O RENASCER DE UM ANTIGO AMOR

Cap 13 - Promessas Não Cumpridas

Victória piscou algumas vezes tentando entender, mas parecia estar imersa em um pesadelo horrível. Qual era o problema de Fernanda? Ela só podia estar brincando.

-- Você tá bem? -- Fernanda perguntou se abaixando para ficar frente a frente com a cunhada.

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Isabel tapou os ouvidos, não queria mais ouvir o que Mariana tinha a dizer. Saber que sua irmã ainda era apaixonada por Fernanda a deixava perturbada.

-- Você esperava o que? Que ela tivesse acordado e se esquecido de tudo?

A tatuadora fez uma cara de quem não tinha achado aquilo uma má ideia e Mariana balançou a cabeça negativamente. -- A gente tem que contar a verdade pra Nanda, isso vai virar uma bola de neve.

-- Nem pensar! Você não vai forçar a minha namorada a ficar com uma mulher que ela nem conhece.

-- Uma mulher que ela nem conhece Isabel? Larga mão de ser cínica!

-- Não conhece mesmo! Nem sabe quem é!

-- Isa, quando a Vic souber disso tudo que tá acontecendo ela vai… -- Mariana ia dizendo quando foi interrompida pela concretização do que ia falar.

-- CLARO QUE NÃO TO BEM! QUE PORCARIA É ESSA?!! -- Ouviu a voz da irmã mais nova vindo do corredor.

Isabel arregalou os olhos e saiu correndo em direção a confusão. Fernanda parecia confusa enquanto Sara se aproximava tentando acalmar Victória que parecia em choque.

-- O que minha irmã está fazendo aqui fora? Você é louca?! -- Mariana encarou a técnica em enfermagem que ergueu o olhar apreensiva. Sara rezou com todas as suas forças para aquela maluca não dar um escândalo logo no seu primeiro dia de trabalho, mas foi em vão.

-- Me desculpa eu já estava levando ela de volta…

-- Não era nem pra ela ter saído sua idiota!

-- Moça… Se acalme. -- Sara pediu fazendo uma careta.

Isabel aproveitou a discussão entre as duas e se aproximou de Fernanda. -- Vamos sair daqui. -- Disse a puxando pela mão sob o olhar incrédulo de Victória.

Sara olhou para Mariana e alisou os cabelos com a mão direita, preocupada. Que mulherzinha grosseira era aquela, já havia ameaçado entrar em contato com a diretoria do hospital e tudo mais. Odiou-a com todas as suas forças.

Mariana balançou a cabeça negativamente, estava exagerando e sabia disso, Isabel a deixava com os nervos à flor da pele e só pra melhorar seus pais largaram toda a responsabilidade de lidar com o hospital nas suas costas.

-- Mari… -- Victória chamou depois de ver Fernanda desaparecendo em direção a saída do hospital.

Desviou o olhar da mulher a sua frente para ver que sua irmã não estava nada bem. Abaixou-se para encará-la.

-- Vic… Me desculpa, eu não sabia como te falar. -- Mariana disse com o coração apertado ao notar a enxurrada de lágrimas que escorria silenciosamente pelo rosto da irmã.

-- Eu quero morrer… -- Victória falou começando a soluçar. Sara suspirou assistindo a cena, aquela menina não tinha sorte mesmo.

-- Deixa eu levar ela pro quarto. -- Disse Sara empurrando a cadeira de rodas enquanto Victória só sabia chorar copiosamente.

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Fernanda se encostou no banco do passageiro ao lado de Isabel, a olhou de canto notando que ela estava muito agitada.

-- O que tá acontecendo Isa? Você tem algum problema com a sua irmã, não tem?

Isabel se virou para encará-la, e por um momento sentiu vontade de contar tudo, seria um peso retirado de suas costas.

Mas também seria a ruína de todo seu esforço em conquistá-la.

-- A gente não se dá muito bem… Ela já acordou atacada. -- Sorriu de canto.

-- Ela parecia revoltada comigo. -- Fernanda falou rindo.

-- A Vic tá meio confusa, ela acabou de acordar, não precisa ficar cismada com isso meu amor.

-- Tá bem. -- Fernanda se inclinou para abraçar e beijar o rosto de Isabel carinhosamente. Sentia que a tatuadora estava meio pra baixo, queria vê-la sorrindo novamente. -- Eu te amo tá?

Isabel suspirou sentindo seu coração se aquecer. Enquanto tivesse o amor de Fernanda ficaria em paz, não importa o que Victória, Mariana ou seus pais dissessem.

-- Eu também te amo… Vou te levar pra casa, você deve tá exausta. -- Disse ajeitando os cabelos no retrovisor.

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Victória tinha o olhar fixo na parede branca a sua frente, depois de ouvir tudo que Mariana dissera só conseguia sentir muita raiva de Isabel.

-- Ela não tinha o direito de ter feito isso Mari.

Mariana pensou em dizer que também nunca concordou, mas percebeu que sua irmã já estava irritada o suficiente e achou melhor não colocar lenha na fogueira.

-- Ela destruiu minha vida Mari… Ela roubou a única coisa boa que eu tinha.

-- Vic… A Fernanda perdeu a memória… De qualquer forma ela ia acordar sem saber quem é você, e de qualquer forma ela poderia estar com outra mulher.

-- Para de defender ela Mariana! Você sabe muito bem que a Isabel fica rondando a Fernanda feito um urubu desde que eu comecei a namorar com ela.

Mariana se aproximou da irmã. -- Eu não estou defendendo ninguém tá? Eu só acho que você precisa se preocupar com a sua recuperação… E depois pensar em mulher, que tal?

-- Tá bom… -- Victória respondeu esfregando as mãos no rosto para limpar as lágrimas.

-- Mamãe disse pra contratar uma enfermeira pra cuidar de você quando você voltar pra casa.

-- Porque você não vai cuidar de mim?

-- Porque eu preciso trabalhar né cabeçuda. -- Disse dando um soquinho na cabeça dela.

-- Então contrata aquela enfermeira que tava aqui.

-- Aquela incompetente? Nem pensar. -- Mariana disse revirando os olhos. -- Além do mais ela é funcionária do hospital, não dá pra eu contratar ela como particular.

-- Mas eu quero ela, ela é bonitinha. -- Victória respondeu fazendo bico e Mariana soltou uma gargalhada.

-- Ai Vic, pelo amor de Deus, você é horrível.

Victória riu, realmente tinha achado a enfermeira muito bonita, entretanto sua cabeça permanecia na morena de olhos castanhos e sorriso ingênuo que a encarava como se nunca a tivesse visto antes. Respirou fundo e fechou os olhos, seus pensamentos voltaram para a manhã do seu acidente.

3 anos atrás

Estava deitada escutando música quando Fernanda sentou na beirada de sua cama.

-- Você vai dormir lá em casa hoje amor? -- Disse fazendo um carinho em seus cabelos.

Victória respirou fundo, conseguia prever que sua namorada ia ficar bem irritada, porém já tinha marcado. -- Eu vou sair com as meninas pra uma festa que vai ter na casa da Carol.

-- De novo você vai me trocar por festa Victória? -- Fernanda disse mudando o tom de voz e a outra se sentou tirando os fones. Quando ela falava seu nome inteiro era sinal de que estava irritada.

-- É que eu prometi que eu ia…

-- Engraçado que quando você promete alguma coisa pra mim você não pensa duas vezes em quebrar a promessa, agora quando é com as suas amiguinhas é tudo muito sagrado né?

-- Ai, não começa Fer… -- Victóra fechou os olhos e se jogou novamente na cama.

-- Quando eu me cansar de ser tratada assim você vai se arrepender de ter me perdido.

-- O que é? Vai me ameaçar? -- Victória levantou, como boa ariana que era não conseguia ficar calada. -- Quer ir embora vai! Não to te segurando.

-- Eu vou mesmo! -- Fernanda falou fazendo bico com os olhos rasos d’agua.

-- Pode ir, vaza, tchau! -- Falou com os braços cruzados e a cabeça erguida.

Fernanda balançou a cabeça negativamente, odiava aquilo, era como se não significasse nada para a garota por quem era apaixonada. Pegou sua bolsa e saiu em direção a porta, entretanto assim que tocou a maçaneta sentiu-se sendo abraçada por trás com força.

-- Fer… Para de fazer drama vai… -- Victória falou com o queixo apoiado em seu ombro. -- É só uma festa… Eu prometo que passo o domingo inteiro contigo, tá bom?

-- Vai cumprir essa promessa dessa vez? -- Fernanda perguntou passando os dedos pelo braço da namorada.

-- Claro que vou. -- Disse beijando o rosto da morena.

Victória tocou a própria a testa sentindo uma imensa vontade de chorar novamente. Nem mesmo aquela promessa fora capaz de cumprir, não tinha comparecido no almoço, nem na festa, e muito menos passado o domingo com sua namorada como estava em seus planos.

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Oscar se surpreendeu ao ver a filha entrando pelo portão, achou que ela fosse voltar só dali alguns dias. Fernanda se jogou no sofá parecendo muito cansada.

-- O que aconteceu? -- Perguntou parando no meio da sala.

-- Ah, a gente teve que voltar porque a irmã mais nova da Isa acordou…. -- Fernanda se levantou. -- Pai você acredita que ela estava tipo… Três anos em coma? Surreal isso né?

Oscar quase engasgou com o café que tomava. Encarou a filha que narrava o ocorrido com toda a naturalidade do mundo.

-- Acordou? E você viu ela minha filha?

Fernanda suspirou. -- Eu vi sim papai, eu fui com a Isa no hospital. Acho que ela não foi muito com a minha cara, ou… Sei lá. -- Fez uma careta. -- Nem quis me cumprimentar… Mas a Isa disse que é porque ela acabou de acordar e tá meio fraca das ideias.

Oscar arqueou as sobrancelhas imaginando o provável escândalo que Victória deveria ter dado naquele hospital.

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Mariana falava com sua mãe no telefone. Naturalmente seus pais deixaram todos os problemas em suas costas, até mesmo as burocracias irritantes daquele hospital. Ficou sabendo que sua irmã receberia alta naquela mesma noite. Precisava ligar para Isabel, pois não tinha como levá-la para casa, porém sabia que não seria uma tarefa muito segura a se fazer.

Olhou para o final do corredor e viu a tal enfermeira que Victória tinha falado. -- Ei! -- Chamou indo atrás dela.

Sara olhou para trás e franziu a testa. Era aquela mulherzinha insuportável outra vez, provavelmente queria xingá-la mais um pouco.

-- Pois não? -- Tentou ser educada, por mais difícil que fosse.

-- Minha irmã vai receber alta hoje, e eu preciso contratar alguém pra ficar com ela ao menos até as 18h00… Ela sugeriu chamar você… Mas eu expliquei que você é funcionária aqui e não pode sair pra cuidar só dela…

-- Eu vou ficar só no período da noite. -- Sara respondeu de prontidão.

-- Bom então você teria interesse em…

-- Sim!

Mariana franziu a testa encarando a moça de pele morena, cabelos num tom castanho-avermelhados e olhos cor de mel, era bonita mesmo, e olha que nem ao menos gostava de mulher. Devia ser uma menina, daria no máximo uns 23 anos, sorriu quase sentindo pena da técnica em enfermagem, sua irmã iria encher a paciência da pobre moça.

-- Não vai ficar muito pesado pra você?

Sara mordeu o lábio inferior, é claro que ficaria pesado, só não era mais pesado do que ver seu filho de 3 anos perguntando qual era o gosto do chocolate, não era mais pesado que o desespero de ouvir que aquele mês não tinha chegado insulina no posto de saúde e ter que gastar o dinheiro do aluguel para não vê-lo sofrendo.

-- Não vai não. -- Respondeu com sorriso no rosto.

Mariana assentiu com a cabeça duvidando um pouco da resposta. -- Bom, se é assim… Vou te passar o endereço, daí amanhã cedo você vai lá e a gente combina tudo certinho. -- Disse anotando em um pedaço de papel e entregando para Sara. -- Ah, e… Desculpa pelo escândalo de hoje. -- Mariana disse contrariada. -- Eu estava com muita coisa na cabeça.

-- Tudo bem, acontece. -- Sara respondeu sem muito entusiasmo, estava sempre cheia de problemas e nem por isso saía descontando nos outros.

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Isabel se encostou na porta da caminhonete preta enquanto olhava fixamente em direção a saída do hospital, viu Mariana descer com Victória na cadeira de rodas. Apesar de não ter nenhuma sequela grave, sua irmã estava debilitada e mal conseguia se colocar em pé.

-- Me ajuda a levantar aqui Isa. -- Mariana pediu e quando Isabel se aproximou viu sua irmã caçula erguer a mão num sinal de pare.

-- Não me toca, deixa que eu entro sozinha. -- Victória falou se levantando com dificuldade da cadeira e se apoiando em Mariana que olhou Isabel com um semblante preocupado.

 

Isabel fez uma careta e seguiu para o banco do motorista, aquela com certeza seria uma noite muito longa.

Fim do capítulo