Músicas do capítulo:
- Oração - A Banda Mais Bonita da Cidade
https://youtu.be/pMHdQs3mGqM
- Escape (The Piña Colada Song) - Rupert Holmes
https://youtu.be/TazHNpt6OTo
Noites com Valentina - Pt 2 - Desejada
Era Felipe, o meu cunhado. Ou ex cunhado, não sabia bem.
- Aquela era a Isis?
- Ah... Sim, era, era ela. - não soei tão firme como gostaria.
- Vocês andam bastante amigas, não é? Soube que viajou com ela no fim de semana passado.
- Como soube?
- Tenho os meus contatos.
- Fazer fofoca agora é ter contatos. - o meu riso fraco infelizmente não foi suficiente para esconder a minha irritação.
O observei se aproximar receoso.
- Olha, eu sei o que está havendo.
- Como assim? - questionei.
- O Eduardo também não anda muito bem, ele tem agido estranho ultimamente, mas sei que é puro desespero, medo de te perder de vez. Você ainda é como se fosse da família, Diana. Eu sei o quanto o Edu está triste com tudo isso e sei também que quando ele voltar vocês vão se acertar e firmar os votos. Ele te ama demais pra te deixar escapar.
- Olha, Felipe, eu sinceramente não quero falar sobre esse assunto a não ser com o próprio Eduardo. Agora se me dá licença.
Me virei para entrar de uma vez no meu prédio e escapar daquela conversa inconveniente, mas fui mais uma vez surpreendida.
- Espera, espera. - ele segurou em meu braço - Só mais uma coisa e prometo te deixar em paz.
Olhei para sua mão em meu braço e em seguida o encarei, irritada demais para disfarçar. Meu olhar sugestivo o fez me soltar no mesmo instante.
- Desculpe. - disse ele se recompondo - Eu só queria saber se você pode me passar o número da Isis.
Fiquei tão atordoada que mal soube o que responder.
- Você sabe se ela tem alguém? - ele continuou - É que, não sei se o Edu te falou, mas não parei de pensar nela desde aquele jantar na sua casa.
Eu o encarava tão perplexa, como se ele devesse realmente saber que ela não estava disponível para ele porque ela deveria estar só para mim!
A que ponto de insanidade eu cheguei?
- Se você não tem postura suficiente nem para abordá-la, acha que pode ter uma mulher como ela? Não se atreva a tratá-la como uma qualquer, Felipe, dessas que você usa e descarta no dia seguinte.
- Como é? - a sua expressão confusa era patética - Mas eu só fiz uma pergunta!
- Foi só um aviso. Eu conheço bem a sua fama. E a Val... A Isis não é dessas. Ela é minha amiga e eu não vou deixar que você a magoe.
O quão irônica aquela conversa poderia ser mais?!
Ele me olhava com um misto de espanto e confusão e eu o encarava como se pudesse arrancar seus olhos a qualquer momento.
- Olha, eu não vou considerar essa conversa. Acho que você bebeu um pouco demais, só isso explica.
- Eu acho que sim. - levei as mãos aos cabelos, recobrando a sanidade - Me desculpe por isso.
- Tudo bem, conversamos outro dia então. Se cuide.
Ele falou se despedindo e por fim eu entrei apressada em meu prédio. Trêmula, irritada e mortalmente arrependida.
Entrei em casa com a sensação de assuntos inacabados me corroendo a garganta. Além do gosto da Vodka.
Fui me despindo pelo meio do caminho e corri pro banho. Não vi sinal de Justine.
Certamente a noite dela seria mais produtiva que a minha.
Provavelmente o álcool ainda fazia efeito no meu corpo e na minha mente e do melhor pior jeito possível. A água quente escorria em minha pele e de olhos fechados eu tentava entender toda aquela situação desde que cheguei ao meu prédio.
Eu passei do ápice de tesão para um pico de irritação e descontrole infame. Não queria admitir que fui grosseira com o Felipe por mero ciúmes - eu nunca fui assim. Mas no fundo eu sabia que foi aquele sentimento absurdo e irracional que havia me atingido.
Só me restava torcer para que Felipe culpasse de fato a bebida e não fizesse conspirações sobre o que realmente acontecia entre mim e Valentina.
E foi só lembrar do nome dela que o arrepio em minha espinha me atingiu. Era realmente inconcebível que eu parecesse uma desesperada por uma garota quase 10 anos mais nova que eu.
O grande problema nessa situação era que idade não significava nada e se fôssemos contar por experiência... Valentina ganharia em disparado.
Saí do banho e só me enrolei num roupão de algodão macio e fui para a cozinha, a fome tinha dado sinal. E Branca de Neve também.
A gata apareceu miando com cara de sono e num pulo só sentou-se no banco ao meu lado no balcão enquanto eu comia qualquer coisa que tinha achado na geladeira.
- Olá, chérie.
Ouvi um ronronar em resposta.
- Me diga, como é ser um gato feliz e despreocupado, alheio à tudo e à todos e que vê os humanos como meros e irrelevantes mortais?
Ela miou entediada.
Eu ri.
- Eu gostaria de ser assim como você, sabia? Por que eu fui nascer tão preocupada com todas as coisas sempre? Isso é desgastante. Eu poderia simplesmente ligar um grande e belo foda-se para tudo. Certamente a minha vida seria bem mais fácil, você não acha, chérie?
Peguei a pequena bolinha de pêlos brancos no colo e fui para o quarto. Hoje eu dormiria acompanhada da gata e infelizmente aquela não era a vertente da ambiguidade que eu queria.
***
Acordei com as lambidas de Branca de Neve em meu rosto. Já era manhã, mas eu não queria nem um pouco sair da cama.
- Por favor, seja boazinha. Deixe a mamãe dormir mais um pouco.
Ouvi um miado o qual tenho certeza que foi de reprovação.
- Ok, eu sei que você não vai me deixar mesmo, não é?
Levantei à contragosto e a levei até a porta de saída para o deck, o seu destino habitual pela manhã.
- Preciso ensiná-la a abrir portas.
O dia estava bonito. O sol brilhava, céu azul e poucas nuvens. Me animei para um café.
Caprichei na mesa, não me importando que eu fosse comer sozinha. E quando enfim me sentei a campainha tocou.
- Bom dia! Péssimo dia! - recebi ao atender.
Me deparei com uma Justine amarrotada, descalça e com olheiras visíveis me cumprimentando com voz de sono.
- Uh, bom dia! Ótima noite?! - questionei a analisando.
- Isso é seu. O Porteiro pediu que eu lhe entregasse. - disse me dando dois cartões e entrou em direção à cozinha - Humm, petit déjeuner! (café da manhã). Me diz que eu também posso participar, por favor?
Ela não esperou uma resposta para se sentar à mesa e começar a devorar o que via pela frente.
- Oui... - a encarei enquanto deixava os cartões sobre o balcão - Eu não tive uma noite tão animada quanto a sua, mas também estou morrendo de fome. Fique à vontade. - falei me juntando a ela.
- Animada... - ela bufou.
- Conte-me tudo e não me esconda nada.
- Quer saber só a parte em que eu me lembro ou a parte que o Fernando me contou hoje de manhã também?
- Uh lala! Foi tão animada assim? - perguntei ao colocar uma colherada de iogurte na boca.
- Foi um total désastre, Diana! - seu sotaque carregado se intensificava com a sua irritação.
- Jura? - eu estava mesmo surpresa - O que houve? Ele não era o que você esperava?
- Fernando é magnifique! Um gentleman, gentil e tudo mais que uma mulher pode querer. E eu queria tanto, chérie... - ela comentou levando uma das mãos ao queixo em lástima suspirante.
- Certo. E em que parte do caminho as coisas deram errado?
- Na parte em que eu resolvi experimentar caipórinia!
- O que? - perguntei tentando segurar o riso.
- Aquela bebida do demônio! Vocês aqui adoram. E ela é realmente adorável no início e é justamente aí que está o perigo.
- Ah! Caipirinha? Com cachaça.
- Caipirinia, foi o que eu disse. - ela completou irritada.
- Entendi...
Evitei falar muito para não deixar escapar a minha vontade de rir. Eu podia notar que a minha integridade física dependia daquilo.
- Estava tudo tão bem. Ele me levou em um restaurante onde as pessoas podem preparar a própria comida, você sabe? - eu assenti - E daí ele cozinhou para nós e me contou um pouco sobre a sua vida e estava tudo maravilhoso até irmos para um bar com uma vista bonita lá no Pier. Eu estou me amaldiçoando eternamente por ter pedido a ele que me apresentasse bebidas típicas brasileiras. Eu queria tanto ter ido para sua casa. - falou tristemente, enfiando um pedaço de pão com geleia na boca.
- E você não foi? Onde esteve até agora então?
- Na casa dele. - cerrei os olhos sem compreender - Em coma. Eu queria ter ido sóbria, mas passei mal assim que coloquei os pés na porta. Eu vomitei no jardim. Você tem noção disso? Eu reguei as plantas dele com restos de frutos do mar e boas doses caipirinia. Nunca mais quero olhar para ele na minha vida. Volto para Le France amanhã mesmo! - ela dramatizou, tomando o restante da grande xícara de café sem açúcar que havia pegado.
A encarei um pouco enojada demais para rir de sua trágica noite.
- Isso é... Bem horrível. - falei sem saber ao certo o que dizer para consolá-la.
- E depois de tudo você ainda acredita que ele estava lá de manhã, sorrindo como se a noite tivesse sido maravilhosa?!
- Isso é... Bom. Eu acho.
- Isso é péssimo! Ele foi tão gentil. Disse que me limpou como pôde porque não queria ser indelicado e tirar as minhas roupas comigo estando inconsistente.
- Inconsciente. - corrigi.
- Foi o que eu disse. E eu passei a noite imaginando como seria bom ser despida por ele... - disse num suspiro.
- Isso é... Péssimo.
- Não, isso é péssimo! - ela ralhou.
- Foi o que eu...
- Eu estraguei tudo. - falou antes que eu pudesse completar - E agora nunca vou saber como seria porque não tenho mais coragem de olhar para ele.
- Olha, o Fernando é um cara legal. Tenho certeza que não se importou com isso, aposto que ele deve ter achado divertido até. Ele cuidou de você, não foi?
- Tinha analgésicos e chá quando acordei.
- Está vendo. Ele é um romântico à moda antiga. - tentei amenizar -Espere passar essa vergonha recente e depois ligue para ele.
- Não sei se tenho coragem.
- Se nada der certo, eu terei coragem por você. Mas não se preocupe, vai dar tudo certo.
- Você é péssima nisso, eu já te disse? - seus olhos reviraram em tédio.
- Em que exatamente?
- Consolo e conselhos.
- Estou ofendida, mas vou considerar o resto de álcool que ainda passeia aí pelo seu organismo.
- Deixemos de falar de fracassos. Me conte você como foi a sua noite com a doce e linda Valentina.
- Não tão excepcional quanto eu gostaria, mas foi ótima.
- Dormiu sozinha?
- Não, com a gata.
- Branca de Neve não conta.
Dei de ombros.
- Ela me levou pra ver um filme num Cinema Drive in e depois fomos em um bar legal.
- Não me fale em bar! - suas mãos massageando as têmporas mostravam o quanto a noite anterior ainda a afetava.
- Não falar em bar, ok.
- Continue. - ela pediu ainda com os olhos fechados e as mãos na cabeça.
- Fizemos um jogo que envolvia Vodka, uma moeda e alguns desafios.
- Não fale de bebidas também, por favor.
Revirei os olhos e continuei.
- Ela cantou para mim. Na frente de todo mundo. A voz dela é tão linda, eu não imaginava o quanto. E nós contamos coisas sobre nós, segredos. Ela me mostrou suas tatuagens e...
- Essa é a melhor parte. A parte de mostrar as tatuagens.
- Não sei se foi bom nesse sentido porque só serviu pra me deixar emotiva e ainda mais confusa sobre quem ela é.
Justine abriu os olhos de repente e me encarou estranha.
- Uma tatuagem dela te deixou emotiva?
- Sim. Ela fez para o filho. Eu te falei sobre a história.
- Ah, sim... - ela suavizou - É algo realmente triste.
- Pois é. E a outra tatuagem é uma data, em números romanos.
- E o que quer dizer? Aniversário?
- Eu não sei. Ela não me disse. Fez um mistério que só me deixou mais curiosa e na hora do discurso, antes de cantar, ela falou algo sobre, mas não consegui compreender o sentido.
- Ela fez um discurso e cantou pra você e você está aí preocupada com o significado de uma tatuagem? - sua voz se alterou.
- É... Ela fez. - eu sorri ligeiramente envergonhada e orgulhosa sobre aquilo - Foi tão bonito.
- E como é que depois de tudo isso vocês não dormiram juntas?
- É o que estou me perguntando até agora. Eu não sei, desde que nos aproximamos ela parece evitar que as coisas cheguem a esse ponto, mesmo que eu veja em seus olhos que ela quer tanto quanto eu. Parece que, não sei, um receio talvez.
- Pode ser. Diana, veja bem, essa mulher está completamente apaixonada por você. Olha só o que ela está fazendo! - disse apontando para os cartões no balcão ao lado - Quem hoje em dia faz isso pra conquistar alguém? Primeiro as pessoas trans*m e depois se apaixonam. É como as coisas funcionam hoje em dia.
Gargalhei, era um fato.
- Mas se ela já está, seria lógico pensar que não evitaria isso. - eu divaguei tentando entender.
- É justamente esse o ponto. Ela está apaixonada e não faz questão de esconder isso. Mas e você? Como se sente em relação a ela?
A olhei fundo nos olhos, não sabendo muito bem o que responder.
- Você ainda está aí toda enrolada com o Eduardo. E sex* por fazer é o que ela faz todos os dias com qualquer pessoa. Onde está todo aquele discurso de "não vou resumir tudo a sex* para não magoá-la" ?
- É um pouco difícil evitar quando você está tão próxima de alguém que deseja tanto em tantos sentidos.
- É, eu sei como é! Mas se acalme, quando for a hora vocês vão se entender.
- Não posso acreditar que estou recebendo esse tipo de sermão a essa hora da manhã de uma mulher de ressaca que chegou em casa frustrada porque não foi para a cama despida por um homem na noite passada. - observei indignada.
- Situações diferentes. Não vamos comparar. - Justine falou se levantando - Agora abra logo aquele envelope enquanto eu tomo um banho. Estou curiosa para acompanhar mais desse romance.
Ela foi saindo e eu não pude evitar rir de sua aparência e frustração.
Olhei para os cartões no balcão e de repente me vi ansiosa, na expectativa do que seria a surpresa daquele dia. Me encaminhei até eles e era surreal como eu ainda me encantava com a sua delicadeza. O perfume reconhecível me fez sorrir involuntariamente.
Abri o primeiro cartão e nele as suas letras cuidadosas preenchiam o papel branco.
"Quanto mais você tenta se convencer de que não deve, mais você alimenta o desejo.
Quanto mais você foge, mais o desejo te persegue.
Um desejo reprimido é tão aflitivo quanto um doce tirado da boca antes mesmo de sentir o gosto."
O adocicado da sua boca eu já provei, mas ainda não foi o suficiente para sanar os meus desejos. E sinceramente, tamanho é o meu desejo que eu não sei se um dia terei o suficiente de você, mas eu serei eternamente grata pelo pouco que eu puder receber e pelo quanto você estiver disposta a dar.
Eu não sabia como ela fazia aquilo e nem porque eu sentia, mas ainda não conseguia me conformar com a capacidade que Valentina tinha de me deixar... Quente.
Nem mesmo uma palavra insinuante. Ela era sutilmente implícita e ainda assim eu poderia entender tantas coisas as quais preferia nem pensar.
Resolvi abrir o segundo cartão antes que eu voltasse ao estado em que cheguei na noite passada.
O papel de cor preta e com letras douradas novamente, como no anterior, dizia:
"A Srta. Isis R. Viegas tem a honra de convidá-la para uma tarde em sua companhia no Jardim Botânico."
- Tarde no Jardim Botânico? - me perguntei surpresa.
Eu realmente não consiguia entender a Valentina. Parecia que a cada um passo que avançávamos ela retrocedia dois.
***
Eu havia acabado de finalizar uma ligação com o Fernando. As contas do restaurante sobre a mesa e burocracias inevitáveis as quais eu, como proprietária, infelizmente não poderia escapar.
Estava concentrada quando de repente ouvi um grito vindo lá do quarto.
- Diana! - Justine apareceu enrolada em uma toalha correndo pela casa.
- O que foi? - me levantei assustada.
- Tem um homem lá no quarto! - ela falou baixo, agitada, quase em desespero.
- Que? Um homem? Que homem, Justine?
- Eu não sei! Eu saí do banho e ele estava lá e...
- Senhora Diana.
Reconheci a voz e sorri animada quando me virei para vê-lo adentrar a sala.
- Yoshi! - o cumprimentei sorridente - Finalmente o senhor voltou! Você não sabe a falta que fez aqui em casa.
Justine me olhava com espanto observando aquela interação inesperada.
- Ohayou. Bom dia. - ele juntou as mãos numa saudação respeitosa - Yoshi também sentiu falta da senhora.
- Justine, este é o Yoshi-San, ou senhor Yoshi. Ele trabalha aqui em casa. É o melhor doméstico do mundo inteiro!
- Oh... Doméstico. - ela sorriu sem graça.
- Hajimemashite, senhora Justine. - Yoshi a cumprimentou - É um prazer conhecê-la.
- Merci, senhor Yoshi. Me desculpe pelo... Grito lá no quarto. A Diana poderia ter me avisado que o senhor viria, não é, Diana?!
- Mas eu não sabia, Yoshi estava de férias. E é o homem mais discreto e silencioso que já vi na vida.
- Peço perdão pelo transtorno, senhora. Terei mais cuidado da próxima vez.
- Não se preocupe, Yoshi. Está tudo bem.
- Eu vou me trocar. Com licença. - vi uma Justine envergonhada sair apressada.
- Como foram as férias? - perguntei ao senhor grisalho em minha frente.
- Foram revigorantes, senhora. Estar próximo às nossas raízes é sempre muito bom, faz bem.
- Um dia ainda quero visitar o Japão. - comentei.
- Ah, certamente deveria, o Japão é um lindo país. Mas agora dê-me licença, - disse ajeitando seus óculos redondos em seu rosto de traços fortes orientais - percebi que as plantinhas não tiveram muita atenção durante a minha ausência.
- Me desculpe! - sussurrei culpada.
E lá estava ele de volta, com toda a sutileza de sua dureza, sempre tão gentil e disciplinado.
***
Eram 3 da tarde quando olhei em meu relógio à espera de Valentina. Justine havia saído há algum tempo para resolver questões com o seu cartão do Banco e ainda não havia chegado, enquanto eu tinha ido ao restaurante para auxiliar o Fernando durante o dia, já que pelas noites daquela semana eu estaria ausente e ele ficaria responsável.
Quando Valentina chegou, abri a porta e tive a sua visão em expectativa e com ela novamente todas aquelas sensações as quais eu ainda não era capaz de evitar. E me perguntava se seria mesmo capaz um dia. Afinal, estar apaixonada era isso? Estar constantemente sentindo todas essas coisas complexas demais para raciocinar, mas agradáveis demais para evitar? Bem, eu não sabia, mas algo me dizia que estava prestes a descobrir.
- Você me obriga aos clichês. - Valentina falou quando sorri para ela num cumprimento.
A fitei confusa.
- Eu acho que não entendi muito bem.
- Esquece. Prometi a mim mesma que não ficaria o tempo todo falando da sua beleza e de como ela ainda me surpreende para não soar repetitiva ou muito... Boba. - ela sorriu.
Não parecia sem graça, tinha um ar de "eu quero sim confessar os meus pecados e não dou mais a mínima para isso."
- Aqui está. - ela me entregou a segunda rosa.
Eu agradeci a levando ao rosto, sentindo o cheiro bom que eu já sabia que viria dela.
- Esse perfume... - observei tendo as pétalas ainda sob o meu nariz - Você ainda não me disse qual perfume usa. É tão bom.
- Obrigada. Vou deixar você tentar descobrir, até o fim dos nossos encontros...
- Parece que alguém aqui está viciada em joguinhos. - ralhei, me pondo pra fora para fechar a porta atrás de mim.
Valentina deu de ombros, sorrindo inocentemente.
- Eu também posso entrar nesse acordo? - perguntei me virando para ela novamente.
- Acordo?
- É, sobre parar de deixar as coisas assim tão explícitas.
Notei seus lábios prenderem o riso ao entender do que eu falava.
- Não me diga que também me acha muito bonita ao ponto de precisar se conter? - ela ironizou.
Eu rolei os olhos num sorriso debochado.
- Sim, eu te acho bonita. Muito, aliás! - confirmei - Mas a verdade é que eu notei que venho sendo fácil demais pra você.
Falei me aproximando o suficiente para ter o seu ouvido sob a minha boca.
- Mas se quer um jogo, então um jogo você terá. Eu quero ver por quanto tempo você vai fingir que não está louca pra me ter na sua cama.
Falei baixinho, sorrindo ao sentir seu arrepio tão fácil sob o meu toque.
Ela não disse nada. Apenas me seguiu pelo hall, por onde saí me sentindo vitoriosa.
Eu tinha me decidido, entraria na brincadeira dela, mesmo estando tão louca quanto pra chegar àquela parte do jogo.
***
Tudo era verde, um lindo verde vívido da cor das árvores e plantas. O Jardim Botânico era um lugar fantástico. Me perguntava como, em tanto tempo morando ali, nunca tinha visitado aquele lugar.
Eu não fazia a menor ideia do que se passava na mente de Valentina quando ela escolhia os lugares para me levar. Totalmente aleatórios.
- Eu quero morar aqui! - falei enquanto passávamos em um vale arborizado cheio de plantas exóticas.
Seu sorriso para mim foi encantador.
- Eu gosto de como os seus olhos brilham quando você sorri. Deixa eu tirar uma foto, faça uma pose. - ela falou pegando o seu celular.
- Ah, não...
- Ah, sim!
Eu fiz algumas poses esquisitas enquanto ela tirou algumas fotos e depois tirou mais sem que eu estivesse olhando.
- É incrível como tudo se relaciona. - comentei quando alcançamos uma fonte rodeada por um lago repleto de peixes.
- Como assim? - ela perguntou.
- A Botânica é base para tanto do que sabemos e fazemos hoje. Coisas tão naturais que não paramos para pensar. Por exemplo, uma folha de hortelã pode ser usada para fazer um chá, um drink, é utilizada em remédios, em aromas, em doces e há muito tempo é erva natural no trato bucal, dá frescor e previne algumas doenças. E tudo isso se sabe graças ao estudo da Botânica.
- É mesmo impressionante.
- Tantas ervas, temperos, vegetais, tudo tem o seu lugar, serve para algo específico, dá um sabor particular e em conjunto forma pratos magníficos. O coração, o que da vida à um prato é o tempero. Enquanto há ervas que servem para dar sabor há outras que podem envenenar. É engraçado como não paramos para pensar que o estudo e a preservação de tudo em nosso meio é tão importante para coisas simples, que fazemos no dia a dia.
- Ainda bem que há pessoas que pensam e cuidam disso. - Valentina observou, indicando o lugar em que estávamos.
Visitamos alguns museus com exemplares belíssimos de plantas raras e outros com fotografias com a história do local. Passamos por árvores seculares e vimos até alguns animais passeando por entre a vegetação. Até que chegamos em um casarão de artes, onde um grupo recitava uma poesia bonita que liam em pequenos folhetos cheios de desenhos, que logo descobri se chamar Cordel.
"CORDEL DO AMOR
O amor nos enche de glória,
Os prazeres que oferece,
A ternura é mais uma vitória,
Que o coração agradece.
O amor sempre nos faz sorrir,
Enche a alma de esperança,
As vezes nos faz chorar,
De saudade, de lembrança.
O amor faz desejar você,
E, enquanto vida eu tiver,
Amando-a vou permanecer,
Sempre que você quiser.
O amor é um lindo sentimento,
Nascido dentro do coração,
A toda hora e todo momento,
Aparece uma linda paixão.
O amor toca este coração,
Com um toque de magia,
Fazendo sempre a fusão,
De maneira sutil e maestria.
O amor é início de sentimento,
É uma felicidade sem fim,
É viver emoção de momentos,
Tendo você perto de mim.
O amor é como anjo divinal,
Lançando raios brilhantes,
De uma forma bastante real,
Nos corações dos amantes.
O amor me faz muito feliz,
Estar com você é um encanto,
Tenho o carinho que eu quis,
O seu coração é meu santo [...]"
(Tancredo, 2005)
Os aplausos soaram fortes quando o rapaz com o rosto pintado terminou de ler.
- Que coisa bonita! - comentei com Valentina.
- A cultura do Brasil é bonita. Eu gosto tanto de tudo que remete à esse país. O Cordel é cultura típica do Nordeste. Já esteve lá?
- Não, nunca.
- Deveria um dia. - ela recomendou.
Logo ouvimos o grupo que estava no palco começar a fazer música. Uma melodia bonita saía do violão do mesmo rapaz que recitou os versos anteriormente. Um outro homem tinha uma espécie de tambor e uma moça com flores no cabelo começou a cantar:
- Meu amor, essa é a última oração
Pra salvar seu coração
Coração não é tão simples quanto pensa
Nele cabe o que não cabe na despensa
Cabe o meu amor
Cabem três vidas inteiras
Cabe uma penteadeira
Cabe nós dois...
- Vem, vamos! - Valentina me pegou pela mão e me puxou dali.
- Calma! A música estava tão bonita.
Ela riu.
- Vamos comer alguma coisa, eu to morrendo de fome. E a gente ainda tem muita coisa pra ver.
Sentamos em um Café que havia em uma área de alimentação para descansarmos.
- Você já esteve aqui antes? - perguntei ao misturar o café com o creme em minha xícara.
- Não. Por que sempre pergunta se eu já estive nos lugares em que vamos? - ela riu bebericando do seu suco.
- Porque você sempre parece conhecer tudo tão bem.
Ela deu de ombros.
- E por que aqui? Um encontro num Jardim Botânico. - questionei.
- Não gostou?
- Gostei, gostei muito. Só achei diferente.
- Quando eu falei em encontros você imaginou que seriam sete noites de sex*, não foi? - ela falou despreocupada.
- Eu nunca pensaria isso de você! - me fiz de ofendida.
- É claro que não... Por que as pessoas pensam que tudo sobre uma prostituta envolve sex*? Nós temos vida fora dos motéis, sabia? - ela brincou.
- Não diga isso, você sabe que não penso assim de você.
- Eu estou brincando. Ontem te levei ao bar para que me conhecesse e hoje te trouxe aqui para te conhecer. - ela disse simples.
- E o cinema?
- Romance.
Ela sempre tinha todas as respostas prontas na ponta da língua.
Passeamos pelo Jardim até o anoitecer, até a última hora, quando o local seria fechado. Eu saí de lá tão encantada com tudo que já queria marcar um dia para voltar.
- Quando você quiser nós voltamos. - Valentina concordou - Até porque há muita coisa para ver, não conseguiríamos em um só dia.
Estávamos em seu carro à caminho de casa.
- É verdade. É tudo muito bonito. Obrigada por esse passeio, eu adorei mesmo.
- Me deixa feliz saber disso. - ela disse satisfeita.
Ficamos em silêncio por algum tempo. Ela dirigia com calma, dessa vez o seu carro preto comum, não era aquele carro potente da outra vez. Tomei liberdade e liguei o som, ainda que o silêncio estivesse agradável.
- Que estação é essa? - ela perguntou.
- Não sei, mas pelo horário deve ser algum tributo.
- Um tributo antigo, né? Eu não conheço essas músicas, não são da minha época. - Valentina brincou.
- Ah, nossa! - revirei os olhos aos risos para a sua gracinha.
- Mas é verdade, ué.
- Ok, agora cala a boca e presta atenção na pista.
- Não seja grosseira, Diana. Que coisa mais feia.
- Mamãe, é você? - brinquei.
Valentina riu.
- A sua mãe parece brava mesmo.
- Madame La Roux é irritante às vezes.
- Deixa eu ver aqui... - ela disse pegando o seu celular quando paramos num sinal vermelho - "Playlist dos anos 80. Só as melhores", é essa!
- Ai, para! - protestei.
A morena então conectou ao som do carro e deu play. Assim que a música começou eu não pude evitar a gargalhada.
- Ah não, essa é clássica, vai! Impossível você não conhecer. - falei.
- Hum... Não, não, nunca ouvi. - ela debochou, se fazendo de desentendida.
- Você conhece I Can't Help Falling in Love With You e não conhece essa? Tá bom!
- É diferente. Eu adoro o Elvis.
- Jura? - questionei surpresa - Você nem tem idade pra isso.
- Ah, por favor, estamos falando de uma lenda! - ela ralhou.
- Meu avô era fã do Elvis. - me veio de repente a lembrança dele, escutando os discos na velha vitrola no casarão na França.
- Seu avô tinha bom gosto.
Guardei o silêncio por alguns instantes, ter lembranças dos meus avós sempre me deixava nostálgica. Foi então que comecei a ouvir Valentina murmurar o som da música que tocava no carro.
- Na na na nana nana na...
Ela tamborilava os dedos no volante enquanto eu observava a cena.
- If you like piña colada... - cantei.
- Nana na nanana... - ela continuou.
- Nana na nanana... - e eu completei.
Quando me dei conta já cantávamos no carro feito duas loucas, gritando no ritmo da música sem nem ao menos saber a letra.
- Tã nãnã nãnã!
- Tã nãnã tã nãnã!
- Cuidado! - gritei de repente num susto.
Valentina freou num rompante, fazendo os pneus do carro cantarem na pista, parando a centímetros de um homem.
- Filho da puta! Quer morrer?!
Ela gritou antes mesmo de olhar para frente.
A música parou e foi quando segurei em seu braço negando com a cabeça. Ela não tinha visto ainda o que eu via e só então notou o homem parado em nossa frente, iluminado sob as luzes fortes do farol, empunhava uma arma que tinha quase metade do seu tamanho.
Valentina arregalou os olhos e meu coração disparou quando ele se aproximou.
- Boa noite, senhora. A via está fechada por aqui, dê a volta. - ele falou ao parar do lado da janela da motorista.
- Por qual motivo? - ela questionou.
- Valentina! - cochichei incrédula por ela ainda ter perguntado - Não pergunta, volta logo!
- Não interessa, só dê a volta. - o homem falou ríspido.
- Ok! - ela respondeu.
Quando a morena preparava-se para fazer o retorno, outro homem, também armado, apareceu.
- Algum problema aí?
- Não, elas já estão voltando. - respondeu o primeiro.
- Elas? - o outro questionou e fez sinal para que parássemos novamente.
E dessa vez o segundo homem se aproximou do carro e olhou pela janela.
- Boa noite, meninas! - disse sorrindo, mostrando um dente dourado.
- Boa noite, querido. - o sarcasmo na voz de Valentina era palpável, enquanto eu só sabia temer.
- Passeando? - ele perguntou.
- Até cinco minutos atrás, sim. - ela respondeu.
- Entendi. - ele sorria debochado - Espera um pouco aí... Eu conheço você. - falou encarando Valentina.
- Eu acho que não.
- Sim, conheço sim! Valentina, não é?
A vi revirar os olhos, respirando fundo.
- Não faço a menor ideia de quem seja essa pessoa.
- É sim! Você é a Valentina, eu não ia esquecer esse rosto lindo nunca.
Eu não podia acreditar que estava presenciando aquela conversa.
- Infelizmente eu não posso dizer o mesmo ao senhor. Olha, será que agora pode dar uma licencinha aí?
- Tem uma pessoa que vai ficar feliz em te ver. - ele falou tirando do bolso um celular - Marreta, pega o carro e traz elas.
- Pra trás as duas! - o outro homem com a arma gigante nas mãos apontou para que saíssemos.
- Valentina, o que é que está acontecendo? Quem são esses homens? - perguntei assustada.
- Eu não faço a menor ideia. - ela falou antes de sairmos para o banco de trás.
No instante seguinte nós seguíamos um carro preto à frente, sendo levadas por um homem desconhecido e sua metralhadora repousada no banco ao seu lado.
Quando me dei conta do que acontecia já era tarde demais. Nós estávamos sendo sequestradas.
Depois de um longo trajeto, cheio de curvas e subidas, enfim paramos em um lugar totalmente desconhecido. Os homens que nos abordaram então desceram e nos colocaram para fora do carro.
- Chefe! - vimos o outro do dente dourado atender o celular - Não, tá tudo firmeza por aqui. É que o senhor não vai acreditar... - ele foi falando enquanto se afastava.
Meu coração estava tão acelerado. Pareciam as batidas do som que eu ouvia ao longe desde que desci do carro. Eu só agarrei o braço de Valentina e segurei firme e a senti fazer o mesmo comigo.
- Marreta! - o homem voltou - Leva elas lá pra laje, o Doutor já tá vindo.
Fomos levadas para a casa em que havíamos parado em frente. Logo na entrada notava-se que aquela não era uma casa como as outras ao redor. Era luxuosa e cheia de exageros na decoração.
Subimos escadas escoltadas por alguns homens armados até chegarmos a um terraço, onde havia uma piscina e uma espécie de área de churrasco.
Olhei ao redor e dali dava para ver uma boa parte do lugar e da cidade mais abaixo. Estávamos em uma favela.
- O que é que vocês estão fazendo aqui? - um outro homem, esse de boa aparência e bem vestido, apareceu vindo de dentro da casa, notavelmente irritado.
- Trouxemos visitas.
- Visitas? - ele nos encarou - Foi o chefe que pediu? Por que não levou elas pra boate?
- Não... Essas são visitas especiais.
Vi o homem que veio de dentro da casa respirar fundo.
- Eu não quero saber de merd* nenhuma aqui, Zé Capeta! Você conhece as regras.
- Relaxa, Valeta, o Doutor já tá vindo.
- Já revistou elas?
- Ainda não.
- Chama a Botina pra fazer isso. - o homem, que descobri se chamar Valeta, mandou.
- Eu posso...
- Você conhece a porr* da regra! Chama a Maria Betina logo antes que eu avise o Doutor que você tá com sacanagem aqui dentro de casa.
- Beleza, beleza! Não precisa se estressar.
Enquanto o tal Zé Capeta saiu, vi o outro pegar o celular e se afastar. Em seguida o primeiro voltou com uma mulher corpulenta, que aparentava ter lá seus 40 e poucos. Ela vestia uma camisa de botões, calça larga e botinas pretas.
Aparentemente todos ali tinham um apelido significativo.
- Vai lá Maria Botina, faz a festa. - o homem do dente dourado debochou.
- Eu já falei que é Betina! Para de me chamar dessa porr* ou eu arranco esse dente ridículo seu. - ela ralhou.
O Zé Capeta gargalhou.
- Com licença, senhoras. - a mulher pediu antes de começar a nos revistar.
- Toda. - Valentina respondeu.
Nós duas estávamos de vestido, então não haveria muito o que procurar a não ser os nossos celulares. Foi o que pensei até ver a mulher puxando uma faca da perna de Valentina.
Era sua adaga. Aquela adaga.
- Mas vejam só! Ela veio armada. - Zé Capeta debochou.
Depois de recolherem os nossos celulares e a adaga, guardaram tudo em um saco preto que foi recolhido pela Betina/Botina.
- Já terminaram aí? - o que se chamava Valeta voltou.
- Já. - Betina falou lhe estendendo o saco com os nossos pertences.
- Tá, guarda lá dentro. Pode ir, Betina, obrigado.
- Disponha.
- Pode ir também, Zé, volta lá pro posto.
- Eu vou esperar.
- Tem algum assunto em particular pra tratar com o Doutor?
- Não, mas eu quero falar com...
- Betina! - Valeta gritou antes que ele terminasse.
Então a mulher, que nem havia passado da porta ainda, voltou.
- Eu já cansei de olhar pra cara desse Capeta hoje. Leva ele.
- Não encosta! - o homem do dente de ouro falou se esquivando.
A mulher, por sinal, era uns bons centímetros mais alta que ele.
- Cala a boca e anda logo! - ela disse pegando em sua gola para o conduzir, enfim levando Zé Capeta dali.
- Meninas, por favor, sentem-se. - Valeta nos encaminhou até uma espécie de sofá que estava disposto ao lado - Fiquem à vontade, o Doutor já está chegando.
- Eu queria estar tão calma quanto você aparenta estar. - cochichei para a morena ao meu lado assim que nos sentamos.
- Fica calma, não se preocupa. - ela cochichou de volta, segurando a minha mão.
- Jura? - perguntei incrédula.
Foi quando ouvi uma movimentação no andar de baixo e logo o terraço onde estávamos foi invadido por mais uma dezena de homens, e junto com eles uma figura imponente, que saudou assim que chegou até nós:
- Minha querida Valentina!
...
Fim do capítulo
Tem mais no próximo capítulo... rsrs
Só uma observação, lá no meu Twitter eu posto curiosidades, spoilers dos próximos capítulos, respondo perguntas e falo várias bobagens, quem quiser saber mais, segue lá :)
Twitter: @SrtaSweet1
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LuBraga
Em: 29/07/2018
Éguas que ela chegou chegando, Sweet Word menina que historia foi essa..(parafraseando que tiro foi esse??)kkk
Amandoo essas duas e aValentina hien, só na curiosa pra saber sua verdadeira história rsrs
Bjão
Resposta do autor:
Chegueiii kkk
Logo eu vou contar pra vocês a história da Valentina rsrs
Feliz que vc gostou !
Obrigada por estar aqui S2
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