A Italiana por Sam King
CapÃtulo 18 - A Morte da Esperança
Chica desvia de mais uma empregada que corria feito barata tonta por todo o casarão, já está agastada com tantas delas, principalmente na sua cozinha. Mas não diz nada e continua a subir a escada, tinha apenas um destino no momento. Bate na porta do quarto de Clarisse e nem espera consentimento para entrar.
A cena que vê lhe corta o coração, sua amiga está em frente ao espelho e vistoria seu vestido de noiva, seus cabelos estão presos em coque apertado e seus olhos estão tristes e desanimados. Chica para atrás dela e as duas se encaram pelo reflexo:
- tens certeza minha amiga?
- tenho, e o certo a fazer Chica. Rodolfo e um bom homem, e quer tocar os vinhedos ao meu lado quando chegar a hora, posso finalmente me adequar a sociedade.
- mas tu não o ama.
Clarisse desvia do espelho e olha pela janela, duas lágrimas caem solitárias em cada lado do rosto e com a voz embargada diz:
- e o que amor me trouxe Chica? Apenas dor e desilusão.
- Clarisse...
- chega - Clarisse seca as lagrimas e dá um sorriso forçado - vamos minha amiga, que o noivo não vai esperar para sempre.
E aperta o ombro de Chica e passa com a cabeça erguida e decisão tomada, e Chica apenas rezou em silêncio para que tudo desse certo.
Amélia faxinava animada o salão, fazia dois meses que estava trabalhando na casa da Madame, não ganhava muito, mas tinha um teto e comida. E por que não dizer, também amigas. As meninas que trabalham na casa, são todas imigrantes e migrantes, que tiveram suas estórias tristes para irem para na casa de madame. Mas a que ela mais gostava sem dúvida, e Delphine que sempre a tratava com educação, mas distanciamento. Não importa para Amélia, era seu segundo anjo, mas apesar disso não a via como mulher. A única que ainda morava em seu coração é Clarisse. Muitas e muitas vezes ela pensou em escrever para sua amada, mas temia que a carta caísse nas mãos de Dona Bernadete. Além de Clarisse, sentia falta dos seus melhores amigos também e do seu povo.
- guria, ô guria...
Amélia levanta-se de supetão do chão e encara a madame parada na porta, sem paciência ela continua:
- vai buscar os jornais.
- si signora.
E Amélia sacode o vestido cheio de poeira, pega as moedas que Madame lhe entregou e foi para a rua.
Rezou para que os jornaleiro ainda estivesse na esquina, porque ela não gosta de ir até a venda, pois a moça que cuida do local, sempre lhe encara como se fosse a pessoa mais suja do mundo. Não teve sorte, ele já havia ido embora, Amélia não tinha o que fazer, se voltasse sem o jornais, seria xingada. Respirou fundo e andou mais um pouco, o lugar vendia de tudo e mais um pouco. Entrou no ambiente meio escuro, atravessou algumas estantes cheias de quinquilharia e foi até o balcão. E lá estava a dona, com aquela expressão azeda, mas que piorava quando a via ou algumas da meninas da casa da Madame.
Amélia bate no balcão e fala:
- boa tarde senhora, gostaria por favor dos jornais.
A moça vira e mais uma vez Amélia a acha linda, ainda que fosse sem educação, tinha olhos grandes e rasgados com uma cor meio esverdeada, um nariz anguloso e uma boca grande que se sorrisse mais provavelmente seria muito mais bonita. Esses mesmo lábios se apertam e sem dizer nada pega os jornais e coloca em cima do balcão, Amélia lhe entrega as moedas e mais uma vez a mulher lhe vira as costas. Sem se importar ela pega os jornais, mas antes de abandonar o lugar, um nome chama-lhe a atenção.
A manchete dizia:
"Senhor Tavares casa hoje sua única filha, Clarisse Tavares"
Embaixo tem uma foto da família Tavares.
Amélia sente o coração pular no peito e as pernas falharem, tanto que chega a cambalear e bater numa das prateleiras derrubando algo. A dona lhe fala brava:
- mas que tu tens? Se quebrou vais pagar hein!
As lágrimas vieram para dar vazão a dor, sua mulher iria casar. Amélia sente qualquer esperança que ainda porventura tivesse de reencontra-la, morrer. E sem vergonha alguma dobra os joelhos cai sobre eles e chora desesperada.
Sente quando braços a levantam e a levam para algum lugar fora da venda, Amélia percebe que está em uma cozinha minúscula , mas parecia bem funcional. Logo um copo de agua está sobre a mesa. Ela olha para quem lhe oferecia o liquido, a dona estava a encarando um tanto assustada, ainda que os braços cruzados sobre os seios lhe diziam que estava na defensiva. Amélia tremula segura o copo e bebe com sofreguidão, depois levanta-se ainda sem força e diz:
- grazie.
A moça achega-se a ela e estende os braços como se temesse que caísse a qualquer momento:
- tu estais bem?
- si.
Olhou para onde estava a saída e quando encontrou quase correu, assim que ganhou a rua, o fez. Sai em disparada e não tem a menor ideia de para onde, tudo o que queria é apagar a dor que dilacera seu peito. Clarisse casaria, a esquecera, amava-o outro.
Rodolfo ergue o véu e lhe dá um beijo casto no rosto, todos os presentes aplaudem o novo casal, a partir daquele dia, é a senhora Villas Boas. Sorri automaticamente para os convidados que os cumprimenta, depois andam de braços dados até a porta da igreja e logo estão na carruagem indo para a recepção que haveria no casarão. Seu esposo parece radiante e seu sorriso não sai do rosto, ele acarinha a todo instante suas mãos, seu rosto e Clarisse pelo menos agradece que escolhera um bom homem para casar.
Para festa seu pai fez questão de convidar a nata gaúcha e Rodolfo convidara alguns da paulista, mas nenhum familiar dele apareceu. O que seria estranho, mas seu esposo explicara que sua família era pequena. Tinha apenas seu pai que não saia da fazenda e duas tias que moravam fora do Brasil. Seu pai também fizera questão que seus empregados festejassem, por isso matou alguns bois para o bom churrasco gaúcho para eles, e ninguém trabalharia no dia seguinte.
Todos estavam felizes, principalmente dona Bernadete, menos Clarisse, ela está apática, conformada e temerosa do que viria de sua noite de núpcias.
E como tudo que tememos chega rápido, num borrão Clarisse se vê em seu quarto da que agora dividiria com seu esposo, os dois estão sem jeito olhando-se no meio do quarto. Rodolfo passa mão sobre o cabelo e lhe dá um sorriso nervoso, Clarisse não tem nem ideia do que fazer. Se fosse Amélia...não! Corta o pensamento na hora, e resolve dizer:
- vou para o quarto de banho.
- isso vá.
E ela foi, demorou muito, mas quando sai está com sua camisola que sua mãe comprara e seu esposo estava apenas de calças de pijamas e uma regata. Ele está sentado na cama e a chama sem palavras. Ela acanhada senta-se ao seu lado, ele se vira para Clarisse pegando sua mão e encarando-a nos olhos diz:
- eu te amo e quero lhe fazer amor. Mas entendendo que tu e jovem ainda, estou disposto a ir devagar. Então hoje, não faremos nada , apenas dormiremos juntos para nos acostumarmos a ser um casal.
Clarisse solta o ar devagar e abraça seu marido e diz quase suspirando:
- vou aprender a te amar também Rodolfo.
- tudo bem meu amor - ele se afasta e segura seu rosto com carinho - teremos a vida toda.
E delicadamente lhe beija os lábios, e Clarisse não sente nada, mas prometeu-se que sentiria.
Fim do capítulo
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