POV Nanda

Assim que coloco os pés dentro do apartamento meus filhos e Summer correram para os meus braços. Eu não acreditava no que meus olhos viam. Meus filhos, Summer e dona Theodora em choque e o corpo do Vitor jogado no chão.  Clarinha toma a frente e verifica a pulsação. Morto. O babaca sem piroca estava morto. Meus sentimentos eram contraditórios: eu podia pular de alegria, mas ao mesmo tempo estava preocupada com o que tinha acontecido.

—  O que aconteceu? – minha esposa pergunta ainda ajoelhada ao lado do corpo inerte do meu maior algoz.

—  Eu fiz merd*, Mainha.... 

—  Você me salvou, eu fiz merd*... – AnaLu diz abafado no meu peito.

—  Do começo gente, por favor!

—  Eu não conseguia pensar em mais nada a não ser o que ele fez a você Mainha e no que ele tentou fazer com a mamãe. – meu filho fala. – Eu só pensava nele te tocando, te cortando... eu fugi e quando estava pegando a Clarice a AnaLu chegou...

—  Eu vi quando ele saiu e fui atrás. Encontrei o João tentando fazer a moto pegar, ela tem aquele problema de vela, você tem que comprar velas novas Mainha e deixar sempre a mão, outro dia eu vi um jogo de velas pra vender...

—  AnaLu foco! – minha caçula quando ficava nervosa falava sem parar.

—  Eu consegui fazer a Clarice funcionar e não deixei o mano sair sozinho... ele tava muito transtornado.

—  O porteiro nos deixou entrarmos porque ele já me conhece. Quando a gente chegou ao apartamento o Vitor abriu a porta... sem muletas. Porr*! Ele tava mentindo o tempo todo....

—  Ele se espantou quando nos viu, acho que pensou que era a tia Sol.

—  Eu e vovó nunca imaginávamos que ele não precisava de muletas..... – Summer disse.

—  Eu empurrei ele... e gritei que ele tinha me enganado... fingido que era um cara legal...

Meu filho começou a chorar e Clarinha o abraçou. AnaLu continuou, mesmo com todas as suas interrupções falando do tapete feio, do pijama de oncinha da sua vó, de como a Summer estava “gostosa”... ela conseguiu contar o que realmente aconteceu. Vitor riu do meu filho que ficou brabo. Parece que ele estava embriagado e não se preocupou em esconder que estava conseguindo se locomover e falar normalmente. João berrou vários impropérios a ele que desferiu um soco no olho do meu filho. AnaLu tomou as dores do irmão e partiu para cima do pai da Summer que, por ser maior e mais forte, a imobilizou e começou a falar coisas como: “Tão parecida com sua mãezinha. Vou mostrar a você tudo o que eu fiz com ela.”.

Só que AnaLu gritou tão alto que acordou a sua vó que veio ver o que acontecia. Nesse momento, Vitor se vira para a mãe, ainda com a minha filha presa nos seus braços, e isso faz com que meu filho dê uma gravata no seu próprio pai, para que ele solte a menina. O grande problema foi que como Vitor ficou algum tempo em coma, a sua traqueia é frágil devido a traqueotomia, e o suprimento de ar foi cortado totalmente, levando a morte em poucos minutos.

—  O que a gente vai fazer? – Clarinha me pergunta enquanto Theodora leva as crianças para tomar um chã de camomila na cozinha. Sol não estava no local, deve ter ido para balada como sempre.

—  Vou ligar para a Sônia e o Carlão. Ligue para o padrinho e para a madrinha. 

POV Ana Clara

Liguei para meus pais. Mamãe estava vindo para cá e papai, como estava viajando, estava pegando o primeiro avião. Papai disse que o melhor seria mesmo esperar a Sônia chegar e o depoimento da Theodora seria fundamental para que o João saísse ileso. Não consigo nem imaginar o meu bebê preso em uma cela. Papai vai ligar para um grande amigo dele que é um dos melhores advogados criminalistas do país. Peguei uma manta e cobri o corpo que jazia ao chão. Mamãe chegou com minha sogra e AnaBea no mesmo momento que Sônia e Sofia. João ao ver a menina se abraça a ela.

—  Vamos para a delegacia mais próxima. Já acertei tudo com o delegado de plantão. Vocês já têm advogado?

—  É um amigo do papai, vou enviar mensagem dizendo que iremos para lá.

—  O que é essa balburdia na minha casa..... NÃOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO! – Sol chega e se atira no chão quando vê que o marido está morto. – MEU AMORRRR! NÃOOOOOO!

—  Mamãe...

—  SAIIII DAQUI! É CULPA SUA! – ela gritava agarrada ao marido. – Vitor acorda.... Vitor... Você tinha que ficar perto dessa gente, não é? Tinha que trazer essa gente para as nossas vidas!

—  Mamãe, por favor. – eu estava morrendo de pena da irmã do meu filho. A menina loira estava desamparada e segurava os braços como se quisesse se proteger de algo. Não aguentei.

—  Vem filha, faz uma muda de roupa para você e vamos lá para casa. Você fica com uma das meninas, pode ser? – abraço a minha “sobrinha” e a tiro dali.

POV Nanda

—  Para de ser ridícula Sol! Olha o jeito que você trata a pobre da menina? Ela também perdeu o pai.

—  Ninguém entende o que eu e o Vitor temos. Essa menina só foi um atraso na minha vida. Se ela não existisse eu teria fugido com o meu amor. Eu teria ele inteiro na minha vida.

—  PARA de falar besteiras! Sua filha precisa de você!

—  Eu nunca quis ser mãe! Eu só queria ser a esposa do Vitor!

—  Um dia você vai se arrepender do que está falando! E quando isso acontecer será tarde demais! Summer nunca mais vai querer saber de você. – sai de perto daquela mulher sem noção. Como eu fui achar que ela era uma vítima assim como eu? Como eu pude me enganar tanto assim?

A perícia chegou e fomos até a delegacia. Meu sogro já havia entrado em contato com as autoridades para que tudo fosse agilizado. João, AnaLu e Theodora deram seus depoimentos separadamente. Já eram dez horas da manhã e todos estavam cansados, mas ainda precisávamos esperar eles serem liberados. AnaLu teria que ir ao IML para fotografarem as marcas nos seus braços que o Vitor deixou. Jorge não parava de ligar e AnaBea ficou responsável por falar com ele e os outros amigos que chamavam sem parar. AnaLu sempre foi cheia de amigos e todos estão preocupados com ela.

Fê, Lu e Alex estão vindo dos Estados Unidos. Mesmo que minha amiga esteja no meio das gravações ela bateu o pé e fez toda produção parar uma semana. O valor do prejuízo será descontado do salário milionário dela. Ela não admitiu ficar longe dos meus filhos nesse momento tão difícil.

POV Ana Clara

O dia se arrastava a passos lentos. Papai chegou e tomou a frente de tudo que precisava ser feito. Mamãe levou João, Theodora e as meninas para tomar banho e comer algo em casa. Eu estava com a minha filha e esposa no IML. Esperávamos que o perito chegasse para documentar as lesões que ficavam cada vez mais evidentes nos braços da minha filhinha.

—  Filhota, peguei chocolate quente de máquina para você. – Nanda nos entregou dois copinhos, um com chocolate e outro com Mocaccino.

—  Valeu Mainha! To precisando mesmo, acho que nunca vou esquecer os olhos esbugalhados do cuzão, nunca tinha visto morto tão de perto, tirando o peixes, mas peixe dourado não conta né? Jorge uma vez contou que viu um cara levar um tiro e jorrou sangue como se fosse filme do Tarantino, sabe? – olhei para a minha esposa que apenas concordava, sabíamos que AnaLu precisava falar. Quando minha filha está nervosa ela não mede as palavras e fala tudo e qualquer coisa que venha a cabeça.

—  Filha bebe devagar senão vai queimar a língua.

Ficamos no local até umas cinco horas da tarde. Ao chegar em casa Luiza estava nos esperando e agarrou AnaLu. Quase não deixando a minha filha respirar.

—  Ju deixa eu te ver! – minha amiga examina minuciosamente a minha filha. – Minha lindinha olha os seus braços! Meu Deus se aquele sem piroca não estivesse morto eu iria mata-lo! Filho da puta! Vem, vou te dar um banho! E depois vamos comer algo.

—  Oshi Lu, a menina não tem mais cinco anos não! Ela toma banho sozinha! – Nanda fala incomodada.

—  Ah mas eu quero! – AnaLu fala. – Preciso de cuidados Mainha, to traumatizada. – a safada da minha filha faz beiço e se deixa levar pela Luiza até o quarto.

—  Como você tá meu amor? – me abraço na minha esposa que corresponde me apertando firmemente junto ao seu corpo.

—  Preocupada com o desenrolar das investigações.

—  Theodora vai contar o que viu e tudo vai ficar bem!

—  Eu morro de medo de algo acontecer e o João seja preso.

—  Nanda, a Theodora amava o Vitor, isso a gente sabe! Mas ela é verdadeiramente louca pelos nossos filhos. Ela mesmo me disse que eles tornaram a vida dela diferente do que era. E que nunca imaginou ser tão feliz. Nossos filhos são maravilhosos e carinhosos, e amam aquela vó! Ela nunca recebeu tanto amor assim!

—  Deus e ouça pequena. Agora eu queria uma ajuda sua...

—  Claro amor fala...

              —  Tô traumatizada, me dá banho? – e o amor da minha vida dá um sorriso dos mais safados para mim!

Fim do capítulo