Haidê estava ligando o carro quando ouviu os gritos de Lívia lhe chamando.

-- Haidê! Haidê... – a morena baixou o vidro. – Amor, eu fiquei tão feliz com você aqui... – fez uma expressão difícil da morena recusar qualquer pedido que viesse – Não faz isso, deixa lhe encher de beijos. Vamos conversar? – ela não tinha como se defender daquela loira baixinha, destravou a porta e mandou que ela entrasse. – Nem um beijinho? – Haidê ligou o carro e permaneceu em silêncio. – Desculpa pela Milena, ela sempre fala demais.

-- Só tenho uma pergunta: como Augusto sabe de nós duas? – perguntou sem olhá-la.

-- Eu não sei. Ele é meu amigo, deve ter deduzido.

-- Ela falou com muita intimidade de Jaques. – olhou rapidamente para loirinha. – Não acha isso estranho?

 -- Achei desnecessário o comentário dela, mas ela não tem muita intimidade com Jaques.

-- Lívia, acredite em mim: ela não tem só intimidade de meros amigos, pela malícia e o jeito que fez, eles possuem algo mais. – a loirinha deu uma gargalhada.

 -- Haidê, essa ideia é absurda! – parou de rir e olhou de lado. – Está com ciúmes dele? Com medo de ser mais uma mulher traída? – lembrou-se do que havia escutado na casa de sua mãe e pensou se deveria ou não falar.

-- Não vou mais repetir sobre essa coisa de Jaques.

-- Essa coisa? Olha como fala do seu noivado.

-- Isso lhe incomoda? – a olhou enquanto o sinal estava fechado.

-- Não. – pensou um pouco. – Por favor, fala o que existe entre vocês. – passou a mão pelo cabelo. - O que sinto por você vai além do físico, eu a amo pelo que é. Não sei o que Jaques pensa, mas o conheço bem e posso apostar que lhe usa como troféu.

-- Eu não tenho nada com Jaques. – parou o carro e a fitou nos olhos verdes. – Só vou perguntar uma vez, espero que responda a verdade: vocês dormiram juntas? – Lívia entendeu que ela estava com muito ciúme e nada além da sinceridade iria quebrar aquele clima.

-- Nós fomos namoradas. – baixou a mão e pousou na coxa da advogada.

-- Quanto tempo? – ignorou o carinho.

-- Não lembro... – pensou um pouco – Acho que um mês e meio... Faz muito tempo. Eu estava no primeiro ano da universidade. – parou observando-a. - Eu não estava afim dela, foi um erro.... – respondeu sem interesse. Voltou a olhar ao redor. – Para onde estamos indo?

-- Não sei. – percebeu que realmente não sabia para onde estava indo. – Depois do que aconteceu no tal vídeo, vocês voltaram a dormir juntas?

 -- Não! – estava surpresa com as perguntas e resolveu mudar de assunto. - Quando chegou?

 -- No final da tarde.

 -- Você comeu alguma coisa quando chegou?

 -- Não estou com fome. – a olhou rapidamente. - E pelo visto, você já comeu, e em boa companhia.

-- Comi uma pizza. – voltou a acariciar a coxa da morena. – E bem acompanhada estou agora. – olhou em volta. - Nesta rua tem várias pizzarias, restaurantes e lanchonetes, podemos ir em algum lugar.

 -- Não estou com fome. – respondeu seca – Levarei você para casa.

 -- Vai ficar comigo?

 -- Não.

-- Então pode ir direto para sua casa, hoje dormirei com você. – Haidê respirou fundo e concluiu.

-- Hoje não temos mais clima para nada.

-- Então vai ficar acordada? Resolveu deixar de advogar para ser vigia noturno? – perguntou séria, mas Haidê viu um brilho de malícia naqueles olhos verdes e começou a rir, ela deu a volta no carro e seguiu em direção a casa da loira. – Para onde estamos indo agora?

-- Sua casa.

-- Não vai me deixar em casa, eu não ficarei sozinha.

 -- Tem sempre sua amiga ou Augusto para lhe fazer companhia.

 -- Sem comentários. – apertou mais forte a coxa da morena.

 -- Isso dói.

 -- E vai doer mais se continuar com grosserias. Agora pare em algum lugar, quero comprar um lanche para nós duas.

-- Vai comer de novo?

-- Estou com fome. Ficar nervosa me deixa faminta. – Haidê revirou os olhos e parou em uma lanchonete.

-- O que você quer?

-- Vamos descer e escolher juntas. – desceram e Lívia fez o pedido, sem tempo para Haidê contestar.  Retornaram ao carro com Lívia comendo batatas fritas, enquanto Haidê levava os lanches. – Estamos mais perto da sua casa, quer ir para lá?

-- Meu sobrinho está conosco, provavelmente vai querer dormir comigo.

-- Quando vou conhecê-lo? E que papo é esse de dormir com você?

 -- Preciso conversar com ele e explicar que estou namorando uma garota. Quanto a dormir, sempre que tem medo corre para minha cama.

-- E por que ele teria medo? – Haidê pensou na noite agitada e toda aquela certeza de antes, em falar a verdade, toda a coragem sumiu.

-- Ele sente medo quando está longe do pai. – tentou ser objetiva, sem espaço para discussão.

-- E quando vou conhece-lo?

-- Amanhã poderemos ir à praia. – apertou a mão da loirinha – Yan passou por muitas adversidades no curto tempo de sua existência, e se acostumou com a presença do pai. Agora que está conosco, provável que sinta medo, e se estiver em casa, será mais fácil dormir comigo do que com vovó.

-- Amor, quando fala sobre adversidades, refere-se à mãe dele?

-- Existem outras coisas... – a olhou rapidamente - Yan tem uma doença congênita coronariana, nasceu com problemas e precisou de uma cirurgia com poucos dias de vida. – Lívia a ouvia, com total atenção. Ao chegarem à casa da loirinha, Haidê desceu do carro e envolveu as mãos de Lívia entre as suas, a trouxe para perto do seu corpo, beijando-a com carinho. – Vamos comer.

-- Ufa! Estava precisando disso. – foi sua vez de puxá-la e beijá-la.

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-- Ah, vocês demoraram muito.

-- Haidê resolveu fiscalizar as ruas da cidade. – provocou e se afastou da morena.

-- Como assim?

-- Nada Bá, estávamos só conversando.

-- Eu preparei um lanche para vocês. – olhou para Haidê – Lívia, ela ainda não comeu nada.

-- Oba! Vou pegar. Amor vai para meu quarto. – antes que Haidê argumentasse a loirinha concluiu – Podemos comer na varanda de lá, depois você decide.

-- Vai pegar? Eu tenho dois lanches que me fez comprar, além de dois copos grandes de refrigerante. Lívia, o que você tem aí na barriga: estômago ou saco sem fundo?

-- Depois de comer eu lhe respondo. – olhou para Bá. - Vamos pegar o lanche? – Bá estranhou o clima entre as duas, mas deixou para investigar quando fossem até a cozinha. A advogada subiu, acompanhada de Radar que não parava de balançar o rabo e pular.

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-- Lívia, o que aconteceu? 

-- Caí na bobagem de falar para Haidê que namorei com Milena e tran... – olhou para velha senhora e pensou no termo que usaria – “dormi” com Gus.

-- Seus queridos amigos. – revirou os olhos. – Não quero ouvir mais nada sobre isso.

-- Faço tudo para ser discreta, educada, a senhora vem e mete o pau! – falou com ironia. – Agora se faz de puritana.

 -- Eu sei o que vocês fazem no quarto, não precisa me enrolar. – a loira ficou vermelha como um pimentão. – Não fique com essa cara, Haidê está muito certa, você não é fácil. Precisa melhorar sobre isso e não cair na conversa desses dois.

-- Bá, agora vou gastar todos os meus argumentos para faze-la dormir aqui.

 -- Então trate de mudar as amizades, assim não precisará de tantos argumentos.

-- Eu sei que Milena hoje se superou.

-- Ela estava dando em cima de Haidê, falou àquilo para que vocês brigassem.

-- Não entra nessa linha, Bá. – disse em defesa da amiga.

-- Acha que é coisa da minha cabeça? Então pergunte para Haidê.

-- Ela não falaria sobre isso, você não a conhece.

-- Ela é uma pessoa maravilhosa e transparente, percebi isso na hora que a conheci. Certamente não falou porque sabia como reagiria, mas, tenho a certeza que se perguntar, responderá.

-- Bá, eu não quero nem imaginar que minha amiga...

-- Você sempre deu essa liberdade aos seus amigos, ainda mais, quando faziam suas brincadeiras trocando as namoradas.

-- Não quero lembrar esse detalhe. – lamentou.

-- Imagina se pedem para trocar com Haidê? O que ela irá achar de você?

-- Não fala isso nem brincando. – respondeu pensativa.

-- Agora vai lá, ela está com fome.

-- Vá descansar Bá. – beijou a velha senhora. – Obrigada!

-- Não agradeça. – sorriu com carinho. - Eu não posso deixar alguém se aproveitar do seu imenso coração. – abraçou a loirinha – Minha menina.

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-- Aí que fome! – confessou esfregando as mãos ao vê-la chegar com a bandeja de comida. Beijaram-se e Lívia a serviu.

-- Esse bolo que Bá fez, está uma loucura! – colocou um pedaço na boca de Haidê que fechou os olhos saboreando. - Prefere começar pelos sanduiches ou o bolo?

-- Salgado. – Lívia a serviu e ficou observando-a comer. – O que aconteceu?

-- Como assim? – perguntou após morder o sanduiche.

-- Bá falou alguma coisa? Ou você se lembrou de algo? Está com aquela expressão.

-- Que expressão?

-- Essa aí... – colocou o sanduiche sobre a mesa – Olha, estamos juntas há poucos dias, vai parecer loucura o que vou falar, mas a impressão que tenho são anos de convívio... Lívia, eu conheço cada expressão do seu rosto.

-- E parece que conhece muito bem. – balançou as sobrancelhas.

-- Agora fala o que está lhe preocupando.

-- Você será sincera? – perguntou com um tom mais baixo.

-- Sempre. – a loirinha respirou fundo e falou.

-- Acha que Milena jogou charme para você? – Haidê a puxou para seu colo e beijou-lhe a boca.

-- Eu nunca lhe trocaria, por ninguém. – voltou a beijá-la.

-- Então... – olhou para morena – Eu confiava nela. Por que não me alertou?

-- Ela é sua amiga, será que você iria acreditar?

-- Eu sempre acreditarei em você. – a morena lembrou a sua vida e seus segredos.

-- Conversamos sobre isso, você sabe a minha opinião quanto aos seus amigos. Traição é algo que dói, sempre vem de quem nunca esperamos.

-- Parece entender bem sobre este assunto. – pensou alto.

-- Recentemente perdi um grande amigo que estudou com meu irmão... - lembrou-se da academia – Ele jogou fora nossa amizade por bobagens.

-- Por falar em nossas expressões, a sua me diz que você gostou muito desse “amigo”. – olharam-se e Haidê se manteve pensativa.

-- Eu gostei muito dele... – lembrou-se de Rodrigo. - Sim, nós fomos namorados.

-- Eu não sei se quero conversar sobre isso. – o ciúme de Lívia falou mais alto, Haidê viu que não seria um bom momento para falar do seu envolvimento com Roberto e sobre seu filho.

-- Mas você entendeu o que eu quis falar. – beijou-lhe o rosto. – Judas traiu Jesus por poucas moedas de ouro.

-- Parece ultrajante, mas é algo tão atual... Todos os dias, há traições em troca de algo fútil. – Haidê estava pensando em Roberto, não falou nada, foi Lívia quem voltou a cortar o silêncio – Eu não quero Milena perto de você. – não foi afirmação, mas a forma como foi dita, o jeito meigo com que Lívia a olhava, fez Haidê se derreter por completo aos desejos dela.

-- Não chegará, na minha vida e no meu coração só tem espaço para você. – ficou emocionada. Aproveitou que Lívia estava vestindo uma jardineira jeans e acariciou a região interna de sua coxa enquanto se beijavam.

-- Se continuar assim, eu a impedirei de comer... – sussurrou no ouvido da morena. - Você passará a ser minha sobremesa. – Haidê se afastou com dificuldade.

-- Querida, ainda estou com fome. – Lívia a olhou séria.

-- Verdade que não quer?

-- Quero a comida. – sorriu e voltou a beija-la.

-- Trocada pela comida. – resmungou.

-- Calma mocinha, ainda tem mais depois. Lívia a observou comer e refletiu sobre o que Jaques havia falado sobre a noiva.

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-- Lívia, acorda! – Bá abriu as cortinas do quarto. – Não queria ir à praia hoje?

-- Ainda está cedo. – resmungou.

-- São nove horas. – a loirinha pulou.

-- Haidê está me esperando. – saiu tropeçando no lençol.

-- Pode ir com calma, Haidê ligou e disse que vai se atrasar, talvez não consiga ir à praia.

-- Como é? Ela disse que não vai? Passou uma semana fora, depois não dormiu aqui e agora cancela nosso dia? – estava irritada. – Hoje ela vai ouvir. – Bá revirou os olhos, sabia que o furacão havia acordado pelo avesso.

Fim do capítulo