A Italiana por Sam King
Capítulo 17 - A Salvadora
Amélia seguiu a mulher morena pelos corredores da casa, todas as paredes são pintadas de vermelhos e nas janelas tem pesadas cortinas também escarlates. Passam por uma cozinha simples e param em uma porta. A mulher mais uma vez vira para Amélia e lhe sorri sedutora enquanto bate na porta, dentro soa uma voz rouca dizendo para entrarem e assim fazem.
O escritório parece muito com o do senhor Oliveira, mas ao contrário do seu ex patrão esse cheira a perfume de mulher e cigarros. Atrás da enorme mesa está uma mulher de aparentemente uns 40 anos, muito bonita, ainda que Amélia perceba a escuridão espreitando os olhos castanhos. Mas a mulher sequer avista Amélia, seu olhar recai na moça morena e com a voz rouca pergunta quase entediada:
- o que há Janete?
- Madame, essa moça está procurando trabalho.
Finalmente a Madame a encara, e Amélia sente-se despida sob olhar perscrutador dela, ela se encosta na cadeira e pega a piteira onde está um cigarro na ponta, lhe dá uma longa baforada e finalmente se dirige a Amélia:
- e da onde tu vem guria?
- sou da Italia signora, mas estou no Brasil há mais de 1 ano.
- e sabe o que fazemos aqui?
Amélia abaixa os olhos e com um fio de voz responde:
-si.
- e tu e virgem?
O peito apertou muito forte, tanto que Amélia achou que iria desmaiar, mas lembrou do frio e da fome, e não queria morrer ainda. Responde no mesmo tom de antes:
- não signora.
- humm...pena , Janete de um banho nela e já coloque para trabalhar hoje. Vamos fazer um teste, entendeu guria?
Amélia engoliu seco e fala mais alto:
- meu nome e Amélia signora, e sim entendi.
Madame se endireita e com o tom mais ríspido diz:
- não perguntei teu nome italiana, a única coisa que quero de ti e dinheiro. Portanto seja boa de trepada e vamos ficar bem.
E antes que Amélia pudesse responder qualquer coisa, Janete agarra seu braço e arrasta para fora da sala. No caminho a moça tenta até deixa-la mais calma, dizendo que Madame era assim com todas, mas que se trabalhasse direitinho, ela começa a se agradar.
Mas tudo o que passava na mente de Amélia enquanto é levada para um quarto de banho e lavada , perfumada e arrumada e o que Aurélio fizera a ela, e não sabia como, mas teria que fazer coisas com outro homens, talvez piores que com ele.
Quando foi deixada só, amarga e triste, sente seu coração secar no peito enquanto as lágrimas banham seu rosto. Antes de começar a sua nova vida, recolhe todas as lembranças de Clarisse e guarda-as no fundo na sua mente, queria manter o melhor de si longe da devassidão em que entraria.
Clarisse adentra a biblioteca e olha ao redor, em cada canto a vê, com seu sorriso aberto, sua curiosidade, sua sagacidade. Seu sotaque fazendo mil perguntas e escutando atenta a respostas. Deus como doía ficar sem Amélia, mas o pior foi saber que para ela, Clarisse não foi nada, que foi tão fácil para ela ir embora. As lágrimas ameaçaram vir, mas não deixou. Foi até uma prateleira e pega o livro, depois sai da biblioteca sem olhar para trás.
Na sala Rodolfo está sentado a esperando, Clarisse lhe sorri animada e entrega o livro dizendo:
- é esse , o filosofo e muito bom.
- obrigado senhorita Clarisse, vou ler sim.
Rodolfo coloca o livro de lado e inclina-se para Clarisse, esticando a mão em sua direção, que hesita mas a segura e encarando os olhos azuis claros e serenos, Rodolfo lhe faz um afago e diz sincero:
- gostei muito de passar essas semanas com a senhorita, es inteligente, meiga e adoro seu jeito engraçado. E não vou negar meus sentimentos, estou enamorado da senhorita.
Clarisse fica vermelha e abaixa os olhos e tenta tirar a mão da dele, mas Rodolfo não deixa e ergue seu queixo e continua no mesmo tom:
- sei muito bem que não nutres o mesmo sentimento por mim senhorita Clarisse, mas sei que tem certa afeição pela minha pessoa agora, e isso já e muito mais que esperava.
- isso e verdade, senhor Villas Boas, quero mesmo seu bem estar.
- e visando isso, quero lhe pedir que se case comigo, peço que pense com carinho durante esses dias que estarei em São Paulo, já lhe amo e a senhorita me tem apreço, e um ótimo começo para qualquer relação.
Clarisse solta-se dele e levanta-se, a negativa na ponta da língua, mas ele se levanta também e diz:
- por favor Clarisse, não me dê a resposta agora. Pense nisso, e se quando voltar a resposta for ainda uma negativa, prometo que não me vera mais.
E Clarisse nota a sinceridade no seu olhar, e dessa vez ela encara Rodolfo por outro ângulo. Ele e realmente bonito, a enxerga mais do que uma boneca de luxo, a ouve e sempre parece interessado. Não polpa esforço para lhe agradar, gentil e inteligente.
E antes dele sair pela porta , ela se pega pensando porque não, afinal o que tinha a perder.
Amélia está com um vestido ousado, é verde e mostra muito do seu decote e suas pernas estão praticamente de fora. Ela está no salão enorme, com uma decoração que parecia ter saído do inferno, tudo é vermelho sangue, existem vários sofás espalhados e algumas chaise lounge. No final do salão havia um bar, onde um senhor servia as bebidas.
Ela está deslocada encarando boquiaberta todo aquele lugar, quando Janete a pega pelo braço e a leva para o bar. A faz sentar na banqueta e diz para o barman:
- Osvaldo me dê aquela bem forte, pois a guria e novata.
Osvaldo passa os olhos desinteressados por Amélia e depois serve dois copos com um liquido quase transparente, Janete a incentiva:
- toma Amélia, vai ficar mais fácil se tu estiver mais relaxada, daqui a pouco os porcos estão chegando.
E a própria Janete vira um copo e Amélia precisava muito relaxar, então toma o liquido chamado canha, a bebida desce rasgando e queimando a garganta. Mas logo uma sensação de leveza a invade, e então está pedindo mais.
Logo o salão está cheio de pessoas, as outras meninas dançavam e sorriam, e sentavam no colo dos clientes, e Amélia alegre de tanta canha também sorria, ainda que esteja tímida e temerosa. E de repente alguns clientes estão lhe pagando mais canha, whisky, cerveja e ela vai ficando mais solta.
Então um senhor de uns 60 anos achega-se a ela, e diz algo que não entende, pega a sua mão e ela acha engraçado como ele tem um montes de rugas. Logo ele está a levando para a parte da cima e Amélia está leve como um balão. Eles estão em um quarto, ele está tentando beija-la, mas Amélia não consegue respirar de tanto rir pois acha graça em um senhor daquela idade querer beija-la, e ele começa a ficar nervoso e a risada histérica dela piora. Então ele a tenta empurrar agressivamente para a cama e Amélia apenas se curva e vomita no senhor , depois ri até a barriga doer.
Amélia acorda com água gelada na cabeça a assustando, está jogada dentro da banheira do quarto de banho. Madame está atrás de uma Janete com a expressão assustada. Amélia tira os cabelos molhados do rosto e tenta se aprumar, mas seus movimentos estão lentos e sua mente embotada. Madame chega próximo e diz resoluta:
- vai embora agora, nem para puta tu serve.
- non signora...
E ela tenta se levantar, mas não consegue e o desespero toma conta, porque o frio ainda está em seus ossos.
- que não o que! Vomitaste no meu melhor cliente, italiana idiota.
- io non..
- cala-se. - Madame encara firme Janete e diz - jogue na rua.
- mas madame...
- que se juntar a ela Janete?
Janete olha Amélia com piedade, mas diz :
- não senhora.
Mas antes que Amélia fosse expulsa, uma moça adentra o recinto. Ela é alta e branca, os cabelos loiros estão bem arrumados, Amélia nota os olhos dela de uma cor diferente, castanhos esverdeados e um sorriso etéreo na face . Ela para em frente a Amélia e diz com a voz carregada de sotaque francês:
- Cher, por favor não faça isso, está congelando lá fora, a menina não sobreviverá.
E por um instante Amélia fica se perguntando quem é Cher, mas então a Madame encara a moça e Amélia percebe o olhar dela e de adoração, um sorriso aparece na face sempre severa da Madame que diz:
- e que diabos vou fazer com essa guria imprestável Del, ela vomitou no senhor Castro, tive que dar duas gurias de graça. Olha o prejuízo que tive.
Então a moça segura o braço da Madame e pede com um biquinho lindo e com a voz mais doce que mel:
- Cher sabemos que para puta ela não serve, mas veja como ela e jovem, quase uma criança. Coloque-a para faxinar, estamos precisando meu bem, as meninas estão cansadas para os afazeres domésticos. Não é mesmo Jane?
- e sim Del.
E Del acarinha a face de Madame e lhe diz algo no ouvido tirando uma risadinha dela que Amélia nunca imaginou que poderia sair daquela mulher. Então Madame a encara azeda novamente e diz ríspida:
- tens sorte guria, ficas... mas quero essa casa brilhando e minhas gurias bem alimentadas, ouviste?
- sim signora.
E Amélia sorriu para a Del que lhe retribui o sorriso e pisca um dos olhos, e ela sentiu seu coração menos frio, e pensou que era a segunda vez que um anjo lhe salvava.
Fim do capítulo
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stela_silva
Em: 09/08/2018
Olá autora.
Então, só passando pra dizer que acho sua histórias muito interessante. Eu dificilmente leio ou comento, mas acho que vc merece sim um comentário. Eu sei o quanto um comentário faz diferença... Rsrs
Gosto de histórias que se passam em séculos passados. Sou viciada... Rsrs
Obrigada por compartilhar com a gente sua adorável história.
Beijos e muita inspiração.
Resposta do autor:
Ola,
para mim faz diferença se vc gostou mesmo da estoria e sente vontade sim de comentar...
Entao muito obrigada mesmo pelo comentario e pelo elogio as minhas estorias :)
Eu tbm gosto muito de estoria de sec passados..e esta sendo um grande desafio escreve -la...
Abraço e continueu acompanhando!
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perolams
Em: 09/08/2018
Já tava lamentando a sorte da italiana, ainda bem que ela a não precisou se prostituir, seria um sofrimento muito grande e ainda surge esse anjo evitando que volte para as ruas. Acho que Clarisse vai entrar mesmo é numa fria com esse cavalheiro de taubaté.
Resposta do autor:
Ola,
Amelia tem boas pessoas na sua vida ;)
So ri com cavalheiro de Taubate..kkkk
Grande abraço
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