POV Nanda

Minha esposa andava pelo quarto vestindo apenas um pijaminha enquanto eu tentava aprender uma música nova no violão. O dia teve fortes emoções. Quando eu notei que o Sabrino não respondia à estímulos eu liguei pra Jennifer que veio imediatamente. Nosso lindo tinha falecido.

Nós todos já estávamos esperando isso, mas mesmo assim foi uma comoção. A festa acabou naquele momento e todos foram para suas casas. Não sei quem era o mais desolado: padrinho ou meu filho. Os meninos choraram tanto que a madrinha deu banho nos dois e agora estão dormindo abraçados na grande cama de casal. Jennifer sugeriu que fizéssemos uma pequena cerimônia e enterrássemos o corpinho dele aos pés da goiabeira que ele tanto gostava. Como ele já estava velhinho, a veterinária disse que não era necessário nenhum exame de necropsia.

Vestimos nosso primogênito canino em uma roupinha imitando um smoking e Carlão trouxe uma caixinha de madeira. Enquanto Alfredo organizava a cova. Fomos até nossa casa e Alex me acompanhou. Nunca pensei que a americana fosse tão emotiva. As lágrimas não paravam de cair do seu rosto. Aproveitei o momento, pois sabia o quanto ela era fechada com as suas emoções, e coloquei uma camiseta e um short.

— Nanda, quando eu me for... – a loira me fala no seu sotaque forte. – preciso que você cuide da minha Baby girl. Ela vai ficar perdida e só fico mais tranquila se você prometer isso.

— Deixa de besteira mulher! Você vai viver por muitos anos ainda! – falei sabendo que isso poderia não acontecer. Saio porta afora, mas a pequena me segura fortemente pelo braço.

— Please Nanda, I really need you to promise me. It's important for me. I only trust you for it.

— Hey pequena. – a abracei e ela começou a chorar no meu peito. – Você pode ter certeza que Luiza sempre terá a mim e a minha família. E eu nunca vou deixar ninguém a machucar. Amo a Luiza tanto quanto a minha esposa. – nada mais precisou ser dito. Ficamos naquele momento e depois voltamos para a casa dos meus sogros.

João estava agarrado a minha esposa e na Luiza não querendo se desvencilhar de nenhuma das duas. Padrinho, amparado por minha madrinha e Mainha chorava como um bebê desmamado. Levamos o pequeno “caixão” até a “cova”. Tia Edi e Odete tinham enchido o local de flores. Ficamos todos em pé ao redor da sepultura improvisada: eu, Clarinha, meus padrinhos, Mainha, todos empregados das casas e Jennifer.

— Nós sabíamos que esse dia chegaria. Mas é tão injusto isso... – eu falava com a minha voz embargada e falhando. – ... não é justo para nós. Esses seres são tão especiais, possuem um coração que transborda um amor incondicional, não veem credo, cor, orientação sexual, gênero... – as lágrimas eram tantas que meu pescoço estava encharcado. – Sabrino era o cachorro mais feio que eu já vi. Mas para todos nós ele era o LINDO.  Ele me achou em um momento difícil, todos sabem aqui a história. Ele foi o meu herói. Sabrino é o meu herói. Sabrino meu lindo, eu sei que você sempre estará aqui com a gente como um lindo anjo canino. Obrigada por fazer parte da nossa vida todos esses 15 anos. Nós te amamos!

— Sabrino, desculpa quando a mamãe não teve tempo em te fazer um carinho, te dar atenção... e mesmo assim todo dia você vinha e me recebia latindo como se estivesse sorrindo para mim. Não tenho mais nada a dizer senão concordar com tudo o que a Nanda falou. Você nos fez mais feliz! Desculpa se eu coloquei roupinhas em você que eram fofas para mim. Nunca pensei que você não gostasse. Mas você ficava tão lindo! Ai meu amor, vou morrer de saudade! – minha esposa soluça alto e meu filho a abraça falando palavras carinhosas ao seu ouvido.

— Sabrino do vovô – a voz do meu padrinho tremia. – Não liga para que o sua Mainha disse. Para mim você sempre foi o lindo do vô. – nós rimos entre lágrimas. – O cão mais inteligente do mundo! Meu companheirinho. Eu... eu não consigo... Alice – padrinho se agarra a esposa e soluça como criança. Começo a dedilhar uma canção no violão e começo a cantar, olho para Alex e ela me acompanha. Mesma canção que Sabrino “dançou” tantas vezes com meu sogro nas nossas rodas de violão. (N/A: Ouça Somewhere Over The Raibow – Rita Lee https://www.youtube.com/watch?v=pQfUzWM8bvQ)

♫Somewhere over the rainbow

Em algum lugar além do arco-íris

Way up high

Bem lá no alto

And the dreams that you dreamed of

E os sonhos que você sonhou

Once in a lullaby ii ii iii

Uma vez em um conto de ninar

Somewhere over the rainbow

Em algum lugar além do arco-íris

Blue birds fly

Pássaros azuis voam
And the dreams that you dreamed of

E os sonhos que você sonhou
Dreams really do come true ooh ooooh
Sonhos realmente se tornam realidade
Someday I'll wish upon a star

Algum dia eu vou desejar à uma estrela

Wake up where the clouds are far behind me ee ee eeh

Acordar onde as nuvens estão muito atrás de mim
Where trouble melts like lemon drops

Onde problemas derretem como balas de limão
High above the chimney tops thats where you'll find me

Bem acima dos topos das chaminés é onde você me encontrará
Somewhere over the rainbow blue birds fly

Em algum lugar além do arco-íris pássaros azuis voaam

And the dream that you dare to,why, oh why can't I?

E o sonho que você desafiar, por que, porque eu não posso?

Someday I'll wish upon a star,

Algum dia eu desejarei que uma estrela,
Wake up where the clouds are far behind me

Me acordasse quando as nuvens estivessem longe de mim
Where trouble melts like lemon drops

Em um lugar onde os problemas se derretam como gotas de limão
High above the chimney top that's where you'll find me

Muito acima do topo da chaminé é onde você me encontrará
Oh, Somewhere over the rainbow way up high

Em algum lugar alé do arco-íris bem lá no alto
And the dream that you dare to, why, oh why can't I?

E o sonho que você acha impossível, por que, porque impossível? ♫

                 Durante os minutos que eu e minha amiga gringa cantávamos a canção, tão cheias de emoção. Carlão terminava de enterrar o pequeno caixão improvisado. Depois disso, todos foram para suas casas e madrinha cuidou de meu sogro e do meu filho.

                — Amor. – Clarinha me tira dos devaneios e lembranças dos acontecimentos do dia. – Quer deitar? Faço uma massagem em você.

— Princesa eu prometi ao João que tocaria essa música para ele amanhã. – ela olha a música e sorri triste.

— Tudo bem minha linda. Vou ler um pouco e depois dormir. – Clarinha pega o tablet e acessa o site Lettera para acompanhar as histórias que tanto ama. Fico mais um tempo envolvida com o violão, mas resolvo tomar uma ducha e deitar.

Quando eu volto ela ainda estava entretida com a leitura. Deito ao seu lado e ela me abraça me puxando para seu peito.

— Será que papai vai ficar bem? – minha esposa pergunta preocupada.

— Acho que sim gatinha. Mas, eu não quero outro bichinho tão cedo. Acho melhor esperar as meninas nascer e estarem mais velhas.

— Vai ser difícil convencer o João. Quem sabe damos um hamster a ele? – ela pergunta me fazendo cafuné?

— Nem pensar Clarinha! Não quero um rato dentro de casa. – ela começa a rir.

— Rato Nanda? Hamster é outro tipo de roedor, não é rato. E Jennifer falou que seria bom porque ele iria se acostumar com a perda. A vida média de um bichinho desses é de 3 a 5 anos.

— Nossa!

— Podemos ir no pet e comprar amanhã?

— Só se eu nem chegar perto desse bicho.

— Combinado amor. 

Fim do capítulo