Coincidências por Rafa e
Capítulo 11
-- Lívia, fique para o almoço, assim descansa mais um pouco.
-- Descansar nesta casa? – fez uma careta. – No máximo que posso fazer aqui é tomar um banho de sal grosso. – os empregados sorriram. – Quero sair antes do inútil chegar.
-- Pode ficar tranquila, ele saiu ontem e quando faz isso passa uns dois a três dias sumidos.
-- A mãe dele não se preocupa? – foi irônica.
-- Dona Francine já sabe, nem fala nada.
-- Estranho, eles se amam tanto. – bebeu o resto do suco.
-- Nem a noiva liga.
-- Com uma relação dessas. – Lívia olhou de um para outro com curiosidade.
-- Não podemos falar sobre a relação dos patrões, isso não é certo.
-- Agora é. – a loirinha disse sorrindo. – Agora que começaram, podem falar, eu sou mais patroa do que eles, quem paga o salário de vocês? – piscou.
-- Isso não é correto dona Lívia.
-- Agora já começou.
-- Ela quase não aparece. Quando vinha dormiam em quartos separados.
-- Dona Lívia, ela é uma pessoa boa, conversa com a gente, é muito educada. – a mulher adiantou-se em defender a advogada.
-- Mas o patrão não está nem aí. Vive com namorada diferente. – a surfista ouvia a tudo com curiosidade, olhando de um para outro, depois se levantou.
-- Gente, obrigada e até a próxima visita. – abraçou os empregados.
-- Dona Francine vai questionar porque não seguramos você.
-- Nem ela consegue. – sorriu. – Vou indo. – saiu após se despedir dos empregados, preferiu sair pela varanda, assim não correria o risco de se encontrar com a mãe, mas ao passar pela pequena sala ouviu a voz de Jaques conversando com alguém. A curiosidade falou mais alto e ela se aproximou com cuidado.
-- Cara, mas ela é muito gostosa, você tem sorte.
-- Eu tenho é competência. – deu uma gargalhada. – Haidê faz tudo o que eu quero, sem me questionar nada.
-- Ela não desconfia que você tem essas outras?
-- Ela não se interessa por isso. Na verdade, eu não entendo aquela mulher. – deu um sorriso de descaso. – O que tem de linda, tem de frígida.
-- Haidê é frígida? – Pedro perguntou surpreso.
-- Ela parece um cadáver na cama: fria e imóvel. – sorriram. – A única coisa boa é a grana.
-- Estou de saco cheio daquele escritório.
-- Mariana parece ser boa de cama.
-- Boa de cama? Essa frigidez deve ser contagiosa naquele escritório.
-- Ela se incomoda quando você sai assim?
-- Nem me pergunta.
-- Isso é estranho... – Lívia ouviu o silêncio de segundos e pensou que havia sido descoberta, mas logo em seguida, continuaram. – Primeiro Haidê, depois você namora com a sócia dela e ambas são frígidas.
-- O que acha de estranho?
-- Haidê foi casada com Roberto.
-- Velho, não acredito em coincidências.
-- Eu tenho que falar com Roberto, ele deve saber de alguma coisa.
-- Olha, Mariana não é tão dura quanto a sua noivinha. Mari conversa, sai, come, enquanto a sua mulher maravilha fica de cara amarrada o dia inteiro. – Pedro confessou sorrindo. – É um saco trabalhar com aquela mulher.
-- Bem, ela não me enche com cobranças, nunca me disse um não, aliás, só fala quando é requisitada. – deu uma gargalhada. - Tem esse problema na cama, se não fosse por isso, seria a mulher perfeita. – brincou. – Ela me ama.
-- A mulher inflável? – Pedro perguntou brincando.
-- Bem isso. – riram. Lívia ouviu a tudo e estava muito irritada.
“Filhos da puta!” – a loirinha pensou irritada e saiu. – “Haidê não sabe nada da vida desse cara...” – falou sozinha.
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-- Está bom aqui? – Ulisses perguntou enquanto centralizava o alvo.
-- Afasta mais. – gritou.
-- Eita! Até parece que ainda é agente da Polícia Internacional. – Roberto debochou, mas foi só o tempo de Ulisses autorizar e Haidê atirar, descarregando um cartucho de balas no centro do alvo. – Uau! Mostrou que não está enferrujada.
-- Ou que teve um bom instrutor. – Ulisses brincou piscando para morena que recarregava a arma.
-- Jaques Di Monti é meu. – adiantou em avisar aos dois rapazes.
-- Por que Jaques? – Roberto perguntou surpreso.
-- Jaques? Ué, você conhece o cara? – Ulisses perguntou em tom irônico.
-- Foi só a forma de falar. Tá louco? – brincou.
-- Ele foi o responsável pela morte da minha família e meu filho. – afirmou com raiva. Roberto a olhou surpreso.
-- E a ideia... – não sabia como falar. – Você desistiu de levá-lo aos tribunais? – Roberto fez a pergunta ainda surpreso.
-- Levaria se seus crimes fossem apenas os de tráfico. – pegou uma automática, conferiu o pente e voltou a acertar o alvo.
-- Nós temos fortes indícios de que foi o próprio Jaques quem causou o acidente que matou nossa família. – Ulisses afirmou, observando a reação do moreno.
-- Como? – Roberto estava surpreso.
-- Pegamos alguns dos seus “seguidores” na fronteira da Bolívia. – Ulisses adiantou em responder – Eles passaram as dicas e nomes.
-- Nomes? De quem? Quais? – demonstrou nervosismo – Deve ser quente, para Haidê desistir de cumprir a lei. – forçou um sorriso – Afinal, foi para isso que você voltou a advogar, não foi? – a morena girou a arma, sem olhar para o ex, fingiu mirar a distância. Roberto se aproximou, queria despistar e sair rápido daquele lugar.
-- Justiça é para aqueles que possuem coração e são capazes de arrependimento. – ouviu e viu o movimento do homem ao seu lado, rapidamente se virou e atirou em sua mão, antes que alcançasse a arma.
-- Sua vaca! – gritou – Você atirou em mim.
-- Vai seu boi... – Ulisses chutou o homem caído, que segurava a mão baleada, olhou para a irmã e revirou os olhos – Ele lhe chamou de vaca, vocês foram namorados, ele é o que? – viu a expressão séria de Haidê – TPM... – resmungou fazendo um sinal negativo com a cabeça - Fala logo tudo o que sabe, antes que eu a deixe terminar o que começou, lembre-se que quando ela tá na TPM, vaca é o bichinho mais fofo com que se parece.
-- Ulisses! – fez sinal para o irmão se afastar. – Fala logo o que você sabe. – ordenou sem deixar de apontar a arma em direção ao homem caído.
-- Como eu vou saber de alguma coisa?
-- Ninguém sabia que meus pais estavam na fazenda e muito menos onde era.
-- Ninguém mesmo, só nós três. – Ulisses completou. – Eu não mataria meus pais, meus irmãos e sobrinho.
-- Acha que eu mataria a mulher que amo e sempre amei?
-- Ah, perdi a paciência! – atirou próximo, a perna do homem que estava deitado, depois, outro próximo a cabeça. – Fala seu desgraçado ou lhe mato aqui e ninguém nunca vai saber onde deixei seu corpo. – Ulisses se aproximou mais, sentou-se ao lado do homem caído, pegou seu canivete e insinuou uma brincadeira.
-- Poxa Dê, deixa brincar um pouquinho. – rasgou a camisa do homem. – Você nem me deixou chegar perto de Malquíades. – Roberto olhou de um para outro, estava surpreso e com medo.
-- O que fizeram com Malquíades? – Ulisses riu com sarcasmo.
-- Ela matou, depois de acabarmos com a farra das transferências. – olhou para Haidê que permanecia com a arma apontada para ele. – Ah, esqueci de falar: Haidê esvaziou suas contas naquelas maravilhosas ilhas.
-- O que? – olhou para morena.
-- Eu devolvo...
-- Haidê...
-- Ulisses, ele fez tudo por dinheiro, eu devolvo se ele revelar os nomes que queremos.
-- Se ele não falar, posso abri-lo? – perguntou enquanto passava a faca pela barriga do moreno.
-- Está bem! – gritou. – Eu falo tudo... – olhou para morena. - Avisei a Tony... – apressou-se em falar, sabia que Ulisses adorava torturas - Naquela tarde eu deveria ter ido a um torneio de surfe para matar a enteada dele... Essa com quem você namora. – confessou olhando a morena - Depois que soube da viagem de vocês, tive que informá-lo, sabia que voltariam para Grécia.
-- E por que meu pai? – Ulisses perguntou.
-- As terras dele estavam no meio da rota, tentamos compra-la, mas ele se negou a vendê-la... Tony conversou com a chefe... Ele pensou que se eliminasse toda a família, sua avó a venderia ao primeiro que chegasse.
-- Por isso as ameaças? Os sustos? – Ulisses perguntou irritado.
-- Ele queria que saíssem rápido.
-- O que corre em suas veias? Você matou seu filho. – Haidê gritou enfurecida.
-- Eu não imaginei que você e Rodrigo fossem juntos, seu carro estava lá, pensei que pegaria ele. Quando me avisasse da tragédia eu os pegaria e sumiríamos.
-- Mas ela me deu o carro... – lamentou olhando para irmã. - E seguiu com eles, porque o filho de vocês estava doente.
-- Ardia em febre, por isso saímos mais cedo. – Haidê concluiu mantendo a arma apontada para o ex, não perdia o foco, mesmo segurando o choro.
--Haidê, eu juro, se soubesse que ele estava lá... – sentiu a areia respingar em seu rosto, com outro tiro próximo ao seu corpo.
-- Eram os meus pais e meu irmão. – Haidê se segurava. – Você ajudou a matar o nosso filho e a minha família.
-- Jaques tem alguma coisa com isso? – Ulisses estava irritado.
-- Ele estava fora, mas quando soube que Haidê sobreviveu, quis conhecê-la, seria outra tentativa de obter as terras... – olhou para morena – Ele disse que se apaixonou por você.
-- Claro! – concordou jogando a cabeça. – Vivemos ótimos momentos de amor. – foi irônica.
-- Quem falsificou a venda da fazenda?
-- Eu fui obrigado.
-- Por quem?
-- A chefe exigiu provas de fidelidade e dedicação. Ela pediu que arrumasse tudo, Jaques fez o depósito e todos pensaram que seu pai havia vendido as terras que ajudariam nos esquemas do grupo.
-- Tudo isso, por causa de umas terras... – lamentou. – Quem é essa chefe? – Ulisses perguntou brincando com o canivete pelo corpo do homem.
-- Essas terras valem muito, estão na rota do tráfico. Quanto a chefe, só Jaques e Tony que tinha acesso a ela. Eles só repassavam as ordens.
-- Só? Não estou convencido. O que você acha maninha?
-- Ele não está falando tudo. – a expressão dos dois irmãos que se olhavam assustou o moreno, os conhecia bem, sabia como faziam para arrancar o depoimento de alguém, principalmente Ulisses.
-- Poderíamos trazer produtos da Colômbia, Venezuela, Guiana e entrar pela Bolívia. – adiantou-se em explicar. Roberto suava muito e começava a gaguejar – Acreditem, eu não sou nada diante da chefe. Ela quem articula com os fornecedores e compradores, nunca apareceu para ninguém, só pai e filho. – os irmãos não estavam convencidos.
-- Eu não sei... – Ulisses não perdia o ar debochado. – O que você acha, Dê? – colocou o cabo do canivete na ferida aberta pela bala.
-- Aiii! – gritou em desespero.
-- Melhor entregá-lo a Marcel.
-- Ele será julgado... – explicou com uma expressão de terror. - Apesar do cara ser um excelente promotor, você esquentará a cabeça e o pior, ele é tão safado que pode ser absolvido. – passeou com a lâmina pelo rosto do moreno.
-- Haidê, eu ainda a amo, e sei que você não teria coragem de me matar.
-- Haidê... Minha irmã sabe muito bem que ele vai se safar, também. – Ulisses argumentou, enquanto ela permanecia segurando a arma, até cogitou abaixa-la.
-- Nós vamos entregá-lo a Marcel. Eu ajudarei na acusação. – sentenciou e baixou a arma, Ulisses se levantou e a seguiu insistindo em outra solução. Neste momento Roberto retirou a arma de dentro da bota, mas só teve tempo de apontá-la, porque Haidê percebeu o movimento e atirou antes.
-- Idiota! – Ulisses olhou o corpo caído no chão – Caiu no velho truque do “esquecimento”, ainda mais com você segurando uma arma. – deu de ombros – Não vou enterrar essa carne podre, nem para adubo serve.
-- Não quero saber o que você fará com o corpo, mas espero que não o deixe de fácil acesso.
-- Não me chamo Roberto, sou Ulisses Aqueu. – a morena o olhou séria.
-- Volto amanhã e vou levar Yan comigo.
-- Meu filho não sairá daqui.
-- Meu irmão... – apontou para o corpo caído - Olha no que se transformaram nossas terras e nossas vidas... Acha justo Yan viver isolado, sem escola e longe de outras crianças?
-- Mas aqui tem os filhos dos colonos, ele não tem acesso a este lado da fazenda.
-- Ulisses, eu prometo cuidar dele como se fosse meu filho, além disso, tem a vovó e Mariana.
-- Mariana? – pensou um pouco – Ela não pensa mais em mim, quis ficar com aquele idiota.
-- Acho que vocês precisarão resolver estas questões pessoalmente, sabe muito bem que ela está com Pedro para nos ajudar com Jaques. – fez menção de sair, mas ao ouvir o irmão, parou e respondeu.
-- Por que não o matou de imediato? Por que quis levá-lo a julgamento? – Haidê olhou além do irmão e respondeu pensativa.
-- Era o pai do meu filho, devia este ato de respeito em sua memória. – respondeu e saiu, sem olhar para trás.
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-- Espero, realmente, que arrume uma trans* qualquer... – disse enquanto a loira terminava de assinar alguns documentos. – Seu mau humor está insuportável.
-- E eu espero que você seja mais organizado. – retrucou no mesmo tom.
-- Sei... – pegou os papéis e juntou, colocando-os em uma pasta. – Vamos beber alguma coisa?
-- Não estou afim. – respondeu enquanto colocava a tampa na caneta.
-- Vamos lá Lívia, não teve mais um tempinho para o velho amigo. – a olhou de forma avaliadora. - Está acontecendo alguma coisa que não sei? Algum lance qualquer?
-- Não estou tendo um lance com nada. – olhou para o amigo de forma severa.
-- Ouvi isso com a Tati, Raissa e Vanda. – concluiu com voz de enfado.
-- Não se compara.
-- Tá. – resolveu não discutir, levantou-se – Por falar nas meninas, Mila voltou.
-- Onde estava? – perguntou sem muito interesse, olhando alguns papéis sobre a mesa.
-- Onde estava? – andou de um lado a outro – Garota, vocês duas aprontaram horrores juntas, vocês viveram uma verdadeira lua de mel. Vocês pegam fogo quando se juntam e agora não sabe onde ela estava?
-- Augusto, por favor, entenda que eu não estou mais com tempo para essas brincadeiras. Tenho outras prioridades agora e uma delas é tocar essa empresa que você anda negligenciando.
-- Entenda você... – aproximou-se da loirinha, encarando-a - Eu não acredito. – sorriu - E para provar isso, você tem que sair comigo hoje. Vou marcar com Milena, duvido que não queira.
-- Eu não preciso provar nada para você ou para ninguém.
-- Lívia...
-- Chega Augusto! Eu tenho minha vida, minhas decisões, sou bem crescidinha para decidir minhas prioridades. – irritou-se. – Agora, por favor, quero ficar sozinha.
-- Sério isso?
-- Não, estou mentindo só para ser grosseira e me irritar mais.
-- Está complicado conviver com você, Lívia.
-- Simples, não conviva. Ninguém está lhe obrigando a nada. – foi em direção à porta e abriu, apontando para o amigo sair. Gesto que foi percebido por Lis. O rapaz saiu bufando.
-- Ele não gostou. – a secretaria constatou.
-- Problema dele.
-- Está tudo bem?
-- Cansada. – voltou para sala e se jogou em sua cadeira. Lis entrou preocupada, retirando-a dos seus pensamentos.
-- Lívia, acho que conselho de madrinha funciona nessas horas. – a loirinha a olhou.
-- Estou fazendo alguma coisa errada? – Lis a abraçou e beijou o topo da cabeça loira.
-- Querida, a felicidade alheia incomoda. Quero acreditar que isso seja um ponto positivo, assim descobrimos nossos verdadeiros amigos. – confessou revirando os olhos.
-- Acha que ele não é meu amigo? – perguntou com um olho fechado, estava envergonhada. Lis viu a oportunidade de falar sobre aquela amizade, ela virou a cadeira de Lívia e se escorou em um móvel.
-- Eu conheci seu pai quando era adolescente, nesta época ele e Fernando já eram grandes amigos, assim como seu tio. Éramos um quarteto e tanto... – sorriu com a lembrança. – Um sempre ajudava o outro. Nos apoiávamos um no outro, crescíamos, prova disso que hoje essa empresa existe pelo trabalho duro de Estevam, com ajuda de George e Fernando. – sorriu. – Amigos se ajudam, crescem juntos, apoiam-se. Não acredito que sair com seus amigos e se isolarem tenha algum elo que se chame de amizade. – referia-se as noites de sex* a três regado a drogas. – Além dessas coisas não fazerem bem. – Lívia a olhou surpresa.
-- Coisas?
-- Sabe a que me refiro. – levantou-se e saiu, deixou a loirinha sozinha, refletindo sobre a conversa. O celular tocou e ela atendeu.
-- Alô. – falou sem olhar no identificador de chamadas.
-- Tudo bem por aí? – perguntou com uma voz sedutora, tentou disfarçar a dor que sentia por ter se tornado uma pessoa que fazia justiça com suas próprias mãos.
-- Haidê? Amor, eu estou com saudades. – o mau humor de minutos atrás passou, dando lugar a um imenso sorriso.
-- Eu também... – sorriu – Não paro de pensar em uma loirinha. – confessou aliviada após sentir o peso sumir.
-- O que as morenas têm? Por que sentem essa atração absurda por loiras?
-- Sei lá. – brincou.
-- Devo temer a concorrência?
-- Essa loira é muita linda... – estava nervosa, mas depois de ouvi-la sentiu o corpo leve. - Eu a desejo cada vez mais. – falou mais baixo – Vou confessar algo, mas, por favor, não fale para ninguém. Estou amando essa loirinha. – Lívia sorriu e completou como se não conhecesse a pessoa a quem ela se referia.
-- Olha, estou preocupada. – ouviu a respiração forte da morena.
-- Lívia, você é a primeira e única mulher da minha vida. – mudou o tom de voz, estava mais séria.
-- Não sabe como me alegro em ouvir isso, mas não cobre essa dor que sinto... Estou com saudades de você. – confessou com uma voz suave.
-- Segunda estarei aí, meu anjo.
-- SEGUNDA? – falou alto e passou a mão pelo cabelo – Haidê, você disse que voltaria logo.
-- E voltarei, na segunda. – tinha medo que Lívia não a esperasse e saísse com seus amigos.
-- Você viajou no início da semana. Isso não é justo.
-- Amor, começamos agora, está tudo frágil, ainda... – afirmou usando um tom conciliador - Lívia, por favor, espera eu voltar, não sairei do seu lado.
-- Por que está falando isso? Eu não vou lhe deixar. – achou estranha a preocupação na sua voz.
-- Ufa! Ainda bem.
-- Haidê, o que está pensando?
-- Meu anjo...
-- Seja sincera.
-- Eu tenho alguns receios... – parou para pensar. - Podemos conversar pessoalmente? – estava envergonhada e não sabia como falar.
-- Claro, mas quero que tenha apenas uma coisa em mente: eu amo você.
-- Você não imagina o quanto isso me faz bem. – respondeu e conversaram por mais alguns minutos, até se despedirem.
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-- Minha filha, você quer que lhe prepare um lanchinho? – Lívia a olhou, mas estava dispersa em seus pensamentos e Bá estranhou. – Minha querida, está tudo bem? – a loirinha respondeu de forma displicente.
-- Haidê tem medo de me perder. – declarou fitando a mulher mais velha.
-- Assim como você também tem.
-- Eu tenho Bá, mas é algo normal comigo.
-- E com ela não?
-- Ela é linda, bem-sucedida, um mulherão inteligente... – sorriu – Augusto a chama de tia, diz que é coroa, mas eu acho muita areia para meu caminhão.
-- Lívia, esta é a primeira vez na vida que vejo você se sentir tranquila, segura ao lado de alguém. Isso vai despertar ciúmes, inveja e coisas deste tipo, então ouça o que seu coração diz.
-- Por que está falando isso? Foi o mesmo que Lis me disse hoje à tarde.
-- Porque você a ama e suas amizades não são as melhores.
-- Refere-se a Augusto? Porque Lis falou sobre ele e Milena.
-- Acredito você é amiga deles, mas será que a recíproca cabe neste caso?
-- O que é isso Bá? Ele sempre esteve ao meu lado. – tentou se justificar.
-- Isso mesmo: esteve ao seu lado porque sempre gostou de você. – bateu nas pernas da loirinha – Você é linda, tem essa carinha de anjo, esses olhos que parecem duas esmeraldas... – sorriu. - Muitos se apaixonam. – sorriu - Venha, não comeu quase nada hoje.
-- Estou sem fome.
-- Você? – sorriu - Passe para cozinha, o jantar será servido.
-- Você agora sabe que colocou ruguinhas na minha cabeça, não é? – brincou.
-- Não são ruguinhas e sim minhocas.
-- Recuso a pensar naqueles bichos asquerosos. – revelou brincando após se abraçar a velha senhora.
-- Agora venha e me diga quando conhecerei essa mulher que lhe prendeu?
-- Bá, ela é uma deusa! – disse sorrindo. – Ah, esqueci de lhe dizer, eu peguei umas roupas com a avó dela.
-- Para que? – estava surpresa.
-- Para não ter desculpas e dormir aqui. – piscou e se deixou levar por Bá até a cozinha.
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Haidê e o sobrinho Yan pegaram o avião no final da tarde. A morena não avisou a ninguém sobre seu retorno, o que causou uma grande surpresa a sua avó, Helena.
-- Haidê? – só tinha visto a neta – Você disse que chegaria segunda, hoje ainda é sábado. – estava surpresa, abriu os braços para recebe-la. – Deu algum problema?
-- Não. – colocou a mala no canto. - Antecipamos algumas coisas. – respondeu desanimada – Mas trouxe uma surpresa para senhora.
-- Surpresa? – perguntou sorrindo.
-- Na verdade é um presente de grego. – respondeu e se esticou para pegar o sobrinho que estava escondido atrás da porta.
-- Bisa? – falou envergonhado.
-- Meu amor! – abriu os braços para receber o bisneto postiço. – Oh meu amor, seu pai deixou você vir? – perguntou olhando dentro dos lindos olhos castanhos.
-- Na verdade foi tia Dê que mandou deixar de ser bobo. – respondeu sorrindo para tia que lhe piscou.
-- E você vai ficar até quando?
-- Tia Dê disse ao meu pai que era para sempre. – Helena olhou para Haidê e só então percebeu que havia acontecido algo, Ulisses não ficaria sem o filho que tanto amava.
-- Ele vai ficar uns tempos até as coisas se acertarem, como estamos terminando o primeiro semestre, este ano letivo ele termina na escola que iremos matricula-lo, não é mesmo meu presente de grego? – o menino sorriu balançando a cabeça.
-- Bisa tem baklava?
-- Não tem agora, mas farei tudo o que você quiser. – respondeu se abraçando ao menino.
-- Opa... Opa... Opa! A vó é minha, só para esclarecer. Sebe aqueles privilégios de família? Primeiro para mim. - brincou – Bisneto é segundo no banco, então passa fora! – deu umas tapinhas na bunda do sobrinho – Vó, o que você vai fazer para mim? – perguntou abraçando a avó.
-- Sua boba. Tem Helena para todos. – beijou o rosto da morena.
-- Bem, vou colocar as coisas do nosso presente de grego no quarto e depois, vou tomar um banho. A senhora resolve tudo enquanto vou à casa de Lívia?
-- Claro. – estreitou os olhos – Ela sabia do seu retorno?
-- Foi surpresa até para gente. – respondeu cansada e saiu.
Helena fez um lanche para o menino e enquanto ele comia foi até o quarto da neta.
-- Haidê, o que aconteceu? – a morena parou olhando para fora, com uma expressão fria.
-- Matei Roberto. – respondeu secamente.
-- O QUE? – sentiu as pernas fraquejarem e sentou.
-- Era ele... – amparou a avó. - Ou nós dois. – Haidê segurou as mãos da avó e contou sobre tudo, desde as descobertas até a morte do ex.
-- Parece um filme de horror.
-- Não parece vó, está sendo. – beijou a velha senhora – Por tudo isso, trouxe Yan e não abri espaço para Ulisses.
-- Fez certo, não tem como deixar a criança isolada assim.
-- Aqui nós ficaremos de olho vinte e quatro horas nele. - vestiu uma calça jeans - Vó, Jaques virá com tudo, ele perdeu um dos maiores aliados.
-- Tome cuidado, e mais uma vez: fale para Lívia, ela também corre perigo.
-- Vou pensar vó, não quero assustá-la. – disse pensativa.
-- Acha que Roberto falou a verdade? – a morena parou pensativa.
-- Em partes... – deu de ombros – Não sei se existem mais coisas, talvez seja só isso, mas este mistério depois de desvendado, nos dará Jaques e essa tal chefe em uma bandeja de prata.
-- Ele sabia que você era uma agente? – perguntou assustada.
-- Provavelmente. Vó, não imagina como isso me irritou. – estava séria.
-- Você aguentando a exploração e ele se aproveitando... - revirou os olhos. – Ele foi o mais esperto de todos.
-- Mas agora eu sei que posso lutar com minhas armas e esquecer as cordialidades. – disse entre os dentes.
-- Haidê... – aproximou-se da neta – Você é tudo o que tenho. – acariciou seu rosto – Não posso contar com Ulisses, ele não tem morada, mas você... Minha neta querida, tê-la comigo é o mesmo que ter minha amada filha, então se cuide. – abraçaram-se.
-- Vó, a senhora assim está tão...
-- Não complete a frase ou lhe despacho para o Oriente Médio. – saiu sorrindo e fazendo a morena sorrir.
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-- Líviaaaa! – pulou nos braços da loirinha.
-- Mila... – foi um pouco mais comedida.
-- Gente, eu venho feliz para falar com você e me recebe assim? – parou de braços abertos – Vem me abraçar amor da minha vida. – brincou e Lívia a abraçou sem muito entusiasmo.
-- Estou feliz pela viagem que ganhou dos seus pais.
-- Augusto contou? Mas você não parece tão feliz assim... – sentou-se próximo a loirinha. - Pedi a Gus para levá-la ontem ao bar e você não foi.
-- Não estou muito animada.
-- Ah, não acredito! Lívia Fachini desanimada? Que novidade é essa? – a loirinha voltou a forçar o sorriso e sentou em frente à amiga.
-- Muito trabalho, saudades do meu pai, meu tio... – deu de ombros. – Deixar de surfar assim, tão de repente, causou essa parada na minha vida, um ritmo diferente.
-- Isso é falta de sex*, depois que colocar essa borboleta para encharcar, passa essas frescuras. – declarou sorrindo e não percebeu a surpresa nos olhos da loirinha. - Vamos comer uma pizza? – Milena não se importou com o desabafo da amiga, para ela era capricho de menina mimada.
-- Não sei... – tinha medo que Haidê ligasse e ela não estivesse em casa.
-- Vamos lá? – fez uma expressão implorando. - Aquela da esquina está aberta... – disse sorrindo. - Vamos ali, assim nem pegamos carro.
-- Comemos e voltamos? – fechou um olho com uma expressão de dúvida.
-- Rapidão. – sorriu enquanto segurava a mão de Lívia.
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-- Haidê, não quer que eu prepare nada para você comer? – perguntou enquanto terminava de servir o bisneto.
-- Não vó. Irei convidar Lívia para comermos... – terminou de amarrar o cabelo em um rabo de cavalo – E você greguinho, tome conta da minha avó. – o menino fez continência e ela sorriu, lembrando-se do irmão.
-- Pode deixar tia, a bisa tá na minha proteção. – as duas riram com o jeito do menino que lembrava muito o pai.
-- Ótimo! Vó, qualquer coisa a senhora liga para mim.
Haidê pegou o carro e saiu desconfiada, qualquer coisa fora do normal poderia ser motivo de preocupação. Preferiu ir direto para casa de Lívia, não havia trânsito, em menos de cinco minutos parou o carro e desceu. Ela viu que o carro e a moto da loirinha estavam na garagem, sorriu e entrou.
-- Boa noite! – foi bem formal. – Eu quero falar com Lívia. – Bá avaliou a morena e sorriu.
-- Deve ser a doutora Haidê? – estendeu a mão.
-- E você a dona Dirce? – aceitou a mão da velha senhora e sorriu.
-- Muito prazer. Lívia havia falado sobre você, parece que a conheço.
-- Então nos conhecemos muito, porque ela também fala muito na senhora. – completou sorrindo.
-- Não precisa me chamar de “dona”, basta falar Bá ou Dirce. – a morena sorriu. - Estava viajando?
-- Sim. – sorriu. – Cheguei a pouco... – deu de ombros. – A senhora pode me chamar só pelo nome. – explicou sorrindo. - Lívia está aí?
-- Ela saiu, foi jantar com uma amiga. – Haidê demonstrou decepção.
-- Então eu vou embora.
-- Espere um pouco. – Bá viu a tristeza nos olhos que segundos antes brilhavam.
-- Melhor não, ela pode demorar.
-- Não minha querida, fique mais um pouco, você chegou agora, não quer que lhe faça algo para comer? – Haidê viu como ela estava preocupada e querendo agrada-la, resolveu aceitar a oferta.
-- Não precisa, eu vou espera-la.
-- Então fique à vontade, vou preparar ao menos um suco para você.
-- Não precisa... Sei que está na hora da novela, eu fico aqui esperando, pode ir assistir.
-- Lívia lhe falou mesmo de mim. – declarou sorrindo. - E você vai ficar sozinha?
-- O que tem? – estava sorrindo com o comentário anterior. – A senhora disse para ficar à vontade, além disso, Radar me faz companhia. – brincou com o cachorro que não parava de balançar o rabo.
-- Tudo bem, mas quando passar o comercial, eu volto. – Haidê sorriu e sentou no sofá que havia na varanda, amava aquele cheiro e barulho do mar. Radar pulou e ficou com a cabeça no seu colo. – Você tomou conta da sua mãe como eu lhe pedi? – o cão balançou o rabo. Haidê permaneceu sentada, alisando o animal e pensando sobre sua vida, decidiu falar a verdade para loirinha, revelar que havia matado o pai do seu filho. Aquele pensamento a deixou triste, as lágrimas vieram fácil. Seus pensamentos foram interrompidos ao ouvir a voz da namorada e sorrisos.
Lívia havia entrado em casa, não percebeu o carro da morena estacionado no outro lado da rua.
-- Se nós duas ficássemos juntas? Você me ama Lívia, eu senti esse fogo quando dormimos juntas. – declarou com malícia e a abraçou. Antes que Lívia respondesse, Haidê apareceu na porta da varanda, e ao seu lado, estava Radar.
-- Desculpa interromper. – disse séria. Milena olhou a morena de rabo de cavalo, calça jeans justa, camisa e tênis, analisou a cena: era uma roupa simples, mas em cima daquele corpo, parecia o manto de uma deusa.
-- Haidê! – a loirinha sabia que aquela expressão não era um bom sinal. - “Ela ouviu a conversa.” – pensou desesperada. – Amor... – correu para abraçá-la, mas, diferente das outras vezes, sentiu apenas a mão da morena passear por suas costas. – Amei essa surpresa.
-- Mesmo? – perguntou seca, fitando a outra morena a sua frente.
-- Então você é a famosa Haidê? – Milena sorriu, a mulher era muito mais que linda. Aproximou-se e estendeu a mão. A morena retribuiu o aperto, sem muito entusiasmo. – Você é realmente linda, Augusto não exagerou em nada. – afirmou com malícia, só Haidê percebeu.
-- Seu nome? – permanecia séria, a pergunta fez à loirinha se afastar e apresenta-las.
-- Amor, essa é minha amiga Milena. – olhou para a amiga – E essa é Haidê, o amor da minha vida.
-- Haidê, você tem sorte... – sorriu com a mesma malícia de antes. - Chegou durante a metade do campeonato e já saiu com o troféu. - antes que Haidê respondesse, Lívia brincou.
-- Eu não sou troféu, nem meus sentimentos campeonato, endoidou? – sorriu nervosa.
-- Acho que você quem está ganhando, por enquanto, o prêmio. – brincou com a mesma malícia de antes. – Linda assim, acho que Jaques não abriria mão. – olhou para loirinha. – Ela se parece mesmo com Jeanine, agora é só apostar quem ganha desta vez: você ou Jaques. – sorriu e se abraçou com Lívia.
-- Lívia desculpe ter atrapalhado. Eu vim mais cedo e queria apenas fazer uma surpresa, mas eu quem fui surpreendida. – foi em direção à porta.
-- Haidê... – segurou o braço da morena que a olhou com a mesma decepção de antes. Haidê ouviu um pedido surdo de desculpas. – Fica... – ficaram segundos que pareceram horas, apenas se olhando em silêncio.
-- Fica Haidê, quero lhe conhecer melhor. – a advogada preferiu fingir que não havia ouvido o pedido de Milena.
-- Depois nos falamos. – soltou-se e saiu. Lívia ficou olhando para porta enquanto ouvia a amiga falar.
-- Geniosa e ciumenta a doutora deusa. – brincou.
-- Por que falou de Jeanine? – a loirinha virou encarando-a.
-- O que tem? Não era para falar?
-- Não era necessário. E ainda falou de Jaques, Haidê preza pela privacidade, ela é discreta.
-- Linda desse jeito? Impossível ser discreta.
-- Haidê... – Bá entrou chamando-a e viu as duas mulheres. Na verdade, a velha senhora ouvia e via tudo atentamente, sem que ninguém a visse – Onde está Haidê?
-- Já foi. – respondeu vencida.
-- Vocês brigaram?
-- Ela não deu tempo para nada, nem mesmo para briga. – a loirinha lamentou.
-- E o que está fazendo aí que ainda não foi atrás dela? – olhou para Milena – Tenho certeza que sua amiga não ficará chateada com sua ausência, afinal, por amor vale tudo. – jogou a indireta antes que Milena argumentasse se colocando do contra.
-- Eu vou lá. – saiu correndo.
-- É Milena, tenha a certeza de que o amor é lindo! – saiu repetindo essa frase, após soltar mais uma indireta de que a menina deveria ir embora.
Fim do capítulo
Olá meninas,
Aguaro os comentários, acredito que as modificações foram bem aceitas...kkkkk... Beijos e boa semana.
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LeticiaFed
Em: 11/08/2018
Realmente esses dois “amigos” de infancia da Lívia são umas cobras. E ela ja foi muito bem alertada pelas pessoas mais proximas e queridas, só que infelizmente não é assim tão fácil mudar de opinião. A gente embarca feio numas situações assim, mas com o tombo amadurece. Com o tempo ela vai perceber, só espero que o estrago que eles causem não seja irreparável. Está ótima a nova versão, Rafa! E volta logo! Bom final de semana, beijo!
Mille
Em: 06/08/2018
Olá Rafa
Haide chegou antes e a Lívia deu trela para a amiguinha dela. Abri os olhos Lívia Augusto e Milena são amigos da onça.
Bjus e até o próximo capítulo
Resposta do autor:
Ela confia demais, pior que até nós mesmas agimos assim se pararmos para pensar. Quantas vezes não pensamos: "que ódio por ter confiado em fulando"... Infelizmente tem gente que nasce no lado negro da vida. Bjs
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preguicella
Em: 06/08/2018
Mas essa Lívia tá beirando a burrice de tanta inocência!
Essa Milena vai entregar Lívia e Haidê de bandeja pra Jacques, quero nem ver!
Bjão
Resposta do autor:
Existem muitas Lívias por aí. Confesso que até eu mesma já me desiludi com amizades, imagina ela.
Bjs
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