III CAPÍTULO

Não poucas vezes esbarramos com o nosso destino pelos caminhos que escolhemos para fugir dele." (Jean de La Fontaine)

Andrah

Precisava daquele tempo para mim. Vivia sob muita pressão... Sempre foi assim.

Porém, anteriormente era menos porque meus pais líderavam e de mim era cobrado apenas preparação para quando chegasse o tempo; O meu tempo de líderar, eu estivesse preparada para assumir o cargo.

Mas então aconteceu o assassinato dos meus pais e a responsabilidade de gerir todos os clãs desabou sobre meus ombros, de supetão. Eram inúmeras cobranças agora...

Aúltima do conselho era que eu precisava urgentemente formar a família real; insistiam que já passara do tempo. Com isso eram investidas de todos os lados: homens, mulheres... Todos querendo fisgar-me, levar-me ao altar!!

Percebera que líder Wrades, insinuava ao conselho que a antiga aliança que não se cumprira no passado,  poderia realizar-se agora comigo e seu neto Klauss levando a paz permanente entre as casas. Cada dia eles me pressionavam mais a casar! Entretanto, iria adiar até não poder mais. 

Não que não quisesse uma famı́lia, queria sim; mas não como uma simples aliança de paz. Almejava ter o que seus pais tiveram: AMOR! Mesmo que não houvesse um stinker, porque isso era bem difícil ocorrer... Queria amar a pessoa com quem partilharia minha vida, com quem teria filhos.

Sentia um aperto no peito, porque o tempo passava... Eu já namorara muitos homens e mulheres! Entretanto, nunca sentira por nenhum mais que atração! Nunca tivera forte sentimento por ninguém. Até mesmo com sua querida prima e amiga Pariah... Nada!

_ Será que o problema está em mim? Verdadeiramente tenho o coração seco, como já fui acusada por um ex?!

Enquanto pensava tudo isto, voava pela estrada na minha moto MV Agusta F4CC. Essa máquina possui 198 cv de potência, passa de 300km/h e é feita artesanalmente de metais nobres e fornecedores especiais. (Ferrari).

Parei num bar no centro da cidade que era misto, muitos Vampers misturavam-se normalmente aos humanos frequentadores habituais; Resolvi tomar um drink para relaxar, o lugar era bonito e tinha um público jovem.

Sentei-me numa discreta mesa bem posicionada; não poderia descansar com minha segurança, estava atenta a quem saía e entrava do lugar; também estava bem armada.

As espadas trashi flamejantes que fora de meu pai estavam presas no suporte às minhas costas por baixo da jaqueta de couro marrom que usava e, para completar, na cintura estava uma pistola Taurus 938 calibre 380.

Vários olhos femininos e masculinos me buscavam numa discreta paquera, mas ignorei a todos.

Estava ali há quase uma hora divagando, quando peguei pelo canto dos olhos uma figura que entrava pela porta lateral, virei a cabeça atraı́da pela presença. Era uma ruiva de cabelos longos quase na cintura, com no máximo 1,53 de altura e olhos verdes lindos!

Era curvilı́nea, cintura fina, quadris largos...

_ Hummmm... Uma delı́cia!! – encantada ronronei apertando os olhos.

Usava uma saia social branca na altura dos joelhos, coxas grossas marcavam-se por baixo dela, camisa de seda verde com um discreto, e não menos delicioso por isso, decote. Andava sobre saltos altı́ssimos (essas pequeninas sempre em saltos...) e levava uma bolsa de mão compacta, como ela.

Passou ao meu lado e fui nocauteada por seu cheiro. Não do perfume, mas da sua essência natural: ela tinha cheiro de especiarias!!!! Fiquei estática naquele lugar; meus olhos não conseguiam se desviar dela.

Percebi o garçom se dirigir à sua mesa e agucei ainda mais minha audição para beber sua voz e fiquei tonta com o tom rouco dela... Falava macio!

_ Deuses, que mulher era aquela! – pensei estupefata – Quase perfeita... Só tinha um defeito: HUMANA, total e completamente humana.

Eu não me envolvia com humanos! Já passara por muitas humilhações pelos puros sangues por ser mestiça e, no subconsciente, acabei guardando um desprezo pelo lado humano na minha genética. 

Sei que estou errada, mas fazer o quê?!! Não sou perfeita!

_ Quero um vinho tinto, por favor – A ruiva falava ao garçom e terminou lançando um sorriso arrasa quarteirão para ele.

O rapaz derreteu-se todo em gentilezas no atendimento voltando rapidamente com seu pedido.

Senti uma coisa diferente... Quase... Quase ciúmes do sorriso que ela dera ao garçom; uma sensação de posse como se os seus melhores sorrisos deveriam ser direcionados a mim. Somente para mim!!

_ Genteee... Bebi demais, só pode!!! – resmunguei e na mesma hora revirei os olhos com sarcasmo comigo mesma, pensando: _ Andrah? Acorda! Estas bebidas humanas são como água em seu mestiço sistema de vampers!

Fiquei mais um pouco por ali secando a ruiva.

Determinado momento ela, como se sentisse a insistência do meu olhar, olhou-me diretamente. Percebi um choque também nela, como se tivesse sentido algo ao ver-me; Porém, rapidamente desviou os olhos verdes e a partir deste momento parecia evitar minha direção.

Fiquei decepcionada, pois parecia que não lhe provoquei interesse, me ignorava abertamente!!!

_ Quer saber? Vou-me embora! – pensei melindrada.

Acenei para o garçom que me atendera e solicitei a conta! Enquanto esperava, vi um homem que estava no balcão do bar se dirigir ao barman e, de repente, a ruiva recebia outra taça de vinho e um bilhete.

Ela leu o que tinha escrito e olhou séria ao paquerador do balcão que lhe saudou com um sorriso de pasta dental erguendo a taça em sua direção. 

Travei os dentes chateada e prendi o ar enquanto aguardava para ver qual seria sua reação!!

_ Devolva-lhe o pedido e informe que só tomo uma taça de vinho por dia, minha cota já chegou por hoje! – ela disse ao garçom voltando a ler uns papéis que analisava antes de ser interrompida.

O homem ao perceber o fora, franziu o cenho e apertou os lábios furioso! Entornou o drink que tinha em mãos e pediu outro sempre olhando firme para minha ruiva!

_ Quer dizer: para ruiva! Minha não... – sacudi a cabeça jogando o pensamento louco pra fora – Eu hein!

Retirei-me dali, precisando sair e querendo ficar!

Alguns quilômetros adiante parei na orla para apreciar o mar, encostando a moto à beira da estrada. Quando contemplava embevecida a beleza do lugar vi um carro passar velozmente sendo perseguido por outro... E o pior, o cheiro que captei foi de especiarias!

A ruiva estava em apuros!!!!!

Liguei a moto e saí a toda; lá na frente havia uma curva perigosa, se ela continuasse naquela velocidade poderia acidentar-se fatalmente. Acelerei desesperada. Próxima ao trecho perigoso, ouvi o derrapar de pneus e um grito apavorado seguido por um barulho de capotamento.

Quando cheguei vi o carro da ruiva capotado e o outro veículo que a perseguia arrancar desviando e fugindo do local.

Queria pegá-lo e fazê-lo pagar por aquilo, mas não havia tempo! O carro vazava gasolina e estava prestes a explodir.

Corri sobrenaturalmente, arranquei a porta rasgando-a como se fosse de papel! A ruiva gemia, sangrando e presa no cinto de segurança que fora essencial pra mantê-la com vida naquele acidente. Parti o cinto e rapidamente a retirei correndo à toda para bem longe! 

O carro explodiu...

Se a minha velocidade fosse humana teríamos morrido, as duas, naquela hora e naquele lugar.

A depositei na grama para avaliar seu estado, pois ao olhá-la enquanto corria verifiquei que, mesmo atordoada, abrira os olhos.

_ Moça?! Moça, você está bem? Está conseguindo me entender? Pode falar? – Me angustiava aguardando uma resposta, ela parecia desnorteada encarando-me com aqueles verdes em estado de confusão.

Fim do capítulo