Capítulo 11
Segunda! Início de semana, início de um novo ciclo. Gostava de pensar assim e usar cada semana como um ciclo que eu tinha que passar, e dentro dele, tinha meus objetivos, tarefas e afazeres a cumprir. Assim, no final da semana era bom parar e ver que havia cumprido com êxito mais uma semana.
Cedo da manhã eu já estava de pé, e já que não dormiria mais, sai cedo de casa. Cheguei ao trabalho com tempo me sobrando. Estava me sentindo sonolenta, não sabia que horas havia conseguido finalmente pregar os olhos, mas tinha uma noção de que não deveria ter sido cedo, afinal, Adele e eu passamos um bom tempo conversando.
Apesar do sono que agora sentia, eu não me arrependia de não ter dormido. Conversar com Adele foi extremamente prazeroso, e foi graças ela que minha noite ficou mais leve e menos dolorida. Não tenho do reclamar, apesar de meu corpo estar cobrando o seu preço pelas horas não dormidas.
Como ainda me sobrava algum tempo antes do expediente começar, resolvi ir até a “sala zen” e aproveitar os minutinhos deitada naqueles puff enormes que a sala continha. Levantei, estiquei o corpo e me encaminhei para lá. Guardei minhas coisas no armário e deitei no puff que praticamente engoliu meu corpo, uma sensação extremamente gostosa de sentir que me fez sorrir com prazer.
Meus olhos ardiam, pesavam, então eu os fechei por um instantinho. Morfeu não perdeu tempo, foi extremamente rápido e forte ao me agarrar e me carregar em seus braços. E eu, apesar de me debater e tentar resistir não fui eficiente em vencê-lo, acabei dormindo.
Senti um leve roçar em minha bochecha. Um cheirinho peculiar dominou meus sentidos. Despertei sem abrir os olhos. Estiquei os braços liberando aquele grunhido típico de quando a gente se espreguiça. Abri os olhos e vi o mar, bem ali, na minha frente.
-- Oi. Bom dia. – ela disse com doçura.
-- Bom dia. – encarei-a sorrindo – Lembro-me de você em meu sonho moça.
Eu não dormi muito, mas foi tempo suficiente para me fazer ter um breve sonho com a dona daquela par de olhos extremamente atraentes. Não me recordo perfeitamente, não sei os detalhes, mas lembro bem da sensação de segurança e conforto que eu sentia quando ela me abraçava em meu sonho.
-- Espero que tenha sido um bom sonho.
-- Não me recordo bem, mas aposto que sim. Desculpa não ter deixado você dormir ontem – seu rosto suave exibia pequenas olheiras e eu me senti culpada por isso.
-- Não precisa pedir desculpas. Eu adorei passar a noite conversando com você, e sinceramente, faria de novo.
Fiquei a encará-la, me sentindo boba, com o coração palpitando de forma atípica. De repente uma vontade imensa de sorrir, que foi o que fiz, sendo correspondida imediatamente. Ah, aquele sorriso!
Depois de alguns segundos, consegui me situar verdadeiramente, estava no trabalho, e a Adele estava parada diante de mim.
-- Por que sempre nos esbarramos por aqui? Você também trabalha aqui?
Perguntei por que precisava sanar minha curiosidade, afinal, não foi uma, duas ou três vezes que encontrei com Adele nos corredores da revista. Mesmo sabendo que seu pai era diretor executivo e um dos donos da revista, às vezes me perguntava o que ela tanto fazia por ali, sempre na parte de manhã, logo cedo.
Ela sorriu largamente ates de me responder.
-- Apesar de adorar esporte, essa revista não é bem a minha praia, e eu sou arquiteta. O que me traz aqui é Jack, meu pai. Todo santo dia eu tomo café da manhã com ele, em sua sala. Adoro o café da dona Jô, é uma delícia. – sorriu amarelo antes de continuar – Além disso, eu odeio cozinha Bia. Pra falar a verdade, não sei fazer nada além de ferver água.
-- E como você faz para sobreviver? – brinquei.
-- Lasanha de micro-ondas é sempre uma ótima saída para quem mora sozinha e não sabe cozinhar. E melhor ainda é ter uma ótima padaria na esquina da sua casa.
-- Ainda me pergunto como você conseguiu sobreviver todo esse tempo. Prometo te preparar um jantar decente qualquer dia desses lá em casa.
-- Vou adorar.
Ficamos em silêncio, apenas mantendo o contato visual. Eu continuava deitada, e a loira permanecia de pé, bem a minha frente.
-- Qual é a sua praia? – perguntei com interesse fazendo referência ao que ela acabara de dizer.
Adele baixou o olhar e mordeu displicentemente o lábio inferior. Aquilo teve efeito instantâneo em todas as minhas entranhas, eclodindo como uma bomba, com um efeito ímpar, fazendo meu estômago revirar e um arrepio percorrer a linha da minha coluna. Foi arrebatador! Até senti uma fisgada no baixo ventre.
-- Qualquer dia eu te conto.
-- Você é bem misteriosa.
-- Não me classifico dessa forma, é apenas impressão. Na verdade, eu sou bem fácil de ler, tão fácil que às vezes até me irrito por ser tão transparente e não conseguir camuflar como eu me sinto. Acharem que eu sou misteriosa é um ponto interessante, e às vezes me aproveito da impressão que as pessoas têm de mim para despertar o interesse.
-- Anda querendo despertar o interesse alheio é?
Ah bichinho do ciúmes, prazer em conhecê-lo!
-- Apenas de uma pessoa.
Ok! Estávamos flertando.
Olhei o relógio em meu pulso e vi que tinha excedido o meu tempo em uns 20 minutos. Ah droga! Levantei meio desajeitada e me coloquei de pé tendo um pouco de dificuldade de encontrar o equilíbrio. Não era pra menos, deitar naqueles negócios era fácil, o difícil era levantar com agilidade e firmeza.
-- Tenho que ir, estou atrasada.
-- Também já estou indo, tenho que ir para o escritório.
Adele colocou as mãos dentro dos bolsos da frente da sua calça e me encarou em silêncio. Em sua testa uma pequena ruguinha lhe denunciava.
-- O que foi? – perguntei com a sobrancelha arqueada.
-- Nada.
-- Tem certeza?
Ela balançou assentindo.
Eu tinha percebido que a ruguinha no meio daquela testa se devia a incerteza. Ela estava incerta sobre como deveríamos nos despedir, e eu não a culpava já que deixei em suspenso o que aconteceria conosco na conversa de ontem. Bom, eu tinha vontade de beijá-la, e obviamente não iria passar vontade, então a puxei pelo cós da calça jeans e a beijei.
-- Você sempre me surpreende. – falou com um sorriso quando nos separamos.
-- Isso parece ser bom.
-- Sem sombra de dúvidas!
Afastei-me de seu corpo sentindo minhas pernas moles e o coração batucando feito escola de samba. Eu adorava a maciez dos seus lábios, a forma como a sua língua buscava a minha e o leve aperto que ela dava em minha cintura.
Alguém podia dizer quando passaria aquele alvoroço todo que eu sentia quando os nossos lábios se encontravam? Limpei o meu batom que ficou em sua boca, lhe dei mais um selinho e nos despedimos.
-- Bom dia Júnior. – cumprimentei-o com um beijo no rosto, bem humorada.
-- Bom dia. – me olhou meio desconfiado – Viu passarinha verde foi?
-- Besta. Só acordei de bom humor.
-- Sei. Então desborra esse batom ai, senhora bom humor.
Instintivamente passei as mãos sobre os lábios e parei quando ouvi um risinho do sem vergonha do Júnior. Ele tinha jogado verde, e eu cai feito um patinho, ou uma sapinha, melhor dizendo.
-- Rá! Te peguei! Loira ou morena? – perguntou com a mão sob o queixo.
-- Cala a boca Júnior.
Ultimamente Júnior assim como Samanta compartilhava do posto de meus confidentes, portanto ele sabia bem o que vinha acontecendo em minha vida, sem muitos detalhes, mas tinha uma fiel noção. Ele sabia do perdido que Daniele, a morena, estava me dando ultimamente. E sabia que eu sentia uma forte atração por Adele, a loira.
-- Eu esbarrei com a gringa loira no corredor, e olha só, segundos depois você me aparece aqui, com cara de quem realmente viu uma passarinha. Vamos, não me enrola, diz logo.
-- Não seja curioso!
Tentei me concentrar no trabalho, mas ficou um pouco difícil com o viado do meu lado me cutucando as costelas de cinco em cinco minutos e repetindo a pergunta “Loira ou morena?”. Ah como eu sou burra!
Durante a manhã, finalmente consegui finalizar a revisão do bloco de textos. Senti-me aliviada por isso. Ainda durante a manhã, Edson havia me chamado até a sua sala e me entregado o resumo com todos os detalhes da viagem a qual ele havia me proposto, a cobertura do evento esportivo. Com o papel em mãos, praguejei mentalmente quando vi que o evento ocorreria no estado da Bahia, mais precisamente na capital.
Qual o problema? Ah, nenhum, exceto o fato de ser lá que Rebeca mora. Relevei o fato, Rebeca não atrapalharia mais a minha vida. Além disso, Bahia não era um ovo, as chances de por acaso entronara-la por lá, eram mínimas.
Assim que chegasse a casa conversaria com a minha mãe, ainda não havia comentado nada a respeito com ela. Teria que conversar também com alguns professores da faculdade e explicar que precisaria passar ao menos uma semana fora, a trabalho. Essa sim era tarefa difícil, eles não costumavam nos dar ouvido quando tentávamos explicar a nossa ausência em suas aulas.
A viagem se daria em três semanas e eu ainda tinha alguns detalhes para acertar. Inclusive fiz uma anotação mental de que precisava passar no shopping para comprar algumas coisas que julguei serem necessárias.
Na hora do almoço, cansada de esperar alguma atitude de Daniele e necessitando verdadeiramente encontrar um rumo pra a minha vida além de esperar pela boa vontade e atitude dela, resolvi que iria procurá-la. Os pontos precisavam definitivamente serem colocados nos “is”. Portanto, lá estava eu, atravessando a praça, caminhando na direção do prédio que ela havia me dito que trabalhava.
Olhei para o relógio quando alcancei a calçada do prédio e torci para que ela ainda não tivesse saído para almoçar. Na recepção, deu o nome de Daniele, e perguntei se ela estava, o que me foi confirmado. Sentei nas cadeiras da recepção, e com o pé direito balançando impacientemente, passei a esperá-la.
20 minutos. Era o tempo que já havia se passado desde que eu sentei naquelas cadeiras. Levantei e me dirigi novamente ao homem da recepção.
-- Ow moço, o senhor tem certeza de que ela ainda não saiu?
-- Tenho sim, ela não passou por aqui. Mas se a senhorita quiser ir até lá, eu posso liberar a sua entrada, é só me dar o seu nome completo pra que eu faça a sua identificação e libere a sua entrada.
Não estava nos meus planos, mas já estava cansada de esperar por Daniele naquelas cadeiras que faziam meu bumbum ficar quadrado.
-- Se é assim, prefiro ir até lá de uma vez.
Retirei de minha carteira o meu RG e o entreguei. Ele preencheu alguma ficha, me fez assinar um papel e me entregou um crachá onde tinha escrito “visitante” logo abaixo da logo da construtora.
Subi até o andar que ele me indicou - sentindo a leve vertigem que me era familiar - e segui pelo corredor. Estava quase chegando à porta da sala de Daniele quando a vi sair com uma pasta debaixo do braço. Quando me viu, caminhando em sua direção, ela arregalou os olhos, me parecendo espantada.
-- Bia? – sua voz falhava.
-- Então, já que você continua me evitando, vim lhe visitar. – falei com ironia.
Daniele abriu a boca e nada disse. Sua pele ficou lívida e eu tive certeza de que ali havia algo errado com certeza. Ela tornou a abrir a porta da sala e com um gesto me apontou o interior, pedindo para que entrasse.
Entrei e fiquei de pé no meio do cômodo. Era uma sala ampla, bem decorada e com uma grande janela de vidro que dava a visão perfeita da praça. Os móveis traziam designer arrojados, a decoração era requintada, luxuosa...
-- Essa sala é sua?
-- Sim.
Hum! Não me pareia a sala de uma assistente, era garbosa demais. Parece sala de chefe.
-- É uma bela sala.
-- Você já almoçou? – era notável a sua intenção de mudar o assunto.
-- Ainda não, vim conversar com você primeiro, depois vejo algo para comer. Você já? – devolvi a pergunta.
-- Voltei há pouco.
-- Seus dias estão bem cheios, não é verdade? – perguntei.
-- Meu chefe anda exigindo muito de mim.
Olhei bem para a morena a minha frente, havia um pequeno filete de suor em seu rosto, o incômodo que ela sentia podia ser sentido a distância, ela nem precisava falar. Sua voz era sempre falha e baixa. Seus gestos pareciam afoitos e denunciavam nervosismo.
-- Daniele eu acho melhor pararmos com a enrolação, já deu. Eu não tenho entendido as suas atitudes, não sei o porquê anda me evitando e dando desculpas esfarrapadas com a promessa de me recompensar em outro momento. O que é que está acontecendo? Por que está fazendo isso?
-- Não estou lhe evitando, só ando meio ocupada. – disse de cabeça baixa.
-- Antes de qualquer coisa, prometemos que seríamos sinceras uma com a outra. Sei que talvez passe por sua cabeça que não me deve nenhuma explicação já que não temos uma relação, mas eu só estou lhe pedindo pra ser sincera comigo e dizer o que está acontecendo de verdade. Não gostam que mintam para mim, e eu já fui muito enganada. Então por favor, seja sincera...
-- Podemos conversar sobre isso em outro momento?
-- Daniele eu não sou criança. Você está fugindo de mim desde o dia que me pediu justamente isso, para conversarmos em outro momento. Portanto, não, não podemos conversar outra hora, o momento é agora.
A mulher a minha frente abriu a boca pra pronunciar algo, mas foi impedida quando a porta se abriu, chamando a sua atenção. Olhei para trás e fiquei altamente surpresa ao ver a ruiva do shopping adentrar a sala.
-- Desculpe, não sabia que estava com um cliente.
Voltei o olhar para Daniele e ela estava ainda mais lívida. Tive a impressão de que ela desabaria ali na minha frente, desmaiaria a qualquer instante. Uma luz em vermelho começou a piscar em minha mente insistentemente.
A ruiva tinha pose de mulher poderosa. Devia ter seus 30 e poucos anos de idade. Tinha os olhos verdes, o queixo quadrado e uma presença esmagadora. Até me senti pequena diante dela, o que de fato era. A mulher era alta e estava em cima de saltos finíssimos.
Olhei para a morena esperando o momento em que ela falaria algo, mas, o silêncio preencheu a sala de maneira constrangedora. A ruiva permaneceu junto à porta, ainda segurando a maçaneta. Daniele estava ao meu lado, muda. E eu só sabia olhar de uma para outra tentando encontrar algum link entre elas no shopping de mãos dadas, e elas ali naquela empresa.
Fim do capítulo
Olá meninas!
Primeiro queria me desculpar por não ter aparecido no sábado, com um novo capítulo. Aconteceram umas coisas um tanto chatas comigo, e apesar de o capítulo estar pronto, não consegui postar como havia prometido. Espero de coração que me desculpem, sei que é chato ficar na espera.
Até o próximo! Beijos
Comentar este capítulo:
Thaci
Em: 22/08/2018
Boa noite,autora!!
Essa Dani,está me parecendo muito mais do que assistente. E que bom que a Bia resolveu acordar e tirar satisfação com a Dani. Chega de se enrolada. E que bom que a Bia,vai dar uma chance para a Adele. E o que a Dani vai falar pra Bia? Aguardando cena do próximo capítulo. Nota mil.
Resposta do autor:
Boa noite Thaci! Tudo bem?
Concorda comigo que a Daniele parece estar escondendo o jogo não é? Ainda bem mesmo que a Bia cansou de esperar e resolveu colocar logo as coisas em pratos limpos. Ninguém merece essa enrolação toda. Quais serão as desculpas ou justificativas da Dani hein?
Uma ótima semana! Beijos flor!
Amandha12
Em: 22/08/2018
Olá! Amando sua escrita...
Espero que tudo de certo pra Bia e Adele. A Daniele com certeza não é o que diz ser...
Enfim, parabéns! Esperando ansiosa..
Bjao
Resposta do autor:
Oi Amandha! Sempre bom lhe "ver" por aqui!
Daniele é muito misteriosa, e parece estar escondendo muita coisa ai. Esses perdidos acompanhados de uma falsa promessa de recompensa em outro momento não convencem ninguém. Ainda bem que Bia cansou dessa de esperar uma atitude e ela foi de vez saber o que é que tá acontecendo.
Obrigada minha flor! Uma ótima semana.
Beijos
[Faça o login para poder comentar]
LeticiaFed
Em: 22/08/2018
Oi, Bruna! Primeiro, desculpa por não ter comentado no último capítulo, muita correria por aqui. Lamento muito as “coisas chatas” que aconteceram contigo...espero que nada grave demais e que tudo se resolva da melhor forma.
Quanto às meninas...gostando da atitude da Bia. Chega de ser enrolada, credo! Uma relação que parece linda mas empacada com Adele (uhuuu!), resolveu ir tomar satisfações com a Daniele. Vamos ver qual o mistério da ruiva. E ela claramente tem um nível econômico melhor do que quer parecer. Acho que é sócia ou dona da construtora. E...viu que meu desconfiômetro tava bem calibrado? hahaha
Otima semana, beijo!
Resposta do autor:
Olá Leticia! Olha, tenho que dizer, senti sua falta por aqui no capítulo passado, mas...tá desculpada! Eu entendo bem de correria, então tudo bem. Quanto as coisas "chatas", foram bem chatas mesmo, mas, já tudo bem, tudo resolvido na medida do possível.
Ninguém mererce enrolação na vida da gente, ainda bem que Bia resolveu dar um basta nisso. Como será quando ela estiver cara a cara com Daniele, tirando satisfações pelos perdidos que ela anda dando? Digamos que Daniele esconde algumas coisas de Bia, e agora vai ter que encarar.
Adoro esse deconfiômetro! Calibradíssimo! hahaha
Uma ótima semana pra você! Beijos.
[Faça o login para poder comentar]
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]