Capítulo 16
Saí do escritório com os nervos ainda mais abalados. A raiva e a impotência se digladiavam dentro de mim. Tia Claudia tomou-me pela mão quando me encontrou na saída do escritório e me levou para a copa.
-- Venha querida, vou lhe dar um chá de cidreira. Você está por demais, abalada.
Não consegui dizer nada a ela. As palavras me abandonaram. Eu não conseguia balbuciar uma sílaba sequer. Deixei-me levar e desabei numa cadeira colocando os cotovelos sobre a mesa e cobrindo o rosto com as duas mãos. Deixei mais uma vez as lágrimas caírem. O que eu diria para Júlia? Como falar com ela sobre as suspeitas que, na verdade, eram quase certezas do delegado?
O doutor Teixeira, depois de conversar com todo mundo, permaneceu na chácara para aguardar o telefonema. Com as informações do bandido, montaria um esquema para pegá-lo, assim que nos devolvesse Antenor.
Quando recebi a xícara de chá percebi que minhas mãos estavam por demais trêmulas. Por pouco não deixei a xícara cair. Descansei-a no pires e olhei para minha tia que acabava de se sentar.
-- Querida, tenho algo a lhe dizer e tenho quase certeza que não lhe fará muito feliz.
Fiz uma careta, tentando imaginar o que ainda poderia me acontecer de pior naquele dia.
-- O que foi que aconteceu, tia? -- Busquei na minha mente, o que de trágico poderia ser -- Algo com minha mãe?
Ela esboçou um sorriso sem graça e soltou a bomba com uma voz que traduzia, antecipadamente, todo aborrecimento e enfado que sentiria nos próximos dias.
-- Não, meu bem. Madeleine está bem. É o seu noivo. Ele me ligou. Disse que não conseguiu falar com você no escritório e...
Eu senti uma agonia só de lembrar de Augusto. Essas longas semanas com ele longe estavam me deixando tão aliviada...
-- O que tem ele tia? Não me diga que está pensando em vir para cá, justamente agora?
Tia Claudia segurou minhas mãos e me olhou fixamente. Seus olhos me disseram que eu estava bem perto da verdade.
-- Ele não está pensando em vir, minha filha. Ele já está vindo. Deve estar sobrevoando o Atlântico a uma hora dessas. Amanhã estará chegando...
Eu me levantei exasperada. Seria demais para mim, aguentar Augusto num momento como aquele.
Olhei no relógio e vi que já se passavam das 20 horas. Sem dizer mais nenhuma palavra fui direto para o quarto de Julia. Aguardaria o telefonema ao lado dela, e quando se aproximasse da meia noite, desceria para o escritório para falar mais uma vez com o sequestrador.
Quando entrei no quarto, ela estava recostada na cabeceira da cama com os olhos fechados. A camisola transparente revelava, mesmo com a tímida luz do abajur, as suas formas perfeitas. Engoli em seco e me aproximei vagarosamente. Ela percebeu a minha presença assim que parei ao lado da cama.
-- Oi -- Cumprimentou-me num sussurro e com voz de sono. Seus olhos estavam bastante inchados de tanto chorar. Acariciei suavemente seus cabelos e me sentei junto dela, trazendo-a para meus braços.
-- Não me deixe sozinha, Sylvia! Fique comigo! -- Aninhou-se a mim, abraçando o meu corpo como se quisesse entrar em mim -- Não me deixe sozinha nesta noite.... Nem... nem nunca...
-- Não vou deixar, meu amor! Não vou deixar.
Pousei meu queixo em sua cabeça e a apertei mais em meus braços.
-- Procure ficar calma. Depois do telefonema tudo vai se ajeitar. Logo, logo o Antenor estará aqui conosco.
Fiquei com ela em meus braços até as 23:30 horas. Ela cochilou e acordou algumas vezes. Sempre acordava sobressaltada e se agarrava mais a mim. Eu havia me acomodado melhor na cama de modo que ficasse mais confortável e por alguns minutos acabei por cochilar também. Estávamos embrulhadas com a mesma coberta. Eu continuava recostada na cabeceira com os pés sobre a cama e ela, praticamente, deitada sobre o meu corpo. Vendo-a ali, tão vulnerável, tão abatida, percebi, mais uma vez, o quanto ela era sensível e frágil. Eu me senti na obrigação, no dever de protegê-la, de tomar conta dela para sempre. Vi também o quanto precisávamos uma da outra.
***************
Vinte minutos depois que eu entrei no escritório, o telefone tocou. Peguei o fone e o doutor Teixeira pegou a extensão. O meu coração batia desgovernado no meu peito, minhas mãos estavam trêmulas e úmidas. Respirei fundo e soltei o ar antes de responder:
-- Alô?
Ouvi uma respiração entrecortada do outro lado da linha. Depois de alguns segundos que pareceram eternos e torturantes, a voz do sequestrador soou trêmula e audivelmente nervosa.
-- Rainha do gado! -- Soltou num riso estridente -- Imagino que tenha obedecido às minhas ordens, não é majestade? Se tentar alguma gracinha... Já lhe avisei...
-- Fiz o que me pediu. E, por favor, pare de me chamar de majestade, de rainha do gado. Coisa mais tola! -- Comecei a perder o controle.
-- Tudo bem, rain... Dona Sylvia! Pois é, espero que tenha feito tudo como eu mandei.
-- Fiz sim! Não chamei a polícia e nem contei nada para ninguém. Só me diga logo quando me entregará o menino...
-- Não precisa ficar nervosa minha rain... Dona Sylvia.
-- Acho que vocês é que estão nervosos... -- Joguei a isca. -- Eu estou calma... Mas vocês dois... -- Meu Deus, eu estava tão nervosa, tão irritada que nem sabia aonde estava encontrando coragem para provocá-lo.
Ouvi a respiração dele ficar um pouco mais agitada.
-- De... De quem a senhora... está falando? Eu... Eu peguei o menino sozinho...
Soltei uma risada nervosa mesclada com uma raiva incomum.
-- Não subestime a inteligência alheia, rapaz. Você acha que seria capaz de entrar aqui, sem ajuda? Vou lhes dar um aviso. Não machuquem meu irmão, porque se você ou ela encostarem um dedo nele, eu vou atrás de vocês no fim do mundo e acabo com suas vidas. -- Ameacei, jogando a isca de novo.
Doutor Teixeira me fazia sinais para me acalmar e não provocar o marginal, mas eu estava completamente fora de mim.
O telefone ficou mudo de repente. Instantes depois ele voltou a falar.
-- Tudo bem... Tudo bem minha rainha. Fique calma que seu irmão está bem... Até porque ele está sendo muito bem cuidado. Anote ai o lugar e a hora para a gente fazer a troca.
-- Estou ouvindo.
-- Amanhã, às 15 horas, num lugar público... Para não chamar a atenção.
-- Sei, mas... Mas onde?
-- Calma, minha senhora! Está nervosa agora? -- Uma risadinha irônica chegou aos meus ouvidos -- A senhora acha que sou idiota? Achou mesmo que eu ia fazer a troca num lugar ermo, na calada da noite?
Meu corpo todo já estava tremendo. Não estava aguentando mais aquilo.
-- Está bem, meu senhor, mas me diga logo o endereço! Vamos acabar logo com isso!
-- Assim é que se fala... A senhora é decidida, bem que a... Que o meu parceiro me disse! É... anota... anota aí o endereço.
Ele começou a falar o endereço:
-- Na esquina da Rua Barão Itapetininga com a Rua Dom José de Barros. Estarei com uma camisa vermelha, dentro da livraria do famoso slogan "qualquer livro por 1". A senhora me verá com um boné preto na cabeça. Vou estar folheando algum livro em alguma prateleira. Aproxime-se de mim sozinha, está entendendo?
Ele estava tão nervoso que seu tom de voz se elevava a um nível altíssimo para logo depois se abaixar.
-- Não quero ser surpreendido. Seu irmão estará por perto com meu parceiro e se a senhora fizer alguma bobagem ela... ele sumirá com o menino e a senhora nunca mais o verá.
-- Está... Está bem!
-- Não se esqueça de levar meus dólares!
Deu mais uma risada e desligou.
Minhas pernas fraquejaram ainda mais e, depois de colocar o fone no gancho, me pus a chorar descontroladamente.
-- Só pode ser a babá! A maldita babá! O senhor ouviu como ele... como ele trocou os pronomes doutor?
Tia Claudia se aproximou de mim e me abraçou:
-- Sei que não deveria dizer isso, mas não acredito que Angélica, se for ela mesma, fará mal a Antenor, nem deixará que o homem o maltrate.
Ninguém comentou a fala de tia Claudia e o silêncio imperou na sala por longos minutos. Depois doutor Teixeira pigarreou:
-- Bem dona Sylvia, agora teremos que nos esquematizar para pegar esse crápula. Tenho certeza que não será difícil.
-- Será doutor? Ele pode estar nervoso, mas não deve ser tão tolo para se deixar pegar tão facilmente.
-- Sei disso. Preste bem atenção no que vou lhe dizer. Ele ficará observando se a senhora chegará sozinha e só entrará na livraria quando tiver certeza de que a senhora entrou só e de que não veio acompanhada, nem se foi ou está sendo seguida.
Antônio, eu e tia Claudia o ouvíamos atentamente.
-- Mas, mesmo assim não será difícil pegá-lo.
-- Mas e Antenor? Tenho medo de que esse maldito sequestrador perceba a armadilha e machuque o menino.
-- Isso não vai acontecer porque vou colocar alguns homens lá amanhã bem cedinho. Ele irá pensar que são apenas transeuntes. A cada hora eles serão trocados para não levantar suspeitas.
-- Espero que dê certo. Tem que dar certo.
-- Vai dar certo sim, dona Sylvia. Confie em mim.
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Quando voltei para o quarto de Julia ela estava acordada, tentando driblar os remédios que o médico receitou, e ansiosa para saber do telefonema.
-- E então?
Aproximei-me da cama e me deitei. Já havia passado no meu quarto e vestido um pijama. A noite estava fria, pois ainda era início de agosto.
Puxei as cobertas sobre nós duas depois que ela deitou a cabeça no meu peito e se agarrou ao meu corpo em busca de aconchego. Quando senti o peso de sua perna direita sobre meu ventre, uma forte contração e um arrepio percorreu meu corpo. Inspirei fundo e fiz uma força tremenda para afastar aquelas sensações. Como podia sentir tesão numa situação daquelas? Censurei-me em pensamento.
-- A troca será amanhã à tarde, meu amor e tudo vai dar certo. Ele não é um profissional, por isso será facilmente apanhado.
-- Tenho tanto medo, Sylvia, tanto medo!
Senti seus dedos acariciando meu pescoço. Fechei os olhos para manter o controle. Ela não estava tendo a menor noção do que estava fazendo comigo naquele momento. Aproximou-se mais de mim e, ao fazer isso, senti o calor da sua intimidade na lateral do meu quadril. Segurei um gemido e mais uma vez inspirei fundo. Ela estava de camisola e eu sabia que estava sem calcinha e sem sutiã, pois só dormia assim.
-- Estou com sono.... O doutor José me receitou um remédio que está... me deixando... muito... muito mole... -- Balbuciou com a voz já meio engrolada e mais uma vez se aconchegou a mim, roçando novamente o seu sex* no meu quadril. Segundos depois percebi que já estava dormindo. O remédio devia ser mesmo um sossega leão. Ela iria dormir bem, enquanto que eu teria uma noite de tortura. Meu corpo todo estava latejando de vontade de tomá-la e possui-la inteira. Era humanamente impossível resistir a uma mulher daquelas, mesmo no momento tenso que estávamos vivendo.
Assim passei a noite inteira com ela em meus braços e me segurando para não ceder aos apelos da minha carne. Vi o galo cantar e o sol nascer.
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No outro dia não fui trabalhar. Antônio seguiu para a empresa e se incumbiu de tomar as decisões por mim. Por volta das nove da manhã o doutor Teixeira me ligou e me disse que já estava fazendo a quarta troca de policiais. Começara a vigilância às cinco da manhã. Colocara cinco policiais para cobrir as ruas próximas e mais dois sobre os telhados de duas construções em frente à livraria.
Antônio ficara de fazer a retirada do dinheiro naquela manhã. Eu teria que passar na empresa, pegar a pasta com os dólares e seguir para lá sozinha de táxi. Assim o sequestrador exigira: "Venha de táxi, dona Sylvia. Seus carros chamam a atenção demais.
Fiquei toda a manhã em casa com Julia. Decidi só contar a ela sobre Angélica depois de tudo acabado. Seria melhor poupá-la de mais um sofrimento, pelo menos por enquanto.
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Emanuelle, no café da manhã, aproximou-se de mim e com o olhar visivelmente triste me abraçou.
-- Desculpe-me por tudo que lhe fiz. -- Me olhou com os belos olhos esmeraldas, cheios de lágrimas -- Eu estava completamente fora de mim. Agi como uma criança mimada, como uma egoísta inconsequente -- Beijou meu rosto e eu correspondi ao seu abraço -- Sei o quanto está sofrendo. Lembra-se de que minha irmã já foi também sequestrada, não se lembra?
Eu a adorava e meu coração não tinha coragem de expulsá-la dele.
-- Lembro-me sim.
Sentamo-nos e começamos a tomar café. Antes que terminássemos, porém, ouço a voz de Augusto vindo em nossa direção. Tinha me esquecido completamente que ele estava chegando. Um enorme peso e uma enorme angústia se apossaram do meu coração. Emanuelle olhou para mim e percebeu de imediato o meu desagrado
-- Ele não poderia ter escolhido uma pior hora para aparecer, não é?
-- Se você gosta mesmo de mim, se é realmente minha amiga, mantenha-o longe de mim o máximo que puder, pelo menos até todo esse pesadelo passar.
Ela acenou a cabeça em acordo.
-- Sylvia! Meu amor, que saudades!
Aproximou-se da mesa e me puxou para um abraço. Foi logo procurando meus lábios. Eu apenas deixei que ele os tocasse por breves instantes sem, no entanto, corresponder e desvencilhando-me logo em seguida.
Ele fez uma cara de aborrecimento pela minha recepção, mas não disse nada. Puxou uma cadeira e se serviu de uma xícara de café.
-- Estou faminto!
Enquanto ele narrava a viagem e seu desempenho nas empresas do pai, eu apenas o ouvia calada. Emanuelle fingia interesse pelo que ele falava. Quando, porém, me levantei e pedi licença para me afastar, ele me olhou assustado:
-- Para onde vai, querida? Vai me deixar aqui? Precisamos nos falar a sós. Acabei de chegar.
-- Augusto, eu sinto muito, mas não vou poder lhe dar atenção, pelo menos por hoje. Emanuelle vai lhe contar o que está acontecendo. Eu não tenho cabeça para isso. Com licença.
Sai o mais rápido que pude. Ele ficou tão estupefato com a minha postura que não conseguiu dizer mais nada.
Segui para o quarto de Júlia e lá fiquei até a hora de ir para a cidade.
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Na empresa, sentada à minha mesa, olhava para as duas pastas que continha o valor de um milhão de dólares. Fiquei imaginando que, se não houvesse tanta desigualdade social no mundo, as pessoas não lançariam mão de artifícios tão cruéis e terríveis para conseguirem aquelas notinhas de papel. Mas, infelizmente, assim era a vida.
-- Doutor Teixeira já está lá na livraria. Procure manter a calma, sei que é difícil, quase impossível, mas tente.
Antônio tentava me acalmar. Eu estava tremendo demais. Já havia tomado várias xícaras de chá calmante. Ele olhou no relógio.
- Já está na hora. O táxi já chegou. Vamos! Eu lhe acompanho.
Descemos e antes que eu entrasse no táxi ele me abraçou e me deu um beijo na testa. Abriu a porta para mim, só me dando as pastas, quando eu já me encontrava sentada.
-- Que Deus lhe proteja. Vai dar tudo certo.
Se me perguntarem se eu percebi o percurso até a livraria, eu respondo que não, porque na verdade, não enxerguei nada. Sentia-me num mundo à parte, como se estivesse vendo tudo através de uma cortina de fumaça. Só percebi que o táxi havia chegado ao meu destino, quando o motorista me alertou:
-- Senhora, chegamos. Quer ajuda com as pastas?
-- Não... não é preciso. Obrigada!
Como Antônio já havia pagado a corrida, eu desci e, antes de dar os primeiros passos em direção à livraria, olhei para os lados. Apertei com firmeza as alças das maletas e segui tentando manter os passos firmes. Atravessar a calçada e entrar na livraria, me pareceu o percurso mais longo que já havia feito em toda a minha vida. Entrei e iniciei os primeiros passos entre as prateleiras. As maletas pesavam em minhas mãos, mas procurei não chamar a atenção para esse detalhe. Imaginei que só o fato de estar segurando aquelas duas maletas, por si só, já chamava a atenção. Uns cinco ou dez minutos depois um rapaz alto e magro, trajando camisa vermelha e boné preto se aproximou de mim por trás. Estremeci ao ouvir sua voz.
-- Vejo que fez tudo como eu mandei.
-- Onde...
-- Não diga nada! Apenas me ouça.
Eu acenei a cabeça e continuei parada.
-- Aqui em frente tem um barzinho de um amigo meu. A senhora seguirá para lá. Não precisa ter medo que ninguém lhe fará mal. Siga-me!
Ele saiu andando na frente e quando chegamos perto da porta de saída ele parou novamente.
-- Vá, atravesse a rua, olhando apenas para a frente. Não faça nada que chame a atenção. Daqui a pouco eu vou para lá.
-- O que... O que eu faço quando chegar lá? Quem me garante que não vão me assaltar?
-- Confie em mim! Vá e quando chegar lá, se sente e peça um suco ou um café. Não faça nada que levante suspeitas. Se fizer alguma gracinha...
-- Nã... não farei nada...
Eu fiz como ele mandou. Atravessei a rua sem perceber nada de anormal, nem ninguém me observando. Quando cheguei à entrada do bar, segui para uma mesa vaga - na verdade havia poucas mesas ali -, me sentei e me pus a esperar. Contei as mesas, quatro apenas. Era uma mistura de bar e restaurante. Um rapaz se aproximou e me perguntou se eu queria alguma coisa. Eu pedi um suco e assim que ele se afastou, eu olhei para a rua e respirei aliviada quando vi o doutor Teixeira saindo da livraria. Ele saiu e caminhou em direção à esquerda, porém na mesma calçada da loja de livros. Era impossível alguém perceber que ele estava de olho no sequestrador. Poucos minutos depois que o delegado saiu, o homem de camisa vermelha surgiu na porta e ficou parado olhando para todos os lados. Era realmente um amador, pois era visível o seu receio de estar sendo observado. Enfiou uma mão no bolso da camisa e sacou uma carteira de cigarros. Levou um aos lábios e o acendeu com um fósforo. Deu uma tragada profunda, jogou o palito na rua e seguiu em direção ao bar em que eu estava. Antes, porém, que ele chegasse à porta, vi Angélica com Antenor nos braços atravessando a rua também em direção ao bar. Meu coração acelerou ainda mais quando vi meu irmão. Respirei fundo para manter a calma. As suspeitas do delegado e as minhas se confirmaram. A maldita babá era a cúmplice! Como ela pode ser tão dissimulada! Como pode nos enganar tão bem! Senti o meu sangue gelar e a vontade de correr até ela, arrancar-lhe Antenor dos braços e enchê-la de tapas quis me dominar.
O sequestrador entrou e se sentou à mesa em que eu estava e Angélica numa mesa próxima. Ele parecia estar realmente acreditando que eu estava sozinha.
Um rapaz trajando uma calça caqui, uma camisa esporte e um chinelo já gasto entrou no bar e se dirigiu ao balcão. Não percebeu a nossa presença. O atendente serviu a ele uma cerveja.
-- Dona Sylvia, preste bastante atenção no que vou lhe dizer. Continue fazendo tudo direitinho, e a senhora e seu irmão sairão daqui sãos e salvos.
Eu apenas balancei a cabeça. Pelo canto dos olhos observei Antenor. Ele estava agarrado ao corpo de Angélica e parecia estar dormindo. Deviam ter dado alguma coisa para ele, pois um menino de dois anos não estaria dormindo numa hora daquelas.
-- Não fique olhando para seu irmão. Preste atenção no que vou lhe dizer. Tenho uma arma aqui na minha cintura -- Ele levantou um pouco a camisa e pude ver um revolver enfiado no cós da calça. Eu não sabia, mas o rapaz que estava bebericando a cerveja no balcão era um policial e estava de olho em todos os movimentos do sequestrador. Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, uma mulher entrou e se aproximou da mesa de Angélica:
-- Posso me sentar aqui? Não tem mais mesa vaga.
Angélica olhou para o homem e ele fez um pequeno aceno em concordância.
-- Claro!
A mulher se sentou e comentou sorrindo:
-- Lindo menino! É seu filho?
-- Nã... não... É meu... sobrinho!
Eu estava ficando tonta ouvindo aquele diálogo. Quem diabos era aquela mulher? Será que era mais uma cúmplice ou uma policial? Tive medo de que o homem ficasse nervoso e fizesse alguma bobagem.
-- Dona Sylvia, a senhora vai colocar as maletas no chão agora... Faça isso!
-- Mas...
-- Não discuta comigo! Faça o que estou mandando! -- Disse baixinho e entredentes.
Eu obedeci. Pelo canto do olho vi que o rapaz do balcão olhou para a rua e lentamente seguiu para a saída passando bem perto de nossa mesa. O sequestrador estava de costas para o balcão e de frente para a entrada do bar, ao passo que eu estava de lado. Coloquei as maletas no chão bem devagar. Minhas mãos estavam trêmulas demais.
-- Agora eu vou apanhar as malas e sair...
-- E... E o meu irmão?
-- A moça que está com ele, o entregará à senhora assim que eu sair.
-- Cer... certo.
Ele se levantou, pegou as duas malas e começou a andar em direção à porta. Não olhou para Angélica, saiu como se não a conhecesse ou nem a tivesse visto ali. Eu, de imediato, olhei para ela e fiquei surpresa ao perceber que ela estava com lágrimas nos olhos. A mulher que havia se sentado à sua mesa estava muito próxima a ela e acariciava a cabecinha de Antenor. Aquela cena me deixou mais nervosa ainda. Meus olhos se encontraram com os da mulher e ela me piscou rapidamente um olho.
Meu coração gelou quando o rapaz do balcão, ao entrar de novo no bar, se chocou com o sequestrador de uma forma tão brusca que o derrubou no chão. As maletas se soltaram de suas mãos.
-- Está cego! Não olha por onde anda? -- Esbravejou o sequestrador. Antes mesmo que tentasse se levantar foi imobilizado e desarmado pelo rapaz do balcão.
Assim que o rapaz caiu, doutor Teixeira e mais dois policiais entraram no recinto e pediu calma a um casal que estava sentado em outra mesa e ao dono do bar.
-- Fiquem calmos e em seus lugares.
O olhar do sequestrador era uma mescla de pavor e ódio. Gritou a plenos pulmões:
-- Fuja Angélica e leve o menino!
Ela simplesmente se levantou seguida pela mulher, aproximou-se de mim e me entregou o menino. Foi aí que eu tive certeza de que a mulher era uma policial.
-- Des... desculpe dona Sylvia! Eu... eu não queria fazer isso... Ele... ele me... me obrigou. Eu... eu cuidei bem dele!
Ela soluçava e tremia descontroladamente. Eu não tive estômago para lhe dirigir a palavra, apenas recebi meu irmão e ela saiu passivamente com a policial.
Dali mesmo do bar, segui para o hospital numa viatura da polícia com Antenor e as duas maletas com o dinheiro.
********************
Do hospital liguei para Júlia e dei as boas notícias. Ela chegou ao hospital o mais rápido que pode, acompanhada de tia Cláudia e Helena. Antenor estava em observação, pois segundo o diagnóstico, haviam lhe dado uma pequena dose de sonífero. Teria alta no dia seguinte. Júlia, enquanto o abraçava, derramava lágrimas de alegria, dor e desespero. Toda a tensão, pela qual havia passado, desaguava pelos seus olhos e soluços. Eu, sentada numa poltrona, a observava agarrada ao filho. Meus olhos também não paravam de derramar grossas lágrimas quentes e dolorosas.
Helena se ofereceu para passar a noite com Júlia, me aconselhando a ir para casa descansar.
Júlia, colocando Antenor na cama, me abraçou.
-- Helena tem razão, meu amor -- Sussurrou em meu ouvido enquanto me abraçava apertado -- Precisa descansar. Amanhã cedo estaremos lá.
-- Está certo. Mais tarde eu te ligo, então.
Ela me apertou mais um pouco e falou baixinho.
-- Eu te amo! Obrigada, meu bem! Obrigada por tudo!
Eu a estreitei mais em meus braços, beijei seu rosto e me afastei suavemente indo dar um beijo em Antenor.
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Antenor e Júlia voltaram para a casa na tarde do dia seguinte. Sós os vi a noite quando voltei do trabalho. A minha manhã havia sido cheia na empresa, reuniões, relatórios para conferir, papéis para assinar, sem contar que Augusto passou o dia todo colado no meu pé. Ele havia ficado alarmado com o que acontecera com Antenor. Não escondia o ciúme tolo que sentia do menino, mas ficou sensibilizado com a situação.
Naquela tarde mesmo tocou no assunto do casamento.
-- Tudo bem, Augusto. A gente marca a data e acabaremos logo com essa novela.
-- O que você acha no final do ano? Estamos em agosto e daqui até lá, há tempo suficiente para prepararmos tudo. Minha irmã e minha mãe estão de prontidão para darem início aos preparativos.
-- Nem pense em festas nababescas. Será apenas uma cerimônia simples num cartório.
-- Mas Sylvia...
-- Augusto, não percebe que estou lhe fazendo um favor?
Cada vez que olhava para ele eu percebia que nunca o havia amado. Percebia o quanto havia me enganado.
-- Eu não consigo acreditar, mesmo nas circunstâncias em que se dará o nosso casamento, que não sinta nenhuma emoção. É o sonho de toda mulher entrar na igreja de véu e grinalda...
-- Acontece que eu não sou toda mulher...
-- Esse seu jeito frio Sylvia, me leva a crer que não sente nenhum amor por mim. -- Franziu a testa e me olhou com indignação -- Você sabia que meu irmão acha que você não me ama? -- Estudou minha reação às suas palavras. Eu permaneci inalterada -- Ele tem quase certeza que você tem outro.
-- É mesmo? Ele desconfia que eu tenha outro? -- Não consegui segurar o riso. "Se ele soubesse..." Pensei.
-- Você... você tem outro, Sylvia? Você está... me traindo?
Apertei os olhos e o encarei. Tentei controlar o riso, mas era impossível. Ele era tão centrado em si mesmo que nunca desconfiou do meu louco amor por Júlia. Qualquer cego seria capaz de perceber como eu ficava na presença dela. Ele, no entanto, não percebia nada.
-- Não vai me responder?
-- Não. -- Disse simplesmente. Não gostava de mentir. Naquele caso, teria que lançar mão da omissão.
-- Devo acreditar nas suspeitas do meu irmão? -- Seus olhos já estavam arregalados.
-- Augusto, acredite no que quiser. Eu não vou me dar ao trabalho de responder a uma pergunta ridícula dessas. Você e seu irmão, sinceramente...
-- Eu não sei como você pode ser assim, tão... tão fria. Sempre fez esse tipo durona, insensível. Sempre teve dificuldade em demonstrar seus sentimentos.
-- Poupe-me de suas terapias.
-- Meu Deus! Onde está aquela Sylvia que eu conheci?
Augusto nunca seria um homem de sucesso. Nunca se destacaria em nada que fizesse. Disse-me que estava trabalhando para valer na empresa do pai, mas eu tinha certeza de que ele jamais alcançaria um posto de destaque. Nunca passaria de uma espécie de empregado dos irmãos. Iria se enganar de que era um empresário de sucesso e os irmãos, por pura conveniência, o deixaria acreditar no próprio engodo. Receber todo mês o seu pró-labore seria o suficiente para ele.
Vendo-o ali, falando sem parar, andando de um lado a outro na minha sala, dava mostras, cada vez mais evidentes do quanto era imaturo, inconsequente e egoísta. Augusto era o tipo de pessoa que não enxergava o próximo como um ser humano com vontades, alegrias, dores etc. Para ele a humanidade existia apenas para satisfazê-lo. O mundo existia por causa dele e para ele.
-- Minha família não vai aceitar uma cerimônia simples. Somos muito respeitados em Lisboa. O casamento de um Siqueira não pode passar em branco.
Novamente a importância do nome da família. Aquilo me cansava demais.
-- É muito fácil resolver esse problema, Augusto. É só trocar de noiva. -- Para encerrar aquele assunto eu declarei taxativamente de uma vez por todas -- Esse casamento será do meu jeito e ponto final. Se sua tradicional família não quiser assim, você é quem sofrerá as consequências, você sabe muito bem disso.
Ele não disse mais nada e sentou-se numa poltrona. O medo de que eu desistisse era grande demais. Ficar deserdado, sem dinheiro seria a morte para ele.
-- Vamos? Já está mais do que na hora de ir para casa. Estou exausta.
Descemos em direção ao carro em silêncio. Ele passou o braço sobre o meu ombro e me puxou suavemente de encontro ao seu corpo. Foi um toque sutil, suave. Não avançou o sinal. Depois do meu alerta, pelo menos por hora, não se arriscaria a me irritar.
Assim que chegamos em casa eu fui imediatamente para o meu quarto. Estava louca por um banho e para ver Júlia. Fiquei por quase uma hora na banheira e quando sai estava com o corpo mais leve e relaxado. Como a noite estava um pouco fria coloquei uma calça comprida, uma blusa de malha, um leve casaquinho e fui atrás de minha madrasta.
Encontrei-a em sua sala de música, sentada num sofá com um livro na mão, enquanto Antenor se entretinha com um monte de brinquedos espalhados pelo chão.
Quando ela me viu me sorriu lindamente. Aquele sorriso aqueceu meu coração. Aproximei-me, dei um beijinho no meu irmão e me sentei ao lado dela. Rocei meus lábios nos dela suavemente.
-- Como está se sentindo?
Ela aproximou o corpo do meu e repousou a cabeça no meu peito.
-- Estou mais tranquila, mas acredita que ainda estou sentindo como se minhas carnes estivessem soltas. Meu corpo está dolorido.
-- É normal que se sinta assim, meu amor. A tensão pela qual passou foi grande demais. Eu também estou em frangalhos. -- Olhei para meu irmãozinho que estava tentando encaixar uma pecinha do lego. -- E ele? Manifestou alguma coisa?
-- Está ótimo. Ela não o maltratou. Acredita que ele já me perguntou por ela várias vezes?
Puxei-a mais para mim.
-- Logo, logo ele se esquece dela.
Ela pegou minha mão e a levou aos lábios.
-- Não quero nunca mais saber de babás. Eu mesma tomarei conta do meu filho.
-- Estarei sempre aqui para lhe ajudar no que for preciso, sabe disso, não sabe?
Ela mergulhou o intenso azul nos meus olhos e disse:
-- Eu sei, mas...
-- Mas...
Ela se afastou de mim e se sentou toda empertigada. Olhou-me fixamente e pude ver uma sombra em seus olhos. Era como se a luz tivesse se apagado daqueles dois faróis azuis. Li uma mescla de tristeza, impotência e revolta. Ela inspirou fortemente e por fim soltou.
-- O seu noivo está de volta, Sylvia. Quando ele está ausente eu me iludo, penso que um dia poderemos ser felizes juntas. Mas..., quando ele chega, a dura realidade me coloca no meu lugar nesta casa, na sua vida, na vida desta família.
Eu fiquei chocada com o que ela estava falando.
-- Júlia! Porque está dizendo isso? Eu já lhe falei que vou resolver minha situação com Augusto.
Ela me olhou de novo. Daqueles lindos olhos, as lágrimas começaram a cair.
-- Quando? Depois do casamento? Já pensou o tempo que levará para estar oficial e definitivamente separada dele?
-- Eu lhe garanto que será o mais rápido possível. Mas não será necessário esperarmos sair o divórcio para ficarmos juntas. A separação de corpos é... Melhor dizendo nem haverá união de corpos.
-- Sylvia, eu sinto muito, mas não me contentarei com o papel de amante na sua vida. Eu te amo demais para ter você pela metade... e...
-- Está querendo me dizer que enquanto a minha situação com Augusto não estiver resolvida nós...
-- É. Eu não acho correto... Não me sinto bem nessa relação clandestina... Vou me sentir sempre a outra...
Eu fiquei de pé de repente. Novamente o desespero, o pesadelo de não poder tê-la. Tudo por causa do idiota de Augusto e também por minha causa, por me sentir na obrigação de cumprir com minha palavra. Por sentir receio de que aquele imbecil atentasse contra a própria vida, como já insinuara muitas vezes.
Senti-me sem chão. Mantive-me em pé e fiquei olhando para ela. Como eu ia suportar ficar sem ela, sem poder abraçá-la, beijá-la, amá-la. Com uma grande agonia no peito sai da sala apressadamente em direção ao jardim. Precisava ficar sozinha e pensar. Imaginar ficar sem Júlia era o mesmo que morrer, era sentir a ausência de tudo, era simplesmente não existir.
*****************
Júlia estava sentindo uma saudade imensa de Sylvia. Queria muito sentir seu corpo junto ao dela. Queria dormir agarrada a ela, mas com a chegada do noivo, sentiu-se impotente e frustrada. O medo de que Sylvia ficasse eternamente vinculada àquele português a deixava em desespero. Muitas vezes sentia vontade de sair de uma vez por todas da vida dela, esquecer aquela família, com a esperança de acabar com todo aquele sofrimento, mas sabia que isso era impossível, Antenor era o elo que as ligaria para sempre de um jeito ou de outro. Amantes ou não, namoradas ou não, sempre estariam ligadas.
Tinha plena consciência de que teria que fazer um esforço sobre humano para resistir e não ceder aos clamores do seu corpo. Só o fato de ver Sylvia, já a deixava inflamada de desejo e, por ironia ou brincadeira do destino, quando o noivo estava por perto, sua ansiedade por Sylvia aumentava assustadoramente. No fundo, no fundo um diabinho incendiava seu corpo e lhe provocava o desejo - o que a deixava assustada e horrorizada consigo mesma -, de ir para a cama com Sylvia, debaixo do mesmo teto que o noivo. Vê-la ardendo de desejo por si, quando o tolo desfilava pela casa ostentando um enorme par de chifres, lhe causava um prazer inebriante. Todo mundo tem o seu lado maldoso e Júlia se assustava com o seu. Mas teria que resistir e não deixar esse seu lado de luxúria falar mais alto. No final das contas, em se tratando de Sylvia, ela não sabia o que pensava, não conseguia controlar seus impulsos, seus desejos, enfim, era uma fraca.
Uma leve batida na porta a tirou de suas elucubrações.
Sentiu um incômodo acompanhado de acanhamento ao ver Emanuelle parada à porta.
-- Com licença, Júlia. Podemos conversar?
Júlia apenas acenou levemente a cabeça. Emanuelle entrou e se dirigiu até onde estava Antenor. Abaixou-se e acariciou-o na cabecinha, ergueu-o e o abraçou. Não segurou as lágrimas. Júlia ficou parada olhando a cena. Não podia negar que Emanuelle era encantada com seu filho. Depois de alguns minutos, conversando com ele, a francesa se levantou e se dirigiu à Julia.
-- Desculpe-me, mas só o fato de o imaginar nas mãos dos sequestradores, me deixa arrasada.
-- Tudo bem. Não precisa se desculpar. Eu sempre percebi o seu carinho por ele.
Emanuelle sentou-se numa poltrona e encarou Júlia. "É perfeitamente compreensível que Sylvia tenha perdido a cabeça, meu Deus! Ela é deslumbrante!" Pensou enquanto observava Júlia que continuava sentada no sofá.
-- Júlia, eu não tive coragem de conversar com você sobre... sobre aquele dia na varanda... naquele dia que surpreendi você... você e Sylvia.... Eu...
Julia cruzou as mãos sobre as pernas nervosamente.
-- É melhor não falarmos sobre... sobre isso, Emanuelle! Já passou. Eu... eu prefiro esquecer.
-- Mas eu queria que me desculpasse. A minha atitude foi... foi imperdoável! Eu... eu estava completamente... completamente fora de mim, Júlia. Esse tipo de comportamento não é do meu feitio.
-- Tudo bem... Já passou.
-- Eu sei que sou uma pessoa... É... voluntariosa... cheia de vontades, mas... Mas eu passei dos limites. E... quero seu perdão para... para poder viajar em paz.
Júlia a olhou surpresa. Chegou a imaginar que ela nunca sairia dali.
-- Vai embora?
-- Vou. Já fiquei tempo demais longe de casa. -- Deu um sorriso sem graça -- Sou uma mulher casada. Tenho um marido...!
Júlia nada disse. Apenas a olhou e percebeu que não guardava nenhum rancor dela. Mas não podia negar que a notícia a deixava aliviada. Não queria tornar a vê-la assediando Sylvia, bastava Augusto.
****************
Fiquei um bom tempo no jardim, até que tia Claudia foi me chamar para o jantar. Recusei e subi para o meu quarto. Augusto foi a minha procura minutos depois. Permiti que ele entrasse para ver se me deixava em paz pelo resto da noite.
-- Diga logo o que quer Augusto. Estou cansada demais. Esses dois dias foram por demais tensos e meu corpo agora está respondendo pelo excesso de adrenalina.
-- Eu só quero ficar um pouco do seu lado. Afinal ficamos um bom tempo longe um do outro. Eu sinto saudades, Sylvia. Eu te amo.
Olhei para ele sem consegui disfarçar meu enfado.
-- Eu só queria que você entendesse que, devido à grande tensão pela qual passei, preciso ficar um pouco sozinha. Minha cabeça, meu corpo, minha alma, precisam de descanso.
-- Mas se eu ficar com você, vou te dar apoio, carinho.
Ele era definitivamente uma pessoa cansativa e insensível.
-- Acontece que eu preciso e QUERO ficar sozinha. Dar para entender? Você ficou o dia quase todo na empresa comigo... Não foi suficiente?
-- Lá não conta, Sylvia. Eu quero lhe beijar, lhe abraçar. Quero fazer amor com você! Faz um século que não dormimos juntos.
Eu perdi a paciência e me dirigi à porta do quarto e a abri.
-- Por favor, queira se retirar -- Estava impaciente e irritada, no entanto, não elevei o tom de voz.
-- Sylvia... !
-- Por favor! Será que você não consegue enxergar mais nada além das suas necessidades? - Entredentes pronunciei, pausadamente -- Saia do meu quarto, agora! Deixe-me sozinha!
Ele, muito relutantemente, levantou-se da cama e saiu a passos lentos.
Bati a porta, mal ele pisou no corredor. Joguei-me na cama e me agarrei aos travesseiros.
Desde que fui para o jardim que comecei a pedir a Deus que Júlia não trancasse a porta do quarto. Eu precisava dela naquela noite. O desejo estava deixando o meu corpo em brasas. Eu teria que possuir aquela mulher naquela noite mesmo, custasse o que custasse. O meu corpo todo latej*v* só de imaginá-la se derretendo em meus braços.
Fiquei ali por um longo tempo e acabei dormindo. Quando despertei e consultei o relógio já passava da meia noite e a casa mergulhava no mais profundo silêncio. Desci até a cozinha para tomar um copo de leite. Senti fome, pois só havia comido ao meio dia. Depois retornei ao meu quarto e tomei um banho. Estava suando apesar do frio que estava fazendo àquela hora. Meu banho foi rápido, apenas uma chuveirada. Coloquei um pijama de flanela e cruzei o corredor, pois o quarto dela ficava em frente ao meu.
Minhas mãos tremiam ao tocar na maçaneta. Girei-a e, ao constatar que a porta não estava trancada, respirei aliviada. Uma alegria mesclada com o medo de ser rejeitada me dominou. Entrei nas pontas dos pés, atravessei a antessala e segui para o quarto. Fiquei por alguns segundos observando-a sobre a cama. Apenas um abajur estava aceso. Seu magnífico corpo estava parcialmente coberto. Aproximei-me devagarinho e me sentei na cama. Ela se mexeu e fungou. Deslizei uma mão sobre sua perna desnuda e a deixei subir até a altura da nádega. Ela estava deitada de bruços. Quando senti sobre a palma da minha mão aquela carne macia, tenra e quente, gemi. Apertei levemente e, só então, ela acordou. Virou-se lentamente e abriu os olhos.
-- Como... Como entrou aqui?
-- Estou cumprindo a promessa que lhe fiz...
-- Como... como assim? Que promessa? -- Perguntou, sentando-se.
-- Lembra-se que me pediu para ficar todas as noites com você?
-- Eu... eu estava nervosa, apavorada, com medo de perder o meu filho... Falei... por falar.
Aquilo foi como uma punhalada no meu coração. Mas quando meus olhos caíram no decote da camisola, a dor foi rechaçada por uma maior onda de desejo que invadiu todo o meu corpo. Sem raciocinar me aproximei mais dela e a abracei.
-- Eu preciso de você, Júlia! Quero você...
Ela tentou se esquivar de mim, o que só serviu para me deixar mais alucinada ainda.
-- O meu maior erro ou acerto, sei lá, foi ter provado você. Estou viciada. Você é como uma droga deliciosa, meu amor. Caiu na minha corrente sanguínea e agora é imprescindível para minha sobrevivência...
A puxei para o meu colo e tomei seus lábios com os meus. Quando senti o calor daquela boca, o sabor daquela língua, o frescor daquela saliva, fiquei completamente enlouquecida, se é que seria possível ficar mais do que já estava.
Ela conseguiu afastar a boca da minha.
-- Não devemos..! Seu noivo...! Ele está dormindo sob o mesmo teto que nós...! Eu...
-- Esqueça Augusto, por favor! Eu amo você! Preciso te sentir!
Eu, enquanto falava, deixava minhas mãos deslizarem por todo o seu corpo e beijava-lhe e lhe mordiscava o pescoço. Sentia o corpo dela tremer e se arrepiar. Suas costas macias, seu abdômen tenro, suas coxas lisas e roliças e suas nádegas rígidas e redondas estavam me levando ao paraíso. Com o correr dos minutos eu sentia que sua resistência estava por um fio. A trouxe mais de encontro ao meu corpo e senti seu sex* roçar no meu ventre. Aquilo arrancou um gemido tanto dos meus, quanto dos seus lábios.
-- Ah! Por favor...! Não... não devemos...! É errado com ele... aqui.
-- Fique quietinha...! Esqueça que existem outras pessoas nessa... nessa casa!
Sem nem saber como, lhe arranquei a camisola e a abracei apertado. Sentir aquele corpo nu e delicioso nos meus braços, todo meu, era a melhor coisa do mundo.
-- Quero você, meu amor! Você é deliciosa...! Gostosa demais! -- Beijei seus seios e me perdi naqueles mamilos saborosos. Aquela textura nos meus lábios, sentir os biquinhos crescendo dentro da minha boca, me dava vontade de gritar. Gritar de prazer, gritar de tesão.
-- Sylvia! Você é... é a minha perdição...! Meu Deus!
Eu alternava de um seio a outro e enquanto isso minhas mãos apertavam suas nádegas. Era uma delícia, era uma loucura possuir aquela mulher. Ela era viciante: quente, macia, cheirosa, saborosa. Sua pele tinha um perfume embriagador, uma textura deliciosa, que dava água na boca.
Tirei a blusa do meu pijama e senti as suas unhas se cravando na pele das minhas costas. Gemi de dor e de mais tesão ainda. Sua vagin*, toda encharcada e quente, roçava no pé da minha barriga e aquilo me tirava todo o juízo. A vontade de tocar em seu sex*, de sentir na boca o seu sabor maravilhoso estava me alucinando, mas eu não conseguia afastar minha boca daqueles mamilos divinos, tentadores. Ela era o tipo de mulher que despertava o desejo de ficar possuindo-a o tempo todo. Fazer amor com Júlia era a coisa mais soberba, mais extasiante que eu já havia experimentado na vida.
-- Sylvia...! Eu... acho que vou... vou morrer de... de tanto... prazer, meu amor!
Deslizei uma mão para a parte interna de suas coxas e aproximei lentamente de sua vagin*. Quando senti o quanto ela estava molhada um gemido rouco escapou pela minha garganta. Deixei meus dedos deslizarem para cima e para baixo naquele poço de umidade abrasiva. Ela estava fervendo de tão quente. Consegui, a muito custo, me afastar dos seus seios. Olhei para ela e ficamos nos encarando por alguns instantes, enquanto meus dedos deslizaram para suas profundezas. Ela rebol*va lenta e fogosamente no meu colo. Sua boca se abria em busca de ar e de vez em quando me sorria da forma mais sexy que eu jamais vira. Eu estava completamente enfeitiçada. Estava perdida pelo fascínio que exalava pelos seus poros, que escapava dos seus maravilhosos olhos azuis. A vontade de sentir o seu gosto tomou conta de mim e eu retirei lentamente os dedos de seu sex* e os levei à minha boca. Ela sorriu lindamente me vendo sugar meus dedos melados do seu líquido. Com uma voz rouca e extremamente sensual me provocou:
-- Se você... provar direto... direto da fonte... é melhor, não acha?
-- Você sabe... como enlouquecer uma pessoa... Júlia! É... Você tem toda razão... minha gostosa! É melhor... sim!
-- É? Então... O que... está esperando...! -- Sorriu mais uma vez -- Você... você me deixa... louca!
-- Ah! Meu amor! Eu quero tanto você...! Quero você se derramando na minha... boca! Preciso sentir você aqui nos meus lábios, na minha língua... Dando-me de beber! Matando minha sede... matando essa vontade... Essa vontade louca que eu sinto... Que eu sinto de você... minha princesa...!
Ela tomou minha boca na sua e ch*pou minha língua com tanta gula como nunca havia feito.
Quando eu estava com ela, nada mais importava. O mundo podia acabar que não me importava. No meu cérebro não havia espaço para mais nada, nem ninguém, só ela. Só ela importava, senti-la era necessário, imprescindível. Tinha a certeza de que se não sugasse, com uma certa constância aquela vagin* deliciosamente sedutora, morreria.
Ela afastou a boca da minha, me deu mais um sorriso safado e foi deixando o corpo cair para traz. Mais uma vez tomei nos lábios os seios maravilhosos. Quando ela estava completamente deitada eu me ajeitei entre suas pernas. Fiquei por alguns segundos admirando aquela fenda poderosa. Ela não fazia ideia da arma que tinha, do poder que exercia sobre mim. Por causa daquela pequena abertura eu seria capaz de cometer loucuras, pelo menos era o que eu pensava naquele momento. Porque dali, de entre aquelas pernas, naquele momento, ninguém seria capaz de me tirar, só se me matasse primeiro.
Ela envolveu as mãos nos meus cabelos e se pôs a acaricia-los. Começou a remexer os quadris lenta e ousadamente na direção da minha boca e proferiu com a voz rouca e extremamente excitada.
-- Anda... meu amor! Passa essa... essa língua quente...macia e... e deliciosa... que... que você tem! Quero sentir você... me bebendo inteira!
Gemi alucinada e me perdi entre as pernas dela. Passei a língua de baixo para cima e envolvi nos meus lábios, seu clit*ris deliciosamente inchado e gemi. Gemi de prazer, de êxtase. A intimidade de Júlia era a mais quente, mais macia, gostosa e alucinante que eu já havia experimentado. Era uma mulher verdadeiramente fêmea, verdadeiramente mulher, verdadeiramente deliciosa.
A minha boca desprendia uma quantidade enorme de saliva. Eu estava literalmente salivando de tanta vontade de sugar aquela fruta madura. A minha língua deslizava por aquela carne macia e quente e parecia em chamas. O perfume da sua intimidade penetrava minhas narinas e inundava o meu cérebro me levando a um estado de êxtase inimaginável. Sentir aquela deliciosa vagin* na minha boca era tudo o que eu mais queria na vida. Beber da fonte daquela mulher era como beber de um cálice sagrado. Era como beber da fonte da vida. Eu me sentia poderosa, imortal, sugando o néctar daquela mulher, da minha mulher, da mulher da minha vida, da minha senhora. Eu seria capaz de morrer por ela, de fazer qualquer coisa, de cometer qualquer loucura para privar, por um segundo que fosse, do prazer de mergulhar entre suas pernas e sugar seu sex*. Eu adorava ch*par Júlia e quando estava fazendo isso, todos os problemas desapareciam, todas as preocupações se evadiam da minha mente, o mundo deixava de existir. Eram apenas ela e eu.
Eu sentia os movimentos do seu quadril numa dança extremamente sensual. Seus gemidos e sussurros proferiam pequenas obscenidades que me deixavam mais louca ainda. Tinha que fazer um esforço enorme para não a morder com força, pois meu instinto me mandava sugá-la forte e mordiscá-la mais forte ainda.
-- Ai Sylvia... Lambe amor, ch*pa... ch*pa forte... bem gostoso!
Os meus gemidos estavam ficando cada vez mais altos e eu não estava nem um pouco preocupada que alguém pudesse ouvir. Os gemidos dela eram baixos e deliciosamente excitantes, dengosos. Júlia era uma fêmea tremendamente sedutora. Eu me tornara sua escrava e era feliz por isso. Ficaria sempre aos seus pés implorando por um momento de deleite em seu corpo, se fosse preciso.
-- Como você é gostosa..., meu amor! Rebola mais... Mexe gostoso e goz* na minha boca! Quero te beber inteira.
-- Hummmm! Mete a língua...! Mete! Bem... Bem fundo! Meu Deus!... Eu... Eu... não vivo... mais sem... sem isso! Tem que... que terminar.... seu noivado, Sylvia e ficar... só comigo!
-- Esqueça isso...! Que delícia! Quero morrer assim, te ch*pando, sentindo você se... derreter... se derramar... na... na minha boca, meu amor!
-- Eu... vou go... goz*r! Ah! Aiii! Sylvia!.... Sylvia!... Meu amor!... Mais rápido!... Mais forte! Assim... Assim... Eu... eu te amo!
Senti um jato quente inundar minha boca e eu bebi. Bebi cada gota daquele mel quente e delicioso que escorria de suas profundezas. Suguei, lambi, ch*pei, não deixei escapar nenhuma gota. Senti os espasmos do seu gozo e fiquei ainda um bom tempo com aquela maravilha na minha boca. Não queria sair dali, do meio das suas pernas.
Depois de um longo tempo ela me chamou com uma vozinha tão dengosa que provocou um arrepio enorme no meu corpo e uma contração violenta no meu ventre. Eu já estava pronta de novo.
-- Venha cá, meu amor!
-- Quer mais? - Sorri para ela.
Eu me deitei sobre ela, beijei sua boca e dei início a uma dança encaixando nossos sex*s. Suas mãos deslizavam sobre minhas costas, apertando, arranhando, me provocando mais ainda. As nossas vagin*s se acariciavam, se beijavam, se engoliam deliciosamente. Nossos corpos se encaixavam tão bem, que não restava a menor dúvida, de que havíamos sido feitas uma para a outra. Os nossos movimentos eram cadenciados, gostosos. Ergui um pouco o corpo, firmando as mãos sobre o colchão em cada lado do seu corpo. Ficamos nos olhando enquanto a excitação crescia em nossos corpos e nossas vagin*s se inundavam cada vez mais. Era delicioso sentir a fricção de uma na outra, a música que se desprendia dos seus beijos, o cheiro inebriante que subia no ar. Eu me sentia tão forte e poderosa sobre aquele corpo escultural, magnífico e extremamente gostoso!
-- Adoro... quando você me toma... Quando me possui...! Eu te amo, Sylvia!
-- Eu também te amo! E também adoro... te possuir! Ter você! Você é... é minha! Só minha! Você é... Ai! É minha vida, Julia!
-- Eu sou! Só sua... meu amor!
Nossos movimentos foram ficando mais intensos, mais rápidos. O orgasmo se aproximava de nós duas.
-- Ai, Sylvia! Tá tão gostoso... Como você consegue... fazer tão gostoso... assim?
-- Júlia... Júlia! Você é que é... uma delícia! Te comer é a melhor... coisa do mundo!
-- Ai... Eu... vou goz*r meu amor!
Começamos a dançar mais rápido e o barulhinho da fricção de nossos sex*s estava me deixando alucinada. Eu comecei a rebol*r mais forte e mais rápido em cima dela. Eu queria possuir aquela mulher até a exaustão.
-- Gostosa...! Dá pra mim... Dá! Promete que vai me dar... sempre, promete! Todo dia... Júlia! Quero comer você... todo dia! Ai... Meu Deus! Que.. Que mulher gostosa!
Desabei sobre ela, pois a onda de orgasmo que se apossou de mim foi violenta e deliciosa demais. A apertei em meus braços. Tivemos a graça de goz*rmos juntas. Foi maravilhoso!
-- Te amo minha vida! -- Balbuciei com a voz fraca e entrecortada
-- Eu também te amo -- Ela enlaçou minhas costas, mais apertado -- Quero você para sempre! Vou esperar o tempo que for preciso para ter você só para mim!
Tomei os lábios dela nos meus e depois nos ajeitamos para dormir.
Fim do capítulo
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