IV Capítulo

"A vida é uma caixinha de surpresas, não discordo; mas olha só que ironia gostosa: a minha vem com brinde!" (Carolina Grein Xavier)

Wendra

_ Abri meus olhos com enorme dificuldade. Tentava focar minha visão na pessoa que falava algo comigo...

_ Gente eu estou um bagaço, não consigo entender o que falam comigo!! – pensava atordoada numa névoa de dor.

Tentei mais uma vez olhar e ouvir atentamente quem estava me segurando.

_ Ai – gemi reclamando, pois a pessoa na ansiedade em me fazer responder, apertava-me além do que no momento estava podendo aguentar – Ei, você vai me partir ao meio!

Rápido, senti afrouxar o aperto e uma voz feminina forte desculpar-se.

_ Ops! Desculpa senhorita! Então, como está se sentindo? – Voltava questionar a minha companhia.

_ Como uma lata após ser esmagada por um rolo compressor de mil toneladas – respondi com meu humor negro característico e fui recompensada por uma gargalhada deliciosa.

Virei-me devagar para a origem do som e observei com a visão mais clara, uma criatura de beleza espetacular.

Literalmente babei!

Ela olhou-me preocupada, com certeza pela cara de lesada que eu fazia!

_ Ei, fala comigo... – começou a se aproximar mais da minha pálida face enquanto me erguia nos seus braços.

_ É... Estou bem, dentro do possível! – de repente, me lembrei do ocorrido. De estar sendo perseguida pelo cara do bar e de perder o controle do carro ao entrar velozmente numa curva. Balbuciei para mim mesma – Meu Deus! Eu... Eu quase morri!

_Sim, quase morria... Mas, agora, precisamos ir ao hospital – falou a linda mulher. 

_ É... Você chegou aqui como? – questionei atordoada e sentindo a dor em meu braço aumentar. 

_ Eu estava na orla, quilômetros atrás, quando percebi o que acontecia e vim ao seu socorro. – esclareceu a bela mulher.

_ Ah... – estava com um pouco de dificuldade de me concentrar no momento e começava a sentir meu braço esquerdo latejar mais com a dor... Gemi de novo – Aiiii... Não quero parecer ingrata, mas meu braço machucado está esmagado contra o seu peito e está me matando! – conclui com um leve sorriso pra ela.

_ Tudo bem – falou nervosa e, como se eu pesasse uma pena, trocou-me de lado em seus braços sem nem alterar a respiração.

_ Ei estranha, quer me colocar no chão? Sei que devo estar pesando em seus braços – falei tentando descer de seus braços embora estivesse estranhamente me sentindo em casa neles.

_ Hum, não!– Falou meio contrariada, me apertando um tantinho mais – Vamos seguir em frente, creio que estamos próximas do centro! Com um pouco de sorte conseguiremos um telefone e chamamos a emergência! – começou a andar rápido.

Fiquei olhando o seu perfil duro e para quebrar o silêncio perguntei em tom de brincadeira: 

_ Meu nome é Wendra e o da minha heroı́na, pode-se saber qual é? 

_ Andrah! – respondeu a belíssima mulher.

_ Andrah... Bonito nome, igual à dona – saltei sem perceber.

_ Oh My god!!! Que deu em você garota? – repreendi-me em pensamento após o que falei – A batida na cabeça soltou os parafusos que seguravam a sua língua?

Sem notar afundei meu rosto envergonhado em seu pescoço. Nesta hora, senti pela primeira vez como se ela não estivesse acostumada a respirar fundo e soltava um resfolegar desajeitado, como que chocado.

Andrah

_ Gente o que foi isso?!– pensava Andrah toda arrepiada sentindo os lábios e a respiração da ruiva em seu pescoço – Diabos, estou fervendo! E ainda tenho que fingir respirar... A Vanilla faz isso com tanta facilidade que já virou um hábito... Já eu, humpfffff!

Estava tão concentrada no pequeno corpo em meus braços, que só me dei conta de que não estavámos sozinhas na estrada um pouco tarde demais! Ao sentir uma presença nas sombras ao lado do acostamento, segurei Wendra com um braço enquanto rapidamente sacava a pistola e disparava em direção ao intruso.

_ Merda Andy!!!– foi o grito irritado que veio da direção em que atirara – Olha que você fez? Estragou minha camisa preferida! Vai pagar quatro a mais por causa disto.

Falava uma exasperada Vanilla se aproximando apontando para o braço onde descia um filete de sangue.

Wendra

Eu olhava de uma para outra e pensava: 

_ Aonde me meti? Que pessoas doidas são estas?! Uma atira sem procurar saber quem é... Outra toma um tiro e se queixa porque teve sua camisa preferida estragada?! Oi, como assim?! Para que quero descer deste trem da loucura!!!!

_ Você pediu por isso! – afirmou a minha heroı́na – Se tivesse se anunciado em vez de se esgueirar pelas sombras, não teria acontecido nada a esta camisa velha! Humpfff – bufou e continuou seguindo como se nada tivesse ocorrido.

_ Ingrata, se não tivesse vindo em seu rastro junto com Quir, depois de ficar horas fora! – falou a outra em tom de repreensão – Terias que andar até o centro.

_ Quir?!– minha heroína chamou e em seguida apareceu um deus loiro de ombros largos todo musculoso, sorrindo divertido.

_ Andrah, todos agradecemos por, enfim, forçar Vanilla a trocar de camisa depois de anos! – falou o loiro visivelmente tentando irritar a mulher ferida que bicuda lhe mostrou o dedo do meio num gesto obsceno.

A bonita negra que provavelmente chamava-se Vanilla soltou um bufo irritado; entrou na mata ao lado e depois de minutos retornou numa Pajero Sport cor preta, parando ao nosso lado e ordenando emburrada:

_ Ou entram agora ou os deixo aqui!!

Trinta minutos depois entrava na emergência do pronto-socorro, ainda nos braços da minha salvadora que não me largara em nenhum momento, trazendo-me sentada em seu colo até ali.

_ Fala sério, eu amei estar em seu colo... Senti-me muito segura em seus braços – pensei suspirando confusa com meus sentimentos. 

_ Não me deixa – falei segurando em seu braço ao ser posta na maca onde seria conduzida aos exames.

_ Vou estar exatamente aqui linda moça, te esperando sair – respondeu carinhosamente me olhando – Vai por que precisa ser examinada urgentemente – piscou os olhos marotamente pra mim e sussurrou em meu ouvido: – Descanse! Não vou a lugar nenhum sem minha carga preciosa em meus braços!

Sorri mais descansada e lhe soltei lentamente os braços sendo conduzida para exames. 

Acordei assustada e sozinha. Olhei em volta e percebi que estava num quarto do hospital... 

Entristeci... ela me deixou. Senti meus olhos encherem de lágrimas e meu peito apertar com um sentimento de perda. Virei o rosto para parede.

_ Para com isso, garota... Ela não tem obrigação nenhuma contigo!– Falava comigo mesma – Já fez o suficiente, se não fosse ela provavelmente você estaria morta, carbonizada naquela estrada. Seja grata e segue em frente!

Mas meu coração confrangia-se mais ainda ao pensar que nunca mais veria aqueles olhos cor de mel incomparáveis!

_ Aff! Como posso sentir tanta falta de uma total desconhecida?! – resmunguei irritada.

A porta foi aberta e nem virei de tão desinteressada que estava por quem adentrava; Afinal, quem eu desejava não voltaria!

_ Então, alguém aqui ainda lembra-se de sua acompanhante que foi deixada na recepção sem nenhuma notı́cia por duas madrugadas, enquanto sedada dormia gostosamente nesta caminha?!– a voz gostosa da morena soou.

_ Andrah!!! – virei-me cheia de entusiasmo.

Sem perceber já esticava as mãos para ela que não se fez de rogada apressando-se em minha direção, onde foi recebida com um abraço ansioso de minha parte.

_ Pensei... – calei-me emocionada entre seus fortes braços.

_ Psiu! – abraçou-me forte – voltei para te buscar. Após seus exames o médico disse que seu ombro estava luxado, não precisaria cirurgia, mas teria que posicionar o osso devidamente no seu lugar e informou que seria doloroso, depois imobilizaria. Sedaria-te pra você sofrer menos e em 72h poderia ir para casa se não houvesse nenhuma outra complicação. Sendo assim, como prometido... Vim buscar minha carga preciosa e levá-la ao seu lar.

Seus olhos brilhavam enquanto falando me olhava.

_ Que sentimento de alegria era esse experimentado por mim toda vez que olhava e ouvia aquela mulher?! – Perguntava-me espantada – Bem, não entendo o que sinto... Porém, uma coisa eu sei: Que bom que a encontrei!!!!

Fim do capítulo