POV Ana Clara

— CHEGOUUUUUU A ALEGRIA DA FESTAAAAA! – Luiza, cada dia mais linda, chega ao churrasco com a sua “minion” como a Nanda fala.  “Essa minion é linda! OMG!”. Nas primeiras vezes que conversei com ela meio que travei. Eu acompanhava Alex nas redes sociais e era meio que fã. Sabe aquelas “celebridades” gringas que você acompanha? Imagina estar um dia cara-a-cara, e o melhor, comendo churrasco em família.

— Mas ô Luiza eihn! Tá gostosa pra caralh*! Com todo respeito à senhora sua esposa, que também é uma gata, mas puta que pariu! – Chico deu o ar de sua graça. Estávamos na casa do papai e as meninas eram as últimas a chegar. Minhas amigas abraçaram todos e também Fê, sua mãe e a sobrinha.

— Pode olhar Chico, que não tira pedaço. Mas sabe muito bem que essa aqui tem dona! – Alex brinca com meu primo. Depois do meu casamento, cada vez que se encontravam, ficavam nessa brincadeira.

— Cadê o meu João? – Luiza grita para as crianças que brincavam no gramado. – Vem dar beijo na dinda! Olha o que eu trouxe para você!

— Porr* Lu, para de encher de brinquedos esse garoto! – Nanda beija as amigas e ao mesmo tempo briga com a Luiza.

— Ai me deixa estragar o meu lindo! – falou com o meu filho nos braços. Ela tinha trazido uma fantasia de dinossauro inflável para ele. – Dinda é pra isso mesmo né?

— Nanda, juro que tentei! – Alex se desculpa. – Mas fica feliz dela não ter trazido um robô dinossauro.

— Sei bem como é essa daí. Tudo bom “minion gostosa”? – minha mulher abraçando a minha crush da adolescência era uma visão MARAVILHOSA.

— Tudo “morena maromba”. – as duas se davam super bem.

— Nem tô tão maromba. Olha – Nanda levanta sua camiseta e mostra os gominhos da sua barriga. D E L I C I O S A! – não ando conseguindo treinar.

— É impressão minha ou ficou calor aqui de repente miga? – Lu coloca seu braço nos meus ombros e pergunta baixinho fazendo com que eu saia do meu “transe”. – Linda tatuagem Nanda. – fala alto para todos ouvirem. – Com certeza você deve conferir os contornos com a língua todos os dias né safada? – falou apenas para eu ouvir.

— Para Lu! - Falo rindo toda boba olhando a minha esposa gostosa.

— Alex minha filha! Vem ver o que eu ensinei ao Sabrino. Agora ele late “Eu te amo!”- meu pai leva Alex dali. Sim, Alex como todos nossos amigos, já é da família.

— Como ela tá Lu? – pergunto depois que vejo eles se afastar. Alex tem uma doença degenerativa incurável chamada Síndrome de Huntington.

— A maioria dos dias são bons. – minha amiga fala baixinho, Nanda se aproxima e nos abraça. – Mas os dias ruins.... são MUITO ruins.  O problema é quando ela perde o controle muscular e fica braba consigo mesma. Ela fica insuportável. Mas nesses dias eu finjo que não escuto tudo o que ela fala. Eu tenho consciência que a doença que faz isso. Ela sempre pede desculpas e morre de vergonha depois.

— Vocês estão testando o medicamento novo? – pergunto sobre a nova droga que retarda os sintomas.

— Sim! Tudo que minimize a sintomatologia ela usa.

— Até um bob? – Nanda pergunta.

— Toda noite antes de dormir. Maconha medicinal. – Lu dá uma risada.

— Me chama! A Clarinha não pode, mas eu posso. Né amor, você não se importa né? – minha esposa tenta me agradar para que eu de um “passe livre” a ela. Vem me beijando o pescoço e eu fico arrepiada com isso.

— Pode, mas não acostuma!

— Melhor esposa EVER! – começo a rir. Minha atenção é capturada por João que corre com Summer e Biatriz

— Como se dão bem né? – Sônia se aproxima e fala enquanto vê a esposa ir atrás da filha para passar protetor. A ruivinha sardenta era danada! Quando fazia birra ninguém segurava.

— Demais! – minha afilhada agora tinha corrido para embaixo de uma mesa e Bruna, com toda paciência do mundo, pedia para ela sair. Bruna é uma santa, porque as duas ruivas da vida dela possuem um temperamento forte!

— O ruiva.... vai ajudar a tua esposa! Minha afilhada tá com a macaca hoje.

— Me deixa tomar minha gelada descansada! – Sônia fala rindo.

— Mas que é isso????? Você tá parecendo aqueles coronéis de patriarcado! Nãoooo, vai lá mulher! – Luiza se intromete rindo. – Vai lá que a Bruna tá quase perdendo a paciência.

— Ana Clara e Nanda posso falar com vocês em particular? – dona Theodora nos pergunta.

POV Nanda

Eu estava sentada em uma mesa mais afastada do “povo” junto a minha esposa esperando a Theodora falar algo. Fiquei olhando para a mulher que há muito tempo deixou de ser bela. Os maus tratos de um marido e de um filho abusivos cobraram o seu preço.

— Eu não sei por onde começar. – a mais velha começa.

— Pelo começo.  – eu estava sem paciência. Sinto minha pequena me cutucar nas costelas como quem diz: “sejes menas”. Cotovelada doída minha pequena dava, vish.

— Fernando me contou tudo o que vocês passaram na mão do meu filho mais velho. Eu não vou pedir desculpas pelo que ele fez. Só posso pedir desculpas por eu não ter visto o psicopata que ele estava se tornado, por não ter feito nada para mudar isso, por ser omissa e passar a mão por cima dos erros dele na infância e adolescência.

— Dona Theodora a senhora não tem que pedir desculpa nenhuma. Às vezes a pessoa simplesmente é assim. Na minha profissão eu sei muito bem isso. – falo para ela.

— Eu pedi para conversar com vocês duas para agradecer. Vocês estão fazendo a minha velhice mais feliz. Quando eu descobri que o João e as gêmeas são filhos do Fernando. Que eu sou vó! Vovó Theodora! Quatro netos! – a mulher falava emocionada. – Vocês não tem noção do quanto eu fiquei feliz. Quero que vocês duas saibam que eu vou protegê-los com a minha vida. Nunca vou deixar algo ruim acontecer com eles. Obrigada, muito obrigada! Por vocês me deixarem fazer parte da vida dos filhos de vocês.

Minha esposa abraçou a mulher mais velha. Mas confesso que eu não sinto toda essa empatia por ela. Mesmo que eu tenha dito o contrario, acredito que o Vitor é sim resultado de uma educação errada e uma mãe omissa. Ela deve ter visto quando criança essas tendências psicopatas, e não teve o pulso em procurar uma ajuda profissional a ele.

Saio dali sem falar nada e vou até a cozinha ver se Mainha precisava de algo. Minha gostosa tava arrumando a salada de maionese junto à madrinha. Essas duas mulheres foram importantes na minha educação. Meu trauma quando pequena poderia ser desculpa para relevarem tudo de errado que eu fazia em criança. Mas essas duas lindas. Essas duas mulheres maravilhosas, de pulso firme e coração maior que o mundo, me orientaram, me levaram para uma psicóloga, me diziam o que era certo e o que era errado, me ensinaram a ser a mulher que eu sou hoje. Essas sim merecem todo o meu respeito. Essas sim eu acredito que dão a vida por meus filhos. E elas nem precisam falar isso.

— As mulheres mais lindas, gostosas e perfumadas do mundo precisam de algo?

— Precisa não filha. Vá se divertir. – Mainha fala.

— Nanda vai salvar o Fê. Ele esta na piscina com todas as crianças em cima dele. – beijo as duas e vou até a piscina. Sorrio feliz em ver a minha família. Sim todos são. Tio Julio e a família sempre todos carinhosos. Fê, aquele lindo. Sônia, Bru e a Beatriz, que sempre estão comigo quando eu mais precisei. Carlão, Alfredo, Odete, Tia Edi, todo mundo que “trabalha”, mas também faz parte da família. E meu segundo amor, Luiza e sua minion Alex, baixinha e enfezada, mas gente boa pra caralh*. Deitado embaixo de uma espreguiçadeira estava meu primogênito. Sentei no chão ao seu lado e o peguei no colo.

POV Sabrino

Mermão vou contar uma parada louca procê. Ultimamente dói até quando eu saio pra dar aquela mijada marota na goiabeira. Não consigo nem mais brincar com o meu irmão mais novo. As mamães estão sempre me levando no colo pra lá e pra cá. Nem comer eu consigo mais. A gatona da Jennifer falou que eu devo ter uns 18 anos. Vovô falou que eu iria servir no exército. Nem sabia que essas parada de exército era pros bicho também. Ainda bem que a gente não tá em guerra porque meu faro não é mais como antigamente e a catarata faz eu bater nos móveis. Eu tenho vontade de ficar o tempo todo deitado, por mim eu dormia pra sempre.

POV Nanda

          — Tá velhinho né meu gostoso? Sua mainha vai ficar um pouquinho aqui fazendo carinho no meu filho mais lindo  e comportado – ele abana o rabo feliz e deita no meu colo. Fico acarinhando aquele pelo ralo e lembrando quando eu o trouxe para casa. Jennifer, sua veterinária, falou que é para gente ir falando aos poucos para o João a possibilidade dele morrer por velhice. Coraçãozinho tá fraquinho tadinho. Beijo sua cabeça e penso que não teria outro bichinho tão cedo. Por que eles têm que viver menos que a gente? É como uma parte de mim. É como se fosse meu filho. Amor incondicional. Ele nos dá esse amor. Sem cobranças. Sem pedidos. Apenas um afago, apenas um carinho, comida.... é tudo o que esses seres de luz querem. Olho novamente para ele. Sabrino o lindo. O cachorro mais feio do mundo, mas o mais amado. Lágrimas caem dos meus olhos sem eu notar. Coloco meus dedos no seu focinho, sinto sua jugular... meu lindo se foi.

Fim do capítulo