Capítulo 60 -- Estarei Esperando
A ILHA DO FALCÃO -- CAPÍTULO 60
Estarei Esperando
Enquanto lutava para colocar seus pensamentos em ordem e encontrar uma forma de ajudar a sua amiga, Sofia se sentou.
-- Eu já sei o que fazer -- ela deu um soco no braço da poltrona. Estava preocupada com Andreia, e tentou sorrir para animá-la -- Vamos fugir daqui, hoje mesmo.
-- Fugir? -- Andreia repetiu, virando-se e olhando para ela -- Mas, eu não fiz nada para ter que fugir! O que eu quero é ir até o hospital em Florianópolis -- Andreia queria ver Natasha. Ela estava aflita por notícias.
-- Encare a realidade, amiga. Sei que pode soar um pouco louco, mas farejo uma trapaça a distância.
Dona Valgina se levantou. Caminhou até a porta entreaberta e fechou-a.
-- A sua amiga tem razão, dona Andreia. A primeira pessoa a ser investigada será a senhora.
-- Por que tudo isto está começando a parecer surreal para mim? -- Andreia perguntou, levantando-se e caminhando pela sala da casa de dona Valgina, parando para olhar alguns porta-retratos -- A vida estava boa demais para ser verdade.
-- Pois é, justo agora que eu e a doutora estávamos começando a nos entender.
Andreia deixou cair os ombros. Um gesto que demonstrava o tamanho de seu pesar.
-- Não quero atrapalhar a sua vida, Sofia. Já basta a minha.
-- Deixa de besteira. Somos amigas ou não somos?
-- Somos -- respondeu Andreia com um sorrindo fraco.
-- Então! -- Sofia abraçou a amiga com carinhos.
Andreia agradeceu a Deus por ela existir. Quando chegasse a hora do bebê nascer, iria sem dúvida precisar mais do que nunca de Sofia, com seu entusiasmo, seu temperamento forte, seu bom humor e sua alegria.
-- O que faremos agora? -- Andreia sentou-se, as mãos postas no colo. Enfim, convenceu-se da dura realidade.
-- Tem um barco que sai da marina as seis horas. A gente passa a noite em Florianópolis e amanhã pegamos um avião com destino ao nosso refúgio.
Andreia ficou sentada por mais um momento, então passou uma das mãos sobre os olhos marejados e voltou a se levantar.
-- Só vou aceitar porque não quero que o meu bebê passe por isso -- disse com tristeza. Então olhou para Sofia -- Antes de partir de Santa Catarina, preciso fazer uma coisa.
-- O que? -- perguntou Sofia, desconfiada.
-- Preciso ver a Natasha. Não vou embora sem vê-la e ter a certeza de que ela está bem.
Sofia hesitou por um momento, então assentiu, compreendendo a razão da angustia da amiga.
-- Acho que não tem problema. A capetinha não estará no hospital -- ela tocou o ombro de Andreia num gesto de conforto -- Pegue as suas coisas. Partiremos em uma hora.
Cesar entrou rapidamente no chalé. Arrancou as roupas e foi direto para o chuveiro. Fechou a porta e logo após se ouviu o barulho da água caindo sobre o piso.
Mariana entrou no quarto e sentou-se na beirada da cama. As atitudes de Cesar eram muito suspeitas e assustadoras. Ela sempre viveu às custas de pessoas ricas, que bancavam um estilo de vida extravagante, de ostentação e muita grana. Falsa e interesseira, ela era assim e não mudaria. Porém, esse era o seu limite. Jamais seria como Cesar, que fazia da violência um meio para alcançar os seus objetivos.
Cesar desligou o chuveiro, enxugou-se rapidamente, enrolou-se na toalha e entrou no quarto. Respirando fundo, constatou que Mariana estava sentada na cama.
-- Faça o favor de não me olhar como se eu fosse um monstro! -- ele disse, irritado.
-- Onde estava?
Cesar abriu o closet e pegou uma bermuda.
-- Estava caminhando pelo calçadão -- ele voltou ao banheiro para se vestir - Algum problema nisso? -- ele perguntou de lá.
Quando Cesar retornou ao quarto, Mariana percebeu manchas escuras em sua pele.
-- Você se machucou? -- ela estendeu a mão e tocou com a ponta do dedo, o hematoma na parte de cima do braço direito -- Como conseguiu isso? -- ela examinou atentamente o ferimento.
Cesar se retraiu e se afastou bruscamente.
-- Você parece a minha mãe -- retrucou, fugindo da pergunta -- Preciso de uma bebida.
Ele saiu rapidamente em direção a cozinha. Mariana foi atrás.
-- Espero que não tenha metido os pés pelas mãos. Eu disse para esperarmos.
Cesar bateu a porta da geladeira com mais força do que necessário e levou uma garrafa de vinho até a mesa.
-- A Natasha levou um tiro -- ele disse, com um sorriso forçado no rosto.
-- Meu Deus! -- Mariana ficou boquiaberta, em choque por algum tempo, depois, fugiu para a varanda, em busca de um pouco de ar. O lugar estava silencioso e calmo. Uma brisa suave soprava do mar. Ela respirou fundo e aos poucos foi se acalmando. Ouviu passos atrás dela e se virou -- Por que fez isso? -- era o que ela mais temia. Uma enorme tristeza a envolveu -- Não precisava chegar a esse ponto.
Ele concordou em silêncio, mas percebeu que havia uma razão para tanta comoção.
-- Você ainda gosta da ave de rapina?
A pergunta caiu como um raio, e ela ficou atônita, sem saber o que responder.
-- Vamos, responda! -- ele insistiu.
-- Ainda tinha esperanças de reatarmos -- disse ela, sem olhar para ele, com um leve ar de derrota.
Cesar deu um sorriso amargurado. Passou a mão pelo rosto e tomou um gole de vinho.
-- Não fui eu quem atirou e, pelo que ouvi do pessoal, ela não está morta -- ele disse olhando para a taça com a bebida vermelha -- Vaso ruim não quebra.
-- Então como sabe de tudo isso?
-- Parei em um quiosque para tomar uma água de coco e ouvi os comentários. Não se fala em outra coisa na ilha.
-- Eu não acredito em você -- Mariana aproximou-se e cravou-lhe um dedo no peito com força -- Seu assassino!
Sem mais nada a dizer, Mariana deu-lhe as costas e saiu.
Andreia e Sofia cruzaram o corredor do hospital e pararam diante de uma moça sentada atrás do balcão da recepção.
-- Viemos ver Natasha Falcão. Ela deu entrada hoje, pela manhã -- Andreia acrescentou, a ansiedade na voz era visível.
A moça olhou para o relógio. O horário de visita já havia se encerrado. Porém, Natasha Falcão era uma das mantenedoras do hospital, tinha que ser cautelosa.
-- O que a senhorita é dela?
-- Esposa -- disse Andreia, tamborilando os dedos sobre o mármore do balcão -- Sou a esposa dela. Por favor, moça. Será que dá para ser mais rápida?
Completamente atrapalhada, a moça apressou-se em olhar para a tela diante de si.
-- Oh, sim! É só pegar o elevador e parar no sexto andar. Seguir o corredor a esquerda, terceira porta, número 226. Mas, por favor, aguarde um minuto, vou avisar que está subindo...
Andreia já caminhava em direção ao elevador. A moça contornou o balcão para impedi-la.
-- Você não pode subir para o quarto sem a autorização da doutora Talita.
-- Pode deixar que eu mesma peço -- ela murmurou, sem reduzir o passo.
Sofia foi até a moça e segurou seu braço.
-- Acho melhor não a contrariar. Ela está nervosa e de nove meses. Já pensou se ela dá um treco? A dona Natasha Falcão vai te perseguir até mesmo depois da morte - Sofia olhou no fundo dos olhos dela -- Já viu um espirito desencarnado?
A jovem arregalou os olhos e engoliu em seco. Tentou dizer alguma coisa, mas mudou de ideia. Achou melhor ficar quieta e voltar para a recepção.
Andreia parou diante da porta do quarto 226, bateu de leve e entrou. Talita virou-se, surpresa.
-- Andreia!
-- Oi, doutora -- Andreia olhou melancólica para Natasha -- Como ela está? -- perguntou, sentando-se em uma cadeira ao lado da cama. Segurou a mão fria de Natasha entre as suas. A mulher pálida e frágil deitada na cama do hospital, presa à vários aparelhos, era muito mais que sua esposa. Ela era o grande amor de sua vida. O amor verdadeiro, sua família. A pessoa especial que, apesar de tudo, havia confiado nela. Que estava cuidando dela e de seu filho e que dera um significado verdadeiro à sua vida.
As últimas horas tinham sido um inferno; esperava acordar a qualquer instante e descobrir que tudo tinha sido um pesadelo. Não tinha recebido qualquer notícia e começava a se sentir desesperada. Olhou cheia de expectativa para Talita, esperando novidades animadoras.
-- A bala entrou-lhe pelas costas e alojou-se abaixo do pulmão esquerdo. Ela vai passar por uma cirurgia no tórax. Estamos apenas aguardando o cirurgião chefe chegar -- Talita respondeu, com voz suave -- Vai ficar tudo bem. A Natasha é dura na queda -- ela disse, querendo confortá-la.
Andreia agitou a cabeça. Não havia nada que pudesse fazer.
-- Prometa que vai cuidar dela, doutora. Prometa que vai deixar a minha Falcão, firme e forte novamente -- Andreia acariciou suavemente a pele suave das costas da mão de Natasha. O nó em sua garganta era tão grande que ela mal conseguia engolir.
-- Está prometido -- ela fez que sim com a cabeça, triste -- O que pretende fazer?
-- Vou embora de Santa Catarina. Ao menos até a Natasha melhorar. Tenho certeza de que ela vai conseguir identificar quem tentou assassiná-la.
-- A Carolina pode estar sendo muito má com você, mas ela tem razão quando diz que a polícia vai acusá-la. Você estava no local do crime e com a arma na mão -- Talita calou-se e olhou séria para Andreia -- Espere um instante -- disse ela -- O que a Carolina foi fazer na mansão?
-- Não sei -- ela fez um gesto de pouco-caso -- Achei estranho, a Carolina evitava se encontrar comigo, mas não parei para questionar o motivo de sua visita.
-- Bem, tudo isso vai ser esclarecido e você vai poder voltar com o nosso menino Falcão.
-- Deus te ouça, doutora.
-- Você vai para onde?
-- Ainda não sei. A Sofia é quem vai decidir.
-- Ela está aqui no hospital?
-- Sim, pedi que ficasse na sala de espera enquanto estava aqui, mas sei que ela deve estar impaciente para vê-la -- Andreia acrescentou. Paciência não era uma de suas qualidades.
A médica desapareceu antes que Andreia pudesse fazer mais perguntas. Sua vida novamente estava uma droga, pensou, passando a mão trêmula pelos cabelos de Natasha.
-- Você prometeu que cuidaria de mim e do Marlon -- Andreia inclinou-se até ficar bem próxima de seu amor. Ficou parada, em silêncio. Os lábios dela acariciavam sua face pálida -- Não desiste, tá. Há pessoas que dependem de você. Pessoas que você ama e que também a amam muito.
Abaixou-se para beijar-lhe os lábios, um beijo leve e doce.
-- Agora eu tenho que ir, amor. Eu e o Marlon, vamos ficar te esperando -- lágrimas surgiram em seus olhos -- Eu te amo.
Sua voz era um sussurro e ela não conseguiu dizer mais nada. Andreia se virou para sair com um desespero incontrolável. Mais do que qualquer outra coisa, queria ficar ao lado dela.
Fim do capítulo
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Anny Grazielly
Em: 14/09/2020
Muito triste com tudo isso... aiaiaiai... sofrendo demais
Pryscylla
Em: 06/09/2018
Não entendo porque ela vai fugir se é inocente, um erro sem tamanho. Agora se a Nat acordar e por acaso não conseguir identificar o assassino? Sinceramente que idiotice.
Resposta do autor:
Olá Pryscylla!
Andreia vai perceber a grande besteira que fez e vai se arrepender. Porém, talvez seja tarde demais.
Beijão. Até mais.
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Mille
Em: 06/09/2018
Oi Vandinha
Parece que a Talita foi cativada pelo jeito alegre e carismático da Sofia. E acho que a Sofia é uma pessoa que será capaz de fazer a doutora feliz.
A Carolina mudou bastante da para perceber que ela usou a Talita para chegar na irmã, ela queria fazer justiça com a Andreia e cia mais as atitudes dela mostra que quem é interesseira é ela.
E se juntar com um ganancioso e corno manso completou o trio da pesada.
Natacha vai lembrar dessa conversa da Andreia com ela e ganhar forças para ter as pessoas que ama junto e protegido.
Bjus e até o próximo capítulo um ótimo feriado e final de semana
Resposta do autor:
Olá Mille!
Final de feriadão, chato né! Mas, vida que segue.
O que posso te dizer sobre a Carolina? Ela decepcionou a todos. Será que é por excesso de zelo, ou por puro interesse? Aguarde as cenas dos próximos capítulos.
Beijão Mille. Até mais.
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NovaAqui
Em: 06/09/2018
Espero que Natasha melhore logo. Apesar do que Andreia fez, ela merece o amor de sua amada
Torcendo por elas
Espero que Talita cuide bem de Natasha. Acho que tem muita gente querendo que ela morra
Abraços fraternos procês aí!
Resposta do autor:
Olá NovaAqui.
A Falcão é osso duro, vai se recuperar logo.
Andreia fez besteira fugindo da ilha e agora está arrependida. Será que ela vai conseguir corrigir o erro?
Beijos. Até mais.
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