Capítulo 2
Andrea voltou do banheiro quieta, Nicole voltou minutos depois, achou melhor sentar no outro sofá. O restante da noite foi de troca de olhares enigmáticos. Pouco depois da uma da madrugada o grupo estava do lado de fora organizando a partida.
— Ninguém vai para o lado onde moro, vou ligar para o rádio taxi. — Andrea ia dizendo já procurando o número na agenda do celular, tinha um tanto de dificuldade por conta das bebidas.
— Posso te dar uma carona. — Ofereceu Nicole. — Meu carro tá ali.
— Você nem sabe pra qual lado eu moro.
— Tenho tempo de sobra, vem, te levo.
— Ce vai? Posso pegar um táxi com você, daí não vou com elas. — Maurícia disse, apontando para um carro já com cinco mulheres dentro.
— Precisa não, vá com elas, eu vou com a Nicole, ela tá parecendo sóbria.
— E estou mesmo, bebendo apenas água desde as onze.
— Liga quando chegar em casa, ok? — Despediu-se rapidamente Maurícia, entrando no carro cheio.
Andaram até o final do estacionamento, Nicole abriu a porta do grande carro verde escuro para sua convidada.
— É o seu? — Disse espantada, era um carro caro.
— Sim.
Já dando a partida no carro, Andrea não segurou a curiosidade.
— Qual sua área?
— Me formei em biomedicina. E você?
— Direito, trabalho como assistente num escritório.
— Me passa o endereço?
— Do meu trabalho?
— Não, o da sua casa, para poder te deixar lá. — Respondeu rindo.
— Ah, claro...
Vinte minutos depois o carro já estava parado na entrada do antigo prédio onde Andrea morava com uma ex-colega de faculdade.
— Está entregue, senhorita.
Andrea não queria se despedir.
— Você mora aqui perto?
— Não, mas não estou indo para casa.
— Vai pra onde?
— Eu tenho um pequeno chalé na Serra, vou pra lá passar uns dias.
— Sozinha?
— Sim, ando precisando de um tempo sozinha, repensar algumas coisas... Enfim. Já enchi o porta malas com tralha suficiente para um mês na floresta.
Sem pensar duas vezes e com alguns bloqueios derrubados pelo álcool, Andrea surpreendeu a motorista com seu pedido.
— Posso ir com você?
— Para o chalé??
— Sim, eu adoro a Serra, me deixa conhecer teu chalé, prometo que vou embora pela manhã, passa ônibus por lá, não passa?
— Passa. — Nicole encarou os olhos vivos e castanhos dela. — Tem certeza? Sua família e seu noivo não vão estranhar?
— Mando mensagem avisando minha irmã, só tenho compromisso com o Marcos amanhã à noite. Jantar com a família dele... — Fez semblante de desgosto.
Nicole ainda não estava certa, mas queria muito levar a garota extrovertida para seu chalé.
— Mas você...
— Hoje eu posso tudo. — A interrompeu rindo.
— Ok, coloque o cinto e se ajeite, porque teremos uma hora de estrada pela frente.
Já na estrada e com o rádio ligado, Andrea lutava contra o sono. Começou a tocar Eduardo e Mônica.
— Por que teus pais não batizaram sua irmã de Mônica?
— Eles não gostam de Eduardo e Mônica, acham comercial demais.
— Mas boa parte das músicas da Legião é comercial.
— Eu nunca entendi a cabeça deles, Nicole.
Ela deu um risinho fungado.
— Não passou pela sua cabeça em nenhum momento que eu talvez seja uma serial killer? Que estou te levando para um calabouço de tortura no meio do mato?
— Desde que não roube meus órgãos, tá ótimo. — Disse com displicência, arrancando um riso de Nicole.
— Quer reclinar o banco para tirar um cochilo?
— Não, tô bem acordada.
Sete minutos depois Andrea pegou no sono. A loira parou o carro no acostamento, pegou um casaco no banco de trás e a cobriu, retomando a viagem.
Chegando no chalé, Andrea seguiu sonolenta para dentro da pequena construção de madeira.
— Que lugar bonitinho, adorei. — Disse olhando por todos os lados.
— Eu que decorei. Quer tomar um banho antes de dormir?
Nicole arranjou roupas para ela, que foi para o banho. A anfitriã voltou do quarto de visitas após arrumá-lo para Andrea e a encontrou dormindo profundamente em sua cama, preferiu não a acordar, tomou também seu banho e dormiu ao seu lado.
Andrea acordou confusa com o sol começando a nascer, levou um bom tempo para se dar conta do que estava acontecendo e do que havia acontecido na noite anterior, as seis pinas coladas estavam cobrando seu preço.
Se pegou sentindo algo bom e estranho por aquele mulherão dormindo pacificamente ao seu lado, lembrou do beijo no banheiro e voltou a sentir o tesão daquele momento. Acomodou-se devagar em suas costas, ia criando coragem para ir além, beijos no pescoço e ombro, a mão subindo da barriga para o seio, logo Nicole já estava acordada e sem saber o que fazer.
Apesar de estar amando aquilo tudo, sabia que a outra não deveria estar fazendo aquilo. Nicole girou a abraçando, ainda de olhos fechados e com sono. O abraço era uma tentativa de mantê-la parada.
— Pode dormir mais, ainda é cedo. — Nicole murmurou em seu ouvido.
Andrea ignorou solenemente tudo, e como um polvo ensaboado fugindo de uma armadilha, voltou a correr sua mão boba por Nicole.
Resistir pra quê?
Dois minutos depois e já estavam trocando um beijo quente.
Vinte minutos depois e quatro mãos bobas corriam por corpos sem roupas.
Trinta e três minutos depois e Andrea experimentava o maior orgasmo de sua vida, nas mãos de Nicole.
Preferiram nada falar, apenas ouvir as respirações alheias e sentir mãos carinhosas afagando seus corpos. Dormiram. Nicole acordou preocupada, mas derreteu-se num sorriso ao contemplar a bela garota nua em sua cama.
Vestiu-se e foi para a cozinha, retornou acordando a convidada com um beijo no rosto e um cafuné.
— Vem tomar café comigo? Me encontra na varanda.
Nicole estava de pé na varanda com uma blusa de lã negra com as mangas até os dedos, Andrea chegou minutos depois, viu as canecas fumegantes sobre o parapeito de madeira e depois admirou com confusão a mulher que a fitava com ares receosos.
— Brigada pelo café. — Disse já sentando num banco rústico de troncos.
— Ali tem biscoitos e torradas. — Disse apontando para uma mesinha redonda ao canto. — Desculpe a falta de jeito, eu ainda não tenho mesa de verdade, faço minhas refeições no sofá ou aqui.
— A vista é linda. — Olhava para o horizonte cheio de árvores altas.
— É sim, esse é o lugar onde recarrego minhas energias.
— E traz seus namorados?
Ela riu.
— Eu sou lésbica, Andrea. Mas respondendo sua pergunta, já faz algum tempo que não namoro, nem lembro a última vez que trouxe namorada pra cá.
A jovem advogada a olhou confusa.
— Lésbica? Então por que marcou um encontro com um homem ontem?
Demorou um pouquinho para responder, finalmente falou com aparente receio.
— Eu sei que deveria ter contado antes... Não era um encontro, eu faço programas e aquele cara era um cliente.
Andrea ficou paralisada sem saber se era brincadeira.
— É sério isso?
— É sim. Tem mais uma coisa que deveria ter falado também, meu nome verdadeiro não é Nicole, é Leila.
Fim do capítulo
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