POV Ana Clara

Estava sentada frente a frente a uma víbora de cabelos loiros com cara de sonsa. Mazé levou as crianças para a piscina e eu olhava aquela mulher que tomava seu suco despreocupadamente.

— Você é muita cara de pau Sol. O que acha que tá fazendo aqui? – eu falava baixo porque não queria mostrar as crianças que estava a ponto de me atirar em cima daquela ridícula. – Você tem sorte que a minha esposa ainda esteja dormindo porque ela não terá a mesma paciência que eu.

— Eu e minha filha não temos nada com o que meu marido fazia. – a sonsa fala.

— COMO.... – conto até dez – como não? Você poderia ter ajudado a Nanda! Mas deixou ela ser pega novamente! Ser torturada... – as imagens invadiam a minha mente - .... estuprada.... Porr*, ela sempre esteve ao seu lado quando mais você precisou.

— Ana Clara eu não podia fazer nada! Eu estava grávida e ele me batia. Morria de medo de perder meu bebê. Você acha que todo mundo tem o que você tem? Eu sou sozinha no mundo! Não tenho dinheiro, não tenho amigos – a sonsa chorava.

Ficamos em silêncio por longos minutos e eu acompanhava a algazarra na piscina. A única coisa que a mocreia tem razão é que a garotinha sorridente não tinha culpa de nada. A felicidade do meu filho era gigante. E, afinal, eles eram irmãos.   Sabrino olhava a tudo deitado em uma cadeira, tadinho ta velhinho.

— Tudo bem. Summer sempre será bem recebida aqui em casa. Até porque ela é prima do meu filho.

— Como assim? – ela fala sem entender. A história do cativeiro de Nanda e os estupros foram guardados a sete chaves. Apenas alguns poucos familiares e amigos sabem da verdade.

— Mesmo nós sendo muito jovens ainda. – comecei a mentir. – Engravidei. Fizemos inseminação em óvulos da Nanda com o esperma do Fernando, o seu cunhado. João é filho biológico da Nanda e Fernando.

— Mas... como? Fernando nunca me disse.... Theodora não sabe... nem o Vitor.

— Como se eles importassem né Sol? Depois de tudo que fizeram com o Fê?

— Sim... olha.... se não fosse o Fernando eu não sei o que seria da gente. Ele que nos sustenta....

— Mas que cara de pau Sol! Vai arrumar um emprego mulher!

— Você não sabe o que eu passei! – que ridícula!

— Nem me importa! Mas que fique bem claro que você não é bem-vinda aqui! Summer sim! Se ela quiser vir dormir e passear o Carlão a busca. Certo?

— Sim.

— MAS QUE PORRA É ESSA? – Nanda aparece apenas de biquíni e a loira azeda ao meu lado fica salivando vendo o corpo escultural da minha esposa. Vou acabar perdendo as estribeiras!

POV Nanda

Acordei com a cama ao meu lado vazia. Lembro que Clarinha havia me dito que teríamos visita. Namoradinha do João. “Da-lhe Joãooo”. Sorrio abraçada ao travesseiro que ela usou aspirando seu perfume. “Como eu amo essa mulher!”.

Fui ao banheiro e depois vesti um biquíni azul da cor dos olhos da minha mulher. Na cozinha encontrei apenas a Dona Edi e dei um beijo na sua bochecha rechonchuda.

— Nandinha você chegou antes menina! – Dona Edi era amiga de Mainha. E quando viemos morar aqui ela veio nos ajudar.

— Quis fazer uma surpresa! O que tem de bom pra comer? – abro a geladeira.

— Vish, vá lá pra piscina que levo um café quentinho pra você do jeito que você gosta! Sua mulher tá lá com as visitas.

Saio sorridente e sigo a algazarra que os pequenos faziam dentro da piscina. Mainha estava junto e vestia um maio de oncinha. “Chique!”. Começo a rir daquela imagem e meu olhar cai sobre a mesa onde está Clarinha e um rosto que nunca mais pensei em ver na minha frente. Sol. Sim, a Sol. A mulher que eu tinha um carinho enorme, que a ajudei várias vezes e que me virou as costas. Sol me olhava com fome nos olhos e minha esposa estava a ponto de bater nela. “FUDEU, FUDEU, FUDEU”.

— MAS QUE PORRA É ESSA? – falo alto e todos se viram para mim. As crianças me olham com surpresa.

— Nanda – minha esposa pega o meu braço e me leva para dentro da casa. Ela me conta no caminho tudo o que a Sol falou. Clarinha me alerta, com toda razão, que a garotinha loira não tem culpa de nada. Falou também que não irá proibi-la de conviver com o João e tudo o que ela disse para a Sol. Mais calma voltamos para a mesa ao lado da piscina.

— Sol, você e seu marido não são bem-vindos aqui. Mas não vou impedir a dona Theodora e a Summer em vir a minha casa. Gosto muito do Fê e ele vai ficar feliz em saber que a sua família esta convivendo com os seus filhos.

— Filhos? – Sol indaga.

— Sim. João e os duas girininhas que estão dentro da barriga do amor da minha vida. – faço carinho no abdome da minha esposa.

— Uhm... – sua fala saiu despeitada.  “Ahhhh, filha da puta! Tu não me engana mais sua cascavel!”

— E o Vitor – desdenho – acordou do coma? – vejo um sinal de raiva na sua face, mas logo volta para a pose de mocinha de novela de época.

— Sim. – uma lágrima de crocodilo cai do seu olho. Em outros tempos aquilo iria quebrar meu coração, mas hoje nem fez cócegas. – Ele não consegue mais andar. E também não conseguiram reimplantar o p*nis. – “Não acharam, devem ter pensado que era uma verruga!”. Sorrio internamente. – Acho que conseguiremos que ele cumpra o resto da pena em casa. – “Se depender de mim e do padrinho não vão não!” penso perversamente.

POV Ana Clara

— E depois ficou com aquela cara te devorando como se dissesse “Venha Nanda, me possua! Venha se queimar no sol”. – eu estava deitada na rede com a minha esposa e falávamos dos acontecimentos daquela manhã. Morria de ódio em ouvir Nanda rir do que eu falava. – Você gostou né safada? – faço bico e dou um tapinha. Nanda me abraça apertado e continua rindo. – Para de rir Nanda! Tô falando sério!

— Oshi  minha pitibullzinha loira. Fique tranquila minha princesa. Daquela lá eu quero é distância! Mas você tem razão, a dona Theodora e a Summer devem poder conviver com nossos filhos.

— Vou ligar para o Fê para contar. Falou com a Lu?

— Sim, ela e a pintora de roda pé dela vão vir domingo que vem. Padrinho vai fazer um churrasco daqueles. Pelo jeito se apaixonou pela gringa.

— Lu me contou que os dois ficaram tomando caipirinha no casamento. Daí já viu né? – rimos bastante pensando em quanto papai fica “alegrinho” com uma caipirinha. – Vamos chamar o Fê e a família?

— Tudo o que você quiser pequena. Vamos sim!

— Nanda? – chamei baixinho.

— Uhm?

— Você lembra quando me fez goz*r na rede?

— Qual das vezes? – ela fala toda convencida.

— Quando a gente namorava ainda. – apenas com essa lembrança eu fiquei molhada.

— Uhum... – ela sorri sacana.

— Eu... meio que esqueci... não quer me relembrar? -  prontamente ela olha para os lados e coloca a mão por dentro do meu biquíni.

— Claro pequena. Sempre que você quiser. – fecho os olhos e me deixo levar pelas sensações que a minha delegada me proporciona.

POV Nanda

— Pelo o que ela disse eles querem que ele cumpra o resto da pena em prisão domiciliar. – contava ao meu padrinho o que a Sol disse enquanto estávamos mexendo no motor de um Maverick 76.

— Eu soube. Pedi que fosse sempre informado por tudo que acontece com ele.

— Não é justo padrinho. – falei com raiva.

— Eu sei filha. Mas acho que para ele o pior será ficar em casa. Ele depende dos outros para tudo. Machista do jeito que é imagina como ele deve se sentir.

— Mas padrinho....

— Eu sei como você se sente. Mas nas condições que ele está logo logo irá morrer. E a morte é muito pouco para ele. A vida dele é um inferno e quero que ele continue vivo por muitos anos. – pensando bem, meu padrinho tinha razão.

— Minha preocupação é ó João. – digo.

— Eu sei filha. Mas é só não o deixarmos ir para casa deles. Encontros e brincadeiras com a Summer apenas aqui.

— Não tô gostando disso. Algo me diz que vai dar merd*. – a sensação de que tudo iria pelos ares em um futuro próximo pressionava meu peito.

— Já decidiu o que vai fazer? Vai se desligar mesmo?

— Antes fiz um projeto e mandei para o diretor da PF. Quero ficar aqui e ter um centro de treinamento em sobrevivência.

— Mas eles vão ter verba para isso?

— Provável que não padrinho. Mas se não tiver eu saio e abro minha empresa de segurança junto com o Carlão. E posso dar esses cursos para quem quiser. Pensei em um curso onde você deve sobreviver apenas com a roupa do corpo e outro com alguns materiais na mochila.

— Acho que vai ter uma ótima repercussão. Aqui no Rio mesmo? Sim! E talvez em alguma praia deserta do nordeste. Mas a minha preocupação é não ficar tanto tempo longe.

— Entendo perfeitamente. E como seria essa empresa?

— Segurança alto nível padrinho. Apenas celebridades, políticos e gente que precisa de um atendimento gabaritado. Meus seguranças todos serão altamente treinados e que falam várias línguas.

— Filha, sabe que meu sonho era te ver juíza né? Mas, eu acredito que você se dará muito bem a tudo o que se propor a fazer. – tio Carlos Eduardo, meu sogro, meu padrinho me abraça apertado. – Eu amo você e vou te apoiar 100%. – abraço o homem que foi e sempre será meu segundo pai com lágrimas nos olhos.

Fim do capítulo