, conversar com ela? Se está sendo difícil para você, está sendo para ela também!
-- Meu Deus! Eu... eu preciso vê-la! Eu quero vê-la, conversar com ela!
Helena virou-se para ela mais irritada ainda.
-- Ah! Agora quer vê-la. Vai aproximar-se dela, para aliviar sua culpa e, depois, se manter a quilômetros de distância novamente!
-- Eu... eu não sei o que fazer!
-- Ela sabe que você veio para cá?
-- Sabe. Ela nos viu saindo. Abraçou Antenor, e quando olhou para mim, eu vi que ela estava chorando.
Helena fechou os olhos e soltou o ar dos pulmões.
-- Fique sossegada aqui, Júlia. Não adianta você voltar para lá agora. Ela não vai entender nada. Na segunda-feira, volte a se aproximar dela, chame-a para conversar.
Júlia secou novamente o rosto banhado em lágrimas com o lencinho, olhou para a prima com os olhos tristes, belos e atormentados.
-- Será que ela vai me perdoar? Será que ela vai aceitar minha reaproximação?
Helena manteve os olhos fixos na prima e esboçou um leve sorriso, constatando mais uma vez, o quanto as pessoas apaixonadas metem os pés pelas mãos.
-- Claro que ela vai lhe perdoar. Claro que vai. -- Helena aproximou-se e segurou-lhe as mãos. -- Agora, minha prima, seja mais compreensiva com ela. Essa menina tem sofrido muito com a morte do pai e com a carga de trabalho que é dirigir aquela empresa! Seja amiga dela, Júlia! Seja forte, dê a ela o apoio de que ela precisa -- Helena sorriu de um jeito matreiro, piscou um olho e continuou -- Sei que é difícil para você resistir à tentação -- Mas, não judie tanto dela assim, não! -- Acariciou o belo rosto que ficou imensamente ruborizado com a brincadeira
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Vê-la entrar no carro e se dirigir à cidade, justamente no feriado prolongado, partiu meu coração, pois pretendia chamá-la para conversar, tentar uma reaproximação. Eu não conseguia entender porque ela estava tão distante de mim. Tudo bem que não quisesse mais dormir comigo, mas não precisava colocar entre nós, milhares de quilômetros. O meu coração estava despedaçado, sentia-o doer literalmente. Sentia um peso constante, acompanhado de uma dor enorme, como se uma mão de ferro o estivesse esmagando.
Depois que ela me deu o ultimato e que decidiu se afastar de mim, os finais de semana passaram a ser muito mais ansiosamente esperados do que jamais foram. Pois, mesmo sabendo que ela continuaria se mantendo distante, pelo menos eu estaria o dia inteiro sob o mesmo teto que ela, respirando o mesmo ar, envolvida na mesma energia. Eu sei que era muito pouco, para quem já tivera muito, mas era melhor do que nada. A minha alma, o meu amor estavam se agarrando a qualquer sombra, migalha e vestígio da presença dela. Nunca, só o fato de a ver, mesmo à distância, foi tão doce e doloroso. Todo o tremor que tomava o meu corpo, todo o frio glacial que se agarrava ao meu estômago, toda a paralisia e mudez que se instalavam em minhas cordas vocais me davam a real dimensão dos meus sentimentos por aquela mulher. Eu, a cada dia, constatava, tinha a plena certeza, de que ela era necessária para a minha sobrevivência.
Era uma delícia e, ao mesmo tempo uma tortura, ouvir a voz dela conversando com o filho e com tia Cláudia. Eu já estava evitando ficar no mesmo ambiente que ela, pois era doloroso demais sentir sobre mim, quando ela se dignava a me olhar, os olhos ternos, porém distantes. Raramente me dirigia a palavra, só quando eu perguntava alguma coisa ou tia Cláudia me introduzia na conversa. Sempre me falava com a meiguice e a doçura de sempre, mas o calor na voz, com o qual eu já havia me acostumado, não existia mais, ou pelo menos eu achava que não. Também no estado deprimente em que me encontrava, era impossível analisar o que quer que fosse.
Nos sábados eu acordava cedo para ter o prazer de desfrutar da sua presença no café da manhã. Muitas vezes, era difícil demais, pois ver aqueles lábios se mexendo ao mastigar o alimento, muitas vezes perceber, no movimento da boca para receber o desjejum, a pontinha da língua, era agonizante. Todo o meu corpo esquentava, e um desejo enorme me subia por entre as pernas, atingindo todo o meu ventre. Vez ou outra, sentia sobre mim, os olhos da minha tia que sabia do quanto eu estava sofrendo.
Ela se mantinha tranquila. Eu ficava admirada como ela conseguia ser tão firme, ou melhor, tão fria. De tanto ver esse comportamento distante, foi que comecei a duvidar de que ela realmente me amasse. Talvez ela só pensasse que sentia amor por mim, quando na verdade estava apenas entusiasmada pela novidade de ter uma mulher apaixonada por ela. Esses e muitos outros pensamentos de insegurança bombardeavam a minha mente e, por esse motivo, eu, a cada dia, me afundava numa tristeza sem fim.
Ela foi passar o feriado de sexta e o final de semana com a prima, e eu fiquei em casa me sentindo, mais uma vez, relegada ao segundo ou último plano na sua vida. Se é que eu tinha algum lugar na vida dela. Naquela altura do campeonato, eu não estava me considerando nem mais como uma mera lembrança, largada e esquecida em algum cantinho da sua mente.
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Júlia passou o final de semana refletindo sobre a conversa que teve com Helena. Os dias, para ela, transcorreram lentamente. Contava os minutos, que indiferentes ao tormento que lhe confrangia a alma, impulsionavam os ponteiros naquele eterno e ritmado tiquetaquear dos relógios. A vontade de voltar para casa e conversar com Sylvia a estava deixando com uma ansiedade febril. Estava a cada segundo mais e mais impaciente, mas não tinha coragem de antecipar a volta para a chácara, com receio de que Helena se sentisse preterida, uma vez que prometera passar todo o final de semana em sua companhia. Helena, por sua vez, no domingo, logo após o almoço, percebendo seu estado de agonia, a chamou para conversar:
-- Júlia, eu acho melhor você voltar para a chácara ainda hoje.
Sentindo um misto de alegria e apreensão, por temer que a prima estivesse chateada, se opôs.
-- Não, Lena! Vou amanhã. Prometi ficar com você. Não há necessidade de voltar hoje...
Helena sorriu.
-- Júlia, Júlia! Aposto que até Antenor já deve estar percebendo sua agonia.
-- Como? Está tão visível assim?
-- E como, minha prima! Arrume suas coisas e vamos.
-- Você vai também? Ótimo!
-- Quero dar umas risadas com dona Cláudia!
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Eu estava sentada na varanda com tia Cláudia, jogando xadrez, quando ouvi o barulho do carro. Não dei importância, pois estava concentrada por demais, no jogo. Ela mexeu com um bispo e levantou os olhos. Meu coração galopou no peito, quando a ouvi exclamar.
-- Ué! Júlia me disse que só viria amanhã!
Minhas mãos tremeram e deixei cair o cavalo que eu começava a movimentar, para dar um xeque na rainha de tia Cláudia. Ela não era muito boa no xadrez, mas se gabava. Com a respiração presa, me levantei e, só então, senti aquela já tão conhecida fraqueza nas pernas. Aproximei-me do balcão de madeira que circundava toda a frente da casa e apoiei as duas mãos para me firmar. A sensação de vertigem e fraqueza que me dominava era tão grande, que era certo que iria de encontro ao chão, se não me firmasse em alguma coisa. Meus olhos se voltaram na direção dela. Vinha logo atrás de Helena que segurava Antenor pela mão. Nossos olhos se encontraram. Ela diminuiu os passos e ficou me olhando. Sorriu timidamente e suas faces coraram. A alegria que me invadiu foi tão intensa, que tive a sensação de que ondas de luz transbordavam de mim. Engoli em seco e inspirei profundamente, precisava controlar os batimentos cardíacos. Ela galgava os degraus lentamente, com os olhos presos em mim. Depois de um ou dois minutos, atingiu o último e deu os primeiros passos para dentro da varanda. Cumprimentou tia Cláudia, olhou novamente para mim e manteve-se imóvel. Depois de alguns segundos, olhou para os próprios pés, como se estivesse tomando uma decisão, depois ergueu novamente a cabeça e seguiu na minha direção. Meu coração se acelerou ainda mais. Ela me sorriu, e eu, não sei se correspondi ao sorriso, ou se, simplesmente, fiquei com cara de boba. À medida que ela se aproximava, eu sentia como se o ar ao meu redor fosse ficando perfumado e leve. Senti-me flutuar, ao mesmo tempo em que sabia ser incapaz de mover um músculo sequer, pois tinha certeza absoluta de que meus pés estavam chumbados ao chão. Ela parou a menos de um metro de mim. Jogou todo aquele maravilhoso e hipnotizante olhar azul sobre mim e sussurrou um simples e delicioso:
-- Oi!
Eu, completamente desprovida da capacidade da fala, abri a boca em busca das palavras, mas a mudez se instalou totalmente. Abri e fechei a minha boca duas ou três vezes, e nada! Ela se aproximou mais e me puxou para um abraço. Eu senti todo o meu corpo adormecer. As mãos dela deslizaram suavemente pelas minhas costas, e eu não sei dizer como as minhas mãos envolveram sua cintura. Foi um abraço terno e cheio de saudade. Eu estava numa situação periclitante, e quando senti o calor daquele corpo fenomenal, tão amado, tão idolatrado e desejado por mim, em contato com o meu, uma onda violenta de calor e excitação sacudiu as minhas entranhas. Apertei-a fortemente e deixei meu rosto se emaranhar em seus sedosos cabelos negros. Aspirei o cheiro dela e fechei os olhos. Ela, com uma voz suave e levemente rouca, murmurou baixinho em meu ouvido.
-- Perdoe-me, meu amor! Eu fui cruel com você!
Eu me senti no céu, em outra dimensão. Aconcheguei mais meu corpo ao dela e disse:
-- Não há nada a perdoar. Está tudo bem.
-- Precisamos conversar. Espero-lhe no meu quarto essa noite.
Eu estremeci, e meu coração ficou mais descontrolado do que já estava, mas como já estava tão traumatizada com as recusas que vinha sofrendo, tratei logo de não alimentar esperanças.
Eu não consegui pronunciar mais nenhuma palavra. Lentamente nos afastamos. Ela sorriu e se dirigiu para dentro de casa, me deixando ali parada completamente desnorteada, aérea e fora de órbita.
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Na manhã de terça-feira, 26 de novembro, Madeleine atravessou o portão de embarque rumo ao Brasil. Depois que Augusto lhe deu a fatídica notícia, de que a amante do seu finado marido havia sido convidada por sua filha e sua cunhada, a fixar residência na casa que, - apesar de ter aberto mão do direito em nome de Sylvia - lhe pertencia por ser esposa, ela passou dias e dias digerindo a notícia.
Aguardou, com muito custo, os dias passarem para esfriar os ânimos, pois a vontade que teve foi de pegar o primeiro avião e expulsar a pontapés, a maldita da sua casa. Mas, respirou fundo e segurou a onda. No fundo, não seguiu o impulso por causa de Cláudia, de quem ela, apesar de não admitir, tinha receio. Temia e respeitava a cunhada. Depois de muito pensar, decidiu surpreender a aventureira num momento em que Sylvia estivesse no trabalho. Mesmo sabendo que teria que enfrentar Cláudia, iria expulsar a vigarista e o bastardinho de sua casa.
A raiva fazia seu sangue ferver, mas, de imediato, tratava de se controlar. Pois faria tudo com classe, com calma. Não iria jamais descer, um milímetro que fosse, do seu nível para discutir com a destruidora de casamentos. As únicas palavras que lhe seriam dirigidas seriam apenas as necessárias, para que ela compreendesse que estava sendo expulsa, ou melhor, enxotada, escorraçada.
Já planando sobre o ar, Madeleine trincou os dentes e sentiu um frio no estômago, ao se imaginar, frente a frente com aquela que lhe roubou o marido.
Quando a realidade dos fatos e a voz do detetive lhe informando sobre a inocência da moça ousavam lhe chamar à razão, ela, mais que de imediato, tratava de refutar essas incômodas lembranças e se convencer, por pura conveniência e orgulho ferido, de que a tal da Júlia com carinha de anjo, realmente, lhe arrebatara o marido.
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Na noite de domingo do dia 17 de novembro de 1968, Júlia abriu a porta do seu quarto para mim. Eu ainda custava a acreditar que ela realmente quisesse falar comigo. Controlava, a muito custo, o meu coração, para que o mesmo não se enchesse de esperanças. Depois que ela me disse que queria conversar comigo, as minhas esperanças se reacenderam, então eu comecei a travar uma batalha entre a razão e o desejo e saudade. Peguei-me imaginando como se daria esse nosso encontro: na minha febril ansiedade, me imaginei entrando em seu quarto e a tomando num abraço e beijo cheios de saudade, mas, de imediato, afastei essas ideias, pois o receio e a dor da rejeição me machucavam demais.
Bati levemente na porta e, quase que de imediato, ela abriu. O ar me faltou quando a vi vestida com uma camisola e um penhoar por cima. Estava composta, mas ainda assim, linda e sexy, e, além do mais, eu sabia que ela estava nua por baixo da camisola, porque era assim que ela dormia. Ela podia se vestir como um soldado do exército que continuaria sexy. Meus olhos a percorreram de cima a baixo. Ela, percebendo a direção do meu olhar, sorriu e se afastou para que eu entrasse.
Indicou-me uma poltrona e eu me sentei. Chegou a doer a vontade de abraçá-la, mas me mantive firme. Ela sentou-se à minha frente e, novamente, sorriu. Ficou me olhando por um interminável tempo, e eu pude novamente ver e sentir a ternura do seu olhar. Ela deu um suspiro e falou numa calma que me deixou admirada. Como ela podia estar assim tão tranquila, quando eu estava ali, com o coração desembestado no peito, as carnes trêmulas e soltas, a boca seca e sentindo vertigens? Aquela postura dela só fazia reforçar a minha crença de que ela não me amava como me dissera.
-- Sylvia, eu quero me desculpar com você. Reconheci que fui muito dura. Agi com muito rigor, ao me manter distante de você.
Eu não consegui dizer nada, apenas continuei com os olhos fixos nela.
-- Quero que saiba, que para mim foi difícil demais me manter longe de você. Está e continuará sendo difícil. -- Ela apertou as mãos -- Eu... eu continuo te amando do mesmo jeito ou até mais, se isso for possível, mas...
-- Mas continuará firme no seu propósito! -- A interrompi, pois, uma vontade enorme de chorar tomou conta de mim. Não queria ouvi-la me dizer mais uma vez, que só se aproximaria de mim, depois que eu estivesse definitivamente desvinculada de Augusto.
Ela suspirou e acenou levemente a cabeça.
-- É. É isso mesmo! -- Seus olhos se apertaram levemente, e vi uma lágrima escapar e escorrer face abaixo.
-- Está sendo doloroso demais ficar longe de você, Sylvia, mas, apesar da dor, eu prefiro assim, pois fico em paz com minha consciência.
Eu me remexi na poltrona e dei uma risadinha um tanto sarcástica.
-- Consciência! Que bom que está em paz com sua consciência. -- Olhei para ela, e as lágrimas desciam do meu rosto como uma enxurrada. -- Pode ficar tranquila que eu não vou fazer nada para tirar a paz da sua consciência.
-- Sylvia, por favor, entenda! Não é certo o que estávamos fazendo!
Eu senti uma raiva enorme e avancei sobre ela. Puxei-a bruscamente trazendo-a para os meus braços e tomei sua boca num beijo alucinado. Ela, de imediato, ficou inerte devido ao susto, mas, depois, tentou se desvencilhar de mim. Senti-la se esquivando, me fez sangrar de dor e aumentou ainda mais a minha raiva. Arranquei seu penhoar e a prendi firme nos meus braços. Minha boca continuava explorando a sua e, pouco tempo depois, ela se amoleceu nos meus braços e me envolveu o pescoço. Ao senti-la entregue, eu aprofundei o beijo. Ela gem*u baixinho e se agarrou mais a mim.
Eu estava fora de mim e tinha urgência de senti-la. Precisava tocar e degustar o seu sabor. Mais que rapidamente, deslizei uma mão por entre suas pernas, enquanto, com a outra, a mantinha firme. Senti o quanto ela estava molhada. Molhada e quente. Gemi extasiada e fui empurrando-a em direção ao quarto. Ela não mais oferecia resistência. Deitei-me sobre ela, e, numa fração de segundos, tirei sua camisola. Afastei um pouco para apreciar a beleza do seu corpo escultural e, ao vê-lo ali, inteiramente nu, sob a luz do lustre que iluminava todo o quarto, senti o ar faltar.
-- Linda! Você é linda, meu amor! E eu vou te adorar para sempre! Nunca mais me impeça de te amar. Eu imploro!
Quando fui me deitar novamente sobre seu corpo, ela me deteve colocando as duas mãos nos meus ombros.
-- Não! Não, Sylvia! Por favor!
Eu fiquei estática, sem saber o que dizer. Tentei ainda mais uma vez me deitar sobre ela, mas usando de toda a força, me empurrou.
-- Já disse, não! -- Falou com a voz chorosa -- Não faça isso!
Eu me levantei sem acreditar que ela, mais uma vez, estava me rejeitando. Antes de sair do quarto, me virei para ela e perguntei.
-- Por que então quis conversar comigo? Por que me deixou chegar até aqui, na sua cama?
Ela me olhou enquanto chorava e, num soluço, balbuciou.
-- Eu não quero me manter distante de você... Mas, mas não force... as coisas. Não torne tudo... tudo mais difícil do que já está.
Eu meneei a cabeça e me retirei do quarto. Abri a porta do meu e corri para minha cama. Ela queria ficar próxima, mas sem sex*, sem muita intimidade. Para mim isso parecia pior do que a frieza. Rolei de um lado para o outro a noite toda. Toquei-me e atingi o prazer sentindo nos meus dedos o seu cheiro e o seu gosto.
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Os dias transcorreram normalmente. Júlia procurava se aproximar de mim, conversando e me contando as aventuras de Antenor e me dando, vez ou outra, notícias sobre a filha do seu amigo Guilherme, nada do que eu já não soubesse através de Lisa. Minha secretária e o músico estavam estreitando amizade e, pelos olhos brilhantes dela, quando se referia a ele, dava para perceber que algo mais estava nascendo. Lisa estava feliz, ela merecia.
Eu mergulhei de cara no trabalho. Comecei a levar relatórios para analisar em casa como uma forma de evitar a presença de Júlia. Estava parecendo uma brincadeira de gato e rato. Antes, ela se mantinha distante, agora, eu fugia da sua presença. Conversava cortesmente com ela, mas evitava, o máximo possível, me demorar na presença dela. Era doloroso demais. Eu não era forte o suficiente para ser amiguinha dela.
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No dia 23 de novembro, resolvi conhecer uma das nossas fazendas no estado do Mato Grosso. Já havia visitado algumas, mas ainda não conhecia todas, e, como o supervisor geral das mesmas estava indo fazer sua inspeção de rotina, eu aproveitei, pois era uma boa desculpa para passar uns dias longe da chácara e arejar a cabeça. Mas, o que eu não sabia era que essa minha vontade de espairecer, aconteceu na hora errada.
Alguns dias depois, quando tive que retornar às pressas, a situação em minha casa estava por demais crítica. Tudo havia mudado drasticamente e, pela primeira vez, eu tive verdadeiro medo, pavor, de perder Júlia para sempre.
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Na madrugada de 27 de novembro Madeleine desceu de um taxi em frente a um grande hotel de luxo próximo ao aeroporto. Estava cansada, e seu corpo necessitava, urgentemente, de uma cama. Quando o dia amanhecesse iria imediatamente para a chácara. Quando se imaginava frente a frente com a aproveitadora, sentia uma contração no estômago.
Pediu um leite quente e dormiu logo, coisa que a espantou, pois imaginou que teria dificuldade em conciliar o sono devido ao fuso horário.
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Por volta das nove horas da manhã, um Auguste extremamente pálido e assustado, olhava sem acreditar para a elegante mulher parada à porta da casa, esperando que ele lhe desse passagem.
-- Não vai me deixar entrar em minha própria casa?
O mordomo, sem conseguir balbuciar uma única palavra, afastou-se e ela deu os primeiros passos para dentro de casa. Parou novamente e o segurou pelo braço.
-- Ouça com bastante atenção o que vou lhe dizer. E não ouse me desobedecer. Antes de mais nada me diga, onde se encontra Cláudia?
-- No... no jardim. Ela... ela adora cuidar das plantas...
-- Ótimo! Deixe-a sossegada com seus afazeres. Só anuncie a minha presença quando eu lhe autorizar, entendeu?
-- Certo, madame.
-- E minha filha, está na empresa?
-- Ela... ela viajou, madame. Só volta daqui a alguns dias.
-- Ótimo! É melhor que ela não esteja aqui hoje.
Auguste tremia dos pés à cabeça, pois temia que a mulher encontrasse Júlia. Se ele pudesse correr para avisá-la.
-- Quer ir logo para os seus aposentos... madame?
Ela o olhou de cima a baixo, deu um breve sorriso -- pois adivinhou as intenções dele --, respirou fundo e soltou num tom baixo e tenso.
-- Leve-me à presença da amante do meu marido. -- apertou fortemente o braço dele e complementou -- Não ouse me desobedecer, Auguste. Eu não estou nos meus melhores dias, e você me conhece muito bem.
O mordomo acenou com a cabeça e iniciou os primeiros passos em direção ao quarto de música. O silêncio quase que imperava no ambiente, só se ouvia o ressoar dos passos de Madeleine no assoalho. Depois de cruzarem corredores e salas, Auguste interrompeu os passos em frente a uma enorme porta.
-- É aqui, madame. Quer que a anuncie?
Madeleine sorriu-lhe.
-- Não precisa. Pode voltar para os seus afazeres.
Auguste afastou-se, e Madeleine inspirou profundamente. Seu coração estava disparado no peito. Nunca imaginou que fosse ficar tão nervosa. Nunca imaginou que ela, uma Bordeaux, fosse tremer nas bases ao enfrentar a rival, uma desqualificada e interesseira.
Do cômodo vinha um suave e lindo som de violão. Não pode deixar de notar que o instrumento era muito bem tocado. Sabia que a bandida era musicista. Ninguém é de todo perdido nesse mundo. Pensou. Respirou fundo mais uma vez e levou a mão à maçaneta da porta. Girou-a lentamente. Quando a porta atingiu uma abertura razoável, espiou. Viu-a sentada numa conversadeira, dedilhando o instrumento. Observou-lhe o perfil e constatou o quanto era bela. No chão, brincando sobre um espesso tapete, viu o bastardinho. Abriu a porta totalmente e deu um passo para dentro do cômodo. Ficou parada observando a cena. Ela continuava tocando o violão, completamente alheia ao que acontecia ao redor. Madeleine ficou paralisada. Seus olhos mergulharam na figura da mulher sentada e totalmente imersa no ato de tocar.
Antenor, sentindo a presença, virou a cabecinha na direção da porta e, ao se deparar com a figura de Madeleine, sorriu e falou:
-- Shilva!
Sylvia era a cópia fiel da mãe, a única diferença eram os olhos, pois os de Madeleine eram intensamente verdes.
Os olhos de Madeleine mergulharam no rosto infantil e, apesar do desprezo que sentia, não pode deixar de, momentaneamente, se enternecer pela beleza daquela criança. Seus lábios quiseram sorrir, mas ela de imediato impediu, seus olhos, porém não deixaram de corresponder à doce receptividade da criança.
" Meu Deus! Que criança linda!" Pensou.
Júlia, ao ouvir a voz do filho, voltou-se na direção da porta e quase teve uma parada cardíaca, pois o choque que sentiu, ao ver aquela mulher ali parada a encarando, ela foi incapaz de descrever. Tudo ao seu redor pareceu sumir, desaparecer, a única coisa que ela foi capaz de fazer, foi, de imediato, largar o violão de qualquer jeito na conversadeira em que estava sentada e pegar o filho nos braços. O instinto da fêmea protegendo a cria foi o que a guiou. Respirou fundo e deixou seus olhos fixarem a mulher. Percebeu, de imediato, de quem se tratava, devido à semelhança. O tempo que gastaram, encarando uma a outra, foi eterno. Nenhuma das duas foi capaz de precisar, por quanto tempo, ficaram ali, frente a frente.
Madeleine, ao ver de frente aquela mulher, sentiu o ar fugir-lhe do peito. Seus olhos se perderam naquele magnífico mar azul, naquele rosto doce e angelical. Sem conseguir impedir, os mesmos desceram pelo corpo que estava envolvido numa blusinha de crochê vermelha, que se moldava perfeitamente bem ao corpo, e numa leve calça de algodão branco, que caia com graça revelando as formas belas e generosas. Seus olhos avaliaram a mulher de cima a baixo e, como era ligada à moda, não pode deixar de admitir, que mesmo naquelas roupas simples, porém de bom gosto, a mulher estava magnífica. Mas, também, mesmo se ela estivesse vestida com um farrapo, continuaria linda, foi o que a francesa concluiu.
Mais uma vez, Madeleine encheu o peito de ar e deixou as primeiras palavras saírem num tom baixo e levemente trêmulo. Júlia não conseguia perceber o nervosismo da outra, porque ela mal sabia como ainda continuava de pé.
-- Não ouse me interromper, pois tenho apenas algumas palavras para lhe dizer: Pegue o seu filho e saia desta casa, imediatamente!
-- Mas... mas... eu... minhas coisas...
-- As suas malas e as do seu filho serão enviadas ainda hoje. Mas não quero que demore aqui nem o tempo de juntar seus trapos! Agora saia!
-- A senhora... não pode...
Madeleine sorriu e encerrou a conversa.
-- Não quero ouvir a sua voz! Não quero conversar com você. Apenas suma da minha casa! E não volte mais.
-- Preciso... ao menos... pegar os meus documentos!
-- Que seja!
Júlia apertou o filho nos braços e se dirigiu à porta. Madeleine afastou-se para que ela passasse. Seguiu-a até que ela subisse as escadas e fosse para o quarto. Esperou-a até que ela descesse e foi com ela até a porta da rua. Queria se certificar de que ela fosse mesmo embora.
Júlia, completamente transtornada, chamou o motorista e entrou no carro com o filho nos braços. Durante todo o percurso até a casa de Helena, estava em estado de choque. Só foi ter uma exata noção do que realmente havia acontecido, quando a prima chegou às pressas do escritório.
Quando a empregada de Helena atendeu à porta e viu o estado de Júlia, ligou imediatamente para a patroa.
-- Júlia! O que aconteceu desta vez? -- Perguntou Helena lhe entregando um copo de água com açúcar.
As mãos de Júlia tremiam, e ela mal conseguiu beber a água.
-- A... A mãe... de Sylvia... Ela... ela me... expul... sou...
Helena arregalou os olhos. Não podia acreditar no que estava ouvindo.
-- Como? A dona Madeleine, está aqui? Aqui no Brasil?
Júlia confirmou com a cabeça.
-- Mas como? Que dia chegou?
-- Não sei. Só sei... que... que ela... entrou na... sala de música e... e me mandou... embora.
-- E dona Cláudia? Não fez nada para impedi-la?
-- Não sei. Nem... sei se... dona Cláudia sabia... que ela havia chegado! Foi... no horário em que... ela fica cuidando... das plantas.
-- Ela não lhe viu saindo, Júlia?
-- A mulher... nem me permitiu... fazer as malas.
Helena olhou para a prima e ficou morrendo de dó. Pois ela estava toda trêmula e com a voz entrecortada. Realmente, essa família não havia feito bem a Júlia. Talvez fosse mesmo melhor manter-se distante de todos eles.
Helena, chocada, levantou-se e se dirigiu ao telefone. Tinha certeza de que Sylvia não estava sabendo de nada, caso contrário, não teria viajado. Lentamente discou o número da sala de Antônio. Sylvia precisava ser avisada, imediatamente.
Antônio ouviu o que a esposa disse sem ousar interrompê-la. Ficou transtornado. Depois que Helena desligou ele discou para a fazenda em que Sylvia estava.
***************
Auguste, por traz de uma cortina de uma das janelas da sala principal, viu quando Júlia entrou no carro. Enxugou uma ou duas lágrimas que transbordaram dos olhos e correu para o jardim. Se a madame quisesse colocá-lo na rua, tudo bem, mas tinha que informar dona Cláudia do que estava acontecendo.
Aproximou-se da mulher que estava agachada, revolvendo um canteiro com um ancinho e pigarreou. A bondosa senhora olhou-o, e vendo-o com os olhos vermelhos, levantou-se.
-- O que houve, Auguste? Nunca o vi com lágrimas nos olhos.
-- A madame, dona Cláudia. Ela está aqui...
-- Que madame, Auguste? Seja claro, está me deixando preocupada.
-- A senhora Madeleine...
Cláudia deixou o ancinho cair no chão. Pensou imediatamente em Júlia.
-- Madeleine está aqui? Mas, como? O que ela veio fazer aqui sem avisar?
-- Pois é. Chegou de surpresa e... e dona Sylvia está viajando... Por isso achei estranho...
-- Ela, por acaso, viu Júlia?
Auguste apenas acenou com a cabeça e secou mais algumas lágrimas.
-- Meu Deus! Isso não podia ter acontecido! Vou ver como Júlia está. Espero que ela não tenha ofendido a menina. -- Disse já caminhando em direção à casa.
Auguste tocou-lhe o ombro, levemente.
-- Dona Júlia já foi embora... A madame a expulsou...
Cláudia parou e olhou-o com os olhos arregalados.
-- O que disse?
-- A madame a expulsou... e...
-- Por que não me avisou, Auguste? Devia ter me chamado, assim que ela chegou!
-- Ela me proibiu... Fiquei sem saber o que fazer. E, nunca imaginei que... que ela fosse expulsar a moça!
Cláudia saiu apressada em direção à casa. Iria estrangular Madeleine se fosse preciso. Entrou e foi direto ao quarto em que Margareth lhe indicou. Abriu a porta sem bater, provocando um susto em Madeleine que estava deitada.
-- Quem pensa que é para expulsar minha hóspede?
A Francesa levantou-se e encarou a cunhada. Tremia, mas fez tudo para manter o controle. Não queria que ela percebesse o quanto a temia.
-- Sua hóspede? Devia respeitar a minha casa, Cláudia! Como teve coragem de abri as portas da minha casa, da casa da minha filha, para receber a amante do meu marido?
-- Da sua casa? Eu ouvi bem? Em primeiro lugar esta casa também é minha, pois pertenceu ao meu pai. Se você não sabe, eu não vendi a minha parte a Antenor, portanto, ela também me pertence. Você, por sua vez, não tem nada aqui. Esqueceu-se que abriu mão em nome de Sylvia?
-- Não importa de quem seja a casa, Cláudia. Mas, como pode fazer uma coisa dessas! Como pode impor a presença dessa mulher à minha filha? Tenho... tenho certeza que Sylvia só a aceitou aqui para não lhe contrariar.
Cláudia sorriu e meneou a cabeça, depois perguntou:
-- Como ficou sabendo que ela estava aqui, Madeleine?
A francesa respirou fundo e respondeu.
-- Eu não sabia. Quis fazer uma surpresa para Sylvia. Estava com saudades da minha filha e quando... quando chego aqui, me deparo com ela comodamente instalada como moradora! Isso é um absurdo! Uma afronta ao bom nome da nossa família!
Dona Cláudia aproximou-se da cunhada e olhou-a bem dentro dos olhos.
-- Diga-me a verdade, como ficou sabendo?
Madeleine sustentou o olhar.
-- Eu já disse que não sabia. Como ia ficar sabendo que esta mulher estava morando aqui, Cláudia?
-- Simples. Augusto pode muito bem ter lhe contado.
Madeleine manteve a mesma expressão de frieza, quando na realidade, por dentro estava fervendo de raiva e receio da cunhada. Cláudia sempre exercera sobre ela um domínio muito grande, talvez porque sempre viu Antenor obedecer cegamente a irmã.
-- A última vez que vi Augusto foi no enterro de Antenor, Cláudia. Você sabe muito bem que não simpatizo muito com aquele rapaz. Ele não costuma frequentar a minha casa e eu muito menos, a dele.
Dona Cláudia fingiu aceitar o argumento da cunhada. Realmente sempre soube que Madeleine não aprovava o envolvimento de Sylvia com o português. Achava que a filha merecia coisa melhor. Opinião, aliás, que toda a família compartilhava.
-- Então você resolveu fazer uma surpresa para Sylvia! Inacreditável!
-- Faz quase dois anos que não vejo minha filha! Você pode não acreditar, mas, ela é tudo para mim.
Dona Cláudia apenas acenou com a cabeça e saiu do quarto. Iria imediatamente atrás de Júlia, mas antes disso ligou para a casa de Helena, pois tinha certeza de que era lá que ela se encontrava.
**************
Pousei o fone no gancho do telefone e, sem acreditar, no que Antônio acabara de me informar, deixei meu corpo desabar num sofá. Estava atônita! Nunca imaginei que minha mãe fosse chegar assim de surpresa e expulsar Júlia.
Saindo do torpor em que me encontrava, tomei providências para voltar o mais rápido possível para São Paulo.
*************
Dona Cláudia encontrou Júlia sentada numa poltrona no quarto que costumava ficar, quando se hospedava na casa de Helena. Seus olhos ainda estavam vermelhos.
-- Você vai voltar comigo, Júlia! Se tem alguém que deve sair de lá, é ela!
-- De forma nenhuma, dona Cláudia! A casa é dela. É da filha dela. Eu a entendo. Ela agiu no seu direito de mulher casada.
-- Ela não tinha o direito de lhe expulsar.
Júlia encarou a tia de seu filho e disse num desprendimento que impressionou dona Cláudia.
-- Ela tinha todo o direito, dona Cláudia. E, devo admitir que foi educada, fina para me colocar para fora. Em nenhum momento, alterou a voz para falar comigo...
-- Não pense que ela falou assim com você porque ela é boazinha, Júlia. Ela se considera tão acima dos mortais, que nunca, jamais, vai perder a pose ao se dirigir a quem quer que seja. Ela apenas não lhe considerou digna de um mínimo de destempero da parte dela. Desculpe-me falar assim com você, mas não se iluda com Madeleine.
-- Eu sei disso, dona Cláudia. Eu entendo. Mas a realidade é que eu fui a outra na vida do marido dela. Independente das circunstâncias, eu era a amante e ela a esposa traída. É mais do que compreensível a atitude dela.
Helena entrou no quarto e, depois de ouvir parte da conversa, se pronunciou:
-- Também acho melhor Júlia não voltar para lá, dona Cláudia. Pelo menos enquanto dona Madeleine estiver aqui no Brasil. Ela tomará isso como uma afronta, e também será uma situação muito difícil para Sylvia. Afinal, a mulher é mãe dela. E, por outro lado, Júlia não precisa sofrer mais nenhuma humilhação.
Dona Cláudia percebeu que Helena estava profundamente chateada com a situação. Não podia deixar de lhe dar razão, afinal, a prima sofreu demais desde que Antenor apareceu na vida dela.
-- Está certo, Helena. Quando Sylvia chegar, ela saberá o que fazer.
-- Eu só lhe peço uma coisa, dona Cláudia -- Pediu Júlia -- Não pressione Sylvia a tomar nenhuma atitude contra a mãe dela, por favor. É melhor deixar as coisas como estão.
Dona Cláudia retornou à chácara e ficou aguardando o retorno da sobrinha.
***************
No outro dia à noite, atravessei os portões da chácara, e, assim que o carro parou em frente à casa, desci e subi apressadamente as escadas. Auguste me recebeu e me acompanhou até o escritório.
-- Diga a minha mãe que quero vê-la agora, Auguste!
Eu estava ofegante e trêmula. Não conseguia respirar direito. Sentia vontade de esganar Madeleine.
Depois de intermináveis minutos, minha mãe entrou no escritório com os passos lentos e tranquilos. Sorriu para mim e abriu os braços.
-- Minha filha! Estava com saudades!
-- Mamãe, por favor! Não estou com disposição para teatrinhos. Posso saber o que a senhora veio fazer aqui, sem me avisar?
Ela abaixou os braços e aproximou-se da mesa colocando as duas mãos espalmadas sobre a mesma.
-- Não posso simplesmente fazer uma surpresa para a minha única filha? Não posso sentir saudades de você?
Sorri com sarcasmo.
-- Mamãe! Por favor! Pare de fingir e me diga por que veio.
Ela ficou séria e sentou-se numa cadeira em frente à mesa.
-- Vim lhe ver minha filha, por menos que você acredite é a verdade. Tenho me sentido muito sozinha depois que você se mudou para cá. Mas, depois que cheguei aqui me arrependi de ter vindo. -- Olhou para mim e, com um tom acusador, me alfinetou -- Nunca imaginei que fosse encontrar na minha casa, aquela mulher. Posso saber o que ela estava fazendo aqui, Sylvia?
Senti o coração disparar no peito. Não teria como fugir, minha mãe deve ter suspeitado da verdade assim que bateu os olhos em Júlia.
-- Não vai me dizer? -- Olhou bem firme nos meus olhos.
-- Meu pai... pediu no testamento que... que eu e meu irmão morássemos sob o mesmo... teto, então...
Ela soltou uma risada e esmurrou a mesa. Perdeu o controle.
-- Aquele desgraçado! Mesmo depois de morto, ainda impondo suas vontades. Deve ter dedo de Cláudia nessa história.
-- Deixe tia Cláudia fora disso! E, além do mais, ele apenas sugeriu, não fez nenhuma imposição.
-- Ah! Então quer dizer que você, muito prontamente, resolveu atender ao pedido do seu pai. Muito conveniente manter sob o mesmo teto, o irmãozinho, cuja mãe é uma mulher como ela! Eu sei muito bem porque você atendeu ao pedido do seu pai, Sylvia! -- Secou os olhos. Já estava chorando -- Com certeza, não foi o amor fraternal que prevaleceu.
-- Você não sabe do que está falando!
-- Quando você me pediu aquelas fotos, eu tive medo, mas quando a vi de perto, eu tive certeza! Minha filha! Por que, minha filha? Por que você tem essa... essa coisa... essa tendência...? Eu pensei que tivesse deixado esses desejos enterrados naquele colégio...
Eu olhei para ela e retruquei com os dentes trincados.
-- Pare! Pare com esse seu preconceito, mamãe! -- Fechei os olhos, inspirei fundo -- Quer saber? Eu me apaixonei por ela, assim que a vi! Está satisfeita? Era isso que queria ouvir? Pois bem, está dito. E nada, nem ninguém vai me afastar dela, está entendendo?
Ela arregalou os olhos. Encarou-me e, já temendo a resposta, perguntou:
-- Vocês... vocês já...?
Novamente esbocei um sorriso um tanto debochado.
-- O que a senhora acha?
-- Eu... eu não acredito! Minha filha! Isso é um... é um horror! Ela seduziu seu pai... e, como ele morreu, seduziu você! Meu Deus!
O silencio reinou e depois de um ou dois minutos, minha mãe se levantou e, sem dizer mais nenhuma palavra, saiu do escritório.
Eu me afundei em minha cadeira e dei vazão ao pranto.
***************
Depois que minha mãe saiu, eu fiquei por um bom tempo no gabinete deixando as lágrimas escorrerem. Só me dei conta do horário, quando Margareth entrou com um lanche.
-- Minha filha, trouxe uma merendinha, pois imagino que esteja com fome, pelo adiantado da hora.
-- Obrigada Margareth! Pode colocar aqui em cima da mesa.
Ela fez o que eu pedi e se retirou. Olhei para a bandeja e meu estômago revirou, mas eu tinha que me forçar a comer. Servi um pouco de suco e tomei um pequeno gole. Minha garganta travou. Pousei novamente o copo na bandeja. Recostei no espaldar da cadeira e fechei os olhos.
Júlia havia sido expulsa da minha casa por minha mãe e eu não podia, simplesmente, trazê-la de volta. Além do fato de ela não querer voltar, não podia empurrá-la garganta a baixo da senhora Madeleine. Seria uma afronta. Eu estaria magoando-a profundamente e, analisando pelo lado dela, ela tinha suas razões para não querer Júlia em casa. Eu me encontrava numa situação por demais crítica. Estava entre a cruz e a espada. Mas, o meu maior medo, era de que Júlia não compreendesse o meu lado e, simplesmente, resolvesse se manter, definitivamente, afastada de mim. Iria falar com ela no outro dia. A vontade era de ir imediatamente, mas eu teria que conter os meus impulsos.
Eu estava louca de vontade de vê-la, mas, também, morrendo de vergonha. Como olhar nos olhos dela, depois do que minha mãe havia feito? Ela havia sido humilhada, meu Deus! Eu estava me sentindo impotente, fracassada, fraca. A mulher que eu amava havia sido expulsa da minha casa por minha mãe, e eu não podia, simplesmente, pegá-la pela mão e trazê-la de volta. A única alternativa seria me mudar para a cidade e convidá-la a morar comigo, mas isso ela não iria aceitar, porque eu estava noiva. Augusto! Só em me lembrar dele, sentia uma agonia no peito. O meu noivo representava um enorme fardo na minha vida. Eu sei que podia simplesmente me livrar dele, rompendo o noivado, e deixá-lo ao sabor da sorte, mas eu temia que ele atentasse contra a própria vida, como já havia feito antes. Não queria, de jeito nenhum, carregar essa culpa nas minhas costas.
Havia dito a Augusto que a cerimônia seria realizada aqui no Brasil, mas andei pensando, e decidi que o melhor seria mesmo em Portugal, pois não teria o aborrecimento de receber a insuportável família dele e, também, imagino que seria muito doloroso para Júlia. Quando eu tivesse em mãos toda a papelada da herança de Augusto, pediria ao meu advogado para analisar e, imediatamente, daria entrada nos papéis pedindo a separação.
O serviço na empresa me ocupava todo o tempo e, agora com o que minha mãe havia feito, eu estava me sentindo no fundo do poço. Se eu pudesse simplesmente desaparecer, abrir os olhos e perceber que tudo isso não passara de um pesadelo, que meu pai ainda estava vivo, que eu ainda continuava com minha vidinha tranquila em Paris, que não havia conhecido Júlia. Mas, a realidade era outra. Não que não tivesse gostado de conhecê-la. Ela foi a melhor coisa que me aconteceu, mas, junto com as delícias de tê-la, vinha um volume enorme de sofrimento, meu Deus!
Quando resolvi me recolher, já passava das duas da manhã. Tomei uma chuveirada rápida e me joguei na cama. Nem me dei ao trabalho de vestir uma roupa.
Estava tão cansada que só fui levantar bem depois das sete horas. Tomei um café rápido e fui para a empresa. Tinha uma reunião importante para as nove horas, e minha cabeça estava totalmente dispersa da pauta. Não conseguia pensar em mais nada que não fosse a conversa que teria com Júlia.
Por volta das 16 horas, eu toquei a campainha da casa de Helena. Júlia continuava na casa da prima, talvez por estar demais abalada para ficar sozinha.
A espera parecia acelerar ainda mais o meu coração. Como eu, diante do meu nervosismo, não estava conseguindo respirar direito, sentia uma leve tontura. Depois, do que para mim foi um tempo interminável, a porta foi aberta. Uma mulher, que logo identifiquei como uma empregada da casa, olhou-me interrogativamente.
-- Eu gostaria de falar com Júlia.
-- Aguarde um instante que vou chamá-la.
A moça não me convidou a entrar, e eu fiquei parada na varanda que circundava a frente da casa de Helena.
Alguns minutos depois, Júlia apareceu.
Ficamos nos olhando num silêncio constrangedor. Todas as palavras me fugiram. Eu me senti desprovida de qualquer conhecimento verbal. Nada me vinha à cabeça. Estava muda, estática, desprovida de qualquer capacidade de me pronunciar. Ela, por sua vez, me olhava como se a minha presença ali fosse algo inacreditável.
Depois de mais um tempo, fazendo um grande esforço, eu pigarreei e consegui articular um cumprimento.
-- Boa... Boa tarde Júlia!
Ela, parecendo despertar, esboçou um leve sorriso e se afastou da porta para me dar passagem.
-- É... Boa tarde! En...tre!
Já na sala, ela me convidou a sentar.
-- Eu prefiro falar com você... Se for possível com... com mais privacidade.
Ali na sala, a moça ou outro serviçal, poderiam, vez ou outra, circular, e eu não queria expor o assunto ao conhecimento de outras pessoas.
Ela concordou com um gesto de cabeça e me levou para uma pequena sala que parecia ser um escritório.
***************
-- Você não tinha o direito de chegar aqui Madeleine, e expulsar a moça, como você fez!
-- Engraçado! Eu sou a esposa traída e todo mundo defende a amante, a prostituta.
-- Não fale assim dela! Você não faz ideia do que o meu irmão fez a essa menina.
Dona Cláudia estava visivelmente contrariada com o acontecido.
-- Não me venha com essa história de que ela é uma vítima, Cláudia. Meu detetive me disse a mesma coisa.
-- Pois é, mas imagino que ele não tenha tido acesso às informações com detalhes. Vou lhe contar.
Madeleine deu um pulo da cadeira e levantou-se abruptamente para sair da sala, mas dona Cláudia foi mais rápida e a segurou pelo braço.
-- Você vai me ouvir, queira ou não. Já estou farta desse seu jeitinho autoritário. Você sabe que comigo nunca funcionou, e não vai ser agora.
A francesa fechou a cara e voltou a se sentar.
-- Está bem, Cláudia. Seja feita a sua vontade, como sempre, não é mesmo? Você sempre mandou e desmandou em Antenor e sempre quis fazer o mesmo comigo!
Dona Cláudia meneou a cabeça e deu sorriso de enfado.
-- Nunca tive a pretensão de mandar e desmandar no meu irmão, muito menos em você. Mas, vamos ao que interessa.
Dona Cláudia começou a contar para a cunhada toda a história de vida de Júlia e, principalmente, o que o irmão havia feito a ela. Madeleine ouviu calada, e, lutando contra os próprios sentimentos, terminou por se condoer da situação da moça. Na realidade, o que a impedia de admitir que Júlia não tinha culpa na decisão de Antenor em pedir a separação, era o seu orgulho ferido, afinal, como ela mesma dizia, ela era uma Bordeaux.
Quando dona Cláudia finalizou, ela olhou para a cunhada e disse.
-- Seu irmão, bem como o pai dela agiram como uns canalhas, não há como negar. Mas, não vejo razão para ela morar aqui. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Apesar das circunstâncias, ela foi amante dele, e esta casa também é minha, mesmo que eu nunca tenha morado aqui, uma vez que ele era meu marido. E, para complicar mais as coisas, você já deve saber, Sylvia caiu de amores por ela.
Dona Cláudia continuou calada.
-- Eu pensei que minha filha tivesse deixado essas tendências, lá naquele maldito colégio. Pensei que ela tivesse se curado...
-- Pelo amor de Deus, Madeleine! Se curado! Isso não é doença. Você tem que aceitar, nossa Sylvinha é homossexual, nasceu assim e assim vai morrer.
-- Claro que ela não nasceu assim, Cláudia! Onde já se viu um absurdo desses! Ninguém nasce assim! Foi aquela professora, que não consegui descobrir quem era, a responsável. Teria acabado com ela, por ter desvirtuado minha única filha. Aquela maldita desviou minha garotinha do bom caminho.
-- Madeleine, Madeleine! Eu lhe conheço tão bem! Sei que faz essa pose de durona, mas no fundo tem um bom coração. Aceite a condição de Sylvia e abra os braços para a sua filha! Desde sempre você a manteve distante, não entendo o porquê. Sylvia sempre foi uma menina meiga, doce, gentil. -- Olhou para a cunhada e admirou mais uma vez a beleza dela. Os anos estavam passando e ela continuava linda, magnífica. -- Cortava-me o coração, quando ela corria para os seus braços, e você mal a abraçava, para não amassar a sua roupa ou não desfazer o penteado!
Madeleine secou uma ou duas lágrimas.
-- Por favor, Cláudia, pare! Eu reconheço que deveria ter sido mais presente na vida dela, mas agora... agora já é tarde!
Cláudia aproximou-se e tocou-lhe o ombro.
-- Não! Nunca é tarde! Ela sempre será sua filha! E tenho certeza que ela estará sempre esperando que você dê um passo na direção dela, Madeleine!
A francesa levantou-se e circulou pela sala, como se pensando no que dizer. Depois, se virou para a cunhada, e perguntou:
-- Você aprova o envolvimento de Sylvia com essa mulher, Cláudia? Isso é um absurdo!
A cunhada apoiou melhor as costas na cadeira e mediu a francesa de cima a baixo. Depois, numa voz calma e amável, respondeu.
-- Aprovo. Aprovo sim. Se dependesse de mim, Sylvia romperia esse noivado com aquele rapaz e ficaria com Júlia de uma vez por todas.
Madeleine soprou o ar dos pulmões e se jogou novamente em outra cadeira.
-- Eu não entendo! Como você, sendo tia, pode ser a favor de uma coisa dessas! Ela foi amante do pai, é mãe do irmão! É quase um incesto, Cláudia, sem contar que não é uma relação normal. Meu Deus, onde já se viu duas mulheres...!
-- Madeleine! Se você se permitisse conhecer Júlia, veria que pessoa maravilhosa ela é. Um ser humano raro, belíssimo, por dentro e por fora!
Madeleine suspirou num lamento.
-- Mas, com certeza, não foi a beleza interior dela que enfeitiçou o meu marido e agora a minha filha. -- Apertou os olhos e meneou a cabeça --Ela... ela possui uma beleza rara, diferente. Faria sucesso nas passarelas em Paris! Inegavelmente, ela é muito bonita! É belíssima! E o filho também!
Dona Cláudia sorriu ao se lembrar do sobrinho.
-- Realmente, meu sobrinho é lindíssimo!
Madeleine novamente fechou o semblante, ao se dar conta de que estava embarcando naquela conversa melosa sobre Júlia.
**************
Júlia pousou os olhos em mim e ficou esperando que eu me pronunciasse. Eu inspirei fundo tentando encontrar a melhor maneira de abordar o assunto. Olhei-a fixamente, e a vontade de correr para os seus braços quis me dominar, mas eu me segurei e tratei logo dar início à conversa.
-- É... Em primeiro lugar, quero... quero me desculpar pelo... pelo que minha mãe fez... Eu... eu estou muito envergonhada...
Ela estava sentada numa poltrona, abaixou as vistas e tamborilou os dedos sobre os braços do móvel. Depois, ergueu as vistas na minha direção e falou com uma voz diferente. Senti falta do calor e do tom carinhoso, que mesmo quando ela estava se mantendo distante de mim, revestia sua voz. Mantinha o mesmo tom suave, doce, mas alguma coisa havia mudado. Aquilo me estraçalhou por dentro, e o medo de que ela decidisse se afastar definitivamente, fincou as garras em mim. Até o seu olhar estava diferente: a ternura, já tão minha conhecida ainda estava lá, mas mesclada com uma certa frieza, se é que poderia classificar assim. Não sei bem definir o que via naquele olhar, o certo é que o brilho de alegria que aprendi a amar naquele lindo mar azul, não estava mais lá.
A sua voz ressoou dolorosamente nos meus ouvidos, e eu não consegui conter a lágrima, que desde que cheguei, teimava em romper.
-- Não há o que desculpar, Sylvia! Sua mãe agiu como qualquer mulher na condição dela faria. -- Suspirou profundamente e, de repente, eu me senti inconveniente e indesejada ali -- Eu é que não deveria estar lá. Nunca deveria ter aceitado o convite de vocês... Nunca! Foi um erro terrível!- Pigarreou, como se as palavras custassem a sair -- Sua mãe está certa, eu fui amante do seu pai enquanto ele ainda era casado...
Eu não me contive e a interrompi.
-- Mas você foi obrigada a isso...
-- Eu sei. Mas as circunstâncias não mudam o fato. Eu era a amante, a outra, entende?
Sua voz ficou de repente irritada.
-- Júlia..., eu... eu... desculpe... eu...
Ela sorriu e novamente suspirou.
-- Não precisa se desculpar, você não me fez nada! Você nunca me fez mal algum. Você foi algo muito bom que me aconteceu. É uma pena que seja filha de Antenor...
Aquilo me congelou por dentro. Minha garganta travou. O meu coração saltitou ainda mais. Tive medo de interrompê-la e, ao mesmo tempo, de que ela continuasse falando.
-- É uma pena... mas, não era mesmo para dar certo...
Eu senti um baque no peito.
-- O... o que quer dizer... Júlia?
Ela me olhou bem dentro dos olhos, e eu me senti morrer quando ouvi as palavras circulando em meus ouvidos e invadindo meu cérebro.
-- Nunca deveríamos ter deixado esse nosso... esse nosso envolvimento chegar aonde chegou, Sylvia. Ou melhor, nunca deveria ter começado. Já nasceu fadado ao fracasso!
-- Não! Tudo vai dar certo..., meu amor! É só... é só você ter um pouco mais... um pouco mais de paciência...
Ela se levantou e aproximou-se do sofá em que eu estava e se sentou ao meu lado. Quando senti seu perfume e o toque das suas mãos nas minhas, me arrepiei inteira.
-- Não vai dar certo, Sylvia! Vamos encarar a realidade. Sempre haverá sua mãe e com ela, não há como competir. Ela jamais aceitará esse tipo de relação, pelo menos não comigo.
Eu não me contive e deixei o pranto me dominar. Cobri o rosto com as duas mãos e chorei feito uma criança, ali, na frente dela. Ela ficou um tempo só me olhando em silêncio, depois colocou um braço no meu ombro e me puxou para um abraço.
-- Não chore!
Eu me abracei a ela chorando ainda mais.
-- Por favor, não se afaste de mim! Por... favor, Júlia! Eu... eu não vou supor...tar!
-- Não fique assim! É o melhor a se fazer, Sylvia! Nunca daria certo. -- Sua voz também já estava entrecortada pelo choro.
-- Eu... eu não sei... viver sem você...! Eu vou... morrer se... se me deixar!
-- Sabe sim! Claro que sabe.
Eu me afastei um pouco dos seus braços, a olhei nos olhos e perguntei:
-- Você saberá viver sem mim?
-- Sylvia, eu...
Segurei seu rosto entre minhas mãos.
-- Diga-me, quero a verdade! Saberá... saberá viver sem mim? - Estava apavorada, com medo da resposta.
Ela ficou me olhando, e sua boca tremia na tentativa de reprimir o choro.
-- Eu.. eu saberei... sim! Claro... claro que saberei... Vivi a minha vida inteira sem você... Então... então não serão esses... esses quase dois anos que...
Eu a interrompi, soltando-a bruscamente.
-- Mentira! Você está mentindo! É uma péssima mentirosa!
-- Sylvia!
-- Está tentando ser cruel, para... para que eu me afaste...
Eu me levantei, peguei minha bolsa disposta a sair dali e sumir no mundo. Ela me segurou pelo braço.
-- Não vá ainda! Espere!
Ela estava bem próxima a mim. Podia sentir o calor do seu corpo. Aproximei mais um passo e nossos corpos ficaram quase colados.
-- Acalme-se. Não saia assim. Você está muito nervosa! Eu... eu sinto muito. Está me doendo muito, mas... mas é melhor que... que nos afastemos...
Eu estava perto da porta e dei um passo para traz, pois, a vontade de tomá-la nos meus braços estava me queimando e me dando vertigens, mas o medo da reação dela me paralisava. Ela, por sua vez, aproximou-se mais. Senti minhas costas batendo na madeira. Eu estava tonta. Tonta de dor, de desejo, de amor.
-- Não faça isso com a gente, Júlia! Eu não vou... conseguir sobreviver... sem você!
Ela não disse mais nada. Ficou apenas me olhando. Depois se aproximou mais e colou seu corpo ao meu. A contração retesou meu ventre e senti minha calcinha molhar. Sem pensar em mais nada, deixei a bolsa cair no chão e a puxei para os meus braços. Ela me enlaçou pelo pescoço e tomou minha boca com gula. Senti sua língua macia e quente explorar a minha. Abandonei-me em sua boca deliciosa. Minhas mãos adquiriram vida própria e tomaram conta do seu corpo. O beijo foi se tornando mais e mais profundo, intenso. Ela gemia deliciosamente e pressionava o corpo ao meu como se quisesse entrar em mim.
-- Meu amor! Eu... eu te amo!
Sussurrou dentro da minha boca e bastou isso para que eu perdesse completamente a noção de onde estava. Empurrei-a com cuidado para o tapete no chão, depois de me certificar de que a porta estava trancada e fui tirando seu vestido. Em fração de segundos deixei-a nua. Afastei-me e admirei seu corpo.
-- Eu lhe imploro... não me impeça de lhe amar, por favor!
Ela me sorriu e me estendeu os braços. Eu tirei a minha blusa e mergulhei nela, deitei por cima daquele corpo magnífico e pus-me a beijá-lo por inteiro. Estava louca de saudade e, entre lágrimas e juras de amor, eu a amei, sem saber que aquela seria a nossa última vez, até eu resolver a minha vida de uma vez por todas.
Provei o sabor divino dos seus seios. A sensação de sentir em meus lábios e língua, aqueles biquinhos cheios de tesão, era delirante. Desci com os lábios por toda a extensão de sua barriga lisinha e firme, deixando as marcas dos meus beijos e leves mordidas e ch*pões. Passeei minha língua pelas suas costas, bumbum e pernas. Sentia uma fome insana daquela mulher. Ela era por demais deliciosa. Beijei delicadamente seu ventre e fui, vagarosamente, direcionando meus lábios e língua para a sua fonte de prazer. Estava sequiosa para sentir novamente seu gosto. Precisava dela como se fosse um elixir para me manter viva.
Pedi a ela que se sentasse no sofá. Depois que ela se instalou adequadamente, me posicionei entre suas pernas, ficando com os joelhos no chão. Ela recostou-se melhor, abriu generosamente as pernas e me ofertou a delícia de todas as delicias. Ali, no meio daquelas pernas, estava a minha fraqueza, a minha loucura, o néctar que eu precisava para me manter viva. Como sobreviver sem aquela preciosidade? Sem poder sentir nos meus lábios aquele sabor, aquela textura, aquele cheiro que me invadia o cérebro e me levava ao paraíso? Sorri inebriada de desejo e beijei, delicadamente, aquele meu bem mais precioso. Ela gem*u ao sentir os meus lábios. Ela estava toda encharcada e eu me dediquei, vagarosa e suavemente, à inebriante tarefa de lhe dar prazer. Queria usufruir o máximo do êxtase de estar entre suas pernas. Acomodei-me melhor e me pus a passar a língua, suavemente, por toda a extensão de sua vagin* que estava vermelha, quente e pulsando de desejo. Beijei seu clit*ris demoradamente e ela sussurrou com a voz embargada de tesão.
-- Meu amor... Aiiii! Humm! Está delicioso! Que saudade! Que saudade de você..., dessa língua deliciosa!
-- Gostosa...! Você está deliciosa, meu amor! Abra mais essas pernas para mim..., abra!
Ela me obedeceu e se entregou inteira em minha boca. Penetrei a língua o máximo que eu pude e dei início ao processo de vai e vem, o que fez com que ela começasse a remexer os quadris, deliciosamente. Ela ficava tão solta, tão fêmea e fogosa, que me deixava mais apaixonada do que já estava.
-- Entre mais...! Ai meu Deus! Que gostoso! Sylvia! Entra mais em mim..., amor!
Meu Deus! Ouvir aquela voz dengosa e cheia de tesão...! Era loucura demais.
Coloquei dois dedos e gemi ao senti as contrações internas os morderem. Comecei o vai e vem enquanto me pus a ch*par e massagear o seu clit*ris com minha língua. Era maravilhoso estar ali, tomando-a, possuindo-a daquele jeito. Ela toda entregue, toda aberta para mim, me ofertando todo o seu prazer.
Alguns minutos depois ela explodiu em minha boca, derramando o jato quente e delicioso. Abandonei-me ali, sentindo todos os seus espasmos e bebendo o seu prazer até ela me chamar com a voz ainda mais dengosa.
-- Venha cá!
Eu obedeci e me deitei juntinho dela no sofá. Abracei-a, e ela me apertou.
Depois de ficarmos um longo tempo em silêncio, descansando do amor e concentradas no prazer de estar nos braços uma da outra, ela falou baixinho:
-- Eu te amo mais que tudo nessa vida! Mais do que a mim mesma! -- Olhou-me nos olhos e beijou meus lábios -- Nunca se esqueça disso.
Eu me lembrei do que ela havia dito antes e senti que ela estava se despedindo de mim. Apertei-a mais em meus braços e sentenciei.
-- Júlia, pode passar toda uma vida; pode você fugir de mim, se esconder, me rejeitar ou deixar de me amar, eu nunca, ouça bem, eu nunca vou desistir de você.
-- Nunca vou deixar de lhe amar, esteja certa disso.
-- Mas não quer continuar...
-- Já conversamos sobre isso...
-- Eu sei. Vou resolver a minha vida, meu amor! E minha mãe não será um empecilho. Ela sempre viverá em Paris e, mesmo que vivesse aqui, eu não permitiria que ela atrapalhasse a nossa vida.
Ela se aconchegou mais a mim e fechou os olhos e disse mais uma vez.
-- Eu te amo. Você é a minha vida!
Alguns dias depois, eu fiquei sabendo que Júlia viajara para Mucugê, com a intenção de morar por tempo indeterminado com a tia.
Fim do capítulo
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LuBraga
Em: 09/09/2018
Tem que ser um ser fenomenal pra passar por todo esse tormento e ainda assim conseguir fazer valer o que se sente. Nossa, é um misto de pesadelo (Madelaine-Augusto) e paraíso (Julia) e só tendo tutano pra aguentar essa turbulência...e a Sylvia tem!
Nicole, danadinha...maravilhoso o fim deste capítulo e eu particularmente tomei a liberdade de lê-lo ouvindo essa canção : Hold me in your arms tonight (Teddy Pendergrass & Whitney Houston).
Amando cada linha que você escreve deste conto que me encanta e arrebata profundamente me deixando por fim, sempre com um gostinho de quero mais!rsrs
Beijo e ótima semana.
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